Largados e Pelados – Quimera de Aventuras

“Largados e Pelados” é um reality show de sobrevivência extrema, onde dois participantes, geralmente um homem e uma mulher, são deixados em um ambiente selvagem sem roupas e com recursos limitados. Eles precisam sobreviver por 21 dias, enfrentando desafios como clima, animais selvagens, fome e sede. Pode parecer inusitado, mas o Brasil já recebeu três edições desse reality (e que assisti junto com meu marido) e uma coisa que nos veio à cabeça foi: e se isso virasse um desafio de RPG?

Largados e Pelados

Largados e Pelados” (originalmente Naked and Afraid) é um reality show de sobrevivência extrema que estreou em 2013, no Discovery Channel, nos Estados Unidos. Criado por Tim Pastore, o programa rapidamente se tornou um fenômeno global, atraindo fãs pela sua proposta única de colocar pessoas comuns em cenários de sobrevivência nas condições mais adversas possíveis. Cada episódio geralmente traz dois participantes, um homem e uma mulher, que são deixados completamente nus em um ambiente selvagem e inóspito. Eles têm que sobreviver por 21 dias apenas com um item pessoal de escolha e sua própria engenhosidade.

Mecânicas do Programa

Os participantes devem construir seus próprios abrigos, procurar e caçar alimentos, purificar água e enfrentar condições climáticas extremas, tudo isso enquanto lidam com o desconforto e a vulnerabilidade de estarem nus. Não há prêmios em dinheiro ou títulos grandiosos, o objetivo principal é a superação pessoal e a prova das habilidades de sobrevivência.

A série é dividida em temporadas, e ao longo dos anos, várias versões derivadas foram criadas, como Largados e Pelados XL, que desafia os participantes a sobreviverem por 40 dias, e Largados e Pelados: A Tribo, onde grupos maiores tentam sobreviver juntos por longos períodos.

A Edição Brasileira

Até o momento, “Largados e Pelados” já conta com mais de 15 temporadas e centenas de episódios, além de versões estendidas e especiais. O sucesso do programa nos Estados Unidos levou à criação de edições locais em outros países, incluindo versões na Colômbia, África do Sul, México e Brasil, cada uma adaptada às peculiaridades dos ambientes e culturas locais. Aqui no Brasil, o programa também conquistou uma base de fãs considerável, levando à criação de uma edição especial gravada na Amazônia.

Encontrei disponível na Max três temporadas da edição Brasil, que foi a que eu assisti.

Minha Opinião Pessoal (contém spoilers)

Eu não sou um grande fã de reality shows, e são poucos os que de fato pego pra ver. Já meu marido gosta bastante, e como temos o hábito de alternar quem escolhe o que veremos (assim ambos consomem o que gostam), fomos tentar ver a edição brasileira.

Como dito antes, encontramos três temporadas disponíveis no Max, e acabamos maratonando tudo! Há também disponível o Largados e Pelados: A Reunião 1º Temporada, que traz de volta os sobrevivencialistas da primeira temporada falando sobre a experiência.

Ao contrário do que eu imaginava, o programa parece de fato real, e são visíveis as mudanças de peso e fisionomias dos participantes ao longo da fome e das adversidades que enfrentam. Tão acostumados estamos aos confortos da tecnologia que é pouco provável que, sem treinamento, conseguimos passar esses perrengues.

Das três temporadas, destaco a segunda temporada, que tiveram arcos de sobrevivência incríveis, e um grande número de desistências. A terceira temporada foi mais amena e a primeira foi muito tranquila.

Embora o nome seja Largados e Pelados, e todos estejam de fato completamente nus, as versões disponíveis do programa colocam tarjetas de censura cobrindo as partes íntimas, de forma que jovens possam assistir sem problemas. As edições e cortes também poupam detalhes que podem ser considerados mais gore, como a caça e preparo de animais abatidos em tela.

Sinceramente, foi uma grata surpresa esse programa! O cuidado e a leveza em como são transmitidas as cenas e acontecimentos são convidativas e em muitos pontos didáticas (sim, dá pra aprender alguns conceitos com o programa tranquilamente) além do experimento social de sobreviver com desconhecidos.

Quimera de Aventuras

Nesta sessão a obra entra na Quimera e colocamos algumas ideias de uso para aventuras de RPG.

Entretanto fique ciente que para isto, teremos que dar alguns spoilers da obra. Leia por sua conta em risco.

Fantasia Medieval (D&D, Pathfinder, OSR, Tormenta…)

Os personagens são náufragos em uma ilha desconhecida, isolados do resto do mundo. Eles devem sobreviver à flora e fauna hostis, encontrar alimentos e água, e eventualmente escapar da ilha ou entender os mistérios que ela esconde. Como poderão sobreviver sem seus equipamentos, itens mágicos, recursos de magia e comunicação e muito mais, em um ambiente desconhecido e cheio de novos perigos?

Use essa premissa para explorar mecânicas de combate contra criaturas selvagens, construção de abrigos e ferramentas com recursos limitados, exploração de ruínas antigas e a gestão de recursos escassos. Podem ser implementadas regras de exaustão, fome e sede, além de criar mecânicas para construção e reparo de equipamentos rudimentares.

Terror Lovecraftiano (Call of Ctulhu, Ordem Paranormal…)

Os personagens acordam sem memória em uma floresta densa e misteriosa. Enquanto tentam sobreviver, descobrem que algo sobrenatural os observa, e a própria floresta parece estar viva e consciente. Sobreviver ao oculto e misterioso precisando utilizar recursos e ferramentas do próprio ambiente que tenta lhes matar é um desafio que pode levar à insanidade.

Use essa para aproveitar mecânicas de enfrentar criaturas mitológicas, manter a sanidade diante de eventos sobrenaturais, e desvendar o mistério de como chegaram ali e como escapar antes que a floresta os consuma. A gestão da sanidade torna-se crucial, e a sobrevivência física é tão importante quanto evitar cair em desespero ou loucura.

Cyberpunk e Fantasia Urbana (Shadowrun, Kuro…)

Após uma operação fracassada, um grupo de runners é deixado para morrer em uma selva tecnológica. Eles precisam usar sua cibertecnologia e magia para sobreviver enquanto tentam se reconectar com a civilização. Como seria um ambiente onde a própria natureza se mesclou com a tecnologia para sobreviver e evoluir?

É uma ótima premissa para tirar a mesa de sua zona de conforto e dar um enfoque nas mecânicas de hackear drones de vigilância, lidar com predadores tecnológicos, construir abrigos com partes de máquinas e evitar corporações que os caçam. Regras para improvisação de tecnologia e magia em condições adversas, além de limitações impostas pelo ambiente que afetam diretamente as capacidades dos personagens.

Mundo das Trevas

Um grupo de vampiros recém-criados é abandonado em uma cidade devastada por uma catástrofe natural. Eles devem sobreviver à escassez de sangue, evitar os caçadores de vampiros e encontrar uma forma de restabelecer contato com suas seitas. Lembrando que vampiros são absolutamente vulneráveis durante o dia, sobreviver a esse desafio pode ser mais arriscado que as guerras sociais das grandes cidades.

Essa é uma premissa perfeita para deixar de lado um pouco o tom social e político do jogo, e se valer de suas demais regras e mecânicas de sobreviver à luz do dia sem abrigo adequado, alimentar-se sem atrair atenção indesejada, e resistir ao frenesi provocado pela fome intensa. A fome e o frenesi são componentes centrais, com a sobrevivência emocional e moral sendo tão desafiadora quanto a física.

Ideias para se aproveitar a premissa de estarem Largados e Pelados em terreno hostil não faltam, independente de seu sistema, cenário e afins! É uma forma de explorar jogos rápidos ou longos, de colocar personagens muito poderosos em situações de risco real, e de explorar mecânicas e regras mais voltadas à sobrevivência e cotidianos!

Conta aí nos comentários, qual sistema você gostaria de usar essa premissa? Gostaria mais de jogar ou narrar uma premissa dessas? Qual outra ideia ficou faltando e gostaria de compartilhar?



É isso, espero que vocês tenham gostado e que tenham ficado interessados pelo reality e pela premissa. Largados e Pelados é um projeto bem interessante, com muitas ideias excelentes para serem usadas e muitas dicas interessantes para quem busca um design rústico de itens e equipamentos para o jogo.


Texto e capa: Eduardo Filhote

Publicado por

Eduardo Filhote

Rpgista desde os saudosos anos 90, mais Narrador que Jogador. Podcaster do Machinecast, Filósofo e metido a escritor. Lupino da Liga das Trevas e aventureiro do mundo fantástico de Arton. Prefere Lobisomem a Vampiro, tem preguiça de D&D e considera 3D&T um dos melhores sistemas de jogo.

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