A Marca da Fênix – Prólogo em Enots #01

Prólogo em Enots é uma serie em 4 contos que contará a história da Criação e Decadência do plano Enots. Nesse conto veremos que Thersys foi chamada para ter A Marca da Fênix, e saberemos as consequência disso!

A Marca da Fênix  

Depois da Grande Guerra que quase dizimou o mundo, e na qual inúmeros nobres e famílias grandes tiveram trágicos fins, um grupo sobreviveu: os Droverson. Antes uma família a qual ninguém dava valor, graças à covardia, se mantiveram escondidos, e por causa disso tornaram-se nômades, destinados a juntar os poucos que escaparam das garras de Argen, um poderoso Lich que havia ascendido.

Parte da família aceitava que sua sobrevivência vinha do medo e de sua fuga, mas outra parte tinha vergonha de ter tomado tal atitude. Dentre estes, Thersys detinha a maior revolta quanto ao seu comportamento. Antes da Guerra, sendo aventureira, só ficou escondida para proteger as crianças de sua irmã gêmea, uma das primeiras a serem atingidas com os fragmentos da destruição que assolaram o mundo, mas agora, sentia que tinha de fazer mais, decidindo voltar às suas raízes, e sair pelo mundo em busca de aventuras, deixando seus sobrinhos em segurança nas mãos de seu ex-marido, que prometeu cuidar deles até que voltasse.

Ela seguiu viagem pelos continentes e pelas ilhas que circundam os mesmos, conhecendo as mais diferentes pessoas e armadilhas. Felizmente, seu grupo estava preparado para inúmeras situações, e mesmo com os muitos ferimentos e cicatrizes, ela jamais desistia de continuar seguindo, sabendo que voltaria para casa apenas quando saciasse sua alma aventureira.

 Após muitos anos de histórias fantásticas e perigos inestimáveis sendo ultrapassados, teve um sonho estranho, na qual um enorme pássaro rapidamente se aproximava dela e a abraçava com as penas, e após alguns instantes na qual sentiu um abraço caloroso, ele se dirigia à um grande vulcão.

Acordou assustada. Lembrava-se daquele vulcão. Era de uma ilha pela qual tinha passado e havia lhe chamado a atenção pelo vulcão estar em seu centro, mas eles não o haviam explorado. Sugeriu ao seu grupo voltar até lá, mas recebeu negativas da parte de todos.

Passou alguns dias pensando no sonho. Algo havia mexido com ela, que se perguntava o que poderia ter dentro do vulcão, já que estava inativo, ou assim aparentava, e a ideia, cada vez mais fixa em sua mente, fez com que ela tomasse uma atitude drástica, e em uma noite sem lua, decidiu seguir viagem sozinha. 

Felizmente, com toda experiência que havia ganho, soube se virar bem, chegando ao local e percebendo que a ilha estava totalmente deserta, e o vulcão inativo, explorando, percebeu que ele possuía inúmeras entradas em suas paredes, o que não condizia com aquilo que tinha de conhecimento sobre tais ambientes, e adentrando uma dessas aberturas, começou a perceber sinais de que seres inteligentes haviam vivido ali. 

Reconheceu pinturas, armas, objetos e escritas, que logo percebeu ser dracônico. Pelas pinturas, tinha certeza: draconatos vermelhos viveram ali. E juntando as peças, começou a deduzir o que havia acontecido: provavelmente, eles se refugiaram ali durante a Grande Guerra, mas talvez tenham sido encontrados pelos Eskeletons, já que ali havia muitos sinais de luta e cadáveres putrefatos, com marcas negras ainda em seus ossos. 

Começou a se perguntar os motivos de terem ido até ali para matarem um povo que vivia isoladamente, lembrou que durante a Guerra, seres elementais foram perseguidos, mas sentia que ali tinha mais. Passou a prestar mais atenção aos detalhes, buscando pistas e indícios de algum poder que eles poderiam ter e que pudesse ter sido roubado, porém não teve sucesso. Mas quando estava saindo pelo topo, tendo percorrido todo o interior do vulcão, suas passagens e grandes salas, notou rastros sutis que levavam a uma parede, levando-a a pensar que poderia existir uma passagem secreta. 

De maneira ágil, usou de seus pertences, kits e algumas habilidades que aprendera com um grupo de ladinos que passara um tempo, descobrindo uma pedra, que quando movida numa direção específica, abria uma pequena entrada, pela qual teve de se agachar e rastejar alguns metros, até conseguir se levantar e perceber um longo e estreito corredor, pelo qual avançou até se deparar com um salão oval com quatro cadáveres que pareciam estar montando guarda anteriormente circundando um grande pedestal que estava ao centro, contendo uma almofada vermelha empoeirada, e acima dela, algo que parecia um amuleto. 

O objeto detinha o formato de um pássaro com penas flamejantes, feito de ouro e coberto com uma aura vermelha brilhante, e parecia gritar seu nome. Parecia o mesmo de seu sonho. Se aproximou do amuleto, notando que sua pele estava formigando, e seus dedos, antes que pudesse pensar sobre suas ações, tocaram o pássaro, que se desfez em poeira dourada. Dali saíram quatro sombras iluminadas, iguais à forma do que mais tarde ela descobriria serem uma Fênix. 

Os Espíritos rodearam-na como se possuíssem consciência, com total curiosidade sobre sua libertadora. E de repente, sem mais explicações, com Thersys sentada no chão em profundo choque observando a cena, os quatro elementais se olharam, emitiram um som agudo, e enquanto um deles se aproximava dela, como um manto cobrindo uma criança, os outros três saíram dali atravessando as paredes rochosas. 

Tomada por um espanto notório, a aventureira entrou em desespero, tentando vomitar o que estava dentro de si, mas ao ouvir uma voz calorosa e quente, se acalmou. O Espírito se apresentou como Feit, fazendo-a lembrar que era um dos Heróis que derrotaram o Lich. 

Respirando fundo, ouviu a Heroína lhe explicar o que estava acontecendo, e o que agora seria sua nova vida.

Feit, ao morrer, entendeu sua vida e a razão pela qual havia existido e o motivo de ter nascido tiefling em meio à humanos. Ela havia sido criada pelo Dragão Vermelho, e no processo, lhe foi passado o Poder do Sol que ele tinha em si, já que os Grandes Dragões gostavam de brincar com os mortais. 

Não foi sua escolha, mas ela havia recebido a responsabilidade de carregar essa marca. Se ela morresse, o mundo estaria condenado à completa escuridão, até que outro tiefling nascesse e fosse escolhido como elo com a Luz que o Dragão Vermelho detinha. Porém, no momento que decidiu se sacrificar, o dragão percebeu que não poderia manter a ordem das coisas dessa forma, e por isso, decidiu fazer a conexão mudar de uma criatura viva para um objeto.

A tribo de draconatos vermelhos que vivia no vulcão tinha conhecimento primordial da Profecia da Fênix, apontando para um item que apareceria no formato de um pássaro flamejante, e que deveria ser protegido a todo custo. Por isso, quatro bravos guerreiros foram incumbidos de se esconderem no salão oval, protegido também por diversas magias, para montarem guarda sobre o item que, naquele momento, ainda não existia ali. 

A fé deles na promessa de um item criado pelo Dragão Vermelho fez com que os draconatos não deixassem seus postos, mesmo quando ouviram seus companheiros serem massacrados do outro lado das rochas do vulcão durante a Grande Guerra. Mas eles não imaginavam o que teriam de enfrentar, tendo se preparado para confrontos diretos, não contavam que os Eskeletons iriam usar de artimanhas mentais, transpassando as paredes sólidas do lugar, e afetando qualquer criatura pensante que pudesse estar nas redondezas do vulcão.

Dessa forma, foram devorados de dentro para fora, enquanto o amuleto aparecia em cima da almofada e permaneceria intocado, até aquele dia. Thersys, sentindo-se sem honra para tal posição, começou a se desculpar com o Espírito que lhe acalentava com seu calor, e lhe transmitia a sensação de que tudo estava correndo de acordo com um plano que talvez já estivesse traçado, e percebendo que não havia motivos para se incomodar, continuou ouvindo a explicação.

O Dragão, sabendo que o objeto havia se desfeito, percebeu que a Luz ficava maior enquanto ligado à uma criatura viva, e por isso, iria encontrar outra forma de conexão, dividindo-se em quatro pássaros de fogo, cada um iria para um continente principal, onde adentraram um ser pensante, e iria permear sua família durante as gerações. 

Sendo a primeira criatura usada, uma mulher, assim se seguiria as outras quatro escolhidas agora, e Thersys seria uma delas, conectadas ao sol diretamente, ganhando habilidades relacionadas ao fogo, e influenciando o clima da região conforme o humor e a saúde delas fosse alterado, tendo também, mais anos de vida que uma humana normal. Porém, os homens que nascessem, estariam destinados a ter apenas metade da vida, representando o sacrifício de Feit, que morreu cedo demais diante do Lich. 

Enquanto processava essas informações, sentiu um leve ardor e queimação em suas costas, que quando inspecionada, percebeu se tratar de uma espécie de desenho que estava sendo formado no formato da Fênix, como uma mancha de nascença que sempre estivera ali, sendo informada por Feit que as mulheres seriam chamadas de Filhas do Sol a partir dali.

Após um período em silêncio, Thersys compreendeu seu propósito, e o motivo pelo qual sempre fora irrequieta, pois agora, seu coração estava tranquilo, como se tivesse encontrado o que tanto buscou em suas aventuras. Percebeu a grande benção e maldição que caíra sobre ela, e a qual, assim como a grande Heroína, ela não escolheu receber. 

Enquanto se levantava e caminhava para fora do vulcão, sentiu em si um grande peso, e ela tinha certeza: se as Filhas do Sol morrerem algum dia, o Dragão Vermelho não terá mais o que fazer, e o mundo irá adentrar numa escuridão e frio gigantescos. 

A aventureira, percebendo o perigo que corria, voltou para sua família, que para sua surpresa, havia construído uma pequena aldeia que estava em expansão. Contando aos mais próximos o que havia acontecido e o que carregava agora, mantiveram uma promessa de sempre proteger a família, ganhando destaque em termos de estratégia e segurança perante o povo do vilarejo, e após um conflito com outra grande família que se estabeleceu ali, instaurou-se uma monarquia, onde os Droverson eram líderes natos, e usavam sua posição de destaque para manter o segredo e a segurança que precisavam. 

As décadas foram passando, e as crianças que começaram a nascer eram apenas do sexo masculino, fazendo a região ficar mais fria e com fortes ventos no decorrer dos anos. A profecia era sempre lembrada, sendo passada de geração em geração aos meninos que nasciam e que sempre perguntavam o motivo de terem uma marca de nascença no formato de um pássaro de fogo. 

Até que um dia, o rei vigente, enquanto tentava barganhar com um meio-elfo alguns itens mágicos e raros para aumentar o valor do reino, se deixou levar pela bebida, retirando as luvas que sempre usava e mostrando a pequena marca, no formato de uma ave com penas flamejantes, que possuía nas costas da mão direita. O formato diferente aguçou a curiosidade do jovem ganancioso, que após ouvir a história, se viu, no futuro, pertencente a uma família poderosa que detinha o poder do sol.

Realizando um acordo com ele enquanto escondia suas reais intenções, afirmou que se voltasse ali e o rei tivesse uma filha, iria ficar satisfeito em se casar com ela, criando um laço concreto entre eles, e permitindo que todo e qualquer tesouro encontrado fosse dado ao reino. A promessa foi sendo passada pelas gerações aos homens que nasciam, enquanto meio-elfo havia desaparecido.

Quando finalmente uma menina nasceu, fez-se o dia mais lindo em anos, e o sol sorriu sobre o lugar, melhorando as colheitas e as festividades da região. O rei, tendo seu coração amolecido pelos cabelos ruivos e pelos olhos azuis da pequena Solara, que constantemente sorriam para ele e traziam a alegria de seus dias, já que sua amada havia falecido no parto, não quis levar adiante a promessa que outro rei havia feito, ficando satisfeito, com o desaparecimento dele já se estendia há uns anos, e a qual não despenderia esforços para encontrar. 

Ele estava em seu reino, tendo seus melhores dias, e cuidando de sua filha com todo amor e cuidado que poderia ter, mantendo o lugar sobre uma paz, recebendo todos igualmente e realizando acordos de boa vizinhança constantemente para manter a ordem.


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A Marca da Fênix – Prólogo em Enots #01

Revisão e Montagem da Capa: Isabel Comarella

 

A Morte Não Dá Segundas Chances

Me chamo Sephy Megalos e tinha 23 anos quando morri. E vim para dizer que a Morte não dá segundas chances

Meu nome me descreve bem, quero dizer, me descrevia: uma grande assassina que destrói. Pelo menos, foi assim que fui criada sendo primogênita do líder de uma família de mafiosos. 

Minha morte foi incrivelmente interessante: 

Eu saí de casa aos 17 anos e continuava meu trabalho como assassina, ganhando meu dinheiro e conhecendo pessoas importantes: gangues, grupos de milícia, mafiosos e outros clientes esquisitos que querem manter segredos por baixo de panos quase transparentes. 

Então um dia, fui sequestrada pela Morte e colocada numa ilha mortífera, da qual sobrevivi, voltando com a promessa de que morreria dali uma semana. Desse modo, fiz o que qualquer um faria em meu lugar: espalhei segredos, tratei de negócios, divulguei esconderijos e listas de pessoas para assassinar.

Depois? Fiquei fugindo e me escondendo, até que no dia prescrito pela morte eu voltei à casa de meu pai. O motivo? Queria saber quem me mataria: aqueles que já estavam caçando minha cabeça – seguindo as pistas que deixei intencionalmente – ou meu velho que não estava com saudades. Me questionei se no processo conseguiria levar ele comigo…

E caso esteja se perguntando, consegui o que queria. E garanto a você que foi uma das coisas mais lindas que já vi: o caos de balas e plumas de almofadas engomadas voando, sangue espalhado pelo tapete chique da sala, e o brilho de seus olhos sumindo antes dos meus se fecharem ao som de uma boa sinfonia de Beethoven – que ele amava.

Como eu disse… uma morte interessante.

Infelizmente não foi isso que aconteceu.

Agora que tenho sua atenção e antes de contar como realmente morri, irei explicar como chegamos ao fim, mesmo ele sendo tedioso. Então, já esteja ciente que a minha morte real não foi tão espetacular quanto gostaria que fosse:

Meu pai não queria filhos. Imaginem só? Crianças catarrentas que poderiam colocar todo o império – que ele herdou de seu pai – a perder, que iriam ser descuidados, deixariam pistas para trás ou revelariam segredos, e ainda iriam brigar pela herança quando ele estivesse morto… 

Em sua cabeça isso sempre pareceu o pior cenário, então quando minha mãe lhe disse que estava grávida, ele a espancou na esperança de que perdesse a criança. Já dá para imaginar que não funcionou. 

Minha mãe era boa e gentil, é quase impossível acreditar no quanto ela amava meu pai. E milagrosamente, ela convenceu meu pai a ter a criança, porém ele disse que a criaria a seu modo. Minha mãe então, fez um acordo: até os 05 anos cuidaria de mim, e depois, ela não interferiria. Ele brigou, aparentemente era tempo suficiente para ela me estragar, mas acho que ele amava ou sentia algo por ela, pois foi convencido.

Ao nascer, meu pai me nomeou. Eu seria seu soldado assassino perfeito, e ele fez questão de me ensinar para não ter dúvidas das minhas habilidades e eu iria trabalhar para ele como se fosse um de seus capangas. 

No dia que completei 05 anos, ele me tirou de minha mãe. Lembro-me de a ver chorando, ainda muito pequena para entender o que estava por vir. Depois disso nos vimos poucas vezes e ela sempre lacrimejava. 

Meu pai me levou até uma sala de treinamento e me deu um tapa no rosto na frente de seus homens. Eu chorei. Até que ele me mandou calar a boca, dizendo que se eu continuasse a chorar, ele iria me bater de novo. Antes que eu pudesse entender sua frase, ele me estapeou. Foi assim, durante dias, até que aprendi. Parei de chorar, não caía mais no chão e apenas o encarava. Sentia meu rosto quente e via o olhar de pena de alguns homens, que eram logo advertidos: vocês não devem ter dó dela. Ela é apenas uma arma!

Com o tempo, fui me acostumando com os tapas, e passei a revidar. Na primeira vez que fiz isso, ele me olhou com ódio e eu tremi de medo. Quis correr, mas seria pior, e após alguns instantes segurando seu olhar, ele sorriu. O treinamento ficou cada vez mais intenso. 

Os anos foram passando e comecei a acompanhar meu pai em seu “trabalho”, que sempre consistia em cobrar dinheiro ou serviço de alguém; a venda de algo ilícito; conversar com seus contatos; e algumas coisinhas a mais, como tortura e morte. Aprendi a manter minha expressão serena e meu corpo calmo e quieto. 

Quando tinha uns 12 anos, minha mãe engravidou de novo. Dessa vez meu pai não despejou sua ira sobre ela, já que eu estava ali para sofrer dores sem emitir ruído. E minha mãe, tentando fazer diferente do que da primeira vez, deixou ele mais criativo e irado em nossos encontros. 

Quando a criança nasceu, descobri que era um menino e jurei odiá-lo com todas as minhas forças, mas assim que o vi minha promessa se quebrou e eu sabia que iria protegê-lo independente do que acontecesse. Por isso, entrei na frente do meu pai e fui contra suas ordens quando ele queria fazer o mesmo que fez comigo ao meu irmão. Foi naquele dia que ganhei minha cicatriz – meu pai não gostava de ser contrariado. 

Pouco tempo depois entendi que a morte é algo normal e natural, que sempre chega – de uma maneira ou de outra. Ela está sempre à espreita e apenas lhe estende a mão quando chega a hora, independente do modo que aconteça. 

Foi isso que senti quando matei pela primeira vez.

Eu queria passar mais tempo com meu irmão, mas meu pai sempre me impedia, até que um dos funcionários de meu pai começou a me ajudar, me tirando dessa bagunça e me dando um pouco de humanidade, permitindo breves momentos com meu pequeno. Meu pai descobriu um tempo depois, e para me ensinar uma lição, me fez cortar a garganta do homem gentil.

No início eu estava com medo, e olhar em seus olhos, me desencorajava. Mas lembrei de meu irmão. Se eu não fizesse isso, meu pai poderia descontar nele e eu ficaria sozinha de novo. 

Isso não iria acontecer.

Não hesitei.

Não parei.

Não tremi.

Não fechei os olhos quando o sangue começou a descer pelo seu pescoço e sujou a ponta da lâmina de um vermelho rubro. Tinha que ser feito. E eu fiz.

Depois disso, passei a me encontrar mais com meu irmão passando abertamente por cima das ordens de meu pai, que apenas via como uma rebeldia engraçada e patética, que causaria mal apenas a mim. Via minha mãe com mais frequência por causa desses encontros, mas ela fazia questão de sair do aposento assim que eu chegava, então nunca tentei me reaproximar.

O treinamento continuou, outras mortes aconteceram, por outras mãos e pelas minhas. De maneira rápida, furtiva e incisiva. Não havia divertimento, não havia remorso ou culpa. Apenas aceitei o meu destino – que obviamente já estava traçado – e segui meu roteiro ajudando a velha Morte a ter suas almas no momento apropriado. 

Então, o pior aconteceu…

Quando meu pequeno fez 05 anos, ele foi sequestrado e estava sendo usado de suborno por uma gangue inimiga. Eles queriam algo do meu pai. Dinheiro, mercadorias, nomes… não me recordo ao certo. Mas é claro que ele não atendeu ao pedido. Era apenas uma ameaça. Eram apenas uns inimigos. Era apenas seu filho mais novo. Conseguiria fazer outro, se quisesse.  

Eu tentei argumentar, brigar, discutir, e ainda cheguei a cortar seu ombro em um golpe que foi falho graças ao seu guarda pessoal e as minhas emoções fora da caixinha que atrapalharam, mas ele ignorou. 

Eu tentei encontrar meu irmão, mas foi em vão. Uma semana depois, os sequestradores não acharam ruim enviar sua cabeça dentro de uma caixa com meu nome. 

Senti ódio de meu pai.

Mais uma vez seu reinado era mais importante. Mais uma vez um inocente pagou por isso. 

Minha mãe não aguentou o peso da culpa e se matou. Logo em seguida eu fugi. Tinha 17 anos. 

Demorei para voltar ao serviço. Pensava no meu irmão, mas ele não estava aqui para me julgar, então depois de uns meses, eu voltei ao trabalho e falhei. Foi nesse dia que entendi que a Morte já está prevista para todos e não há como escapar dela… 

A Morte não dá segundas chances.

Tinha recebido a missão de matar uma jovem, filha de um ricaço. Havia estudado sua semana e sabia que ela gostava de ir a um parque. Assim, peguei um apartamento abandonado próximo, preparei minha sniper e aguardei. Mas era diferente. Eu a havia visto e ela tinha um pequeno irmão. Aquilo mexeu comigo. Mesmo assim, tentei ir até o final. Porém, quando a vi brincando com ele, eu não tive coragem de puxar o gatilho.

Ia devolver a metade da grana que já estava comigo. Não estava pronta para voltar. Mas decidi observar ela no decorrer do dia. Depois de se divertir com seu irmão, ela o deixou em casa e foi ao cinema. Assim que estava perto, um assaltante em fuga atirou em sua direção ao se assustar com o guarda costas, que conseguiu revidar e matar ele, mas ela havia sido atingida. Foi levada ao hospital, e horas depois, faltando uns minutos para meia-noite, ela morreu.

Se minha amiga Morte não brinca em serviço, por que eu deveria?

Depois disso, não neguei mais nenhum serviço e parei de temer. Segui fazendo aquilo que havia sido criada para fazer, fugindo e me escondendo. Nunca tive medo de morrer. Se eu matava, por que não ser acompanhada pela adrenalina de uma quase morte? Era como o doce cheiro de nicotina dos cigarros que eu fumava, e impregnaram nos meus cabelos. 

Em uma das missões conheci um homem. Eu estava fugindo e fui atingida, entrando no primeiro apartamento que vi para despistar meus perseguidores. Ele estava em pé numa sala chique, segurando um balde de pipoca. Apontei a arma para ele, que me olhava assustado. Mas mesmo assim, ele me ajudou depois de ver meu ferimento. Disse que era enfermeiro, que manteria segredo e que acreditava em “segundas chances”. Eu ri. 

A morte não dá segundas chances.

Acabei por visitá-lo algumas vezes, pedindo ajuda médica, ou quando me sentia sozinha, ficávamos conversando, ou apenas o observava ao longe em sua vida pacata. Ele acabou ganhando importância para mim, mesmo sem saber. E ao fim, acho que nunca soube. 

Como eu sei disso?

No começo dessa história eu não menti. 

Não totalmente…

A Morte me sequestrou e levou-me para uma ilha, junto a outros três homens. Um deles era meu amigo enfermeiro. Ela nos fez uma proposta: iríamos morrer em uma semana, e ela estava nos dando uma chance. Caso sobrevivêssemos nessa ilha por esse período, poderíamos voltar à nossa vida com mais alguns anos pela frente.

Se eu estivesse sozinha, eu me entregaria a ela. Afinal, ela é nosso destino. Mas o fato da única pessoa que ainda me importava estar ali… não iria deixá-lo morrer sem lutar. Ele merecia entrar dentro de sua própria filosofia e ter uma segunda chance. 

Não adiantou. Após muito conflito e segredos ocultos de pessoas desconhecidas, deixei-o morrer. Já estávamos mortos antes de tudo, lutando por uma vida que não existia, apenas para satisfazer aos caprichos da Morte.

Mas se você quer saber como morri de fato, não foi interessante: não vi o reinado do meu pai ruir e nem seus olhos fecharem, na verdade, eu fui descuidada. Acho que no fim eu já estava cansada e não percebi. Estava caçando uma pessoa, e ironicamente, essa pessoa também estava me caçando, como um jogo silencioso na qual ganha quem é mais esperto, e pro meu azar ou sorte – interprete como quiser – ele estava alguns passos na minha frente. 

Isso não é de todo ruim, sabe? No fim das contas, eu me encontrei com meu irmão no “pós-morte”. Muito mais do que eu merecia.


A Morte Não Dá Segundas Chances

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Autora: Raquel Naiane
Revisão: Isabel Comarella
Montagem da Capa: Douglas Quadros

Resquícios da Corrupção

Uilas Godovick, um explorador de olhos e cabelos castanhos, pele bronzeada, não tão alto ou forte, mas de uma curiosidade assídua, em uma de suas expedições encontrou uma pedra lisa e preta, no formato de uma elipse, adornada delicadamente com pequenas espirais douradas, e sem entender o que seria, catalogou-a como uma joia rara, diferente de tudo que já havia encontrado, possuindo uma rigidez que o impedia de moldá-la.

Querendo saber o que era, passou a ir em diferentes locais buscando indivíduos que tivessem habilidades em pedrarias, até que descobriu que dentro da Floresta do Ouro morava um anão chamado Thörak, conhecedor de histórias a respeito de minérios e jóias, e se ele não conseguisse ajudar, provavelmente ninguém mais conseguiria. Sendo sua última esperança, Uilas se dirigiu até lá.

Atravessando a floresta, entendeu porque ela havia recebido tal nome, pois mesmo possuindo árvores de troncos e folhagens escuras, avistou algumas vezes, uma espécie de brilho dourado caindo sobre si, vindo de lugar nenhum, não tendo efeitos colaterais e sumindo em instantes. Andando por um tempo, encontrou um vilarejo, repleto de casas e pessoas simples, que foram educadas com o jovem visitante, indicando a ele onde encontrar o anão, que logo descobriu ser o fundador e líder daquele lugar.

Thörak morava na maior casa, uma das poucas com dois andares e que logo viria a descobrir ser um hotel. Encontrando-o, percebeu que se tratava de alguém com uma enorme barba e cabelos ruivos, que se juntavam em algumas tranças ao redor do corpo que esbanjava uma barriga proeminente de cerveja, com olhos esverdeados abaixo de grossas sobrancelhas vermelhas. Rapidamente suas almas se sintonizaram, graças ao amor que tinham por minérios e artefatos raros, e quando lhe mostrou o objeto que encontrara, o velho percebeu que nada sabia sobre aquela pedra, ficando deslumbrado com a descoberta.

Trabalhando juntos, começaram a investigar aquele objeto estranho e belo que possuíam em mãos, e assim, Godovick alugou um dos quartos, pagando com seus serviços de ajudante, fazendo amigos e se sentindo em casa naquele ambiente tão recluso, aprendendo com o anão sobre os costumes do pequeno povoado.

Descobriu que o Ancião, como era conhecido, havia recebido um dom, como uma espécie de sexto sentido, dado por um Espírito Dracônico da Terra enquanto sua mãe estava grávida. E mesmo depois de anos, ele ainda não sabia se havia sido uma benção ou uma maldição, mas ele conseguia saber o ponto exato onde abrir uma mina que seria farta. Ele ainda afirmou que quando jovem passou por dificuldade por conta dessa intuição, e assim, passou a fugir e se esconder, encontrando na floresta um abrigo benevolente.

Na época, possuía um hotel para sobrevivência, e sabia que sua casa estava situada em uma “pilha de ouro”. Após poucos anos morando sozinho, alguns visitantes acabaram ficando por ali, e aos poucos ele foi vencido pelas boas companhias, expandindo terreno e abrindo a Grande Mina, de onde o vilarejo tirava seu sustento.

Thörak também havia colocado uma magia em volta do lugar, onde apenas aqueles de coração sincero iriam se aproximar, enquanto os de pensamento ganancioso estariam fadados a andar em círculos, até que decidissem voltar à estrada, e então encontrariam o caminho de volta, como se sempre estivesse ali, e a prova daquela proteção eram os pequenos vislumbres dourados que se viam.

Com o tempo, o jovem aluno conheceu Ellie, uma mulher encantadora de pele, olhos e cabelos escuros, que cativou Godovick rapidamente, como a todos os jovens daquele lugar. Ele não entendia o embrulho no estômago que sentia ao vê-la; o quanto ficava feliz quando ela sorria, ainda mais quando ele era o motivo; ou então, o quanto admirava seu charme, determinação e gentileza. Se aproximou dela e após algumas semanas se declarou, recebendo um ‘não’ como resposta.

Buscando conselhos de Thörak, foi informado que a moça estava cansada de todos se apaixonando por ela, já que era muito formosa e não havia pessoas novas que ficavam por ali. Desse modo, ele se aproximou de novo sem falar sobre o assunto, escondendo seus verdadeiros sentimentos sobre uma máscara de amizade que era sincera, mas não a principal fonte de sua alegria ao estar ao lado dela.

Passou a fazer exatamente o que nenhum outro tinha tentado: enquanto eles provavam sua bravura e força, lançando à jovem palavras vagas de paixões não tão reais, o estrangeiro contava-lhe suas aventuras, a fazia rir e interpretava seus muitos erros de maneira exagerada, permitindo que ela conseguisse sair da vila através da imaginação. Lentamente ele a conquistou.

O passar dos anos permitiu que ele voltasse à ideia de se declarar, porém, antes que pudesse fazê-lo, um dia ouviu em sua porta um bater rápido e insistente, quando abriu se deparou com Ellie à sua frente, e antes que pudesse perguntar algo, ela o puxou e lhe beijou. Não foram necessárias palavras para que os dois começassem a sorrir juntos.

Mudanças na pedra começaram a ser vistas, como o aumento gradativo no tamanho e acréscimo de detalhes dourados que impulsionaram os estudos a respeito dela, até que em uma noite, Thörak percebeu que ela começara a brilhar, indo até Uilas e o acordando para ver a novidade. Ambos ficaram admirados com a leve luz negra que emanava quando estava escuro.

O anão, cada vez mais obcecado com o que não conseguia decodificar, estava animado para explorar: vamos agora para a Mina, lá tem pouca luz e poderemos ver o que acontece com ela! Uilas, que já estava cansado do assunto, não gostou da ideia: Não devemos mais mexer com isso! Talvez não fosse algo a ser descoberto e deve ser devolvido ao lugar onde estava, principalmente por parecer algo mágico, mas não ser identificado, nem com magia!

Após uma acalorada discussão, o velho disse que deixaria aquilo de lado, e pensando que Godovick havia dormido, foi até a joia e a levou consigo através das minas. Seu aluno sabendo que ele era teimoso, ficou atento, e assim que ele saiu pela porta, seguiu-o.

Dentro da caverna mais escura e mais baixa, o anão colocou a jóia no chão, vendo os pequenos adornos dourados se moverem ao redor da superfície negra que emanava um brilho frio e sedutor. Aguardando ansiosamente que algo acontecesse, ele ficou parado olhando as mudanças, que não eram mais tão sutis, acontecendo, enquanto ao longe, seu assistente o espionava. De repente, quando Thörak estava desistindo, a pedra começou a levitar.

Luzes negras e douradas começaram a ser expelidas daquele objeto enquanto o anão permanecia maravilhado e boquiaberto, então, sem prévios avisos, um grande tentáculo quebrou aquela casca e perfurou o coração de Thörak. Godovick se assustou e viu quando aquela… pedra? Não. Um ovo. Como não havia notado antes?

Viu quando o ovo quebrou e pequenos tentáculos negros se tornaram gigantes, transformando-se numa enorme massa preta. O corpo do anão permaneceu suspenso, e de seus olhos, boca e nariz começaram a escorrer uma espécie de lodo. Então, aquela gosma abriu uma enorme boca, e devorou o corpo inerte do Ancião.

Enquanto aquela aberração continuava a crescer e se apoderar do ambiente, apagando pontos de luz visíveis e deixando apenas a sua aura negra e dourada se espalhar pelo local, Godovick correu. Culpando-se por ter levado àquele lugar algo que não conhecia e imaginando como contaria a todos que teriam de ir embora. Começou a ouvir grunhidos, como várias vozes, vindos do fundo da caverna, pedindo para que voltasse, e mesmo acreditando ter ouvido a voz de seu professor gritando por socorro, ele correu.

Chegando à superfície, ele se dirigiu até a casa de Ellie, agora sua noiva. Seu único pensamento era de protegê-la, depois lidariam com as coisas juntos. Era madrugada e o silêncio era interrompido por seus passos e por sua respiração entrecortada. Entrou na casa e foi até o quarto. Ela não estava na cama. Onde estaria? Olhou em volta, e com um piscar de olhos viu-a na cozinha. Encarando. Suas órbitas estavam vazias e pretas, seu cabelo estava sujo, sua pele estava pálida e seus lábios ressecados. Será ela? A criatura começou a dar lentos passos em sua direção, e sem entender, começou a caminhar de costas na mesma velocidade. Sintonia. É ela… Mas o que aconteceu?

Seus passos foram interrompidos quando bateu no balcão, e logo acima, pelo brilho da lua que atravessava a janela, viu o conjunto de facas que a mãe da jovem colecionava. Lentamente pegou uma. Por quê? O instinto de perigo que durante anos havia dormido acabara de acordar. Mas aquela era sua noiva. Por que temer? Seu cérebro havia parado de raciocinar, o medo percorria cada poro de seu corpo e tentava controlar sua respiração. A criatura começou a fazer sons guturais e parou de andar. Ellie? Sua voz saiu fraca e ele jurou ver ela sorrir por um segundo. Logo em seguida, ela correu para cima dele com uma força anormal, fazendo os dois caírem, mordendo seu braço, arranhando sua pele, arrancando seu olho…

Rapidamente quanto o havia atacado, ela parou de se mexer. Ele ficou alguns segundos deitado, paralisado. Lentamente abriu os olhos, em cima de si havia outro corpo inerte. Ellie? Sem acreditar, percebeu a faca atravessando sua cabeça. Ellie? Não pode ser…

Suas feições aos poucos deixaram de ser vazias, sua pele tomou cor e seus cabelos estavam limpos e cheirosos. É ela… Era… Uilas não acreditava no que tinha acabado de acontecer.
Ellie…? Ellie? ELLIE?

Não adiantava chamá-la, não adiantava balançá-la. Ela estava morta. Ele era o assassino. Lágrimas escorreram de seu rosto e caíram sobre a cabeça ensanguentada que abraçava contra o peito. De repente, outros sons: passos. Olhou assustado para fora e algumas pessoas olhavam pela porta aberta e suas órbitas estavam vazias.

Horrorizado, se levantou. Todos estavam mortos. Como? Um pensamento lhe ocorreu: A aberração que saíra do ovo… As cabeças estavam direcionadas para ele: amigos, vizinhos, crianças… pessoas as quais criara um afeto incondicional.

Sua amada estava morta. Ele tinha de fugir.

Suas pernas agiram mais rápido do que sua mente, quando percebeu, estava se machucando enquanto corria por uma floresta mais densa do que se lembrava, com neblina, e inúmeros galhos que cortavam suas roupas. QUERO SAIR DAQUI! Sua mente gritava em frenesi, até que parou de ser atingido e se viu na estrada. A lua cheia estava acima de sua cabeça, e ele apenas chorava.

Quando amanheceu estava em um quarto que não reconheceu, e seus ferimentos haviam sido tratados. Descobriu que havia sido encontrado por um grupo de aventureiros na beira da estrada, com algumas bolinhas amarelas acendendo e apagando ao seu redor, e fora levado para um hotel no reino próximo.
Conversou com o dono do hotel e descobriu que alguns anos haviam se passado, mais do que aqueles que lembrava ter ficado no vilarejo. Ao questionar sobre o lugar, o hoteleiro o encarou com espanto: Está abandonado há anos. Ninguém vai lá, e aqueles que se arriscam por causa dos tesouros, não retornam. Os guardas fizeram reconhecimento: aranhas habitando a floresta, uma neblina densa e fogos-fátuos brilhando na escuridão sem sentido que a floresta possui. O lugar se tornou perigoso e ninguém sabe o motivo.
Desesperado, Uilas buscou ajuda, mas ninguém acreditava em seu relato. Ninguém queria ir ao vilarejo. Nem ele tinha coragem. Tentou se afastar, ir para outras cidades, mas quanto mais andava para longe, mais rápido voltava para a floresta.

Envelheceu da noite para o dia e adotou o nome de Godofredo, tendo sua memória afetada. Os que o conheceram sofreram efeitos colaterais e entraram na teia de influência da criatura libertada, não percebendo a aparência estranha que aquele jovem adquiriu, não suspeitando de sua longevidade, falta de machucados e resistência acima do normal, abraçando sua ideia de tentar levar aventureiros para a Floresta Fantasma. E Godofredo, sendo um fantasma preso a esse Plano, fica buscando por aventureiros que possam ir até o local trazer de volta a pedra elíptica de cor preta, ornamentada delicadamente com espirais douradas.


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