Égide da Tempestade - Parte 4

Édige da Tempestade – Parte 4 – Contos de Thull Zandull 

Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 3, após navegarem para chegar em Luxia, o grupo precisou recrutar homens para poder seguir viagem. E agora Égide da Tempestade – Parte 4

Égide da tempestade – Parte 4

Reforços a caminho

A marcha até a principal cidade do Norte, Basil, começara. As forças de Soren Larsen e Dargon reforçariam as defesas. As grandes muralhas que protegiam a pérola do Império naquele ponto distante do continente de Luxia. Mas antes precisariam chegar intactos para prestarem apoio adequado, e isto significava passar por duas vilas na jornada de dez dias até o local. 

As vilas de Zimosh e Madras ofereciam boa carne de ovelha. Além de lã e plantações de tubérculos que devido intervenções místicas tornaram-se naturalmente resistentes ao frio. Eram locais estratégicos para manutenção das forças e se não tivessem sido atacadas, era nítido para ambos líderes que as pessoas e recursos deveriam ser deslocados, pois o conflito chegaria aos aldeões em breve. 

Eram conjecturas otimistas, mas no fundo sabiam que provavelmente não encontrariam muito o que resgatar se as forças invasoras fossem minimamente organizadas e conhecessem um pouco da geografia imperial.

Durante quatro dias marcharam incansavelmente acompanhando a estrada régia pavimentada e larga o suficiente para que dois carroções andassem lado a lado. Havia construções comunais de pedra, onde há tempos atrás sempre guarnições eram mantidas para assegurar que viajantes não fossem molestados por ladrões. Porém devido falta de manutenção, o que sobrava destes locais já servia para organização de uma defesa razoável para  que os legionários pudessem repousar. 

Breves encontros com pequenas comunidades familiares de subsistência demonstravam que até o momento, aqueles locais não haviam encontrado os horrores da guerra, porém durante a noite do quarto dia, foi possível observar sinais de chamas em larga escala cortando o horizonte.

Os homens estavam cansados e inquietos e Dargon foi até seu superior:

-Exarca, venho solicitar que atenda meu pedido de continuidade da marcha. O inimigo se aproxima e os aldeões necessitam de nós.

Soren Larsen acabara de sentar-se e estava retirando suas botas, quando o Minotauro veio a seu encontro.

-Pedido negado centurião. Apesar de vermos os sinais no horizonte, a marcha demandaria muitos quilômetros durante a noite. Se já estamos em território hostil, seria a condição perfeita para emboscada. Além disso, se vemos as chamas dessa distância, devem ter espalhado destruição em grande parcela da vila, tentando causar desespero e também evitar que qualquer suprimento seja obtido. Seria o que eu faria para preparar um cerco. Minando gradativamente os recursos até a longa espera diante de uma grande cidade murada. Penso que talvez tenhamos problemas para entrar na cidade! Então se me permite, acho melhor mantermos a posição e estarmos preparados e descansados a partir de amanhã.

Experiência de campo

Dargon concordou com as ordens, mas não conseguiu esconder a surpresa diante da calma demonstrada pelo Exarca.

-Como consegue senhor? Entendo que a determinação e autocontrole são fundamentais, mas mesmo para mim, fica difícil conter a ansiedade de um combate que em breve cairá sobre nós. 

-Dargon, entenda que nestes longos anos em que vivi, já presenciei tantas cenas e situações trágicas que simplesmente tento manter o foco nos objetivos traçados e principalmente tomar cuidado com expectativas. Peça a seus homens que redobrem a vigilância, pois há grandes chances de termos visitas esta noite.

O centurião seguiu as ordens. Ele manteve fogueiras no perímetro e homens em posições de vantagem para observação atenta. Organizou barricadas para evitar carga de cavalaria ou qualquer força em investida com intuito similar e manteve arqueiros extras para apoiar os legionários equipados para combate corpo-a-corpo. 

Não demorou, para que esta atitude preventiva fosse recompensada, pois no início da madrugada, sinais de ataque foram dados. Os corneteiros despertavam as tropas com um soar estridente e constante, gritos de ordem alinhavam os homens para o combate. 

Dargon rapidamente levantou-se e diante da urgência não vestiu sua armadura. Apenas puxou seu escudo de corpo e armas para posicionar-se e assim liderar as tropas. Ao chegar ao campo deparou-se com Soren Larsen em pé diante da tropa, uma figura heróica e inspiradora, vestindo uma pesada armadura de placas com tons douradas e prateados. Os movimentos eram tão naturais que o centurião não acreditava que o Exarca ainda tivesse forças para aguentar tanto peso das placas. Era comum que cavaleiros usassem tal equipamento, justamente pela mobilidade, mas isto não ocorria a Soren. Ele estava ali, em pé no campo e movia-se naturalmente, em sua mão esquerda um opulento escudo de corpo com o brasão da Fé Diáfana, o Olho Coroado que tudo vê, em sua mão direita um pesado martelo de batalha com cravos aparentes. Em sua cabeça um elmo selado com viseira aberta, com detalhes que lembravam asas resplandecentes. 

Quando a figura levantou o martelo, uma aura luminosa o envolveu e todos ali sentiram-se revigorados, pois havia luz diante das trevas que ali repousava. A frente da legião argêntea surgia uma massa de aranhas gigantes, com corpos recobertos de camada cristalinas. Mas não eram só estes seres que traziam temor às tropas, mas sim, os Orcs que as montavam. As criaturas traziam em suas costas, três a quatro Orcs com arcos e azagaias, eram pelos menos vinte aracnídeos com uma força assustadora de seres vorazes chovendo flechas e setas sobre as tropas. 

O punho de Deus

Na primeira saraivada, Dargon usou o apito que sempre trazia consigo para sinalizar momentos antes à tropa que se pusesse em formação defensiva, som propagado rapidamente por todos os experientes legionários que aderiam a formação.

Infelizmente, os aldeões recrutados começaram a dispersar e o centurião pensou que se sobrevivessem aquela luta já seriam abençoados. Gritos de comando também eram ouvidos, mas diante de todos, Soren foi o único a baixar o visor e ficar ali parado a frente e levemente distante da tropa. Ele cravou seu escudo a frente e se ajoelhou com uma das pernas tocando o chão, manteve o martelo firme em sua mão enquanto todos ouviam sua oração.

Por um momento Dargon pensou que o Exarca estivesse louco, mesmo com tamanha proteção não seria possível resistir a tantos inimigos, mesmo assim ele prosseguia.

-Ó senhor do amanhecer. Rei dos reis no firmamento infinito, rogo a ti pelas forças primordiais. Traga-as a mim neste momento de desespero e aflição. Livre seus filhos do mal que avança e a tudo deseja consumir. MIRE SEUS OLHOS EM SEU FILHO, A ÉGIDE DA TEMPESTADE QUE RETORNOU A ESTA TERRA DE PECADORES. PURIFIQUE-OS SENHOR COM O PODER QUE OPERA EM MINHAS MÃOS!

Ao terminar sua oração, todos assustaram-se ao ver que eletricidade se espalhava pela armadura e todo corpo do Exarca. Uma concentração que mataria qualquer ser vivo. Soren levantou sua arma e um relâmpago cortou os céus. A figura heróica estendeu sua arma em direção aos inimigos e toda a torrente mortal se espalhou pelo campo de batalha, rajadas de eletricidade que atingiam pesadamente todos os inimigos que ousassem se aproximar. 

A descarga fora tão grande que a escuridão desapareceu diante de todos. Assim que o milagre cessou, metade das forças invasoras estavam no chão. Um cheiro de carne queimada espalhou-se pelo campo, ao mesmo tempo em que Dargon urrou.

-Para a vitória legião!

Um brado em uníssono irrompeu e todos avançaram inspirados pelo poderoso Exarca que finalmente demonstrava o poder encarnado!

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 4 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Douglas Quadros

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Publicado por

Thull Zandull

Arquivista da academia arcanista de Nova Gênesis em missão para recuperar as narrativas perdidas do continente.

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