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Clérigos são feitos de fé – Classes D&D

Olá jogadores, eu sou Willian Vulto. Esse é o quarto post da minha série que visa repensar e reimaginar as classes de D&D e dos mundos de fantasia. Semana passada eu falei sobre os Magos e suas escolas, e essa semana falarei sobre os Clérigos e suas divindades.

Sobre o Clérigo

Clérigos

 

O Clérigo é a melhor classe de D&D (minha opinião) e isso se dá por vários motivos. Eles podem usar várias armas, armaduras pesadas e ainda têm várias magias, dentre elas a bendita da cura.

A cura é a pedra no sapato dos clérigos e o que limita o uso de uma classe que tinha tudo para ser uma das mais versáteis de todas. É possível fazer um clérigo sem cura, mas seu grupo vai odiá-lo e desejar a uma morte horrível e dolorosa para você.

O Clérigo de Pelor, sem destreza, com armadura completa, Maça e tudo Cura, é um personagem excelente e extremamente funcional, mas se a ideia aqui é repensar as classes, vamos repensar o Clérigo também.

 

 

Alguns tipos de Divindades:

No nosso mundo, existem várias religiões que cultuam diferentes facetas de um mesmo deus, e mesmo os deuses de religiões politeístas podem assumir arquétipos diferentes em momentos diferentes. O livro básico de D&D já traz 19 deuses e isso já permite uma possibilidade bem grande de clérigos para esses deuses. A ideia aqui é pensar em algumas possibilidades incomuns.

Deuses Morte:

Em geral, cultos aos deuses da morte são vistos como malignos por muitos jogadores, mas não por quem estuda religiões. Em cosmogonias politeístas é comum que tenham deuses (ou entidades menores) responsáveis pela travessia das almas para o outro mundo.

Um Clérigo de um culto da morte pode atuar como um mortuário fixado em uma cidade, realizando rituais funerários pelas almas dos falecidos, mas também pode migrar para um fronte de guerra, onde muitas mortes com certeza ocorrerão. Um Clérigo da Morte pode viajar pelo mundo tentando encontrar zonas assombradas para poder limpá-las e purificá-las garantindo o descanso dos mortos. Por mais que se pense em um Clérigo da Morte como um Necromante, ele pode ser, na verdade, um Exorcista, garantindo o descanso aos espíritos perdidos.

A relação desses Clérigos com os Necromantes pode se dar de duas formas: ele pode ser contrário à todo tipo de necromancia, acreditando que não se deve macular a santidade dos Mortos; ou pode ser contra o uso de fantasmas, que são espíritos, mas não se importar que um Necromante use os corpos, sendo que os espíritos já se foram há tempos.

Um cultista da morte pode se recusar a curar alguém, caso entenda que este já cumpriu seu destino e já pode morrer. Ressurreição é a blasfêmia máxima para esse tipo de Clérigo.

Deuses do Submundo:

Deuses do Submundo, que cuidam do mundo dos mortos e das criaturas abissais são, normalmente, consideradas entidades malignas e isso se dá, em sua maioria, por observações cristãs posteriores. É possível que uma entidade do Submundo apenas cumpra sua função como tal, mantendo os horrores e as almas dos pecadores em seus devidos lugares. Um Clérigo do Submundo pode ser um arauto de sua divindade na terra, sendo responsável por ‘recuperar’ demônios (ou o equivalente na cosmogonia local) fugidos do submundo.

Imagine uma seita secreta de Clérigos de um deus do Submundo, que viaja o mundo de forma discreta, derrotando e expulsando demônios, usando como ferramentas o fogo abissal e outros demônios, controlados através de acordos.

Esse Clérigo parece um herói, chegando na cidade e eliminando demônios, mas precisa se manter discreto, pois seu culto não é bem visto pela sociedade. Pode ser um personagem interessante.

Deuses Malignos:

As vezes o Mestre te permite jogar com um personagem que seja Leal e Mal.

Mas o que um Clérigo maligno estaria fazendo com um grupo de heróis? O Mal, é claro, mas um mal a longo prazo.

Um Clérigo Maligno pode ter informação privilegiada (ou por conta própria, através de divinação, ou através de um mentor secreto) dos planos malignos de sua divindade e estar agindo para o “bem” momentâneo que vai desencadear em um grande “mal” no futuro.

Imagine um reino pequeno, mas com um rei com muita sede de poder. O grupo de aventureiros pode ser convocado para resolver problemas locais (como monstros e saqueadores, ou encontrar artefatos) e ajudar o reino a crescer.  Esse crescimento, no futuro, pode desencadear em um desbalanço de forças, na criação de um governo tirânico ou mesmo em uma enorme guerra.

Outro cenário: Um nobre convoca uma expedição para encontrar um antigo artefato, mas o Clérigo sabe (por fazer parte de um Culto Maligno cheio de conhecimentos proibidos) que esse artefato será uma das chaves para libertar um horror cósmico ancestral sobre a terra.

Em resumo, um clérigo Maligno pode fazer parte de um grupo, ser leal a esse grupo durante a missão, mas ter propósitos maiores à longo prazo. O mal é sempre dissimulado.

 

 

Deuses Elementais:

Em algumas cosmogonias existem divindades baseadas em arquétipos mais básicos, como os elementos. Esse tipo de Clérigo funciona de forma similar ao Mago Elementarista (veja meu post de mago), focando suas magias em seu elemento preferido.

É interessante pensar em uma oração focada e rituais baseados naquele elemento.

Um Clérigo do Deus do Fogo pode fazer sua oração matinal em frente à chama de uma vela e, mensalmente ter de queimar um animal em uma fogueira. Um Clérigo de um Deus da Terra pode gostar de andar descalço e sobrar poeira sobre os ferimentos quando for usar suas magias de cura. Um Clérigo de um Deus da Água pode se banhar várias vezes ao dia e mergulhar a pessoa em um rio para usar um Remover Encantamento. Esses são só alguns exemplos.

Deuses Neutros:

Divindades Neutras vão se desviar do grande conflito do Bem contra o Mal que existe em quase qualquer panteão. Esse tipo de divindade vai ter suas características próprias e modus operandi único.

Deuses da Magia ou do Conhecimento podem ter clérigos estudiosos (quase magos) que vivem para conhecer mais e mais e vão viajar o mundo por conta disso. Deuses da Natureza e das Florestas vão ter Clérigos que são quase druidas e se fixam em um território para protegê-lo ou viajarão o mundo para recuperar áreas degradadas. Deuses da Viagem vão ter Clérigos que nunca ficam parados em lugar algum e podem atuar como Batedores (veja o post de ladino). Esses são alguns exemplos.

Por outro lado, alguns deuses da Neutralidade vão, de fato, lutar para preservar uma neutralidade, se associando ao lado menos favorecido em uma guerra mais declarada. Quando o “mal” se levanta, os Clérigos dos deuses neutros podem se unir ao lado do “bem”.

Esse tipo de clérigo vai depender muito da divindade, mas também é possível ter várias ideias.

Deuses Raciais:

Cada raça tem um deus próprio que a representa (quase todas) e personagens não-humanos podem ser Clérigos desses deuses. Teoricamente, todo ser daquela raça já é um pouco devota dessa divindade, então onde o Clérigo se destaca?

O Clérigo de uma divindade racial representa um culto à identidade racial. Esses clérigos são realmente interessantes quando essa raça está desacreditada ou tendo sérios problemas para se manter. Quando a raça está com problemas é hora da Divindade se fazer presente para defender os seus e os clérigos serão os escolhidos para passar sua mensagem.

Um Clérigo de uma raça pode ser um emissário da paz, pregando o diálogo entre os povos; ou pode ser um guerreiro feroz na libertação de seu povo que vem sendo escravizado ou massacrado. Um Clérigo de um Deus Racial pode viajar o mundo provando seu valor e tentando ser um bom exemplo de seu povo.

Um Clérigo Racial também pode representar um Estrangeiro (leia o post sobre o guerreiro), caso represente uma raça recém-chegada à região (pode ser uma raça de refugiados, talvez).

Um Clérigo desse tipo é mais interessante quando representa uma raça que sofre preconceito por algum motivo. Imagine um Clérigo do deus dos Goblins, querendo provar o valor de sua raça em um mundo que os odeia.

 

 

Em resumo, um Clérigo não representa apenas um curandeiro que aguenta porrada. Um Clérigo é o representante de uma divindade e de uma fé na terra. Basta observar as religiões do mundo real para entender que elas são complexas e cheias de possibilidades.

Então tenha isso em mente quando for fazer um clérigo. O que essa divindade significa? O que significa ter a fé nessa divindade acima de tudo? Como uma pessoa assim se comportaria?

Outra opção é escolher a personalidade que você quer interpretar e depois tentar escolher a divindade que melhor se encaixa. Infelizmente isso sempre vai depender muito do Mestre e do Panteão que ele escolher usar na campanha. As vezes a sua ideia se encaixa perfeitamente com St. Cuthbert, mas a campanha é em Arton, por exemplo. Mas, mesmo assim, tem muita opção interessante. É só ser criativo.

 

 

Então esse foi mais um texto meu.
Deixe sua opinião aqui nos comentários.
Espero estar de volta na semana que vem.

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