A Maldição de Strahd: Horror psicológico em D&D

O RPG nos permite viver diversas histórias de estilos narrativos muito distintos e, por extensão, também de muitos gêneros diferentes. Estamos acostumados a narrativas épicas baseadas em gêneros de fantasia, de ação ou até mesmo históricos. Alguns outros sistemas, como Vampiro: A Máscara, expandem esse leque para gêneros de terror e suspense. Mesmo DnD sendo um sistema de heróis poderosos e capazes de feitos incríveis, também é possível trazer o horror para as aventuras, e um módulo fez isso de maneira excepcional: A Maldição de Strahd. 

Antes de chegarmos ao módulo em si, vamos explorar um pouco o gênero do Horror. O que caracteriza esse gênero? O gênero do horror é um tipo de ficção especulativa que tem como objetivo assustar, amedrontar ou enojar o espectador, no nosso caso, os jogadores. Tudo isso pode ser encontrado em a Maldição de Strahd.

Não é fácil fazer horror num jogo de DnD, afinal é preciso que os jogadores se sintam fracos em relação aos obstáculos para que funcione, é necessário uma sensação de impotência. Heróis super poderosos nunca sentirão medo, afinal eles podem lidar com qualquer coisa que ficar em seu caminho, e é exatamente assim que uma ficha de DnD faz os jogadores se sentirem, mas o Maldição de Strahd sabe disso e usa isso ao seu favor. O Módulo é famoso por ser muito difícil, por vezes até desbalanceado. Diversas mortes de personagens e até os temidos TPKs são comuns em A Maldição de Strahd. Essa dificuldade somada a sensação de estranheza, desolação e isolação que Barovia causa é o que faz o horror desse módulo funcionar. Mas, onde o módulo realmente brilha, é na construção de seu vilão: O Conde Strahd Von Zarovich. 

Claramente inspirado no Drácula, Strahd é considerado um dos melhores vilões de DnD. E ele realmente é! Strahd é construído para ir além dos clichês de vilões de RPG, ele é um personagem complexo, com conflitos externos e internos, uma história cativante, altamente carismático e, que por vezes, consegue conquistar nossa simpatia. Mas ele tem seu outro lado, muito mais obscuro, que gosta de perseguir suas vítimas, fazê-las sofrerem e vê-las se quebrarem perante ele, esse lado de Strahd se preocupa em ir muito além de apenas matar seus alvos, ele gosta de tortura-los de maneira física, emocional e psicológico. 

Essa dualidade em Strahd que o faz um personagem interessante e um vilão memorável e que faz com que o horror psicológico seja tão presente nessa aventura. O módulo não tenta esconder o vilão em nenhum momento, afinal o próprio título da aventura já nos diz quem será o chefão final. Os jogadores já ficam cientes da existência do Conde desde dos primeiros momentos da aventura e sabem, que para sair da situação que se encontram, eventualmente eles terão que entrar em conflito com ele. A principal diferença entre Strahd e vilões de outros módulos é que ele é um vilão ativo! Ele não espera que os jogadores virem até ele e a todo momento tenta se inserir na história. Strahd irá brincar com seus novos experimentos, vulgo os personagens dos jogadores, irá oferecer acordos, pedir favores, manipulá-los, tentar descobrir seus segredos mais íntimos, para depois usar isso contra eles. Ele fará tudo ao seu alcance para tornar a vida desses aventureiros, que entraram em suas terras, o mais difícil possível. É normal que antes de enfrentarem o vilão em seu covil, o icônico Castelo Ravenloft, os jogadores já tenham tido algumas interações com Strahd e até mesmo algumas lutas, nas quais o Conde certamente irá limpar o chão com os personagens, e fará isso da maneira mais humilhante possível. 

O grande trunfo para o horror psicológico em A Maldição de Strahd é que os jogadores sabem, desde do primeiro em que encontram Strahd, que eles não têm a menor chance de enfrentá-lo de frente. É um longo caminho até que os aventureiros tenham força suficiente para lutar com o vampiro. E o próprio Strahd não e bobo! Ele irá usar todo esse tempo em que os aventureiros estão em suas terras para espioná-los e obter todas as informações possíveis sobre eles e se preparar para o momento em que ele irá, de uma vez por todas, acabar com os intrusos. 

Quando os jogadores acabam de sair de um dos encontros brutais do módulo, só para encontrar Strahd, montado em seu pesadelo e bloqueando o caminho, pronto para oferecer algum tipo de acordo para eles, até o mais insano dos bárbaros se ajoelhará perante o Conde. Podem acreditar, eu já vi acontecer! 

Não é atoa que essa aventura, publicada pela primeira vez 1983, é considerada até hoje uma das melhores aventuras de DnD já escritas e ganhou, em 2016, uma atualização para a quinta edição de Dungeons and Dragons.

Para os fãs do gênero horror, e de RPG em geral, é uma aventura imperdível e memorável que com certeza irá ser lembrada na sua mesa por muitos anos. E para os mestres de plantão, é um excelente estudo em como criar um vilão inesquecível! 

Estilo e Neon: O Cenário Cyberpunk

“Entre vielas estreitas e entulhadas de lixo, banhadas pelo brilho neon de Night City, um jovem mercenário corre por sua vida carregando uma carga preciosa. Sob os efeitos de um stim, ele mal sente o cansaço, nem pode, a polícia de Night City está na sua cola. Ele consegue ver o fim dessa longa viela, por onde ele irá escapar. Mas antes que ele chegue, um AV da Max Tac surge nos céus, se colocando entre ele e sua rota de fuga! Nada que umas granadas e pele à prova de balas não resolva, ele pensa. Se for morrer, morra com estilo!”

Se esse tipo de cena é algo que te deixa empolgado, então talvez seja hora de você experimentar o mundo de Cyberpunk! O gênero, derivado de narrativas de Ficção científica, foi criado em 1980 pelo escritor Bruce Bethke em um conto nomeado “Cyberpunk”, e assim nasceu um subgênero da Ficção científica que rapidamente se tornou um símbolo da contracultura americana.

Você provavelmente já teve contato com diversos filmes, séries e jogos que exploram essa temática. Blade Runner, Akira, Altered Carbon e o recém lançado Cyberpunk 2077 são apenas alguns exemplos. Esse gênero é marcado por uma característica básica, “Alta tecnologia e baixa qualidade de vida”. O cenário de cyberpunk é futurístico, normalmente ambientando em Megacidades onde o desenvolvimento tecnológico foi exponencial e coisas com carros voadores, androides, links neurais e modificações corporais cibernéticas são tão comuns como a desigualdade social, altos níveis de poluição e alta taxa de criminalidade.

E é claro que esse tipo de cenário não demoraria a chegar nas mesas de RPG. Cyberpunk 2020, criado por Mike Pondsmith, explora exatamente esse mundo. Nesse RPG futurístico você interpreta um personagem na cidade de Night City, que luta para fazer alguns eddies, a moeda local, e sobreviver por mais um dia. Criminalidade, drogas, psicopatas, zonas de combate e medicânicos são apenas algumas das coisas que se encontram pelas ruas de Night City. 

Mas ser um Cyberpunk vai muito além de sobreviver em meio ao caos tecnológico! Night City é um lugar extravagante e para se destacar por lá é preciso ser mais extravagante ainda. Estilo é a palavra fundamental! Não importa o que você pretenda fazer, sempre faça com estilo, mesmo se der errado! 

Para fazer seu nome na competitiva Night City, você tem uma série de carreiras que pode seguir. Você pode ser um Rockerboy, uma alma livre e rebelde, que luta contra a opressão do governo e das corporações, através de sua música. Ou talvez um Netrunner que conhece a arquitetura da rede como a palma da mão, capaz de hackear armas, redes de seguranças, drones e até mesmo a mente de outras pessoas. Ou até ser um Solo, um mercenário treinado para o combate e equipado com os cyberwares mais recentes como pele à prova de balas, braços cibernéticos que se ligam as armas e implantes oculares que te permitem enxergar no escuro. Mas cuidado! Se for longe demais em suas modificações cibernéticas, você pode sucumbir a cyber psicose e se tornar um psicopata tunado. 

Quer começar a explorar o mundo Cyberpunk? Então aqui vão algumas dicas de sistemas e cenários que você pode usar! 

Se gostou das coisas que leu até aqui, o Sistema para você é o Cyberpunk 2020, ou a versão atualizada dele, Cyberpunk Red. Essa versão, no entanto, ainda não tem tradução em português. 

Mas se você quer adicionar um pouco de fantasia no seu Cyberpunk, com elfos, orcs e magias, experimente o sistema Shadowrun! Mas esteja avisado: Prepare-se para ler centenas e centenas de páginas de um sistema muito complexo, mas altamente personalizável. 

É fã de cultura japonesa? Gosta de um toque de terror nas suas mesas? Então o RPG chamado Kuro é para você! Ambientado no japão em 2048, na cidade Shin-Edo que está sofrendo bloqueio naval, feito por um esforço de conjunto de diversos países, para conter uma ameaça que surgiu na ilha. Você está preso na ilha e tentando sobreviver a essa misteriosa ameaça! 

O que está esperando? Prepare seu cyberware e faça o “jack in” no mundo de Cyberpunk!

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A Bandeira do Elefante e da Arara: a representatividade de se jogar como brasileiro

Deitado sobre uma cama de folhas, o índio pertencente à linhagem dos Guaranis, abre seus olhos. O calor das manhãs e a umidade daquela mata tropical não o deixam dormir por muito tempo. Ele se levanta e sai da caverna em que se abrigou, afinal fazem três dias que ele deixou sua comunidade para ir em busca de um curandeiro em uma aldeia vizinha. O barulho do riacho faz com que ele se lembre que está com a boca seca, rapidamente ele pega seus equipamentos e se dirige para a beira daquele rio de águas cristalinas. Sem exitar ele abaixa-se e molha o rosto, os braços e bebe aquela água. Ainda abaixado se deliciando com as bênçãos daquela natureza abundante, ele percebe uma sombra através da água, com medo e bem lentamente ele levanta os olhos e a criatura metade homem e metade tamanduá está em pé em sua frente…

O jogo de interpretação de papéis “A bandeira do elefante e da arara” (ABEA), se passa no Brasil colônia, e traz um cenário repleto de mistérios, raças e fantasia. Com um sistema de jogabilidade bem simples, ABEA, precisa apenas de três dados de 6 faces e muita criatividade dos envolvidos. Recentemente nós do Mestres de Masmorras exploramos esse sistema, inclusive gravamos uma aventura, que já está disponível em nosso canal. Após experimentar o jogo achamos válido compartilhar essa experiência com vocês.

Como já foi dito, o jogo possui uma jogabilidade extremamente fácil perto de sistemas mais complexos como Dungeons and Dragons e Mundo das Trevas. Essa facilidade faz com que o jogo seja muito abrangente e consiga trazer para a mesa de RPG todo perfil de jogadores, desde os iniciantes até os mais experientes, de diversas faixas etárias. Ainda falando sobre o sistema, o que nos chamou a atenção foi a ausência de classes de personagens, justificada pelo autor de uma forma esplêndida: “Não trabalhamos com as chamadas classes. Eu que já tive quatro carreiras diferentes ao longo da minha vida, não acredito que é a carreira que define a pessoa, mas sim as habilidades adquiridas que definem o que a pessoa pode realizar com sua vida”, nos diz Christopher Kastensmidt, autor de ABEA.

Notamos a partir dessa fala que o sistema nos disponibiliza uma grande variedade de habilidades que podem levar os personagens para os diversos caminhos desejados, ou seja, você pode ser o que quiser e caso se arrependa pode se tornar bom em outras coisas. A partir desse sistema simplificado, o jogo valoriza a criatividade e narrativa, tanto a pessoal de cada jogador envolvido, quanto a narrativa coletiva conduzida pelo narrador.

Por muito tempo tivemos contato com RPGs pautados na lógica e em cenários Eurocêntricos, ou norte-americanos. Trazer um cenário brasileiro cria em nós uma identificação e uma representatividade que até hoje não vi em nenhum outro sistema de RPG. A ABEA nos faz jogar com indígenas, africanos, europeus, mestiços, povos esses formadores do que hoje conhecemos como Brasil. Por isso descrevo como incrível a possibilidade de explorar um território que é nosso, com personagens que poderiam simplesmente ser nossos ancestrais diretos. Esse ponto em específico é o que nos deixou mais extasiado ao jogar ABEA.

Por fim destacamos a possibilidade de exploração das narrativas que vai desde tramas políticas e sociais, até desbravamentos fantásticos. O livro traz informações precisas sobre o cenário social, político e econômico do Brasil colônia. Além desse cenário que conhecemos através dos livros de história, ABEA reúne lendas da mitologia brasileira, como: Saci-pererê, Curupira, Boitatá, dentre outros que fazem com que exista a possibilidade de explorar um universo fantástico em terras brasileiras.

Então se você está à procura de uma diversão criativa, original e simplificada você certamente encontrará em ABEA. Se você quiser conhecer mais sobre o sistema é possível baixar o PDF gratuito de introdução às regras clicando aqui. Caso você queira acompanhar uma mesa de RPG com uma aventura do sistema, é só acessar nosso canal no Youtube clicando aqui! E se divertir com a minissérie “A maldição da Ilha de Santo de Amaro”.

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