Égide da Tempestade – Parte 8 – Contos de Thull Zandull

Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 7, Dargon descobriu que todo O poder do Exarca não vem apenas da Fé que ele prega mas da magia que ele luta contra. E o embate entre a tropa de Mira e os legionários se aproxima cada vez mais. Fique agora com Égide da Tempestade – Parte 8.

Égide da Tempestade – Parte 8 

Um sopro de esperança

O amanhecer daquele dia era um misto de prantos e ansiedade. Podiam todos observar no horizonte as forças com as quais o confronto ocorreria em breve. Orcs, Goblins, Humanos e criaturas oriundas de animais selvagens, possivelmente fortificadas e alteradas por magias, encantos antigos. Havia a temível bombarda montada sobre uma estrutura móvel e uma organização invejável.

Os batedores relatavam que as forças que se colocavam no campo eram menores do que as observadas, devido a organização elaborada para proteção das linhas de suprimento. Era nítido que o comando estava nas mãos firmes dos Orcs. Eles estavam acostumados a doutrina militar e combatentes ferozes. 

Provavelmente os Humanos, faziam parte dos incontáveis inimigos adquiridos pelo Império. Apesar das buscas por respostas, o que realmente importava a todos dentro do torrilhão, era a sobrevivência. 

Os olhares de legionários e aldeãos se encontravam na mesma angústia de saberem que uma vitória naquela batalha era impossível, mesmo para um Exarca, servidor divino do Diáfano.

Soren se esforçava em manter o ânimo das tropas e por isso convocou Dargon para uma conversa em seus aposentos. O minotauro ainda estava relutante, mas mantinha a disciplina mesmo discordando profundamente das estratégias e artimanhas que alegava terem sido usadas pelo líder da companhia.

Ao entrar, o centurião fez seu cumprimento formal e aguardou ordens.

-Dargon, preciso que envie um mensageiro até as forças que se colocaram contra nós neste campo. Desejo conversar com a líder deles e encontrar um acordo que possa ser a chave para salvação dos aldeões que estão conosco.

-Me perdoe, comandante, mas se sua intenção era salvar vidas, porque fez uma bravata ontem para aquele que trouxe uma possibilidade de acordo?

-Simples, ele precisava levar para sua líder a impressão que mantemos a unidade e coragem, mesmo diante das dificuldades impostas por falta de suprimentos, equipamentos e legionários. Uma cortina de fumaça e teatralidade para garantir que em uma segunda oportunidade tenhamos moeda de barganha. Lembre-se Dargon, levar o inimigo a repensar seu desejo pelo combate é igualmente importante para nós.

O centurião refletiu sobre as palavras e percebeu que havia sentido em tudo que havia sido dito. Lidavam com Orcs, guerreiros ferozes, mas que respeitavam as tradições antigas e acima de tudo a honra no campo de batalha. Seria provável que a comandante Mira trouxesse consigo alguns destes valores e como guerreiro experiente Soren tentava usar isso em favor de todos que ali estavam. 

Diante dos argumentos Dargon retirou-se e agilmente se pôs a executar a ordem 

Uma líder de honra

O mensageiro enviado por Dargon havia retornado e ficou acordado que na manhã do próximo dia deveriam se encontrar em um pequeno monte próximo. Deveriam comparecer apenas os líderes e um guardião a fim de evitar animosidades maiores do que as que já existiam.

Assim Soren solicitou a Dargon que o acompanhasse. O Exarca solicitou que o centurião limpasse sua armadura e mantivesse os equipamentos com aparência de melhor zelo possível. Havia nisso a mesma intenção de antes, manter a imagem de resiliência das tropas inalterada.

O Exarca caminhou pelo torrilhão todo paramentado para a guerra, de maneira que os ânimos foram aplacados até o momento em que ambos partiram para o ponto de encontro.

Ao chegarem perceberam que os Orcs já os aguardavam. Mira era uma fêmea de grande porte. Tinha cabelos curtos, porém bem cuidados para os padrões de seu povo. Tinha adornos cerimoniais amarrados em mechas curtinhas próximas a seu rosto. Vestia um peitoral de aço bem ajustado ao corpo, feito em bom material, mas sem detalhes, portava manoplas e grevas e proteções bem posicionadas, mas aquilo que mais causava espanto era um dos braços, feito inteiramente em algum metal enegrecido, dos quais era possível ver sulcos, por onde um brilho esverdeado era emitido. 

Seu guardião era um Orc brutamontes caolho, bem alto e musculoso que portava um machado grande de duas faces. Seu corpo era inteiramente protegido com uma armadura pesada de placas sobrepostas, uma versão aprimorada da loriga usada pelas legiões. Ao se apresentarem descobriu que o nome dele era Kagror.

Mira contemplava a visão do alto do monte quando chegaram. Foi a primeira a falar:

-Então você é portador de ira e relâmpagos. Aquele que desafiou e venceu minhas forças avançadas?

-Sim, servidor da Fé e dos dogmas do Diáfano. Exarca Soren Larsen, a quem chamam de Égide da Tempestade. Fico lisonjeada por conhecê-lo pessoalmente, mas você já sabia sua história assim que escolheu voltar a esta terra. Nunca imaginei que você voltaria para proteger a Autarquia. Pelo que soube seu título foi ganho décadas atrás, na batalha do Estreito da Tempestade, dentro do reino Taurino, quando sua resistência se demonstrou tão ferrenha que ganhou o respeito do próprio rei. Ser banido depois de ter construído um legado tão impressionante demonstra o respeito dado por seus superiores aqueles que dedicaram a vida a proteger sua Fé.

Dargon se espantou com aquela revelação, mas manteve-se sob controle.

-Eu agradeço Mira. Imaginei que espiões já estivessem em pontos estratégicos para lhe trazer informações sobre a chegada de reforços. Aliás, este é o centurião Dargon, meu guarda-costa. Venho aqui para conversarmos sobre os termos que desejo apresentar, afinal de contas eu ainda desejo ter meu momento na grande cidade de Basil e acredito que você também.

Mira o olhou com estranheza e Kagror não conteve seu riso.

-Me perdoe Soren, mas Basil caiu há uma semana atrás. Nossa posição apenas garantia que o cerco não seria quebrado por quaisquer forças que tentassem tal feito.

O Exarca não conseguiu esconder sua decepção e então disse:

-Eu ainda terei minha última batalha. Que seja neste campo, porém peço para que possamos conversar a sós enquanto contemplamos a bela visão deste monte. 

Dargon e Kagror se afastaram apenas observando os dois líderes conversando lado a lado. Mantiveram o silêncio e seriedade por todo período em que aquele importante diálogo ocorria. Eles ficaram lá por muito tempo, ao passo que Dargon viu seu líder entregando um livro e papéis a Mira, após um cumprimento respeitoso. Soren veio em sua direção.

-Terminamos aqui, precisamos retornar e preparar tudo para amanhã.

O acordo

Durante o retorno, Dargon precisava saber o que ocorrera naquela conversa.

-Soren, lutaremos amanhã?

-Sim, lutaremos, porém apenas nós dois. Consegui convencê-la a nos dar uma morte honrada no campo de batalha, mas solicitei clemência aos aldeões e últimos legionários que irão recuar para a cidade costeira. Creio que em breve a cidade vai capitular também, já que a notícia da queda de Basil ainda é recente. Entenda Dargon, não há outra opção para nós. Um Exarca e um centurião seriam julgados após tudo isso e depois de uma longa espera seríamos condenados a execução por crimes contra o Império, então para nós não faz sentido retornarmos.

Dargon ouvia atentamente as palavras. Estava irritado, mas não demonstrava nada, aprendeu ao longo dos anos a suplantar decepções e sentimentos. Se irritava, pois infelizmente Soren estava certo. Se recuassem, haveria questionamentos sobre a luta em nome da Fé e tudo acabaria com a prisão e julgamento. Eles não fugiriam das responsabilidades e não viveriam como párias. Talvez ele pudesse aguentar o peso de uma fuga, mas Soren, jamais faria isso. Ele mesmo repetia que seguia um código de honra e um juramento. Dessa maneira cabia a ele, exercer sua última função como guardião leal.

-Soren, acredito que alguns legionários desejarão ficar ao nosso lado. 

-Negativo, pode ficar tranquilo que irei me encarregar de assumir essa responsabilidade, ainda hoje todos terão partido e amanhã teremos nosso último dia nesta terra. Me entristeço que não tenha vivido o suficiente centurião. Eu já estou velho e tive minhas parcelas de vivências. Algumas dignas e outras nem tanto…

Dargon respirou fundo. Limpou sua mente de dúvidas e retomou a postura de centurião, aceitando seu destino.

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 8 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Douglas Quadros

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Égide da Tempestade – Parte 7 – Contos de Thull Zandull

Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 6, o grupo de centuriões ficou a mercê da natureza, presos por uma tempestade,  e ao fim dela descobriram que os inimigos eram muitos e bem mais preparados. Dargon acredita que essa guerra está perdida. Fique agora com Égide da Tempestade – Parte 7.

Égide da Tempestade – Parte 7

Prenúncios de calamidade

Era um dia que remetia as melhores lembranças de Soren. O Sol, o semblante vivo de sua divindade ali finalmente trazia seus fulgurantes raios para aquecer corpos e mentes de legionários cansados. 

Apesar do desafio, o trabalho feito naquela semana foi intenso. Havia um pequeno fosso e a terra retirada foi utilizada como ponto elevado, suas bases reforçadas com madeira, assim a terra não facilmente cederia. 

Espigões de troncos também foram espalhados pela estrutura, fato que impediria cargas de quaisquer montarias que avançassem. O local no qual estavam tinha dois andares subterrâneos, que foram limpos e organizados. A estrutura como um todo não passava de um torrilhão de vigilância. Porém apesar do abandono ainda tinha uma forte estrutura. 

Com o passar dos dias, alguns aldeões juntaram-se à guarnição. Estes traziam notícias sobre os diversos ataques e as derrotas sucessivas das forças de defesa. Nada de novo para aqueles que ali estavam no limite da tormenta, que em breve estaria à vista. Fato que a construção em suas épocas áureas podia contar com até 70 pessoas, entre soldados e viajantes à procura de segurança durante a noite. Mas naquele dia, a contagem já passava de 200. Infelizmente uma boa parcela destes não eram combatentes treinados, mas recusaram-se a deixar a segurança que a posição oferecia. 

Dargon, utilizava parcela de seu tempo em treinar os mais fisicamente aptos com o mínimo necessário. Enquanto refletia sobre quanto tempo as provisões durariam. Havia racionamento de tudo e com organização todos conseguiam espaços para descanso, tudo era compartilhado e de certa forma a presença do Exarca trazia paz e ordem, mesmo em condições difíceis não havia reclamação, mas sim um esforço contínuo. 

O Minotauro não ignorava esses detalhes, pensava consigo que em outras condições, com mais pessoas e com uma estrutura adequada, o Exarca poderia ser um governante digno. Porém todas as vezes que deixava sua mente divagar, rapidamente era trazido de volta com alguma urgência a resolver. 

Aquele realmente era um dia tranquilo, mas rapidamente a tranquilidade momentânea cessou com o retorno apressado de um batedor. Dargon o interceptou:

-Quais informações trás de sua posição?

-Centurião, há soldados em marcha, acredito que tem o dobro de nossas forças. Linhas de suprimento bem estabelecidas, trazem consigo uma bombarda senhor! Não acreditei quando vi, mas trouxeram uma das temíveis armas construídas pelos infiéis do oeste distante. A arma maldita cuspidora de ferro e fogo!

Uma verdade dolorosa

Dargon conhecia bem o poder de tal arma. Havia temor quando as primeiras foram utilizadas nos campos de batalha do sul do Império. 

Desde então a Fé Diáfana tentava compensar com crença cega o desequilíbrio trazido pelos estrangeiros. Para piorar, havia ordens para que nenhum tipo de equipamento de infiéis fosse usado, já que estavam maculados. O centurião nunca entendeu o motivo, pois aquelas armas faziam grande diferença quando funcionavam adequadamente. De posse da informação imediatamente procurou o Exarca. 

Ao chegar no pequeno aposento privativo no topo do torrilhão, percebeu a porta entreaberta. Lá percebeu um brilho avermelhado e ao se aproximar sorrateiramente presenciou Soren preparando uma espécie de poção com pequenos cristais, seu corpo estava castigado, mais magro e com feridas que resistiam a cicatrização. Estava sem camisa e desta maneira, Dargon viu chagas variadas e manchas escuras parecidos com hematomas. A armadura do líder ali estava no suporte, com uma luminescência constante vinda da parte interna onde rumas cristalinas existiam.

O centurião entrou abruptamente:

-Soren? O que é tudo isso?

Soren se virou calmamente:

-O último recurso meu caro amigo. Desde que chegamos a esta terra tive que usar tudo que tinha à minha disposição para manter a chama de esperança viva. A fé é sincera, mas os poderes nem tanto. Há magia, mas não da fonte que imaginava. Lembra que falei a você sobre os conhecimentos e poderes ocultos deixados de lado pela Autarquia? Pois bem, elixires preparados com fragmentos de geodos arcanos podem potencializar qualquer tipo de magia utilizada, porém a um alto custo para saúde do usuário. Meu grande poder, minha dádiva é verdadeira, mas sua força nem se compara a de outrora. Minha poderosa armadura também tem pedras e encantos abominados pelos mais fanáticos e puritanos praticantes da fé, apenas desta maneira é possível usá-la em combate. Com todos estes recursos, este velho corpo decidiu fazer um sacrifício digno. Meu estoque não durará muito e minha intenção agora é garantir que o assombro desta manifestação em campo garanta a vida do máximo de pessoas que eu puder. Não chegaremos a cidade de Basil, não tombaremos gloriosamente em campo. Vou honrar meu juramento Dargon, isso eu garanto.

-Eu e todos os outros acreditamos em sua força divina, mas agora percebo que não passavam de embustes, os mesmos usados pelos Venéficos que caçamos, estou confuso em ver que a dádiva que orgulhosamente citou não passava de uma demonstração da corrupção dos geodos arcanos?

-Dargon, a corrupção e os instrumentos que cita SEMPRE foram um argumento, um ponto de vista nesta luta de ideologias! Não aprendeu nada em todo este período que estamos em campanha. Eu te tirei daquela maldita fortaleza assim como seus comandados, com uma única esperança… SAIA, É UMA ORDEM!

Tambores da guerra

Dargon bateu a porta atrás de si, à medida que caminhava dava ordens aos soldados, preparando assim todos para o combate, porém as palavras que ouvira de Soren ecoavam em sua cabeça. Ele se lembrava de sua juventude, se lembrava do período anterior a seu rito de purificação, se lembrava de tudo que viveu antes da legião, mas nada mais importava, havia mais um combate, provavelmente seu último.

Um de seus oficiais se aproximou:

-Senhor, um mensageiro Orc se aproxima, devemos abatê-lo?

-Negativo, desejo ouvir o que ele tem a dizer.

O mensageiro em imponente couraça de aço montava um lobo atroz, parou a dez metros da torre e solicitou audiência, Dargon foi a seu encontro.  

Foi então que o Orc disse:

-Venho em nome de Mira, comandante das tropas em marcha. As forças que defendem este torrilhão devem se render ou faremos o fogo chover sobre vocês ainda está noite!

Antes que Dargon pudesse responder, Soren surgiu gloriosamente respondendo:

-NÓS RETRIBUIREMOS, COM IRA E RELÂMPAGOS!

Dargon ouviu o clamor de exaltação dos legionários com a bravata proferida pelo Exarca. Havia determinação e coragem quando a figura heróica de Soren surgia, isto era inegável, porém nem toda coragem do mundo seria capaz de deter as forças que investiriam contra eles…

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 7 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Douglas Quadros

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Égide da Tempestade – Parte 6 – Contos de Thull Zandull

Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 5 a comitiva continua na extenuante viagem. Dargon está impressionado com o poder que a Fé concedeu ao Exarca Soren. Mas sua própria fé ainda será testada em sua jornada. Fique agora com Égide da Tempestade – Parte 6

Égide da Tempestade – Parte  6

Maus presságios.

A jornada pela estrada régia persistia e como um sinal de mau presságio o tempo começou a castigar a todos. Já era o segundo dia com chuvas torrenciais, algo atípico para aquela época do ano. A estrada apesar de mal cuidada ainda mantinha-se firme, uma lembrança agradável dos dias de glória do Império. Porém, assim como ele, dava sinais claros que a inércia dos responsáveis pela manutenção causava prejuízos nítidos quando a análise ocorria a longo prazo. 

Fora, as divagações, o Exarca Soren refletia consigo até que ouviu o chamado do centurião Dargon, indicando que haviam chegado a outra estrutura comunal usada pelos antigos destacamentos de vigilância das estradas. Assim como esperavam, a construção estava em péssimo estado, porém com algum esforço poderia servir de guarnição fortificada. 

Os esforços naquela noite foram maximizados pela agressividade do temporal. Não havia outra alternativa ao experiente líder daquela companhia a não ser permanecer naquele local por mais tempo, até que as chuvas dessem uma trégua. Ainda durante a madrugada, Soren começou a rascunhar ordens e pensar na melhor utilização daquele local. Implorou por iluminação e recebeu uma resposta misteriosa. Ele sabia que teriam que permanecer naquele local por uma semana, não entendia a natureza do presságio, mas ele era um homem de fé, algo diferente de toda estrutura de poder que o circundava e ao qual ele firmemente criticava. Permanecia firme a outros dogmas, outros juramentos e por isso seus vínculos pareciam tão diferentes de outros Exarcas.

Soren chamou Dargon para uma conversa. O centurião prontamente atendeu ao chamado mas não conseguia esconder sua curiosidade, ainda mais por conta do momento da madrugada ao qual fora convocado. 

-Dargon, peço desculpas pelo incômodo, mas preciso conversar sobre nossa atual situação. 

-Estamos sob seu comando. Adianto que tentamos avançar com os trabalhos para organizarmos uma área fortificada, mas infelizmente estamos lutando contra a exaustão e as forças da natureza.

-É exatamente sobre isso que desejo conversar. Não temos condições de avançar para Madras nesse momento. Precisamos permanecer neste local, amanhã você passará ordens aos soldados para derrubarem árvores e iniciarem os reparos deste local no qual estamos, dará ordens para construírem estruturas básicas de vigília, cavarão um fosso que será preenchido com estacas. Precisaremos utilizar nossos esforços nesses trabalhos, apesar do mau tempo. Quero que confie em minha decisão, pois nossa sobrevivência e verdadeira função nesse campo de ações será definido pelo passos cuidadosos que daremos. 

Um servo de pouca Fé

O centurião estranhou aquela postura e questionou a decisão.

-Estaremos cercados se permanecermos parados aqui, não compreendo sua decisão.

Soren continuou:

-Já estamos cercados há muito tempo e já havia citado isso a você. A tempestade traz mensagens ocultas, eu entendo e leio estes sinais por tempo demais para compreender que precisamos parar aqui. Você não está entendendo, não conseguiremos irem além deste ponto! Aqui teremos uma revelação de vida ou morte e por isso desejo que todos os dias você utilize seu tempo para progredirmos em nossas conversas.

O centurião assentiu e pediu permissão para retornar ao descanso. Durante aquela noite Dargon não conseguiu retornar ao sono, além da tempestade e preocupações, a fala do Exarca o deixou mais atento. 

Havia naquelas palavras tanta insuspeição que o Minotauro sentiu receios em relação ao que poderia estar esperando todos em Madras. Levantou-se ainda antes dos primeiros raios de luz e procurou seu melhor batedor, cedeu-lhe a melhor montaria que tinham e ordenou que viajasse até os arredores da próxima vila, trazendo informações. O batedor escolhido conhecia trilhas antigas e disse que tentaria fazer o melhor que pudesse, mesmo porque qualquer caminho seria um terreno de difícil avanço, porém a segurança urgia por caminhos ocultos. Equipamentos foram cedidos e ele partiu.

O centurião voltou a suas responsabilidades e durante todo o dia mantiveram as ordens recebidas por Soren.

Já ao cair da noite o Minotauro retornou para diálogo com o Exarca, que permaneceu isolado em seus aposentos.

Assim que adentrou o ambiente, Dargon percebeu sinais de cansaço físico extremos ao velho servo divino. Durante horas Soren retomou ensinamentos básicos sobre a Autarquia e sobre a Fé Diáfana. Aquele momento era agradável, pois havia domínio e paixão naqueles ensinamentos proferidos. Parecia que uma pessoa ou energia diferente operava pelo corpo cansado do velho combatente da Fé, mas ainda assim persistia com afinco em seu ofício.

Revelações divinas

Permaneceram nesses momentos de reflexão até o terceiro dia, momento no qual a ira da natureza demonstrava sensível redução e também momento de retorno do batedor enviado.

Dargon rapidamente foi ao encontro do homem, que parecia aterrorizado.

-O que encontrou em Madras?

O batedor respondeu:

-Encontrei nossa morte, meu líder! Existem homens, Orcs, Kobolds, Goblins e muitas criaturas selvagens trabalhando juntas, você acredita? Juntas! A cidade parece uma grande fortaleza móvel com tantos homens, armas de cerco de seres que mais parecem aríetes vivos. Eu contei uma força aproximada de 400 soldados, bem armados e preparados para luta além é claro das criaturas, pelo menos 50 de variados tamanhos. Não teríamos a menor chance contra aquela força e sinceramente não deve ser nem a força principal. Pelo Grande Deus, se tivéssemos prosseguido, já estaríamos mortos. Temos que recuar para o mar senhor. Basil está perdida, não existem caminhos que levam a cidade.

O centurião abateu-se com a informação e repentinamente Soren se aproximou, não disse nada, apenas olhou para ambos e fez sinal para retornarem às atividades. 

Dargon olhou para seu comandante e seu respeito ganhará novo patamar, deveria sim confiar nas palavras daquele verdadeiro servo divino. Iriam esperar o tempo necessário para encontrarem a revelação.

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 6 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Douglas Quadros

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Égide da Tempestade – Parte 5 – Contos de Thull Zandull 

Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 4, a tropa do Exarca Soren sofreu o ataque dos Orcs que estão ao lado do Veneficus ancião, e a consequências desse encontro podem atingir Dargon. Fique agora com Égide da Tempestade – Parte 5.

Égide da Tempestade – Parte 5

Um campo de dor

Aquela manhã estava tomada pelo cheiro acre de sangue da batalha ocorrida na madrugada. Mas não era apenas esse o odor de combate. Misturava-se a ele impressões olfativas provenientes da carne queimada, urina e fezes, algo comum quando barrigas são abertas por violentos golpes de lâminas, ou mesmo quando o medo se apodera do corpo, gritando por fuga em momentos decisivos. 

Compondo esta cena tétrica, homens suados e cansados caminhavam por entre o que restava de aranhas couraçadas, Orcs, recrutas e experientes soldados. A dádiva do Exarca trouxe esperanças, mas as criaturas restantes e os Orcs lutaram ferrenhamente, causando pesadas baixas à tropa que não estava completamente preparada para uma luta como essa. O treinamento dos legionários não incluía criaturas recobertas por camadas cristalinas resistentes e afiadas. 

Em pontos isolados ouviam-se gritos de dor e por todo campo gemidos comuns aqueles que estão à beira da morte. 

Dargon caminhava por entre os corpos, concedendo golpes de misericórdia aos inimigos. Observava atento aliados que ainda podiam ser salvos. Mas na maioria das vezes apenas deixava-se ajoelhar diante de antigos parceiros na parede de escudo, ouvindo suas preces e concedendo acalento com a mera presença ou um aperto de mão firme antes da partida para a morada eterna.

Soren olhava o campo sentado em uma pedra. Foi uma luta difícil e ele refletia sobre a real força do exército invasor. Pensava consigo que a companhia que caiu sobre eles nem de perto igualar-se-ia ao exército principal que de certo assaltaria da cidade de Basil. 

Pensava na maneira como o inimigo estava disposto a entregar-se de corpo e alma à causa. Durante a madrugada o Exarca acreditou que a demonstração de força bruta poderia ser um elemento abalador para convencer os agressores à opção de recuo, mas ao contrário, causou a ira, o frenesi de uma horda determinada. 

Pensava em séculos de opressão, no qual as mazelas e humilhações direcionadas a tantos povos, tantas raças e culturas finalmente cobravam seu preço. 

Ele era um homem de Fé, sabia que havia uma força que o guiava, mas nem de perto pertencia a doutrina da Autarquia ou do Pontífice Imperador. Ele seguia um código de honra e iria até o fim. Seu olhar se perdia em meio a pequena desolação, pequena julgava ele, pois o massacre de verdade ocorreria quando não houvesse mais escudos para aplacar ou amenizar tantos sentimentos profundos direcionados aos antigos conquistadores e escravizadores. 

Uma jornada de pesares

Após horas, quando covas comunais estavam sendo abertas para os aliados e fogueiras comunais reservadas aos inimigos, Dargon se aproximou de Soren:

-Impressionante a dádiva concedida a você! Não sei se seríamos capazes de resistir senão estivesse conosco. Nunca vi algo assim. Apenas em histórias antigas ouvíamos os feitos de Exarcas capazes de milagres espetaculares. Não entendo como uma figura como você não está em posição de prestígio, apesar de tudo que contou, ainda assim não entendo. Sua presença em qualquer exército ou mesmo nas forças de elite do Império seriam fundamentais. Nem de perto imaginava que ainda fosse possível conjurar poderes como esse.

Soren, ainda estava sentado e respondeu:

-Disse a você, o fanatismo cega, amaldiçoa e se espalha como uma doença mortal. Eu estou aqui por um juramento solene, um dever. Não para com o Império ou as instituições ligadas a ele, mas sim por algo mais antigo, algo que existia no alvorecer de nossa ordem, algo que se perdeu. Eu espero manter esse juramento…

Dargon demonstrou certa confusão:

-Difícil decifrar você Exarca! As vezes vingativo e desprendido e agora com esse tom solene? O que traz consigo de verdade, desejo compreender melhor aquilo que fala.

-Meu caro centurião, há um dever a cumprir e devemos procurar por sobreviventes em Zimosh. Em quanto tempo poderemos partir?

Dargon assentiu com a cabeça, entendendo que talvez tivesse ido longe demais. Afirmou que agilizaria os movimentos para uma rápida partida e pôs-se a distribuir responsabilidades à tropa.

Logo, todos os sobreviventes estavam em marcha. De todos os novos recrutas, apenas cinco sobreviveram ao batismo de fogo, já entre os soldados cerca de um quarto haviam quitado seus deveres para com a Fé Diáfana. 

Haviam feridos e estes realmente preocupavam a todos. Não havia recursos adequados para tratá-los e em muitos casos havia pouca esperança de melhoras. Mesmo assim, eram carregados e sempre apoiados pelos parceiros de combate. A guerra era cruel em diversos níveis e logo iriam se deparar com os escombros de Zimosh.

A aldeia de Zimosh

O que restou da legião chegou a vila já a tardezinha, a desolação era indescritível. Não havia nenhuma casa em pé, apenas escombros chamuscados, muitos locais ainda ardiam com as chamas e o crepitar da madeira se mantinham. Todos os corpos dos homens mortos no ataque também foram reunidos e queimados e não havia sinais de mulheres, crianças ou idosos, nem entre os restos mortais ali presentes. 

Alguns rastreadores, puderam trazer luz ao mistério. A força que os atacou era uma fração dos inimigos. Havia sinais que indicavam que os sobreviventes foram levados por invasores, para piorar, sem chances de resgate, devido ao número elevado da horda. Dargon chegou a questionar se Soren poderia novamente repetir aquele feito da madrugada, mas rapidamente recebeu uma negativa.

O Exarca disse que aquele tipo de dádiva demandava tempo de recuperação, pois exigia demais de seu corpo. De fato exigia, já que ele apresentava uma fadiga anormal naquela altura, chegou a cuspir sangue algumas vezes, mas mantinha-se firme na posição de líder. Reviraram escombros com alguma esperança, mas nada havia a ser salvo. Todo o local, suprimentos e qualquer item útil foi estrategicamente analisado, o que podia ser usado foi levado. Não restava nada além de prosseguir. 

Era nítido que sobreviver a luta não significava uma vitória expressiva, pois o golpe duro recebido e a maneira como encontraram a vila demonstrava que a cena que encontrariam na próxima parada talvez fosse ainda pior.

Mesmo assim, Dargon ainda esperançoso na desatenção dos invasores ordenou aos homens que procurassem sobreviventes escondidos nas redondezas e qualquer suprimento que restasse. Após pouco tempo os batedores mais experientes relataram que nenhuma busca obteve sucesso. 

Havia rastros de pessoas que em vão tentaram escapar, mas dentre os inimigos também existiam figuras treinadas e proficientes em rastreio. Quanto a suprimentos, tudo fora levado e o que restara, era apenas cinzas ou elementos lambidos pelo fogo.

O Exarca não hesitou e pôs a companhia à marchar. Dargon se aproximou:

-O que acha? Não seria prudente buscarmos estradas alternativas mesmo que demoremos mais? Evitar a próxima vila também seria uma opção mais adequada.

O Exarca manteve a seriedade e disse:

-Sim seria, mas eles sabem quantos somos e nossas posições, acredite em mim quando digo que há forte magia aqui. Ainda irei te explicar melhor, mas no momento posso afirmar que precisamos manter nosso caminho e rezar para que nossos inimigos sejam cautelosos em seu próximo movimento. Temos dias até nosso destino e provavelmente não teremos locais tão resistentes para armarmos acampamento. Teremos que colocar a tropa em marcha pesada e revezar os descansos, mantendo em vigilância bom número de homens. Eles também sofreram baixas pesadas e com certeza vão evitar novo confronto aberto. Quanto as trilhas, estas sim, são as armadilhas que devemos evitar. Os Orcs talvez até esperem que tomemos essa decisão.

Dargon concordou e retornou a sua posição. Havia grande tensão entre os homens, mas a marcha precisava continuar…

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 5 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Douglas Quadros

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Édige da Tempestade – Parte 4 – Contos de Thull Zandull 

Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 3, após navegarem para chegar em Luxia, o grupo precisou recrutar homens para poder seguir viagem. E agora Égide da Tempestade – Parte 4

Égide da tempestade – Parte 4

Reforços a caminho

A marcha até a principal cidade do Norte, Basil, começara. As forças de Soren Larsen e Dargon reforçariam as defesas. As grandes muralhas que protegiam a pérola do Império naquele ponto distante do continente de Luxia. Mas antes precisariam chegar intactos para prestarem apoio adequado, e isto significava passar por duas vilas na jornada de dez dias até o local. 

As vilas de Zimosh e Madras ofereciam boa carne de ovelha. Além de lã e plantações de tubérculos que devido intervenções místicas tornaram-se naturalmente resistentes ao frio. Eram locais estratégicos para manutenção das forças e se não tivessem sido atacadas, era nítido para ambos líderes que as pessoas e recursos deveriam ser deslocados, pois o conflito chegaria aos aldeões em breve. 

Eram conjecturas otimistas, mas no fundo sabiam que provavelmente não encontrariam muito o que resgatar se as forças invasoras fossem minimamente organizadas e conhecessem um pouco da geografia imperial.

Durante quatro dias marcharam incansavelmente acompanhando a estrada régia pavimentada e larga o suficiente para que dois carroções andassem lado a lado. Havia construções comunais de pedra, onde há tempos atrás sempre guarnições eram mantidas para assegurar que viajantes não fossem molestados por ladrões. Porém devido falta de manutenção, o que sobrava destes locais já servia para organização de uma defesa razoável para  que os legionários pudessem repousar. 

Breves encontros com pequenas comunidades familiares de subsistência demonstravam que até o momento, aqueles locais não haviam encontrado os horrores da guerra, porém durante a noite do quarto dia, foi possível observar sinais de chamas em larga escala cortando o horizonte.

Os homens estavam cansados e inquietos e Dargon foi até seu superior:

-Exarca, venho solicitar que atenda meu pedido de continuidade da marcha. O inimigo se aproxima e os aldeões necessitam de nós.

Soren Larsen acabara de sentar-se e estava retirando suas botas, quando o Minotauro veio a seu encontro.

-Pedido negado centurião. Apesar de vermos os sinais no horizonte, a marcha demandaria muitos quilômetros durante a noite. Se já estamos em território hostil, seria a condição perfeita para emboscada. Além disso, se vemos as chamas dessa distância, devem ter espalhado destruição em grande parcela da vila, tentando causar desespero e também evitar que qualquer suprimento seja obtido. Seria o que eu faria para preparar um cerco. Minando gradativamente os recursos até a longa espera diante de uma grande cidade murada. Penso que talvez tenhamos problemas para entrar na cidade! Então se me permite, acho melhor mantermos a posição e estarmos preparados e descansados a partir de amanhã.

Experiência de campo

Dargon concordou com as ordens, mas não conseguiu esconder a surpresa diante da calma demonstrada pelo Exarca.

-Como consegue senhor? Entendo que a determinação e autocontrole são fundamentais, mas mesmo para mim, fica difícil conter a ansiedade de um combate que em breve cairá sobre nós. 

-Dargon, entenda que nestes longos anos em que vivi, já presenciei tantas cenas e situações trágicas que simplesmente tento manter o foco nos objetivos traçados e principalmente tomar cuidado com expectativas. Peça a seus homens que redobrem a vigilância, pois há grandes chances de termos visitas esta noite.

O centurião seguiu as ordens. Ele manteve fogueiras no perímetro e homens em posições de vantagem para observação atenta. Organizou barricadas para evitar carga de cavalaria ou qualquer força em investida com intuito similar e manteve arqueiros extras para apoiar os legionários equipados para combate corpo-a-corpo. 

Não demorou, para que esta atitude preventiva fosse recompensada, pois no início da madrugada, sinais de ataque foram dados. Os corneteiros despertavam as tropas com um soar estridente e constante, gritos de ordem alinhavam os homens para o combate. 

Dargon rapidamente levantou-se e diante da urgência não vestiu sua armadura. Apenas puxou seu escudo de corpo e armas para posicionar-se e assim liderar as tropas. Ao chegar ao campo deparou-se com Soren Larsen em pé diante da tropa, uma figura heróica e inspiradora, vestindo uma pesada armadura de placas com tons douradas e prateados. Os movimentos eram tão naturais que o centurião não acreditava que o Exarca ainda tivesse forças para aguentar tanto peso das placas. Era comum que cavaleiros usassem tal equipamento, justamente pela mobilidade, mas isto não ocorria a Soren. Ele estava ali, em pé no campo e movia-se naturalmente, em sua mão esquerda um opulento escudo de corpo com o brasão da Fé Diáfana, o Olho Coroado que tudo vê, em sua mão direita um pesado martelo de batalha com cravos aparentes. Em sua cabeça um elmo selado com viseira aberta, com detalhes que lembravam asas resplandecentes. 

Quando a figura levantou o martelo, uma aura luminosa o envolveu e todos ali sentiram-se revigorados, pois havia luz diante das trevas que ali repousava. A frente da legião argêntea surgia uma massa de aranhas gigantes, com corpos recobertos de camada cristalinas. Mas não eram só estes seres que traziam temor às tropas, mas sim, os Orcs que as montavam. As criaturas traziam em suas costas, três a quatro Orcs com arcos e azagaias, eram pelos menos vinte aracnídeos com uma força assustadora de seres vorazes chovendo flechas e setas sobre as tropas. 

O punho de Deus

Na primeira saraivada, Dargon usou o apito que sempre trazia consigo para sinalizar momentos antes à tropa que se pusesse em formação defensiva, som propagado rapidamente por todos os experientes legionários que aderiam a formação.

Infelizmente, os aldeões recrutados começaram a dispersar e o centurião pensou que se sobrevivessem aquela luta já seriam abençoados. Gritos de comando também eram ouvidos, mas diante de todos, Soren foi o único a baixar o visor e ficar ali parado a frente e levemente distante da tropa. Ele cravou seu escudo a frente e se ajoelhou com uma das pernas tocando o chão, manteve o martelo firme em sua mão enquanto todos ouviam sua oração.

Por um momento Dargon pensou que o Exarca estivesse louco, mesmo com tamanha proteção não seria possível resistir a tantos inimigos, mesmo assim ele prosseguia.

-Ó senhor do amanhecer. Rei dos reis no firmamento infinito, rogo a ti pelas forças primordiais. Traga-as a mim neste momento de desespero e aflição. Livre seus filhos do mal que avança e a tudo deseja consumir. MIRE SEUS OLHOS EM SEU FILHO, A ÉGIDE DA TEMPESTADE QUE RETORNOU A ESTA TERRA DE PECADORES. PURIFIQUE-OS SENHOR COM O PODER QUE OPERA EM MINHAS MÃOS!

Ao terminar sua oração, todos assustaram-se ao ver que eletricidade se espalhava pela armadura e todo corpo do Exarca. Uma concentração que mataria qualquer ser vivo. Soren levantou sua arma e um relâmpago cortou os céus. A figura heróica estendeu sua arma em direção aos inimigos e toda a torrente mortal se espalhou pelo campo de batalha, rajadas de eletricidade que atingiam pesadamente todos os inimigos que ousassem se aproximar. 

A descarga fora tão grande que a escuridão desapareceu diante de todos. Assim que o milagre cessou, metade das forças invasoras estavam no chão. Um cheiro de carne queimada espalhou-se pelo campo, ao mesmo tempo em que Dargon urrou.

-Para a vitória legião!

Um brado em uníssono irrompeu e todos avançaram inspirados pelo poderoso Exarca que finalmente demonstrava o poder encarnado!

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 4 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Douglas Quadros

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Égide da Tempestade – Parte 3 – Contos de Thull Zandull 

Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 2, o minotauro Dargon, foi chamado a realidade pelo experiente Soren Larsen. Porém Dargon se nega a reconhecer as falhas de seu dogma. Fique agora com Égide da Tempestade – Parte 3

Égide da tempestade – Parte 3

A partida de Dalmacia

Toda a guarnição do forte já havia embarcado quando avistaram no horizonte os estandartes das forças de Dalmacia se organizando para um possível cerco que deveria ocorrer, não fosse a fortuita visita Soren Larsen. Tudo que restava aos batedores, cavaleiros e soldados seria a investidura contra um forte fantasma, já abandonado de qualquer tipo de resistência.

Dargon olhava o forte ficar distante de sua posição na Nau de primeira linha nomeada Vanglória. Ele rapidamente percebeu que havia mais suprimentos a bordo do que de fato homens para utilizar todos os recursos disponíveis.

Seus pensamentos sobre o primeiro dia em que pisou em Dalmacia, o primeiro dia de luta e a provação contra inimigos tão destemidos, bem como a glória de vitórias obtidas naquela terra, ficavam para trás. Voltou lentamente a si e retomou os afazeres, mantendo soldados ocupados com atribuições variadas. Sempre havia algo a fazer, desde funções inerentes ao serviço de carpintaria; passando pela contagem, registo e verificação da carga e também funções de captura, manipulação, estiva e acondicionamento de pescado em contextos que fosse possível complementar o alimento a bordo.

Os grumetes a bordo sempre precisavam de mãos hábeis e conhecimentos extras para atribuir algum sabor diferente ao alimento, que nem sempre estava em boas condições. Fato era que a limpeza e manutenção exigiam esforço contínuo de todos, sempre havia pequenos reparos em andamento já que era visível o tempo de atividade da Vanglória.

Dargon gostava de navegar, não era especialmente hábil para desempenhar o papel de marinheiro, mas tivera ensinamentos que o deixavam em situação vantajosa nas atribuições marítimas, preferia obviamente a ação do campo de batalha e se empenhava nos ofícios de sua posição, alcançada a muito esforço. Já, Soren Larsen, apesar de receber o título de capitão, mantinha seu foco em outros assuntos, deixando toda organização para seus oficiais e o piloto da embarcação. Larsen sempre analisa mapas e organiza planos, mantinha suas atribuições como era de se esperar para alguém em sua posição. Em toda embarcação o ânimo não era dos melhores, haviam variadas conversas sobre a possibilidade de deserção e por isso Dargon mantinha seus ouvidos e olhos atentos para qualquer pequena aglomeração que surgisse. Com o passar dos dias os movimentos ganharam força ao passo que foi impossível manter a ordem sem castigos físicos. Dargon e Soren sabiam manter os soldados na linha e apesar das desconfianças havia homens que confiavam mais neles como indivíduos do que de fato a nação e ideal que protegiam.

A chegada a Luxia

Apesar das dificuldades, após quinze dias de viagem finalmente avistavam o continente de Luxia, morada do Império. Atracaram no porto de Guentia a Noroeste de Basil, vilarejo pequeno que demonstrou grande alvoroço e esperança com a chegada dos legionários. 

Assim que começaram a descarregar a carga, Dargon percebeu que havia carência de suprimentos entre a população. Soren Larsen imediatamente chamou-o para passar orientações sobre a situação em que estavam.

-Centurião, preciso que organize um alistamento nesse momento. Há homens jovens com idade suficiente ou nem tanto, carentes, mas que se bem alimentados e treinados podem ser úteis na longa campanha que teremos. Há armaduras, armas e recursos, porém poucos homens para usar tudo que temos. Se nesse local obtivermos mais trinta ou quarenta homens, principalmente para manutenção de acampamentos e serviços gerais, conseguiremos poupar soldados veteranos, mantendo nossas forças descansadas para série de lutas de travaremos. 

Dargon respondeu:

-Concordo, mas ao analisar com calma a condição dos homens que temos aqui, vejo muitos famintos que precisarão de dias até terem forças para executar as funções. Aproveito aqui para solicitar a distribuição de parcela de nossos recursos, há crianças, mulheres e idosos que necessitam que toda ajuda possível. 

O Exarca analisou o pedido e concordou com a distribuição de alimentos, com parcela extra para famílias que cedessem homens ao Império.

Esperanças renovadas

Após algumas horas, a ação surtiu efeito e obtiveram a ampliação das forças recrutando jovens de 12 a 16 anos, e idosos com mais de 50 anos, já que muitos adultos que deveriam ter a idade esperada para o serviço já terem partido para Basil, seja por vontade própria ou por obrigações ao Império. Independente da situação, eram muito jovens ou muito velhos, mesmo assim, Dargon não poderia simplesmente ignorar aquelas presenças. Necessitaria delas para variados fins…

A população da pequena Guentia agradeceu e abençoou todos assim que partiram, era nítido que havia no olhar das pessoas chamas de esperança com os legionários que retornavam ao continente. A atitude de preocupação com os humildes também era algo com qual não estavam acostumados.

Soren Larsen permitiu-se falar ao centurião.

-É por isso que fui afastado desta terra meu caro Dargon, eu explicitava a meus superiores que não há meios de construir estruturas sem que haja resistências na base que a sustenta. Como é possível termos sucesso com a população que tanto louvamos vaziamente? Como pudemos deixá-los nessas condições? Vê como eles nos veneram e acreditam em nós? Não somos imortais, não somos nada… Temos as mesmas necessidades e fragilidades deles e enquanto não aprendermos com os erros, será que teremos chances de vitória?

Dargon manteve-se calado, não havia o que dizer e nem desejava se esforçar em ampliar argumentos ou dizer algo inspirador. Pensava apenas que nos dias de marcha se esforçaria sem ensinar algo aqueles jovens. Haveria oportunidade de forjá-los, pois aquela campanha de resistência e expurgo de invasores seria longa. Havia muito território e poucos soldados, isso daria a eles dias para poderem transformar os jovens em uma força minimamente digna. 

O Exarca e o centurião sabiam que independente de seus pensamentos, aquela força que lideravam teria que ser o escudo que manteria o Império no Norte.

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 3 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Douglas Quadros

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Égide da Tempestade – Parte 2 – Contos de Thull Zandull

Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 1, o minotauro Dargon, estava preso em seu acampamento,  e recebeu ordens para ir até outro local. Fique agora com Égide da Tempestade – Parte 2

Égide da Tempestade – Parte 2

O centurião Dargon mantinha sua ronda. Observando o trabalho de todos e os esforços em cumprir as ordens dadas. Havia uma sensação de urgência já que era provável que a embarcação tivesse sido avistada e seria óbvio esperar algum tipo de retaliação de Dalmacia. 

Dessa maneira, embarcar tudo que fosse importante no menor tempo possível era algo que merecia dedicação plena. Soren Larsen, o Exarca e atual capitão da nau Vanglória acompanhava tudo de sua posição, sentado próximo a uma mesa, que fora posta do lado de fora da torre principal. Fizera esse pedido, assim como também boa comida e o melhor vinho da guarnição. 

Enquanto acompanhava o movimento, saboreando calmamente o alimento e bebida servida percebia o olhar incômodo e julgador de Dargon. Ao passo que não resistiu e questionou o centurião:

-O que lhe incomoda tanto Dargon ?

Dargon calmamente pausou sua caminhada e inspeção para o trabalho e disse:

-Com todo respeito digníssimo Exarca, mas diante da urgência e da possibilidade de um ataque vindo por terra e mar, seria prudente tamanha calma e desprendimento neste momento ?

-Então está incomodado que eu não tenha avaliado com calma a situação, correto? Pois bem, meu caro centurião. Posso afirmar, que justamente por ter certeza em todas as conjecturas que elaborei, percebo a verdadeira importância desse curso de ação que estou tomando. Você realmente acredita que o povo de Dalmacia não tomou esta fortaleza, por não ter forças suficientes para retirá-la à força ? Claro que não. Eles apenas precisam esperar. Fizeram os movimentos certos nos momentos certos e agora precisam apenas esperar que algumas artimanhas maturem. 

O Exarca fez uma breve pausa e tomou um gole de vinho.

-Você é um bom legionário, um bom soldado e um oficial com experiência de campo. Sabe analisar a situação e seus homens não são tolos. Eles sabem que senão fosse por mim não haveria reforços e muito menos provisões extras para o longo cerco. Sou um homem de honra e votos, meu caro Dargon. Vou até o fim com isso, protegerei a Santa Fé, a Fé Diáfana e tudo que ela representa. Eu abandonei prazeres e abandonei muito mais para seguir o Chamado e agora estou aqui, em idade avançada pensando na diferença que um velho como eu e homens verdes como os seus podem fazer em uma importante cidade ao Norte. Eu penso que um pequeno momento de apreciação de boa comida, bem preparada em uma cozinha de verdade e um vinho digno de reis, com certeza é algo que preciso antes da jornada que faremos.

Dargon aceita os concelhos de Larsen

Dargon assentiu com a cabeça e ficou pensativo. Ele sabia a que situação Larsen se referia. 

Ele mesmo presenciou como a instituição apresentava sinais claros de problemas, contextos provenientes de variadas decisões ruins tomadas por fanáticos que desprezavam estudiosos, diplomatas e generais. Esteve em campos de combate demais para ignorar o poder da Fé. Mas a cada dia os poderosos sinais de outrora se extinguiam. 

Os grandes oradores da Fé, podiam criar efeitos mágicos que inspiravam os soldados e amedrontavam os infiéis. Mas isto apenas existia nas canções de bardos e nos cânticos sacros que exaltavam conquistas e feitos de outrora. Nas últimas duas décadas, o Império simplesmente havia se tornado grande demais e a Fé Diáfana opulenta em demasia. 

Os dois fatores foram decisivos para o número de inimigos, juramentos impossíveis de serem ignorados. Perdido em pensamentos, Dargon simplesmente deixou os homens manterem um ritmo mais lento e constante de trabalho e ordenou que antes da partida preparassem os melhores alimentos e liberassem as melhores bebidas aos legionários, sempre ressaltando que embriaguez ainda era algo inadmissível em seu forte. Com a ordem permitiu-se sentar ao lado do Exarca.

-Você tem razão Soren Larsen. Esta noite bebemos e comemos para relembrar nossa História gloriosa, pois em breve não passaremos de lembranças de algo que durou tempo demais.

O Exarca calmamente falou:

-Você está enganado centurião. Tudo que ocorreu não deve ser esquecido, pelo contrário. Os erros da Fé Diáfana não podem ser esquecidos. Nossa adorada Divindade prega o bem em suas palavras, sempre zelou pela proteção dos oprimidos e pela partilha, porém infelizmente nem todos tiveram a oportunidade de serem instruídos, nem nasceram livres para poderem decidir seus destinos. Sem o conhecimento crítico, resta apenas a fé que cega. Contra ela, deveríamos ter lutado com afinco.

E continuou

-Eu lutei tanto que fui alocado em uma província tão distante que nenhuma de minhas loucuras poderiam ser analisadas. Daí você poderia me perguntar o motivo para eu não ter sido queimado como herege e eu responderia para você que meu berço de nascimento me salvou assim como minha Dádiva. Eu possuo a Dádiva que poucos detêm. Um poder concedido, verdadeiro e simples, algo que não poderia ser ignorado. Por isso mesmo, a melhor maneira de me calar, foi me afastar do coração da Fé Diáfana.

Dargon mantém esperança em sua Fé

Dargon ouviu aquilo e olhou para Larsen com novo respeito e admiração. Os pensamentos que ele mesmo tivera tantas vezes, não eram heréticos. Havia esperança para sua crença. Para muitos que cultivavam uma fé verdadeira. Ele tinha esperança que algo pudesse ser aprendido depois de tantas guerras. Não para eles, mas havia esperança.

Soren Larsen, comeu as últimas migalhas e bebeu o restante de vinho. Levantou-se rapidamente, já em postura altiva e ordenou ao Minotauro:

-Ordeno que toda fortaleza seja deixada intacta, abra os portões assim que partirmos e principalmente não conspurque os conhecimentos da abadia e da biblioteca. Deixaremos um sinal de honra neste último domínio, pois esperamos retomar este opulento local assim que vencermos os inimigos da Fé em nossa terra sagrada. 

Novamente Dargon assentiu com a cabeça e seguiu as ordens com alívio. 

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 1 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Douglas Quadros

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Égide da Tempestade – Parte 1 – Contos de Thull Zandull

Parte da saga dos Orcs em Sangue e Glória foi encerrada.  E agora damos início, e ao mesmo tempo continuidade a batalha contra aos déspotas de Fé Diáfana,  que em nome do poder e ganância ceifam a vida de centenas de inocentes, espalhando sua ignorância. Apresentamos Dargon, “O redimido”, um minotauro tentando manter a paz e ordem no seu batalhão da Fé Diáfana. Fique agora com Égide da Tempestade – Parte 1.

Égide da Tempestade – Parte 1

Legião Argêntea

Os odores vindos do mar e a efervescência da fortaleza de Rochedo Alto eram típicas do cotidiano encontrado pela décima quarta legião argêntea localizada no continente de Dalmacia. Setenta anos antes, os bardos cantavam a bravura das tropas que haviam finalmente conquistado a parte sul do continente, na decisiva batalha que teria seu ápice na conquista daquele forte estrategicamente construído no cume do monte rochoso que terminava abruptamente em um majestoso penhasco. 

A façanha garantiu que o Conselho regente desta terra se rendesse à Fé Argêntea. Tornando aquelas ricas terras em mais um dos reinos vassalos do Império. Dias gloriosos em que os questionamentos ao poder ferrenho do Pontífice eram punidos sumariamente. Infelizmente não havia mais canções em homenagem aos legionários da Fé. Havia apenas ele, Dargon, “O redimido”, um simples centurião tentando manter a paz e ordem naquele último bastião das glórias de outrora. 

Dalmacia, assim como outros reinos, havia aderido à revolta contra o Império. Batalhas eclodiram em todos os locais sob a bandeira da Fé Diáfana. Os fortes, as guarnições e todos os nobres que apoiavam a Autarquia, foram executados, assassinados ou simplesmente extirpados de suas posições de poder. 

A raiva contra os dominadores e sua ideologia são impossíveis de serem contidas e agora o grande continente, lar da grande instituição de Fé e influência fora invadida. Reforços mobilizados dos confins do Império eram alocados para evitar a perda da capital. Porém as guarnições sobreviventes em terras distantes restavam apenas esperar. Esperar pela convocação que os levaria a luta em casa ou esperar que fossem destituídos violentamente de suas condições onde estivessem.

O centurião de fé inabalável

Dargon refletia sobre os dias glorioso. Ele, olhando pela janela do topo da principal torre daquela fortaleza. Olhava para as forças que tinha à disposição, exatamente setenta legionários cansados, feridos e com a moral reduzida. Após a última tentativa de tomada da fortaleza, antes comandada pelo tribuno Baltair Alais. O combate que ocorreu há duas semanas ceifou a vida de duzentos soldados, tudo graças a errônea ordem do jovem comandante. 

Dargon havia avisado que as muralhas seriam a principal vantagem em uma guerra de atrito. Tinham acesso ao mar, um acesso protegido que garantiria parcos suprimentos, essenciais e suficientes se usados com parcimônia. Mas infelizmente o centurião percebeu há alguns anos que a eficiência e habilidade eram sempre substituídos pela fé na ideologia Diáfana.

Jovens cegamente devotos, sem experiência de campo, mas provenientes de nobres famílias eram destacados para posições de prestígio, o que culminava no massacre de forças, contra oponentes bem organizados e focados na estratégia e no fervor libertário. 

Baltair havia caído em uma provocação que quase destruiu a todos. Foi nessa batalha que Dargon tornou-se mais proeminente. Todos na décima quarta, respeitavam aquela figura de dois metros de altura, um imponente Minotauro de pelugem marrom, redimido por seus atos bárbaros, filho legítimo das longínquas terras de Zargônes. Um de seus chifres havia sido serrado em seu rito de passagem e seu batismo na Fé Diáfana. Tornou-se um instrumento dos desígnios divinos, mas agora, estava ali, em posição de liderança devido ao vácuo surgido nas fileiras da legião. 

Sua coragem, paciência e inteligência sempre foram usados por seus superiores. Ele sempre mantinha a posição de conselheiro de guerra, mas naquela fatídica batalha, Baltair o havia ignorado, o havia humilhado e colocado na retaguarda. Sem saber, Dargon agradeceu para seu Deus aquela decisão. Pôde com ajuda divina organizar a retirada e posterior resistência dentro da fortaleza. Após, sua intervenção heroica, os demais legionários aceitaram de bom grado sua liderança oficial.

Dargon sabia que a situação era complexa. Não havia respostas a pedidos de suprimentos e reforços. Não haveria condições de manter a posição por mais de dois meses, mesmo com os peixes e frutos do mar obtidos. Um cerco estava sendo preparado e em breve navios impediriam qualquer esperança de sobrevivência para aqueles que ali estavam.

A chegada de Soren Larsen

Tudo mudaria naquela manhã, pois uma grande embarcação fora avistada no horizonte, portava a bandeira da Santa Fé. Em seu interior, o Exarca Soren Larsen trazia uma carta com selo imperial, que continha o seguinte conteúdo: 

“Ao oficial responsável pela fortaleza de Rochedo Alto, é ordenado que recue suas forças para o Norte de nossa sagrada morada, abandonando aos infiéis suas posses conspurcadas. Maldições acompanharão aquilo que for abandonado pela Santa Fé. Os invasores que questionam as verdades divinas devem ser erradicados e portanto, suas forças devem se apressar no apoio às cidades do Norte. Sua meta é juntar-se às forças do Exarca Soren Larsen rumo à cidade de Basil, nosso bastião de resistência e farol luminescente em dias tão escuros”.

O Exarca estranhou a posição ocupada por Dargon, mas o minotauro já havia pagado suas dívidas e estava limpo aos olhos de seu Deus. Dargon agiu de maneira respeitosa e honrou o comando, dando ordens a seus suboficiais para organizarem tudo que era possível para abandonarem a posição, porém antes questionou o Exarca se a grande embarcação fora a única destacada, já que pelos números anteriores, um barco apenas não seria suficiente para recuo de todas as forças. Soren olhou para o Minotauro e disse:

-Fica claro que sua percepção e análise da situação são coerentes. Lembro-me agora de seu nome e sou sincero em dizer a você meu caro centurião que na verdade eu nem esperava encontrar tantos de vocês aqui. Minha meta primária é levar a Basil os recursos e homens para reforçar as linhas, eu mesmo venho de região distante, várias cartas genéricas como essas foram feitas por meu superior, para caso, encontrasse pontos sob nosso controle, resgatasse o que e quem fosse possível. Estamos na mesma situação levemente complicada. Vamos manter a fé, pois creio que seja a única coisa que nos resta.

Dargon observou a maneira sincera como aquele homem explicou toda a situação. Um Exarca como ele, sendo tão honesto para com um centurião significava apenas uma coisa, a Santa Fé realmente estava em um momento crítico. Homens naquela posição tendiam a arrogância e desprezo. Soren Larsen, possuía a experiência de muitos invernos, muitos combates, eram claros os sinais em seus cabelos grisalhos e em suas cicatrizes faciais. Talvez, o sofrimento e distância da terra sagrada tivessem tornado aquele um homem verdadeiramente sábio. Dargon estava apaziguado por retornar sob a liderança daquele símbolo de outrora. Sabia que poderia ser sua última viagem e faria de tudo para honrar seu Deus, sempre vigilante e zeloso.

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 1 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Bianca Bezerra

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Sangue e Glória – Parte 11 – Contos de Thull Zandull

Anteriormente em Sangue e Glória – Parte 10, Harm o Veneficus já liberto, trabalha para restaurar a saúde de seus libertadores.  Ao mesmo tempo, foi revelado que Mira e Gorac darão continuidade a linhagem de grandes guerreiros Orcs. Além de ter a presença do antigo líder Goblin confirmada para a batalha que virá.

Agora…

Sangue e Glória – Parte 11

Um visitante de um passado distante.

O salão comunal estava cheio naquela noite, afinal, era uma ocasião especial. Reencontros e fatos importantes seriam compartilhados entre aqueles que em breve estariam firmando um pacto. Um pacto pela libertação e ao mesmo tempo pela reconstrução de uma região que já fora assolada por muito tempo por uma fé opressora e enganadora. 

Harm Van Driel posicionou uma cadeira adequada a seu tamanho, aos pés do ídolo Kobold, solicitou apoio para que todos pudessem repousar em volta da fogueira, protegidos do frio e também a vontade para repor suas forças para o enfrentamento dos desafios vindouros. 

Anáxalas e Orog posicionaram-se próximo a Xalax, que ainda permanecia desacordado, mas pelo menos estável. Mira e Gorac estavam próximos, abraçados olhando o fogo crepitar e provavelmente pensando nos próximos passos rumo a grande cidade de Basil. Kagror era o que estava mais próximo ao fogo, demonstrando seu grande interesse pelos aromas exalados pelas grandes fatias de carne que ali assavam. 

Isolado em meio aos grandes Orcs, uma pequena criatura adentrou o salão. Resgatou uma cadeira adequada a sua altura e solenemente se preparou para sentar-se naquele ambiente para uma longa conversa. Trazia consigo uma armadura de couro rígida ricamente adornada, com proteções táticas espalhadas pelo corpo. Havia inscrições em um material brilhante espalhadas na proteção usada por aquele goblin, ele tinha uma aparência resoluta e solene, carregava duas adagas de lâminas levemente curvas e esguias, eram feitas de um mineral perfeitamente polido de cor vermelha com inscrições rúnicas brilhantes. Aquele goblin tinha um tom de pele verde bem escura. Ao sentar-se fez um leve gesto com a cabeça para o Veneficus que ali aguardava.

Harm foi o primeiro a falar:

“Seja bem-vindo Garlak. Sinceramente duvidava que um dia pudéssemos nos reencontrar novamente. Foram longos séculos e para minha surpresa você pelo visto teve algumas bençãos ou maldições que permitiram cortar o tempo e retornar de sua demanda.”

O goblin respondeu:

“Com certeza estava mais para uma maldição, meu senhor. Infelizmente, a demanda que cita não foi totalmente perdida. Eu encontrei um dos locais de confluência arcana que citou e você estava certo, nem todo geodo é instável. Alguns deles apresentam características diferentes e mesmo não manipuladores ou despertos poderiam obter algum tipo de poder dessas pedras. Por sorte você preparou defesas, pois existem fragmentos agressivos em torno destes pontos estáveis. Eu compararia ao centro de uma tempestade. Para meu azar, criaturas bizarras também ficavam a volta desta fonte de poder. Derrotei tudo que podia e finalmente quando pensei em trazer algo de volta, as defesas que construiu não resistiram aos efeitos mágicos. Pelo visto, alguns de meus leais seguidores que trouxeram de volta, imaginando que pudesse fazer algo por mim. Percebi que me esconderam em uma gruta sagrada, esperançosos pela cura que buscariam contigo, mas tudo que encontraram foi uma tragédia.”

Harm Van Driel prosseguiu:

“A sensação da prisão é algo que entendo bem, mas o que desejo saber é se ainda tem o fragmento que citou.”

Tesouro e conhecimentos misteriosos.

O goblin concordou com a cabeça e buscou dentro de seus pertences um pequeno pacote. Um embrulho de panos, cuidadosamente enrolados com tiras de couro que emanavam um brilho amarelado. Garlak, levantou-se, sendo seguido pelas cabeças e atenções de todos os presentes e se dirigiu a Harm, entregando a ele o pacote.

Eis que o Veneficus ficou intrigado ao abrir o embrulho e perceber que os fragmentos eram similares a lascas de vidro de tamanho variados.

O goblin explicou:

“Deveria ter visto. Tudo parecia um espelho fluente, se movendo de um lado para outro. Nada parecido com os geodos que adquirem características do local onde caem. Isso ai, parece algo primordial, mas antes, preciso saber uma coisa importante, o comprometimento de todos com o meu povo. Houve uma época que as montanhas eram nossas, hoje, apenas uma pequena porção sobrevive e imagino o que deve ter ocorrido aos outros povos que moravam nas redondezas. Então antes de mais nada eu desejo saber, vamos prosseguir com isso? Vamos retomar o que é nosso? Você bruxo, pode fazer algo para nos ajudar? Eu te servi, eu concluí essa busca e já perdi mais do que poderia descrever!”

Gorac assumiu a fala:

“Com certeza estamos todos comprometidos pequeno guerreiro. Olhe como nossos corpos falam por si mesmos. Nos entregamos nessa busca, nessa demanda, nessa jornada de sangue que culminará em glória para nossos nomes e a de nossos antepassados. Queremos vingança, queremos o que é nosso, mas não podemos atacar sem o apoio dos Virag. Esperaremos reforços e até lá minhas forças poderão apenas garantir que Harlam e as redondezas fiquem seguras. Provavelmente não sabem de tudo que ocorreu nos últimos dias, mas em breve forças serão enviadas para descobrir e quando não voltarem, aí teremos problemas. Precisaremos recrutar e treinar quem pudermos e garantir que Harlam fique aberta para que os protetorados descontentes tenham um porto para despejarem suas forças. Um guerreiro experiente sabe o momento de esperar, sabe que precisa ser paciente até que uma oportunidade surja.”

Garlak fez um gesto com a cabeça, em silêncio, pois sabia que o Orc estava certo, ele mesmo não tinha muitos goblins para ceder aquela causa, precisaria correr pelas montanhas buscando comunidades isoladas ou outras raças que poderiam de alguma maneira querer se juntar a luta contra os Humanos. Eis que em meio ao breve silêncio, Harm novamente assume a fala:

Podem ficar calmos meus caros companheiros. Poderemos rechaçar as forças que forem enviadas até nós. Garlak trouxe uma peça para encontrarmos a resposta, de posse deste item primordial minha magia poderá ganhar novo significado e vocês esquecem que agora desperto minha alma está ligada a esta floresta. As criaturas que aqui habitam em breve ouvirão meu chamado e então teremos símbolos a serem respeitados e um refúgio seguro para organizarmos nosso ataque. Deixe Harlam para os Virag, faça o acordo com eles mestre Orc, chefe de guerra. Peça o domínio desta mata e vamos organizar aqui nossa fortaleza, abraçaremos as montanhas Dol-Agurad e todos os povos que antes viviam nesta região poderão voltar. Quando Basil cair, haverá mais espaço a ser conquistado e não teremos motivos para brigar por terras, haverá o suficiente para todos. Até lá, movam suas forças para cá, ainda estamos em desvantagem e precisaremos de tempo para que tudo corra de maneira organizada. Eles devem pensar que nos encurralaram, deixem que pensem que saqueamos e corremos, deixem que sonhem com sua fé insana. Atacaremos no momento certo.”

O nascimento de um Conselho de Guerra.

Mira assumiu a palavra:

“Da maneira como fala precisaremos de meses. Eu sinceramente acho viável a manutenção deste tempo. Se fizermos emboscadas e mantivermos campanhas de saque em aldeias próximas a Basil, poderemos constantemente drenar recursos úteis para nós. As invasões no Sul e Sudoeste do Império fazem com que o grosso das forças seja mantido constantemente em locais próximos dos pontos mais importantes para Autarquia, mas se demonstrarmos ser um incomodo terrível com certeza vão tentar nos esmagar. Teremos que assumir uma tática de demonstração de fraqueza, atacando e correndo e sinceramente eu acho que seria mais interessante manter Harlam temporariamente. Poderemos construir uma cabeça de ponte escondida na área mais ao Norte da floresta. Simulamos um recuo completo quando as forças de Basil tentarem retomar a aldeia, mas na verdade teremos o manto da Mata Velha nos encobrindo pelo tempo necessário. Depois disso, eles deixarão as montanhas e essa floresta. Não vão fazer incursões dispendiosas e aí entra nossa sagacidade. Grupos de emboscada em locais estratégicos. Você goblin e seu povo serão nossos olhos, nossos sentidos, até que estejamos prontos para um ataque maciço em alguns meses.” 

Todos ali ouviram a ideia de Mira e Harm entendeu por que Gorac se apaixonou por ela. Uma guerreira digna, corajosa, leal e com mente perspicaz. Sua orientação estratégica era correta e para ser executada necessitaria do apoio e um nível de organização invejáveis, porém essa seria a ocupação dele, um Veneficus desperto com experiência suficiente para orquestrar toda a ação que culminaria com a derrocada das forças imperiais do Norte. 

Com as discussões abertas, todos começaram a levantar possibilidades e estudar com calma os próximos passo que deveriam ser dados, enfim, naquele salão nascia o Conselho de Guerra, mas apenas uma coisa preocupava a todos, quem seriam os opositores, os fiéis defensores da Fé Diáfana que tentariam impedi-los? Haveria alguém a altura desta missão naquele Império em ruínas? Haveria líderes entre as fileiras devotas?

Não poderiam ignorar o poder desta Fé, haveria precaução e ações estudadas meticulosamente. No momento certo, toda ira, toda fúria cairiam contra os inimigos e não haveria esperança ou fé suficiente para salva-los do destino que semearam.

Continua…


Sangue e Glória – Parte 11 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull 
Revisão de: Isabel Comarella 
Artista de Capa: Douglas Quadros 

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Sangue e Glória – Parte 10 – Contos de Thul Zandull

Anteriormente em Sangue e Glória – Parte 9, acompanhamos a batalha mortal que os guerreiros orcs enfrentaram. As habilidades e coragem de todos foram testadas em seu ápice. Porém Gorac foi além, e recebeu de seus ancestrais a bênção que virou o jogo. Mas será que todos eles irão sobreviver aos ferimentos…

Agora…

Sangue e Glória – Parte 10

Mira despertou imaginando que iria se deparar com a verdade. Pois para ela era certa a morte. Um momento de glória ao lado de seu amado, lutando e honrando os antepassados com o bom combate e a coragem. Porém para sua surpresa, ao abrir os olhos a primeira sensação que teve foi a dor, algo que se espalhava por seu corpo de maneira completa. Todos os seus músculos doíam e acima dela um telhado de madeira e a sua volta estrutura bem cuidada. 

Ouvia o crepitar da fogueira somado a um bom aroma de carne e pão assando. Estava em um salão grande, com certeza a construção comunal que não tiveram tempo que explorar. Mas algo estava estranho, sua lembrança era que aquele local tinha um buraco gigante no teto, mas agora tudo estava consertado. 

Antes que pudesse mover mais sua cabeça buscando mais informações, sentiu uma ardência em seu braço esquerdo, mas ao analisar o local do fisgar, notou que não havia nada onde tivera a sensação, apenas um coto, uma lembrança permanente de sua luta mais difícil até o momento. O que mais a incomodava era que envolta do local do ferimento havia algo cristalino que emanava um brilho verde intenso. Era uma película que cobria todo o coto, enquanto se perdia em pensamentos com aquilo, notou que a dor diminuía a medida que o cristal emanava maior luminescência. 

Tentou então se erguer para analisar melhor o salão e então notou que a sua frente, do outro lado do salão havia mais uma cama onde repousava Xalax. Percebeu rapidamente que a camada cristalina recobria uma parte do rosto dele e também se espalhava pelo tórax. Curiosa, procurou em seu corpo por mais sinais daquilo, e viu que em todos os pontos de ferimento havia aqueles luminescentes minerais esverdeados. 

No centro do salão havia a fonte de calor, uma fogueira comunal. Estava estruturada em um círculo em nível mais baixo que o chão e envolto em pedra, onde madeira e carvão mantinha a chama forte e também esquentavam chapas de metal que assavam a carne e o pão sobre elas. Sentado a frente cuidando do alimento estava Orog, o bom rastreador, que usava um socador, provavelmente para esmagar raízes e folhas para algum remédio. Mira apenas teve essa dedução ao ver os materiais medicinais espalhados ao lado dele. 

Era espantoso como aquele salão estava limpo e organizado, questionou-se se aquilo era alguém tipo de reino divino ou espiritual de seu povo. Mas a presença de seu companheiro e as dores em seu corpo refutavam qualquer tipo de pensamento nesse sentido. Do seu lado direito via as portas duplas do salão, entreabertas e do lado esquerdo um espaço em destaque onde um ídolo Kobold protegia um pequeno trono a sua frente, com certeza algo próprio a estatura daquele povo. Havia duas escadas ao lado do trono que levavam para um andar inferior, mas antes que pudesse explorar mais o local com seus doloridos olhos, notou que Orog, vinha em sua direção.

Mira se antecipou em questionar o que ocorria e também em entender onde estava Gorac. Pois, queria retirar a ansiedade de não ver seu companheiro ali deitado em recuperação. Mas logo Orog apaziguou-a, dizendo que o líder já havia despertado dias atrás e que voltava seus esforços em manter a estrutura onde estavam, apoiando nos reparos, limpeza e caça. Disse que o velho Harm Van Driel manteve os corpos de ambos nutridos valendo-se de magia que espalhou pelo corpo dos feridos em forma da película cristalina. Disse que estavam deitados a mais de três semanas, tamanha era a gravidade dos ferimentos deixados pela criatura.

Orog não conseguia esconder sua tristeza ao ver o coto e Mira entendia os motivos. Afinal um guerreiro sem um braço perdia enormemente sua capacidade de luta, mas aquilo era apenas um pensamento, entre tantos outros, afinal mais importante do que o braço, era sua vida. O Orc, logo ofereceu o remédio que preparava, mas Mira apontou primeiro a comida. Não compreendia como a magia alimentou seu corpo, mas tudo que ela queria naquele momento era mastigar algo.

Uma nova vida para Mira

Momentos depois de se alimentar e enfim tomar o amargo chá oferecido por Orog, ela se sentiu confiante para levantar-se. Mas outro fisgar forte proveniente de sua coxa a fez vacilar. Porém seu amigo a ajudou e aos poucos o cristal mágico fez efeito, amenizando as dores sentidas segundos atrás. 

Ela queria ver o ambiente com seus olhos, andar um pouco e seu parceiro de batalhas a ajudou. Porém antes que pudessem sair, Mira ouviu atrás de si uma voz diferente. Ao se virar viu um humano de idade avançada com barbas brancas longas, mas bem aparadas e vestes dignas de alguém nobre. Logo foi questionada se estava com dores fortes em alguma parte do corpo e se precisava de ajuda. O velho fez um sinal para Orog deixá-la se sentar próxima ao fogo para poderem conversar. Mira concordou e Orog saiu do salão. Ela achou estranho, mas estava curiosa com a presença do Veneficus, termo antigo usado para bruxos que se dedicavam a entender os Geodos Arcanos. 

Harm Van Driel começou a conversar agradecendo por sua libertação. Sabia dos perigos de seu resgate da tumba. Mas não imaginava que houvesse tanta dedicação em mantê-lo esquecido, explicou que precisaria de tempo para recobrar totalmente os seus poderes. Mas que tinha o suficiente para manter as artes de cura e para reparar estruturas necessárias, explicou ainda que a medida que os dias passassem, ele estaria apto a fazer algo por ela, afinal ele tinha que quitar o débito por sua vida. 

Continuou, dizendo que a demanda iniciada por eles, os Orcs invasores do Império, teria sua ajuda e que todos que ali estavam eram fortes e determinados, uma união fortuita depois de tantas desventuras e sofrimentos passadas por ele. Mira o interrompeu, perguntando por Gorac e também ficou curiosa em entender como ele poderia fazer algo por ela, já que seu braço fora perdido para sempre. Mas Harm a interrompeu dizendo que o braço arrancado não estava perdido mas sim sendo preparado para retornar a seu braço no momento certo, pediu para que ela o acompanhasse a parte inferior do salão comunal e ao fazer isso, notou que todo andar inferior continha os objetos estranhos que repousavam no subterrâneo. Porém haviam brilhos, sinais luminosos, sons estranhos e ranger de várias coisas se movendo. 

Harm apontou logo para uma mesa na qual percebeu que seu braço flutuava envolto por esferas de cores variadas que continham dentro de si runas antigas. Havia metal fluído em torno do braço e era nítido para ela que a carne estava sendo substituída pelo material que ali flutuava. Era assustador e inebriante. O Veneficus, logo explicou que a melhoria corporal fora algo mortalmente proibido em sua época. Mas agora, não havia mais grilhões que pudessem detê-lo. Disse incisivamente que cuidaria dos seus e que sua meta era se vingar daqueles que ceifaram sua liberdade e a de tantos outros como ele.

Enquanto ouvia o dominador de magia, Mira vacilou novamente, sentindo-se zonza. Mas logo o Veneficus a apoiou, fato que fez com que a Orc percebesse que o velho era mais ágil e forte do que aparentava. 

Harm disse que ela deveria manter repouso total, pois o efeito de seus encantos de cura também dependia da resistência dela, mas na condição atual, manter duas vidas era algo complexo para ele. Mira ao ouvir aquilo se espantou e pediu mais explicações, enquanto Van Driel esclareceu que ela carregava consigo uma nova vida. Mira ouvia aquilo e não conteve sua emoção, ao passo que o velho disse que o filho dela com certeza seria alguém extraordinário, digno da linhagem do qual era proveniente, disse ainda que a magia usada também era drenada pelo feto, algo fantástico que deveria estudar a fundo. Mas de qualquer modo, ela e o futuro bebê estavam vivos e bem.

No momento daquela fantástica conversa, ambos ouviram passadas apressadas e logo perceberam quem adentrava o local, o líder guerreiro Gorac. A emoção foi forte e o velho se afastou para que o casal se abraçasse, ambos estavam firmes e felizes pela recuperação um do outro. Gorac a beijou e em seguida se abaixou diante dela acariciando a barriga que carregava seu herdeiro ou herdeira, quem governaria aquela terra que em breve seria conquistada. Mira via seu companheiro com orgulho e acariciou sua cabeça, ela via a grande cicatriz, a marca deixada pela luta de dias atras. Olhou seu amado líder e viu que as mãos dele também estavam em processo de recuperação, porém não disse mais nada, não pensou em mais nada. Só queria naquele momento aproveitar a sensação de proximidade e o sentimento forte, o vínculo que trouxera ambos até ali, mas algo mais ocorreu, pois ouviram a voz grossa de Kagror chamando pelo velho.

Harm Van Driel logo disse a eles que se acalmassem, pois ele havia enviado um chamado para um velho amigo que ele acreditava estar perdido, convidou ambos para subirem e conhecerem Garlak, Três Cortes

Continua…


Sangue e Glória Parte 10 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull 
Revisão de: Isabel Comarella 
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