Desconfianças rastejam pela Cosmonave – Parte 05 – Missão Artêmis

Anteriormente na Missão Artêmis Parte 04, Conley perdido em seus devaneios não entende porque as diretrizes de Icaro, além de estar sobrecarregado em uma função que não foi treinado. Mas os comportamentos da IA gerarão desconforto na esquipe toda. Fique agora com a Missão Artêmis Parte 05.

Albert Conley definitivamente parecia outra pessoa. Já há alguns dias, os demais tripulantes trocavam conversas sobre o estado do responsável pelas manutenções e revisões de diversos sistemas. A idade finalmente o encontrara e sua saúde parecia ter sido afetada por todo movimento causado desde a mudança da rota rumo à Héstia.

O Doutor Milton Travis era o único que sabia o real motivo para mudança de seu parceiro nas atividades dentro da Artêmis. Duas semanas antes, Travis havia recebido ordens para apoiar a capitã na reconfiguração de trajes de combate tendo em vista que a utilização das Matrizes Hefesto demandava sua total atenção. Sabendo que Conley também recebera treinamento para manter sistemas essenciais com a manutenção adequada, designou-o para cumprir a função temporariamente, porém não imaginava que os protocolos da Icaro considerariam uma atitude de monitoramento radical da tripulação. Travis decidiu e conseguiu convencer Conley a manter a informação sob sigilo, já que a simples sensação de perda do controle, poderia causar pânico e tensão desnecessária considerando o nível de estresse de todos diante do que aconteceria quando adentrassem a Héstia.  Infelizmente, a decisão estava sendo visivelmente nociva.

Naquela noite, o médico Chase Johnston e Psicólogo Ethan Mack convocaram uma reunião com a capitã Duke e Travis. Icaro estava presente na reunião e após pedir permissão apropriada solicitou espaço para expor o problema. Durante sua explicação, médico e psicólogo complementavam o curso traçado pela Icaro, que rapidamente apresentou evidências para a aplicação do sono criogênico a Conley. Segundo Icaro, a longa exposição, o impacto da sobrecarga de tarefas, por vezes incompatíveis com a função somada as incertezas e ansiedade o levaram a uma condição perigosa para um ambiente limitado de convivência. O sono, atrelado a medicações seria uma alternativa viável para segurança da missão.

Todos ponderaram sobre o contexto, quando Icaro citou “somado a condição do Doutor Albert Conley, este sistema orienta que a capitã Duke mantenha seu comando alinhado as diretrizes condizentes a missão que lhe foi incumbida, tendo em vista que suas ordens erráticas, em nada  somam para resolução adequada da incursão. Não há dados que comprovem a necessidade de uso de recursos e preparação extra. Há urgência na conclusão da missão Ômega”. Ao dizer isso, todos silenciaram, exceto a capitã que rapidamente alicerçou sua linha de raciocínio, expondo e solicitando gravação e repasse de suas falas e linha argumentativa para a central. Foi ainda, mais incisiva usando seu código protocolar de comando “capitã Duke, código Alfa0013, responsável pelo cruzador intergaláctico Artemis 13, refuta a exposição da Icaro sobre a coerência de seu comando, tendo em vista que as diversas etapas da missão que me foi imposta denotam a utilização adequada de recursos materiais e humanos, na conclusão adequada e prioritariamente segura de todos os membros da tripulação. A nave que será abordada permaneceu por décadas em estado não minuciosamente periciado, apresentando assim uma gama de riscos, ao qual a responsável presente não pode ignorar. A conclusão urgente relatada pela Icaro em nada dialoga com a necessidade de uma análise e preparação cuidadosa prezadas pela Iniciativa Cronos em variados artigos que regem nossa atividade. A contestação só seria válida se a Icaro pudesse apresentar mais evidências que por sua vez alicerçariam sua tréplica! ”.

Diante da saída inesperada, Travis espantou-se com o argumento utilizado pela capitã. Icaro ficou alguns segundos em silêncio e depois concordou com a capitã, que por sua vez cedeu em relação ao Doutor Conley. O clima ficou estranho e Travis pensou consigo que sua capitã percebeu algo estranho diante da postura impetuosa do sistema. Houve ali uma boa tentativa  de deixar toda situação às claras, mas o sistema deve ter analisado o impacto de variadas respostas, até simplesmente concordar com a capitã.

Ao concluírem a reunião, Travis retomou sua função e a capitã solicitou uma atenção cuidadosa ao sono de Conley. Havia um olhar meticuloso no rosto de Duke, que solicitou “Travis, preciso que retome suas funções enquanto manterei atenção a reconfiguração dos trajes, infelizmente vejo coerência em não perdermos tanto tempo como inicialmente projetei, por isso darei prioridade apenas a cinco trajes, assim ganhamos tempo e poderemos diminuir o ritmo para com todos, peço que mantenha atenção às suas atividades e ouça com cuidado as orientações da Icaro. Percebo que ele está mais dedicado a conclusão do que imaginei. Faça seu papel grande irmão

Quando Travis ouviu o termo grande irmão, sua memória divagou sobre conversas que teve em variados momentos com a capitã, antes do embarque, especialmente durante um treinamento na qual ela afirmou que temeria o dia em que ela se tornaria apenas mais uma vitima de George Orwell dentro de um local fechado e monitorado. Foi assim que Travis ao captar a referência, entendeu que Duke, ponderaria com cuidado seus próximos passos.

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Desconfianças rastejam pela Cosmonave – Parte 05 – Missão Artêmis

Autor: Jefferson de Campos.
Revisão de: Isabel Comarella.
Montagem da capa: Douglas Quadros.
Montagem da capa: Iury Kroff.

Quem está no controle da Cosmonave? – Parte 04 – Missão Artêmis

Anteriormente na Missão Artêmis 03, a Capitã Duke tinha um plano para adentrar na nave Héstia reduzindo os riscos para seus tripulantes. Mas na própria Artêmis ainda tem muita coisa para ser feita. Fique agora com a Missão Artêmis Parte 04.

Havia alguns dias que a agitação tinha se instaurado na Artêmis. Desde o sinal de emergência recebido da Héstia, todos mobilizaram-se para atender as ordens da capitã, sempre zelosa em manter não só a segurança da missão como também de atender rapidamente a quaisquer revezes que pudessem se abater sobre a nave. Tal processo, impelia a capitã a sempre projetar cenários variados de calamidades e, portanto, cabia a nave estar preparada para a resposta adequada. Não havia reclamações, pois todos sabiam que a condição na qual estavam não podia permitir impetuosos, incautos e irresponsáveis. A equipe e a missão sempre foram, são e serão a prioridade para aqueles que escolheram está vida. 

Perdido em pensamentos e divagando sobre o movimento não usual, o Doutor Albert Conley pensava o que gravaria naquele dia. Era rotina dentro das missões as gravações de diários digitais que depois eram cuidadosamente analisados pelo sistema Icaro e pelo médico Chase Johnston e Psicólogo Ethan Mack que por sua vez mantinham o controle das condições da tripulação. Conley achava aquela tarefa repetitiva e cansativa, mas especialmente naquele dia se deparou com uma sensação estranha, lembrando-se de seu casamento e dos desafios que sondaram sua paternidade. Refletia sobre a possibilidade de sua condição como bisavô e as tantas lembranças não vividas que poderiam ter sido deixadas para trás. Tal fato não era usual, pois ele sempre foi um homem de mente afiada e de grande determinação, porém o exercício de projetar possibilidades o incomodava muito. Talvez o estudo dos dados estruturais das missões estivesse afetando seu discernimento.

Os níveis de segurança das naves eram divididos em S, A e B. Cada nível relacionado ao tamanho da nave, sua tripulação e seus objetivos. O usual eram as categorias A e B serem adotadas pela Iniciativa Cosmos, nomenclaturas para sistemas que tinham poucas diferenças práticas, porém as naves classificadas como S, sempre continham mentes brilhantes, aparatos de ponta ou em fase final de testes, com alto grau de sigilo. A Héstia com a qual lidavam se encaixava exatamente nessa faixa. Uma nave fora do padrão para missões dessa série. O número de recursões e sistemas que deveriam garantir o sucesso eram variadas e Conley, um senhor cético e científico, refletia pela primeira vez que a confiabilidade nos sistemas que os guiavam era quase um exercício de fé pura e simples. Sua função era manter a tecnologia viva ou será que sua função era manter a fé viva nos sistemas que invariavelmente um dia fariam daquela nave uma tumba estelar? Uma ode aos cosmonavegadores que exploraram o espaço. Uma oferenda depositada no altar da Humanidade.

A ansiedade chegou lentamente, mas parecia ter gostado do que encontrara. Nesse momento Icaro cumprimentou-o pela imagem  holograficamente projetada à sua frente. Um breve susto, fez com que o Doutor Conley voltasse a si reclamando da intromissão. Icaro, foi objetivo em sua preocupação relacionada ao monitoramento da atividade neural durante a rotina de gravações, tendo em vista que a mesma demonstrava oscilações com alto nível de ansiedade. Questionou o doutor sobre a necessidade de atenção médica e em seguida apresentou relatórios que demandavam atenção. Conley percebeu que havia trabalho a ser feito, reposição de algumas peças e configurações necessárias comuns a todo processo de substituição. Porém, enquanto analisava os dados se deu conta da observação sobre o monitoramento cuidadoso da Icaro e questionou a situação. Todo sistema de inteligência artificial estava atrelado aos protocolos de manutenção estrutural com análises limitadas de outras esferas. A análise das gravações fazia sentido, pois a garantia de sucesso da missão estava relacionada a manutenção do recurso humano à bordo, mas tal cuidado cabia prioritariamente aos profissionais da saúde que faziam parte da tripulação.

Conley imediatamente inseriu códigos de segurança e fez uma análise do sistema questionando a avaliação que Icaro havia feito.

“Doutor Conley, seu código foi revogado no exato momento em que o nível de segurança Omega foi estabelecido. Os sistemas de monitoramento compreendem todos os integrantes da missão, com coleta de dados cuidadosos de todos os membros à bordo. Suas condições física e psicológica devem ser analisados e cabe a este sistema reger e aplicar os protocolos devidos às circunstâncias não usuais da missão recebida pela capitã deste Cruzador intergaláctico – Artêmis 13 “

Nesse exato momento, Conley se deu conta que a preocupação havia ganho maior proporção, pois naquele contexto em que estavam, sua fé residia na tecnologia e quem controlava a tecnologia não eram mais mãos Humanas, mas  sim um Deus Artificial que manteria seus olhos e vontade fixos sobre os membros da missão…

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Quem está no controle da Cosmonave – Parte 04 – Missão Artêmis

Autor: Jefferson de Campos.
Revisão de: Isabel Comarella.
Montagem da capa: Douglas Quadros.
Montagem da capa: Iury Kroff.

Rhonda Duke a Capitã da Cosmonave – Parte 03 – Missão Artêmis

Anteriormente na Missão Artêmis Parte 02, os cosmonautas receberam informações confusas sobre a nave que pede resgate, além de receberem a tarefa de irem até essa nave. A preocupação com os riscos atinge a todos. Fique agora com a Missão Artêmis Parte 03.

A capitã Rhonda Duke mantinha um olhar focado na alimentação daquela manhã, a adorada pasta desidratada de cor amarela rica em todos os tipos de vitamina e necessidades químicas do organismo, apenas com uma ressalva referente ao sabor e textura oleosa. Remexia o alimento divagando sobre as ordens recebidas. Cabia a ela cautela em relação ao conteúdo e abordagem nessa missão. Entendia que o sigilo nível Omega, considerava alto grau para segurança dos envolvidos, contexto esse que poderia significar uma passagem sem retorno para todos de sua nave. Precisaria ser minuciosa nas orientações para garantir a integridade e sucesso na missão.

Repentinamente, a capitã Duke levantou-se e rumou até o setor de segurança do Cruzador intergaláctico Artêmis 13, no caminho solicitou a presença do Primeiro Tenente Aaron Becker. Os demais tripulantes notaram a agitação e preocupação não usual de sua líder, mas àquela altura os acontecimentos, de fato, mexiam com a mente de todos.

A capitã, assim que acessou o setor de segurança, fez uma observação cuidadosa dos aparelhos ali presentes. Devido a distância e complexidade na missão, o estoque de alguns itens era limitado, fazendo com que as Matrizes  Hefesto fossem necessárias para o quebramento de partículas e recombinação atômica que possibilitariam a produção de variados materiais para o andamento da missão. Como critério de segurança, as Matrizes disponíveis em cada missão podiam produzir uma lista limitada de utensílios, sempre com alto controle das autorizações, isto impedia que mentes perturbadas pudessem fazer destes aparelhos, conduítes para simulacros macabros. Durante sua análise notou que os equipamentos disponíveis podiam produzir peças essenciais para seu plano.

O Primeiro Tenente Aaron Becker olhava a atitude com desconfiança e indagou qual a ligação de tal atitude para com a missão, ao passo que a capitã lhe disse que os equipamentos a bordo consistiam em versões levemente aprimoradas do modelo padrão que por sua vez garantia proteção contra situações ambientais severas, temperaturas extremas, oscilação de pressão e proteção cinética básica. Em sua mente, a missão que enfrentariam levaria em conta um contexto observado nas abordagens ocorridas no cinturão Osíris, cerca de cento e cinquenta anos atrás, no qual um confronto por estações de observação exigiu uma completa reconfiguração dos aparatos disponíveis. Segundo seus estudos históricos, a força de ataque foi sobrepujada, justamente por ignorar os desafios do terreno artificial e natural, além de todas as condições  variáveis de um confronto ambientado num espaço de trezentos e sessenta graus.

Sendo assim, como todo material militar atual já tem em sua essência as características modulares e cambiáveis que facilitam substituição e produção, seria possível que os trajes pudessem ser preparados para um contexto mais hostil. A capitã reiterou que os diversos tópicos pontuados para a invasão da cosmonave Héstia demonstravam a conclusão parcial de um evento de alta periculosidade, o próprio número de tripulantes, com nomes diferentes para iguais funções significava que baixas já eram esperadas. O uso do sistema Vesta, era comum em naves militares, a própria capitã Harley Irwin, teve em seu histórico incursões que a desabonariam de outros propósitos mais éticos. Um nome célebre como do doutor Joel Miles, astrobiólogo, autor de variados livros usados na graduação, não se arriscaria em uma missão que não trouxesse mais fama e renome. E a própria detonação final demonstrava que os vestígios e evidências deveriam ser permanentemente apagados e isto poderia incluí-los.

A capitã Duke havia escolhido sua missão devido sua capacidade superior demonstrada em todas as fases de sua formação, dessa maneira, sua estratégia base seria estar preparada para os piores cenários dentro do contexto ao qual haviam sido colocados. Com tantos argumentos coerentes, o tenente concordou e iniciou a produção dos itens que estariam disponíveis, questionando que ele próprio teria dificuldade na montagem e reconfiguração, momento em que a capitã citou que ela tinha conhecimento suficiente para deixar os trajes similares aos do Comando Ares. A capitã ordenou que os soldados fossem convocados, já que alguns passos da reconfiguração poderiam ser feitos por eles, manualmente, ao passo que o tenente citou que o sistema Icaro poderia ajudá-los, elemento que foi expressivamente negado por ela. Justificou sua decisão citando que quaisquer elementos responsáveis pela segurança no contexto julgado hostil da nave que abordariam não teria “link” com a sua própria nave, portanto ela mesma faria os processos mais complexos não só nos trajes como também nas armas, o fator tempo não seria um empecilho, já que a Héstia já estava à deriva há muito tempo.

Quando o tenente ouviu tais afirmações contundentes, lembrou-se de histórias envolvendo a líder, que sempre demonstrou uma aptidão física e mental invejáveis. Os rumores apontavam-na como uma “aprimorada”, indivíduos que passaram por rigorosos exames e aprimoramentos genéticos, porém tal fato nunca fora confirmado e por vezes poderiam significar apenas uma maneira de justificar a mediocridade dos que foram superados por ela. O tenente a admirava e respeitava, mesmo porque sempre havia coerência em suas decisões.

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Rhonda Duke a Capitã da Cosmonave – Parte 03 – Missão Artêmis

Autor: Jefferson de Campos.
Revisão de: Isabel Comarella.
Montagem da capa: Douglas Quadros.
Montagem da capa: Iury Kroff.

Tensão e Mistério na Cosmonave – Parte 02 – Missão Artêmis  

Anteriormente na Missão Artêmis Parte 1, fomos apresentados aos primeiros integrantes da nave e soubemos que receberam uma mensagem de outra nave. O que farão sobre esse fato inusitado? Fique agora com a Missão Artêmis Parte 2.

Horas se passaram desde que a capitã começou o processo de despertar do restante da tripulação. Enquanto tal procedimento ocorria sob supervisão do sistema de inteligência artificial Ícaro, os demais tripulantes, doutores Conley e Travis mantinham seus trabalhos, mesmo com as mentes inquietas devido ao sinal de emergência recebido da cosmonave Héstia. Inquietação ampliada depois da varredura de arquivos, que prontamente apontou a nave como a décima quinta da série, dada como perdida, haja vista a impossibilidade de resgate sem a confirmação de sobreviventes, já que segundo as informações disponíveis haveria comprometimento severo com a perda do sistema de inteligência artificial perdido durante o rompimento do casco do setor 3. Toda tripulação havia recebido as honrarias costumeiras e o caso foi encerrado. Após décadas os sinais recebidos em muito diferiam dos arquivos disponíveis e seria imprescindível que os demais tripulantes pudessem dar suas contribuições para tomada de decisão.

A capitã Rhonda Duke tinha dado ordens claras para que o Cosmólogo Albert Conley inicia-se comunicação direta com o cinturão de satélites regido pela Inteligência Artificial Hermes, sistema criado pela Iniciativa Cosmos para manter as comunicações e análises profundas, mapeando galáxias, criando e atualizando um algoritmo; sequência lógica, finita e definida de instruções para serem seguidas para na execução das missões que sempre continham extensões desse sistema que por sua vez se encarregavam da manutenção das naves enquanto a tripulação estava em hibernação criogênica. Apenas os capitães podiam acessar diretamente o sistema Hermes, normalmente em ocasiões emergenciais, para receber instruções, dada a demora para comunicação com a Terra, mesmo com os avanços tecnológicos atuais. Hermes, por sua vez, analisava a requisição e com base em seu algoritmo, repassava uma ordem oficial ou instruções. 

Enquanto aguardavam, os demais tripulantes se reuniram na câmara de reuniões. Eram eles, a Astrogeóloga Layla Bass, responsável pelo mapeamento de ambientes geológicos extraterrestres e suas composições, determinando estrutura, composição química, idade, magnetismo, dinamismo, radiação e outros detalhes associados a seu elemento de estudo. O Criptólogo Dean Franklin, especialista em xenoarqueologia, análise de criptogramas, pictogramas, iconografia e exoantropologia. A Exobióloga Deloris Cochran, responsável pelo estudo da origem e evolução da vida na galáxia e de ambientes propícios para o surgimento da vida. O médico Chase Johnston e Psicólogo Ethan Mack. A força militar altamente treinada, encarregada de manter a ordem na missão e cuidar da integridade dos equipamentos e do bem-estar da tripulação compostos pelo Primeiro Tenente Aaron Becker e soldados Marjorie Ramos, Sandy Garcia, Irma Chen  e Kaitlin Watson e finalmente o vídeo maker Mike Hubbard. Esses eram os catorze tripulantes da Artêmis 13.

Com todos reunidos e confusos, a capitã adentrou a câmara e repassou a todos os acontecimentos e o motivo do despertar, havia ali uma séria dúvida  sobre a importância daquele sinal. O sistema Hermes deixou de ter contato com a citada nave, mas havia um sinal sendo emitido e o simples fato daquela nave surgiu naquele quadrante, fora da rota usual, já levantava curiosidade e ansiedade por parte de todos. 

A capitã Duke solicitou que a criptografia do sinal fosse analisada profundamente por Dean Franklin e Mike Hubbard, já que o sistema Ícaro havia recebido mais informações, que infelizmente não puderam ser analisadas, fato suspeito dada a natureza de suporte da inteligência artificial. Ordenou ainda que o primeiro tenente iniciasse os exercícios para manter as forças de defesa de prontidão caso a abordagem de resgate fosse necessária. Solicitou a equipe médica composta por Johnston e Mack revisão dos arquivos da missão da nave Héstia, revirando detalhes à procura de mais informações até o interrompimento das comunicações. A Cochran, Bass, Conley e Travis restou manter os trabalhos de manutenção da nave e acompanhamento das orientações que chegariam da Hermes. 

Foram 48 horas de apreensão, em que todos trabalharam arduamente com o clima de tensão instaurado pelo sinal recebido. Faltava pouco mais de doze horas até Hermes  enviar uma ordem, nesse intervalo de tempo houve a quebra da criptografia pelos especialistas da tripulação, segundo eles o sinal nunca deixou de ser enviado, o sistema de inteligência da nave realmente foi desativado e o trabalho passou a ser todo de responsabilidade da tripulação, o que seria inviável dada a natureza de finitude da vida humana, seria impossível para um ser Humano ficar décadas desperto cuidando de todos os sistemas da nave sem que sua integridade física e mental fossem prejudicadas sem a proteção do sistema de hibernação criogênica. Outro fato importante, dizia respeito a impossibilidade de comunicação com a Héstia. Aparentemente o sinal demonstrava que o aparato de comunicação poderia ser usado, mas antes da desativação da inteligência que regia a nave houve um travamento proposital, impedindo que o sistema recebesse quaisquer sinais, apesar de emissão, a nave estava a deriva, sem receber quaisquer orientações. Para os especialistas, seja lá o que tivesse ocorrido, o abandono daquela nave foi proposital e alguém muito inteligente conseguiu  estabelecer um sistema de sinal de emergência burlando os sistemas de segurança da nave. Neste sinal ainda descobriram informações adicionais que não podiam ser acessadas pelo Ícaro, mas um indício sobre a desconfiança do ocorrido com a nave à deriva. 

Dean Franklin e Mike Hubbard obtiveram as informações trabalhando em computadores desligados da rede de inteligência, descobrindo que a tripulação era composta por trinta integrantes, número superior as missões usuais e que mesmo após o acidente um terço ainda permaneciam vivos. Os dados criptografados ainda apontavam que haviam obtido sucesso na primeira das duas missões na nave. 

Com tais informações a capitã ficou pasma, pois os registros oficiais apenas apontavam uma missão prioritária relacionada ao planeta Gliese 581 c. Em meio ao turbilhão de pensamentos, a mensagem de Hermes foi recebida, “Cruzador intergaláctico Artemis 13, sob regência da capitã Rhonda Duke. Alteração de missão primária, abordagem e resgate do núcleo do sistema de inteligência artificial Vesta presente na cosmonave Héstia, resgate do sistema criogênico da nave sem permissão para o despertar. Resgate do diário de bordo da capitã Harley Irwin. Resgate dos dados científicos do doutor Joel Miles, mantido fora dos registros gerais do Vesta. Interrompimento do sinal emitido e destruição dos sistemas restantes da Héstia, detonação geral de quaisquer aparatos que possam implicar em riscos à segurança de novas missões. Rota estabelecida, após o resgate. Com encerramento da missão primária, retomar jornada previamente  estabelecida. Sigilo da missão, nível Omega”.

A capitã ainda processava as informações de sua equipe quando as ordens da Hermes chegaram. Pensou por um momento e racionalizou que algo estava errado, porém não havia como contestar a ordem, dada a natureza do Ícaro em priorizar as ordens do sistema de inteligência superior da Iniciativa Cosmos. Cabia a ela contar com os conhecimentos do restante da tripulação e os vínculos forjados em todo período da missão até aquele momento. Deveria agora dialogar com todos, repassando e organizando a nova missão, passando uma confiança que perdera após as revelações tidas com o sinal criptografado recebido da Héstia.

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Tensão e mistério na cosmonave – Parte 2 – Missão Artêmis  

Autor: Jefferson de Campos.
Revisão de: Isabel Comarella.
Montagem da capa: Douglas Quadros.
Montagem da capa: Iury Kroff.

Lembranças da Criação #07 – Demônio: A Queda

— A divisão foi o motivo que levou vocês a derrota? — Pergunto, ciente da proximidade da casa dela e do fim da conversa.

— Um dos, sem dúvida. — Ela responde, com um sorriso. — Espero ter mais tempo, em outra oportunidade, para abordar os outros.

— Receio que não. — Respondo. — Primeiro, porque você já me disse tudo o que eu precisava saber. Segundo, porque nem eu e nem você estaremos aqui, nos próximos dias. Viajo para o Rio na terça, e você…

— Itália… Sim. — Mariah confirma. — É bem-vindo, se desejar me acompanhar.

— Dispenso. Contente-se em saber que este lugar é um reduto perigoso, para seres como eu.

— Fé… — Comenta ela, de repente.

— Sim… Fé!

— Se quiser encontrar outros de minha espécie, basta seguir o rastro dela, cainita. Muitos de nós acreditamos, veemente, na reparação desse mundo, através do emprego dela.

— Do que exatamente fala?

— Desde a queda, nossos poderes estão atrelados a essa característica tão misteriosa. Assim sendo, poderíamos fazer maravilhas, se tivéssemos a disposição uma fonte substancial dela.

— E por que me diz isso?

— Porque sei de suas motivações e compreendo que, uma hora ou outra, você se aliará a nós…

— Ela afirma por fim, frente a porta.

— Fascinante… — Eu digo, virando-me e voltando a caminhar, numa direção contrária.

— Espero que consiga trazê-la de volta, amaldiçoado.

— Por quê? — Pergunto uma última vez, olhando-a de relance.

— Porque seu amor por ela, ainda que doentio, me lembra muito o amor que senti por vocês, no início de tudo.

— Receio, então, que temos algo em comum.

— O que quer dizer?

— Ora, o que estes sentimentos nos trouxeram, no final? Além de dor, mágoa e sofrimento? — Questiono, seguindo meu caminho.


Lembranças da Criação #7

Autor: Rafael Linhares.
Padronização e Arte da Capa: Raul Galli.

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Mais um Despertar na Cosmonave – Parte 01 – Missão Artêmis

O Doutor Milton Travis despertou de seu longo sono dentro do sistema de hibernação criogênica das câmaras Lenora 9, projetadas para desempenhar um papel ímpar na sobrevivência da tripulação do cruzador intergaláctico Artemis 13. 

Tal aparato era de longe superior ao modelo 8, pois antes mesmo dos despertares comuns a cada década, já iniciava todo processo de estímulo e reconstrução muscular, passando pela varredura de todas as funções vitais e estímulos necessários para que o organismo retomasse rapidamente o padrão de funcionamento. 

A essa altura o Doutor Travis, já estava habituado aos enjoos provenientes do despertar, porém agradecia o avanço tecnológico que se encarregava de diminuir o sofrimento desses momentos de análise de todo sistema da nave. Sendo o profissional de tecnologia a bordo, tinha como função a cada dez anos fazer a avaliação de toda estrutura, encarregando-se de garantir o pleno funcionamento da Artêmis 13. 

Claro que toda estrutura avançada continha recursões garantidas pelo sistema de inteligência artificial denominada Ícaro, que ativamente fazia varreduras na construção, analisando e garantindo a manutenção rotineira enquanto os tripulantes aguardavam em seus longos sonos a tão sonhada chegada ao sistema Kepler-90, localizado a 2,5 mil anos-luz da Terra. Onde poderiam finalmente analisar se o planeta Kepler-90 seria capaz de sustentar a vida Humana, como todos os estudos anteriores demonstravam. 

Travis sabia que seu despertar fazia parte dos protocolos instaurados pela iniciativa Cronos e dessa maneira já estava habituado à rotina que o aguardava nos próximos seis meses. Primeiro faria uma análise dos dados e ocorrências durante sua ausência e depois executaria testes junto à Icaro, garantindo assim mais uma década de tranquilidade. Normalmente seu despertar era acompanhado do Cosmólogo Albert Conley e da Navegadora e também Capitã Rhonda Duke, já que todo processo de revisão usual deveria garantir que os cursos e cálculos se mantinham conforme a rota estelar traçada. Travis já havia feito estas ações exatamente doze vezes, ou seja, por mais de 120 anos, a Artêmis mantinha sua jornada singrando o espaço, mesmo com o sistema de saltos garantidos pelos motores de dobra espacial, a viagem ainda duraria muito tempo. Era um alento, saber que os avanços tecnológicos garantiam grandes possibilidades de sucesso para jornadas tão longas.

Após o sistema Lenora 9 concluir seu trabalho. Travis saiu de sua câmara e rapidamente observou tudo a sua volta. Ícaro cumprimentou-o pela imagem holograficamente projetada de um rosto humano a sua frente, para em seguida iniciar o protocolo de segurança usual. 

O Doutor olhava o cubículo no qual estava dirigindo-se a um sistema a sua frente que possibilitava exercícios e simulações físicas. Enquanto conversava com Ícaro, mantinha sua série de treinos esperando que o mal-estar em breve passasse. Enquanto mantinha sua análise, passou as injeções necessárias à manutenção de sua saúde e em seguida se alimentou da “papinha” indicada até o sistema digestivo recuperar sua atividade normal. Os dados iniciais eram satisfatórios e os danos ocorridos durante a última década eram comuns. Ícaro havia feito um excelente trabalho, como era de se esperar. 

Quatro horas haviam passado até que Travis pudesse comunicar-se com a capitã Duke. Fato que ocorreu na câmara de reuniões da Artêmis, um local espaçoso, dadas as dimensões diminutas, apertadas e por vezes claustrofóbicas da cosmonave. Duke olhava para uma projeção vinda da mesa, na qual analisava a distância percorrida e repassava os relatórios concluídos por Ícaro, uma sincera infinidade de documentos regularmente enviados para o banco de dados da Iniciativa Cronos. Ao entrar, houve um breve cumprimento e a capitã, quase como uma máquina, repassou os dados e análises preliminares. Ambos sabiam que os próximos meses seriam de trabalho intenso. O cosmólogo Albert Conley acessou a câmara como esperado; para repassarem as informações, os três conversaram sobre trivialidades enquanto trabalhavam. Já haviam se conhecido bem durante os meses acumulados de despertar. Duke havia se graduado com distinção, demonstrando uma aptidão física e mental invejáveis. Não havia recorrido a nenhum aprimoramento avançado e isto fazia com que seus números se tornassem mais assustadores. Não tinha constituído família, mas era muito próxima de seu irmão Frank Duke, que havia se casado e tido quatro filhos. A capitã era uma tia muito participativa, mas como ela mesmo dizia, gostava de poder devolver as crianças quando queria. O Doutor Albert Conley, era o mais velho entre os presentes, tinha 75 anos quando embarcou, porém, com os aprimoramentos que tinha em seu corpo, mantinha o porte e saúde de um homem de 40. Tinha a mente igualmente afiada, gostava de jogos variados, leituras e de gatos. Sempre falava da saudade que tinha de seus animais. Constituiu família e gostava de falar do seu marido Harrison Farmer. Graças a engenharia genética conseguiram que seus filhos adquirissem características de ambos. Tiveram cinco crianças lindas e saudáveis que se tornaram adultos proativos na sociedade. Orgulhava-se de falar de seus doze netos. Já o Doutor Travis, esse mantinha a solidão como uma parceira próxima. Desde tenra idade gostava de interagir mais com números e máquinas. Foi considerado um prodígio para sua idade e ingressou cedo na Iniciativa Cosmos. Trabalhou duramente nos aprimoramentos da série de cosmonaves Artêmis e mantinha-se incansável nos estudos e artigos das últimas décadas. Sempre ansioso pela obtenção de melhores dados e otimização dos sistemas da nave.

O trio retomava histórias já contadas, riam de besteiras do cotidiano Terrestre e sabiam que as reuniões naquela câmara demorariam semanas, devido ao número de informações que precisavam repassar junto à Ícaro. 

Tudo corria como de costume quando um sinal sonoro ecoou pela nave. A capitã Duke sabia que o som remetia a um sinal de emergência recebido, porém para seu espanto, não deveria haver nenhuma nave em seu quadrante e isso correspondia a dias dentro do sistema de dobra espacial. Rapidamente todos se moveram para analisar as informações recebidas. 

Ícaro prontamente repassou a mensagem “Cosmonave série Héstia, capitã Harley Irwin, reporta rompimento do casco do setor 3 de nossa Argo, Integridade estrutural comprometida, missão comprometida ao planeta Gliese 581 c, sistema de manutenção de vida ainda operantes. Requisitamos apoio”

A capitã prontamente ouviu a breve análise de seus tripulantes. Travis citou que a série Héstia foi encerrada vinte anos depois que partiram da Terra, tendo em vista que seu modelo demandava atualizações de projeto em demasia para tornar-se viável. Sua rota tornou-se perigosa com relatórios apontando para inúmeros “fenômenos espaciais” incomuns. Conley comentou que os dados das diversas missões Héstia foram sempre inconclusivos tendo em vista números incoerentes para física quântica atual. Já a capitã não entendia como o sinal reportava que ainda havia tripulantes vivos em uma nave que devia estar décadas à deriva e principalmente, como poderiam estar próximos daquela rota sem que saltos fossem efetuados. Todos os presentes tinham suas mentes fervilhando com possibilidades, mas para tomar tal decisão dependeriam de toda a tripulação e da decisão da Iniciativa Cosmos.


Você gostou desse conto? Aproveite e conheça outros contos do autor.

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Missão Artêmis parte 01 – Mais um despertar na cosmonave

Autor: Jefferson de Campos.
Revisão de: Isabel Comarella.
Montagem da capa: Douglas Quadros.
Montagem da capa: Iury Kroff.

Missão Vepar – Competição de Contos e Textos #02

Na Torre do Mago, todo mês ocorrem diversos eventos com premiações. No mês de novembro de 2021, realizamos o aguardado evento “COMPETIÇÃO DE CONTOS E TEXTOS”, pelo qual, seguindo determinadas regras, o participante poderia postar uma história, um gancho narrativo, uma experiência e, até mesmo, uma fanfic de sua mesa de RPG favorita e disputar o primeiro lugar por meio de votação do público do servidor.

As três melhores publicações serão postadas aqui para vocês. Em uma primeira oportunidade trouxemos o conto intitulado Refúgio de Ignis (Raquel Naiane). 

Nesta oportunidade trazemos a Fanfic Missão Vepar, da autora Grazi Silva. Conto baseado na mesa de RPG chamada Igreja Silenciosa, do servidor da Torre do Mago.

Missão Vepar

O grupo se encarou quando chegaram à frente das portas do grande armazém, no qual, segundo suas fontes, um carregamento da Igreja Silenciosa estava para sair e em um dos caixotes estaria um livro que conteria rituais importantes e informações valiosas sobre seu atual líder, Magnus von Volpe. Em razão disso, ali estavam eles, para mais uma missão.

Antes que qualquer um dos cinco pudesse falar algo, ouviram um barulho vindo por trás. Como um só, o grupo se virou sacando suas armas, Lucius empunhava um revolver, quem olhasse de perto poderia ver pequenas marcas que, em contato com a pele do portador, acrescentava uma pequena luz vermelha à arma; Hely segurava uma bengala que há muito foi tomada de um ocultista da Igreja Silenciosa, depois de muitos estudos ela conseguiu descobrir alguns dos seus funcionamentos, não que isso não tenha cobrado seu preço; Ace tinha em suas mãos quatro cartas de baralho, mas não eram cartas normais, suas bordas pareciam mais afiadas e, quem o conhecia, sabia que elas se multiplicariam em um ataque emanando grande energia mística; Merlia desembainhou sua espada, que antes era rodeada por uma nevoa preta, agora brilhava em uma luz celestial. Ao seu lado, Eliza equipou sua marreta modificada, que brilhava em uma luz laranja, entretanto, o que mais chamava atenção eram as presas que saíram de sua boca, junto com as veias negras que saltavam ao redor dos seus olhos.

Tendo sua visão aprimorada, foi Eliza quem reconheceu a origem do barulho, ao ver seu antigo inimigo e agora colega, Patrick Scott saindo das sombras. Abaixou, então, sua marreta e recolheu suas presas, colocando uma mão ao redor do braço de Merlia, alertando o grupo:

– Está tudo bem gente, é só o filhote de Paimon.

– Que recepção calorosa que eu recebo depois de um tempo sem nos vermos. – Patrick falou brincando, enquanto recebia um abraço acalorado de Lucius e acenos dos outros da equipe.

– Você nos assustou – Hely disse indo em direção aos dois homens – O que está fazendo aqui?

Enquanto os três trocavam amenidades, Merlia, Ace e Eliza olhavam suspeitos ao redor, antes de se voltarem novamente para o armazém tentando ver se chamaram a atenção de alguém ali dentro.

– Paimon me guiou até aqui, ele sentiu que aconteceria algo perigoso e eu deveria intervir – Patrick falou mais baixo enquanto eles se aproximavam do trio que estava próximo ao armazém – Eu deveria ter suspeitado que encontraria vocês aqui. Afinal, sempre que tem algum problema vocês estão envolvidos, é incrível, a DCAP não cansa de ferrar a vida de vocês.

Ele pôde sentir, mais do que ver, o grupo todo revirando os olhos na mesma hora, o que levou um sorriso ao seu rosto. Por mais que o começo com eles tenha sido espinhoso, depois de uma missão perigosa em que se ajudaram mutuamente, acabaram criando um vínculo, mesmo tendo suas diferenças, conseguiram perceber que tinha um objetivo em comum: ajudar aqueles que não poderiam lutar por si mesmos.

Ele olhou mais atentamente para seus companheiros, notando suas posturas e aparências. Ace tinha uma cicatriz que começava em cima de sua sobrancelha esquerda e descia até seu maxilar, Patrick se lembrava quando o vampiro o arranhou com sua garra, o grupo ficou preocupado, pensando se aquilo custaria sua visão, mas após uma noite de descanso, se surpreenderam quando Ace apareceu com uma cicatriz no local e um olho metálico que irradiava uma aura divina. Merlia e Eliza pareciam mais próximas do que nunca, foi uma grande surpresa para a equipe quando perceberam que elas estavam juntas, fato este que arrancou sorrisos dos mais velhos. As duas eram as mais novas e já tinham passado por muita coisa, mereciam alguma felicidade.

Quando descobriram que Eliza havia se transformado em vampira, todos ficaram receosos, especialmente por ela estar sempre muito próxima da mais nova. No entanto, Merlia foi a primeira a defender sua amada, sendo visível por todos que Maya, o alter ego dela, as defenderia caso fosse necessário. Foi por esses motivos que os demais decidiram não fazer nada, mesmo ficando atentos aos atos da vampira.

Além disso, aos poucos todos puderam notar pequenas mudanças em Merlia, especialmente Patrick, pois Paimon não se sentia à vontade perto dela, mais tarde vieram a descobrir que ela tinha sido escolhida por anjos. “Uma vampira e uma serva de um anjo, com certeza um casal interessante” Ele pensou.

Os dois últimos, Lucius e Hely eram os que ele mais tinha intimidade, especialmente Lucius, tornaram-se amigos improváveis, mas conseguiam se entender. Hely tinha uma aura escura ao seu redor, Patrick conseguia enxergar isso com a ajuda de Paimon, pois sua alma parecia atrelada com a bengala, a qual parecia manejar muito bem. Hely possuía em seus olhos um cansaço que não deveria existir em alguém tão jovem.

Lucius, ao seu lado, guardava o revólver que havia sacado momentos antes e Patrick pôde ver que as marcas do revólver, na verdade, vinham da mão de Lucius, tendo a certeza que, para conseguir tais marcas, ele tinha feito um ritual de sangue perigosíssimo, mas nos olhos do antigo detetive Patrick só conseguia ver determinação.

Quando eles se juntaram, Lucius de repente ficou parado e seus olhos ficaram totalmente brancos, os outros olharam em sua direção esperando a confirmação para poderem avançar, quanto mais tempo ele demorava, mais seus colegas iam ficando temerosos, eles conseguiram perceber que pequenas linhas brancas iam descendo pelo rosto do homem conforme o esforço dele aumentava. Após alguns minutos de espera, Lucius retomou a consciência, seus olhos voltaram ao normal, olhando alarmado para os outros.

– Com certeza o local é esse, pude sentir mais perto cinco presenças leves e uma realmente maligna, mais para o fundo parece ter algo que irradia certa energia, suspeito que seja o livro que procuramos – Ele disse já pensando em possíveis movimentos que o grupo poderia fazer.

– Que livro? – Patrick questiona um pouco perdido, vendo que os outros o ignoram ele tenta de novo – Que livro? Aliás, o que vocês estão fazendo aqui?

– Como você disse, em uma missão da DCAP, não é óbvio? – Merlia fala revirando os olhos, a cada dia ela estava mais parecida com a personalidade da Maya.

– Podemos cuidar dos seguranças aqui da frente, enquanto você desaparece e pega o livro, que tal? – Hely, que também ignora Patrick, dirigindo-se para Merlia.

Eliza, por um momento reluta, não gostando da ideia, mas o casal se entreolha e parece se entender, mesmo sem dizer uma palavra. A ruiva desiste de argumentar, seus ombros caem em decepção, mas só acena para a namorada.

– Claro, provavelmente serei rápida, Lucius não conseguiu sentir nenhuma aura mágica por lá, os guardas devem estar todos aqui na entrada, quando eu terminar, venho ajudar vocês. – Merlia diz chegando perto de Eliza, mas olhando para os outros.

Todos acenam com a cabeça, um pouco preocupados, mas sabendo que seria a melhor opção, pois a mais nova já mostrou que conseguia se virar muito bem, caso precisasse se proteger. Merlia, aproxima-se, então, de sua namorada e encosta seus lábios contra os dela, as duas ficam, por um breve momento, com as testas juntas se olhando. Merlia é a primeira a se afastar, pegando um véu de sua mochila e colocando-o em sua cabeça. Ao fazer isso, pronuncia algumas palavras angelicais, cobrindo totalmente a face e desaparecendo completamente, nem mesmo Paimon consegue sentir sua aura, é como se ela simplesmente nunca estivesse ali.

Pouco antes dela cobrir todo seu rosto, Patrick consegue enxergar pequenas gotas de sangue escorrendo, ele olha assustado para os outros, mas o grupo, até mesmo Eliza, parece achar algo normal.

– Vamos lá, quanto mais rápido a gente começar, mais rápido vamos terminar. – Lucius diz abrindo a porta devagar – Eles estão um pouco mais adiante, acho que podemos entrar sem problema nenhum.

Ele mal termina de falar quando uma luz vermelha começa a piscar, alertando a sua entrada, em uníssono todos olham para ele, que parece envergonhado, mas não perdem tempo e entram no armazém com suas armas a postos. Antes dos inimigos começarem o ataque, o grupo consegue encontrar cobertura em algumas caixas e pilares do local.

Eliza é a que está mais fundo no armazém, atrás de um grande pilar. E, um pouco mais atrás, está Ace. Do outro lado, Lucius já tenta ter uma boa visão dos inimigos, com Hely ao seu lado, segurando com mais esforço a bengala que começa a dar à sua portadora uma aura mágica. Patrick consegue encontrar um pilar mais próximo à entrada e esconder-se, pegando sua adaga.

Como alertado por Lucius, cinco pessoas aparecem, porém não são pessoas comuns. Dois deles tem sinais macabros na testa, como se fosse feito por uma faca sem corte. Não muito longe deles, o grupo se assusta ao ver duas mulheres, cujos olhos parecem terem sido arrancados, deixando apenas dois buracos negros, mas que estranhamente conseguem focar exatamente no lugar que Lucius e Hely estão.

A quinta e última pessoa a aparecer é uma criança com, aparentemente, sete anos, seu sorriso é largo, mostrando seus dentes pontiagudos, seu olhar mostra uma maldade que não pode existir em alguém tão jovem.

A criança ergue a mão e uma energia negra vai em direção ao pilar que Patrick está escondido, ao sentir algumas partes do concreto se despedaçarem e caírem ao seu lado, ele se abaixa. Ao mesmo tempo, uma das mulheres dá um passo na direção das caixas que Hely e Lucius se posicionaram, enquanto entoa algumas palavras e o casal consegue ver um círculo aparecendo ao seu redor, no chão.

Ace, aproveitando a distração, joga quatro cartas no homem mais próximo, ao chegar perto do alvo, as cartas se multiplicam, emanando forte energia mística, fazendo cortes profundos em seu corpo, uma das cartas chega a cortar gravemente o rosto. O inimigo, em uma tentativa de se proteger, corta sua mão e recita umas palavras, fazendo seu corpo ensanguentado desaparecer. O segundo homem, vendo que o seu colega desapareceu, olha na direção de Ace e vai correndo ao seu encontro depois de também fazer um corte em sua mão. Ele, porém, não percebeu Eliza, a qual vê a oportunidade e se joga, conseguindo tirar um pedaço do ombro do inimigo com suas presas, agora a mostra.

Sem pensar duas vezes, Hely ergue sua bengala e uma fumaça surge da sua ponta e vai em direção a boca da mulher sem olhos, impedindo-a de invocar qualquer ritual. Mas o movimento foi em vão, pois o círculo desconhecido ao redor deles continuava e uma mancha de sangue começa a aparecer na blusa de Hely por usar a bengala.

Patrick consegue finalmente se concentrar para fazer um ritual, fazendo surgir, do chão, duas figuras demoníacas: a primeira parece um cachorro grande com três cabeças, partes da sua carne está faltando e no seu lugar é possível ver um fogo infernal, a outra possui a forma de uma aranha gigante, energia maligna emana de tais figuras. A segunda mulher sem olhos, dispara um feixe de energia em direção à Lucius, causando um corte em seu braço esquerdo, ele levanta seu revolver, as marcas se acendem quando alimentadas com o sangue da mão dele, que atira na mulher e a atinge no peito.

A criança dá um sorriso vendo as criaturas infernais surgirem e antes dela fazer qualquer movimento, uma figura se aproxima lentamente do fundo, sua aura preenche toda a sala, causando arrepios em todos, especialmente em Hely que reconhece o demônio que enfrentou em sua primeira missão, Vepar.

– Olha quem temos aqui, achei que você já teria sido morta, junto com aqueles seus amiguinhos – Vepar fala com um sorriso debochado.

– Pelo o que eu me lembro, foi você que quase foi morta e controlada por uma simples adolescente – Hely responde, arrependendo-se imediatamente, quando percebe a expressão de Vepar fechando e lançando sobre ela uma luz verde. A médica tenta se esquivar, mas se vê presa pelo círculo ao seu redor, quando a luz verde a atinge, ela sente uma parte de sua barriga começar a doer, ao erguer sua blusa ela vê sua pele enegrecida, já formando pus.

A criança ri e se volta para as criaturas, ela lança um feixe de luz no cão, deixando-os atordoados. Do outro lado, a mulher com fumaça na boca, percebendo que não conseguirá se livrar por meios normais, pega sua adaga, cortando-se e indo em direção a Hely.

Ace, vendo que Eliza atingiu o homem, pega sua faca e corta o pescoço dele, com suas forças finais, o homem leva sua mão no pescoço de Eliza, a queimando gravemente, Eliza, então, desprende-se do homem com as mãos na garganta. Com raiva, Eliza enfia as presas no ocultista semimorto, sugando seu sangue e se curando no processo, finalizando-o.

Hely abaixa sua camisa, tentando ignorar a dor e mais uma vez levanta a bengala na direção da mulher que está vindo em sua direção, a fumaça que estava só amordaçando-a começa a descer por sua garganta, queimando seus órgãos internos, a mulher sem olhos cai de joelhos.

Patrick, bastante ferido pela invocação de suas criaturas, ao fundo, esconde-se no pilar e começa a procurar em seu livro algum exorcismo potente para combater Vepar, enquanto isso, seu cachorro continua atordoado, mas seus olhos começam a brilhar de raiva, a aranha vai em direção a criança, fincando suas garras nela.

A mulher atingida por Lucius, ergue suas mãos e o corte feito em Lucius, começa a abrir, sendo possível ver os músculos sob a pele, fazendo o sangue escorrer por seu braço, ela abre um sorriso de deleite. Porém, mesmo dominado pela dor, Lucius consegue levantar seu braço direito e acertar uma bala diretamente na cabeça, matando-a.

Os olhos de Vepar ainda brilham de ódio, enquanto ela caminha lentamente em direção de Hely, mexendo as mãos e fazendo com que a região enegrecida sob a blusa aumente.

A criança, mesmo sendo empalada pelas garras da aranha, lança seu último feixe de energia, atingindo Patrick do lado direito, após isso, seu corpo fica mole nas garras da aranha que engole a pequena cabeça do que um dia foi uma criança.

A mulher sem olhos, sabendo do pouco tempo de vida que lhe resta e em última tentativa de ajudar sua mãe, esfaqueia-se no pescoço e todos conseguem ver seu sangue indo magicamente na direção de Vepar, fortalecendo-a. Vepar simplesmente levanta os braços e todos os corpos mortos evaporam, fazendo o sangue desaparecer. Quando o corpo que estava sendo drenado por Eliza desaparece, ela se vira em direção ao ser poderoso na sala e dá um passo, mas a mão de Ace a impede, ele olha nos olhos da vampira e tenta lhe acalmar, falando algumas palavras, especialmente o nome de Merlia, fazendo a mulher tomar controle das suas ações, lançando um aceno de agradecimento.

Com a ocultista morta, o casal se livra do círculo que os prendia no lugar, eles se aproximam do meio do salão, percebendo que Patrick estava procurando algum ritual, Ace e Eliza também notam e vão na direção do ser demoníaco. Sentindo a mensagem de Patrick em suas mentes, o grupo entende o recado e todos se cortam, fazendo o sangue começar a pingar no chão. Eles começam a circular Vepar, que se diverte com a tentativa dos mortais acreditando que podem vence-la.

Tudo acontece rápido e em uníssono: Ace joga novamente suas cartas que se multiplicam formando um redemoinho de danos; Eliza lança sua marreta que acerta a cabeça da mulher; Hely utiliza seu sangue para formar várias lâminas, lançando-as em direção de Vepar. Lucius pronúncia seu nome, paralisando-a no lugar e coloca uma bala totalmente vermelha em sua arma, atirando-a na cabeça do demônio; o cachorro infernal avança e suas três cabeças mordem o corpo infernal, enquanto a aranha avança e espeta suas garras nas laterais da cabeça.

Vepar começa a rir da tentativa dos tolos, ela abre a boca para falar algo quando começa a sentir uma ardência em sua cabeça, no mesmo local que a bala está alojada, um brilho começa a preencher seus olhos. Ela vê, então, todos dando um passo para trás, sente os animais infernais a soltarem e sorrisos surgirem nos rostos do grupo, ela começa a escutar a voz do homem soando cada vez mais alta. Quando olha seus pés, se vê dentro de um círculo que começa a brilhar e a asfixiar, ela sente seu receptáculo caindo no chão, ficando só com sua verdadeira forma, mas sem poder se mexer, todos começam a falar o mesmo ritual e ela começa a sentir o fogo infernal a consumindo.

Enquanto a maior parte do grupo ficou encarregada de se livrar dos guardas, Merlia se esgueirou para o fundo, seu trabalho era simples, afinal tinha apenas que pegar o objeto, mas ao entrar no lugar, percebeu que seria um pouco mais complicado que isso. Três homens armados estavam guardando uma caixa especial. Ela notou que nenhuma aura magica saia deles, sendo o provável motivo de Lucius achar que não tinha ninguém guardando o local.

Pensando consigo mesma, ela admitiu que todos foram muito ingênuos achando que não teria ninguém. Olhando ao redor, ela vê caixas por todos os lados, escondendo-se atrás de uma delas, Merlia pega uma pedra do chão e atira para outro lado, quando percebeu que os guardas foram verificar o barulho, sai de seu esconderijo, mas infelizmente, o véu dos anjos só a esconderia se ela não estivesse tocando em nada. Indo o mais rápido possível em direção a caixa, ela abre, revelando um livro que com certeza era o que procurava, ela consegue sentir a energia que emanava do objeto.

– Parada aí, quem é você?  Mãos para cima! – Um dos guardas gritou, ela se virou para trás com as mãos erguidas e viu os três guardas apontando as armas para ela.

– Vocês vão acreditar se eu disser que sou entregadora de pizza? – Ela diz sorrindo sem graça, mas ao ver que o primeiro guarda iria puxar o gatilho ela se atira atrás da caixa ao lado. O guarda atira nela, a acertando de raspão na sua coxa esquerda.

A jovem fala uma série de palavras mágicas que fazem um círculo de proteção aparecer ao seu redor, o segundo guarda também atira, mas acaba acertando a caixa ao lado, o último guarda se move para o outro lado, tentando ter uma visão melhor. O primeiro guarda vai em direção a caixa e a fecha, mas ele não tem tempo de desviar, sentindo algo se aproximar. O segundo guarda vê seu colega fechar a caixa e um espectro chegar por trás dele com uma espada, cortando a cabeça dele fora, ao ver isso, atira em direção ao espectro, mas ele já não estava mais lá. O guarda que tinha tomado posição, vê a alma da inimiga voltar ao corpo e toda a sua postura mudar, um sorriso arrogante preenche o rosto da jovem quando ela se levanta, ele não hesita em atirar, mas alguma coisa faz sua bala se desviar no último minuto.

Todos escutam ela entoar mais algumas palavras e sua espada se iluminar, ela se coloca em posição e os dois homens com medo se entreolham, atirando na direção dela, uma das balas é desviada e acaba atingindo um deles, mas a outra finalmente passa e a atinge no braço esquerdo. Ela olha para o guarda mais próximo e enfia a espada em sua barriga, rasgando-o até o pescoço, o outro homem fica em choque vendo a jovem matar sem problema nenhum dois dos seus companheiros e recua, derrubando a caixa com o livro.

Nesse momento um homem ensanguentado aparece e vê a cena diante dele. O homem parece em choque e triste por ter saído de uma briga e caído em outra, mas se prepara para atacar e usa o sangue ao redor de seu corpo para fazer um ritual. Entretanto, antes que ele possa ter a chance, sente seu corpo ficando paralisado. Ele olha assustado e só encontra os olhos de Maya, que se vira indo em direção ao guarda restante. O homem que estava caído no chão se atrapalha um pouco com a mulher vindo para cima dele, ele recupera sua arma e atira em sua barriga, mas ela apenas coloca uma mão no machucado e com a outra o decepa. Vira-se, então, lentamente para o ocultista que tinha paralisado, sentindo suas forças indo embora, ela passa rapidamente a espada na sua cabeça, fazendo-a rolar no chão. Maya vai cambaleando na direção do livro, ela pega e acaba tropeçando, não conseguindo aguentar seu corpo e se escora na parede, sentando ao lado do corpo sem cabeça.

Ela tira seu celular do bolso e manda uma mensagem para sua namorada, torcendo para que todos estivessem bem.

Autora: Grazi Silva
Revisão e Arte da capa: Oblitae

Lembranças da Criação #06 – Demônio: A Queda

— Um terço de nós seguiu Lúcifer. — Ela continua, adentrando uma das muitas e escuras ruelas do bairro histórico. — Éramos, segundo os outros, que se mantiveram leais as ordens e diretrizes do Senhor, rebeldes. Insurgentes pecaminosos, responsáveis por manchar a Criação e atrapalhar os planos Dele.

— E o que Ele fez? — Pergunto, um tanto cauteloso. Olhando de um lado, para o outro.

— Usou de seu poder para danificar tudo. — Mariah explica. — Não sei se me compreenderá…

— Posso tentar. — Insisto.

— Sua influência esmagadora reduziu a perfeição e a complexidade de nossa obra. Facetas foram dizimadas! Os humanos tornaram-se mortais! E este último, por si só, já fora o pior de todos os castigos. Nossas escolhas fizeram de vocês seres que poderiam, agora, perecer sob o toque da Sétima Casa.

— Então foi por isso que a Guerra começou? Um castigo excessivo, “cruel” demais?

— Você pode entender assim, se quiser. — Ela sorri, de forma melancólica. — Contudo, o que se seguiu foi ainda pior. Primeiro, nem todos os humanos se mantiveram conosco. Antes mesmo do castigo, alguns se arrependeram e acabaram voltando aos braços de Deus. E embora sofressem do mesmo castigo que os outros, de sua espécie, foram para sempre redimidos. Perdoados e protegidos, pelos ainda leais. Segundo, nem todos, entre nós, se mantiveram íntegros e resolutos da escolha que havíamos feito.

— Houveram deserções?

— Quase isso. Na verdade, a calamidade e a consequência nos fizeram repensar todo o papel que havíamos tido e se os humanos eram, mesmo, algo tão importante, algo que valesse tamanho sofrimento. Nos dividimos, então, em cinco legiões: a Legião Carmesim, liderada por Belial e fiéis as causas iniciais de nossa revolta; a Legião de Ébano, liderada por Abadom, responsáveis, em um primeiro momento, por combater, violentamente, os anjos legalistas; a Legião de Ferro, liderada por Dagon e responsáveis por auxiliar a Legião Carmesim na proteção dos humanos; a Legião Prata, liderada por Asmodeu, responsável por estudar e proporcionar, na humanidade, o potencial que havia te comentado; e a Legião de Alabastro, liderada por Azrael e encarregada de preparar o segundo mundo para vocês, após a morte…


Lembranças da Criação #6

Autor: Rafael Linhares.
Padronização e Arte da Capa: Raul Galli.

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Lembranças da Criação #05 – Demônio: A Queda

— Deve ter sido algo magnífico… — Comento, enquanto me agasalhava.

— Estava presente, na ocasião. — Ela diz, fechando a porta do local e saindo para fora, para caminhar ao meu lado. — Nosso líder encarregou alguns de nós, os mais aptos e propícios a se comunicarem, para realizar o contato. Recordo-me de minha ansiedade na hora, bem como do nervosismo de todos…

— Medo de serem rejeitados?

— E de não sermos compreendidos… — Mariah acrescenta. — Adão e Eva, como já lhe disse, eram o auge da perfeição. Contemplá-los, tão intimamente, era vislumbrar a personificação mais sublime de todo o nosso esforço. Visitámo-nos durante o crepúsculo, quando o Criador “fechou os olhos” e ficou alheio a situação deles.

— Então esse é o fruto proibido? — Pergunto, interessado. — Está me dizendo que o “pecado original” se resume no fato deles aceitarem suas companhias?

— E de aprenderem conosco! De explorarem, como deveriam, suas capacidades e totalidades.

— Fascinante… — Comento, parando no meio-fio, enquanto o sinal impossibilitava a passagem.

— Zombas disso?

— Certamente não. — Respondo. — Só acho curioso o fato de suas boas intenções originarem uma sociedade como essa… Não sei como é o seu amor a eles hoje, caído, mas não vejo nada. Nada além de parasitas! Seres imundos, fadados a uma vida de miséria…

— Você já foi um deles…

— Sim, há muito tempo… E quer saber? Não sinto falta.

— Como assim? O que quer dizer?

— Quero dizer que o problema, na sua história, não tem nada a ver com a causa… Ou a razão. — Explico. — O problema reside neles, demônio. Nos humanos pelos quais se sacrificaram e descaíram.

— Não eram assim, no início…

— Mesmo depois de tudo… Você ainda os defende…

— Como poderia não defender? — Ela pergunta. — São vítimas, cainita. Moldados por nossas atrocidades, disputas e, principalmente, tolices.

— Do que está falando?

— Da época após nossa “descida”. Dos tempos de ira, de guerra e de embate celestial…


Lembranças da Criação #5

Autor: Rafael Linhares.
Padronização e Arte da Capa: Raul Galli.

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Refúgio de Ignis – Competição de Contos e Textos #01

Na Torre do Mago, todo mês ocorrem diversos eventos com premiações. No mês de novembro de 2021, realizamos o aguardado evento “COMPETIÇÃO DE CONTOS E TEXTOS”, pelo qual, seguindo determinadas regras, o participante poderia postar uma história, um gancho narrativo, uma experiência e, até mesmo, uma fanfic de sua mesa de RPG favorita e disputar o primeiro lugar por meio de votação do público do servidor.

As três melhores publicações serão postadas aqui para vocês, sendo que hoje trazemos nosso texto campeão do evento, intitulado Refúgio de Ignis, da autora Raquel Naiane, uma jogadora e artista do servidor.

Refúgio de Ignis

Tieflings são criaturas que eram humanas, mas que agora carregam em si a essência de Asmodeus por causa de um pacto feito há inúmeras gerações. E mesmo depois de anos, os humanos desconfiam da presença dessas criaturas e cochicham maldades umas às outras pela herança infernal que carregam. Por isso, há muito tempo, um senhor tiefling conhecido como Kairon, fugiu com um grupo de conterrâneos para além-mar afim de encontrar um lugar no mundo.

Após muitos meses de viagem, já cansados e quase sem suprimentos, eles encontraram uma ilha inabitada, localizada em um dos oceanos que se encontrava nos confins da terra, onde homens comuns não arriscavam ir e nem criaturas diferentes das quais já viviam lá ousavam visitar, e assim, começaram a construir um lugar onde pudessem ser eles mesmos, com seus chifres de diferentes formatos, suas caudas enormes, suas cores meio avermelhadas, cor de olhos sólidos e caninos afiados.

Os séculos foram passando e a ilha evoluiu, ficando conhecida como Refúgio de Ignis, de maneira que tieflings de várias partes iam até ali buscar abrigo, sendo reconhecida como um bom lar para aqueles com sangue infernal. Com o tempo e a prosperidade, eles aprenderam a se proteger, criar animais e plantas para consumo, aprenderam a fazer negócios com outras raças, e constituíram uma monarquia para liderar.

O povo, sempre feliz, agradecia pelo lugar próspero e seguro que havia sido formado, até que de repente, crianças começaram a nascer com a pele e chifres totalmente brancos, causando preocupação ao rei vigente que, após não ter sucesso em encontrar uma solução dentro da própria ilha, mandou aventureiros pelo mundo em busca de magos e estudiosos que pudesse ter a resposta.

As crianças continuavam nascendo sem coloração, porém muito saudáveis e, depois de anos, os aventureiros retornaram com um grande livro contendo histórias antigas, onde se dizia que em um passado muito distante, os tieflings nasciam todos incolores, e um ritual característico celebrado entre os 15 e 16 anos permitia que lhes fosse concedida sua “cor original”. Esse costume se perdeu com o passar dos anos e, após serem totalmente desprezados pelas outras raças, as cores avermelhadas passaram a prevalecer entre os da raça (uma nota de rodapé no livro dizia que a cor vermelha teria sido influência de Asmodeus).

Sabendo agora desse ritual, o rei começou a preparar a si e ao povo para quando as crianças completassem a idade prevista, pudessem passar pelo descrito, desse modo, ao chegar ao ano na qual inúmeros jovens teriam a idade próxima, o rei seguiu as instruções do livro: na maior lua cheia da primavera, todos os tieflings deveriam ficar no centro de uma grande arena, e assim que a lua encontrasse seu ponto mais alto, todos jogariam para o alto pétalas douradas (separadas da flor do Los, que conseguiram encontrar após muito esforço e passaram a cultivar no reino), e conforme os textos antigos, quando caíssem sobre os corpos e rostos ansiosos de vários jovens, suas cores começariam a surgir, começando pelos chifres e descendo até finalizar na cauda, permitindo que cores nunca antes vistas nessas espécies aparecessem. A partir desse ponto inicial, a cada dois anos o rei promove esse evento, que ficou conhecido como Ritual das Cores, para que todos pudessem adquirir suas cores originais.

Alguns anos à frente, Damaia e seu esposo Ekemon reinavam com suas duas filhas: a primogênita e sucessora do trono, Zendaya, e sua irmã, três anos mais nova, Maya.

Até que em um dia de tédio, a mais velha com 07 anos e a mais nova com 04, decidiram fugir das paredes do palácio sem os guardas perceberem e irem até a Floresta Esquecida, que era o lugar onde aventureiros da ilha iam para ficarem fortes, pois sempre apareciam monstros e criaturas para enfrentar, que de alguma forma, ficavam apenas na floresta (lendas diziam ser uma maldição que os tieflings trouxeram àquele lugar por causa de seu sangue).

Conseguiram chegar à floresta com muito esforço para não serem vistas, e imaginavam que conseguiriam ficar tão fortes quanto os aventureiros que ali adentravam. Andando pelo lugar, nenhum monstro elas encontraram, porém, acharam algo que chamou muito mais a atenção de ambas: um homem com roupas pretas, encapuzado e com uma bolsa lateral. Vivendo na ilha, elas apenas haviam visto em livros outros tipos de raças, e jamais imaginaram que encontrariam ali no reino criaturas sem chifres ou cauda, que tivesse pupila nos olhos ou dentes não pontiagudos, e assim, o interesse delas naquele ser totalmente esquisito cresceu.

O que elas não sabiam, é que por aqueles dias haviam acontecido inúmeros sequestros de crianças que por vezes não voltavam, ou quando acontecia de voltarem, estavam sem seus chifres e havia se descoberto que poderia ter algum intruso no reino que buscava pelos chifres, pois sem as cores, eles valiam um preço absurdo nas grandes capitais].

Começaram a conversar entre si e aos poucos o homem foi ganhando a confiança de ambas, até que disse que mostraria a elas uma magia muito bonita e a primogênita desconfiou sabendo dos perigos que a magia possuía. Ela começou a olhar em volta procurando por socorro e quando percebeu, o homem estava com a mão no ombro da mais nova enquanto proferia palavras e remexia sua outra mão na frente dos olhos da pequena, fazendo-a dormir e colocando seu pequeno corpo com cuidado no chão.

Zendaya, sem entender muito do que estava acontecendo, se aproximou do homem e viu quando, em um único golpe, ele cortou o chifre direito de Maya. Afoita, empurrou-o para o lado e começou a gritar pelos guardas, se dirigindo violentamente para cima do homem e arranhando-o no rosto com as mãos. Ele, por sua vez, de uma maneira muito fácil, jogou-a para longe, voltando-se para a tiefling caída, e antes que Zendaya pudesse fazer algo, ouviram os passos dos soldados que estavam procurando pelas princesas ao notarem seu desaparecimento.

O encapuzado, vendo-se prestes a ser pego, começou a se afastar em direção às árvores, mas enquanto andava, levantou sua mão para a criança adormecida e um enorme raio azul disparou. A irmã mais velha que já tinha se levantado e estava se dirigindo à caçula, vendo a situação, jogou-se na frente e tomou para si toda a dor daquela gélida magia.

O homem usou algum tipo de feitiço que não permitiu que fosse encontrado, e as crianças foram levadas ao castelo onde receberam tratamentos. A pele da primogênita ficou gelada, enquanto a caçula acordou com fortes dores de cabeça e com um chifre faltando, porém logo tomou chás específicos e a dor diminuiu. Após contarem a história para seus pais e receberem conselhos e advertências sobre o comportamento que elas haviam tido, principalmente a herdeira do trono, elas foram mandadas para a cama.

Ambas dormiam no mesmo quarto e no meio da noite Zendaya acordou de repente e, olhando em volta, percebeu que tudo estava brilhando em branco. Procurando o causador daquilo, olhou para si e percebeu que sua pele estava completamente azul escuro e que possuía linhas geométricas pelo corpo, da cor branca, a qual emitiam uma forte luz. Assustada, foi até seus pais, que se preocuparam instantaneamente.

O dia seguinte foi corrido para os pais que buscaram por magos e feiticeiros confiáveis para saber do que se tratava, mas eles não sabiam determinar o que a menina tinha, apenas que ela estava amaldiçoada e de alguma forma o Ritual das Cores havia se antecipado em sua pele, assim como, eles não sabiam dizer o que exatamente ela tinha e qual maldição haveria de acompanhá-la durante sua vida.

Preocupados com o equilíbrio do reino e a situação geral, os pais conversaram com os conselheiros e perceberam que se falassem e mostrassem a criança ao povo, poderiam causar um grande tumulto, e talvez a ideia de que haviam voltado a ser impuros pudesse surgir ou que a maldição que a criança tinha poderia recair sobre toda a ilha ou qualquer outra bobagem poderia causar uma grande revolta em todos, principalmente pelo fato de não saberem com o que estavam lidando, e num impasse de desespero e medo, optaram por uma solução pouco fácil para os dois: fingiriam que a sucessora do trono havia morrido defendendo a irmã.

Assim sendo, foram realizados feitiços de memória nos soldados e funcionários que viram as crianças juntas e, principalmente, nas duas crianças, mudando os fatos de ordem e tirando qualquer informação relevante dali. Na tarde do dia seguinte, após muita aflição, apenas os pais, uma conselheira e um mago sabiam da verdade e enquanto os reis anunciavam ao povo a morte de Zendaya, herdeira e sucessora do trono, a caçula chorava sem que ninguém visse.

A criança amaldiçoada foi levada dormindo e escondida para bem longe dali em um navio que partiria do reino naquele dia, juntamente com a conselheira Nya, que passou a ser considerada sua ama e tinha por missão, encontrar a cura para a maldição da criança.

Crescendo, a criança percebeu que quando ficava sob os raios lunares, suas marcas brancas e geométricas brilhavam, fazendo com que aprendesse a se esconder de todos.

Autora: Raquel Naiane
Revisão e Arte da capa: Oblitae

 

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