Sangue e Glória Parte 06 – Contos de Thull Zandull

Anteriormente em Sangue e Glória – Parte 05, o grupo de Orcs acompanhados por Shivar o sábio Kobold, chegaram até a antiga mina. Em sonho, Gorac recebeu a visita de um poderoso mago, oferecendo a ele um acordo. No entanto, mesmo com toda a força e habilidade dos Orcs, ainda sofreram com o ataque em massa das aranhas que defendiam os mistérios daquela mina na Mata Velha.  

E Agora…

Sangue e Glória – Parte 06

Shivar, o velho Kobold, despertou bem cedo. Antes mesmo dos primeiros raios de luz, pois havia preocupações variadas em sua mente. Primeiro foi até a antiga oficina e lá percebeu que muitos objetos já não estavam mais em seus lugares. 

Durante a fuga, provavelmente alguns dos seus separaram-se levando tudo que podiam consigo. Mas estranhamente e graças a percepção do ancião, houve uma intuição em relação às teias remexidas que ali havia. Portando deduziu que outros vieram antes e pilharam o ambiente. Porém àquela altura, tal evento era algo pequeno diante da vitória obtida no dia anterior. 

O Kobold se dirigiu aos fundos do local e após procurar um secreto alçapão, teve acesso às ferramentas e materiais mais valiosos. Gradativamente retirou o que precisava. Os levando lentamente até a borda da grande cratera aberta meses antes por muitos irmãos de sua raça. 

Deixou calmamente os utensílios que seriam necessários para consertar o elevador de cordas e roldanas que descia até as entranhas da terra. Agora eram nítidos os brilhos provenientes de cristais luminescentes vindos lá de baixo. Mas não seria ele que investigaria a mudança dos padrões de cores, que antes podiam ser vistos quando o pequeno povo explorava as cavernas. Todavia notou muitos pontos que precisariam ser substituídos da engenhoca criada por eles. Sendo assim demandaria trabalho cuidadoso com as toras de madeira que havia em estoque. Perdeu-se momentaneamente no tempo. Em seguida quando deu por si, lembrou que os animais de carga precisavam ser alimentados. E que os Orcs precisariam em breve de comida e mais cuidados em relação aos ferimentos. 

Shivar e Mira se unem para cuidar do Grupo

Era impressionante nenhum deles ter tombado naquela luta. Mas horas após o embate, os corpos apresentaram sinais de fraqueza.  Uma luta interna fez todos terem altas febres. Contudi ficaram bem debilitados. Portanto, cabia a ele os cuidados para aqueles grandes guerreiros e libertadores. Aqueles que poderiam em um futuro próximo, dar espaço aos poucos sobreviventes de seu povo. E nesse sentido fazerem um novo lar ou retornarem ao antigo. 

Prosseguiu então com os cuidados necessários. Com o preparo da fogueira, a manutenção de curativos e unguentos, organizados antecipadamente por Xalax. Organizou ainda, boa quantidade de mantimentos e preparou quantidades grandes de comida. 

Mira foi a primeira a acordar e percebendo o esforço do velho Kobold se antecipou em ajudá-lo. Todavia ela estava preocupada. Pois muitos Orcs inconsequentes ignoravam os ferimentos abertos. Deixando de lado o tratamento, que em consequência sempre trazia consigo uma febre letal. Por isso percebia a necessidade de não ignorar o momento de recuperação de todos. 

Daquela luta fora a única que tinha respondido melhor aos cuidados. Praticamente saindo do embate com apenas fraquezas temporárias e dores fortes musculares nos pontos onde haviam mais picadas profundas.

Shivar explicou que em alguns momentos precisaria da força da Orc para manipular objetos pesados. Mas que iria se dedicar integralmente ao reparo do elevador. Mira concordou, pois não iria se arriscar em içar um dos seus. Ainda mais no estado em que estavam. Poderia haver mais aranhas no interior da caverna e precisava ser cautelosa até que Gorac pudesse novamente assumir a voz de comando. Até lá, como uma companheira honrada manteria tudo em andamento como esperado.

Em busca do tratamento

Durante todo o dia, Mira e Shivar trabalharam arduamente. Percebendo que os demais companheiros começaram a apresentar leve piora. Já a noite, Gorac era o mais debilitado. Havia delírio nas palavras de muitos deles e as dores ao longo do corpo da Orc também apresentaram sinais de piora. Foi então que Xalax, em breve momento de consciência, explicou o que o kobold deveria procurar. Folhas e raízes específicas para um preparo de medicação forte. Em seguida explicou também que precisariam de mel, para aplacar os ferimentos e garantir melhora rápida. O velho ancião entendeu todas as orientações e sentiu que aqueles fortes Orcs necessitavam dele.

Na manhã seguinte Mira não tinha as mesmas forças. Foi então que Shivar deixou todos aos cuidados dela. Orientando a ficar em repouso, apenas cuidando levemente da manutenção mínima das ataduras e remédios. Antes de partir, porém, deixou alimentos preparados e todo serviço feito. Se equipou com armadura e armas que encontrou de seus antigos companheiros caídos. Jurou a si mesmo que no momento certo daria um enterro digno a eles.

Partiu em direção aos locais onde sabia que poderia encontrar as ervas necessárias. Fez sempre caminhadas mais longas devido seu cuidado em relação ao barulho e sobre sua presença. Não à toa, tornou-se um ancião. Sabia evitar os perigos daquele local, que por tanto tempo foi sua morada. Após recolher os elementos necessários ao remédio, pôs-se em risco para obter mel. 

De Shivar, o sábio para o Grande herói

Não demorou para encontrar uma das gigantes colmeias espalhadas pelos troncos das maciças e ancestrais árvores da Mata Velha. Procurou uma menos populosa, mas suficiente para matá-lo em instantes. Pois as abelhas ali já eram maiores que seu próprio tamanho. Começou rapidamente a juntar gravetos e folhas secas na base da árvore alvo e logo começou uma grande fogueira. Assim que o fogo estava alto, alimentou as chamas com gravetos verdes que faziam muita fumaça. Se afastou e esperou que a fumaça e fogo fizessem o serviço. 

Rapidamente percebeu uma brecha e escalou aquela árvore pelo lado contrário para evitar o grosso da fumaça até que estivesse na altura certa. Com habilidade se aproximou o suficiente para retirar favas e mais favas de mel. Repetiu o processo até encher várias cumbucas. Com dificuldade e arrastando tantas cumbucas cheias fez o caminho de volta. No entanto, demorou praticamente três vezes o tempo necessário.

Ao chegar ao refúgio, logo retomou as atividades. E ao entrar na casa escolhida para o repouso de todos, notou uma leve melhora em Anáxalas e Mira. Ambas ajudaram o Kobold no preparo de remédios e emplastros com mel.

Mira e Anaxálas notavam como o pequeno ancião parecia esgotado, mas determinado. Assim, passaram se os dias, com Shivar sempre mantendo-se firme. Bem como, apoiava a recuperação dos Orcs e enterrava cada um dos seus. Fazendo questão de abrir as covas e marcá-las com os nomes e famílias de todos. 

Mira percebia nele uma presença de sabedoria. Apesar do pequeno tamanho, naqueles dias tão perigosos o ancião mostrava seu valor e isso sim era digno de respeito.

Após uma semana, os reparos do elevador haviam terminado. Bem como todos os Orcs começaram a retomar pequenas atividades. Sempre sendo cuidadosos, pois ainda sentiam fraquezas provenientes da peçonha e ferimentos.

O legado para os Kobolds

Na oitava manhã, quando Mira acordou, notou certa agitação dos animais. Ao se aproximar viu que muitos serviços haviam sido rotineiramente concluídos e que a comida esquentava no fogo. Porém notou que o pequeno corpo do Kobold estava caído próximo aos animais. 

Correu para ver o que ocorria. Desesperando-se pela vida daquele que havia salvo o grupo todo com sua dedicação. Graças aos espíritos, o velho Kobold havia apenas desmaiado devido ao limite ao qual impusera a seu frágil físico. A Orc, rapidamente orientou a todos que precisariam retomar as atividades. Deixando o ancião se recuperar. Porém ao longo daquele dia, era nítido que não haveria melhora em alguém que sobreviveu a tantos invernos. 

Já a noite, Gorac estava desperto, reuniu todos em torno daquele que em tão pouco tempo aprenderam a respeitar. Havia na mente de todos uma sensação de dívida e então o pequeno com suas poucas forças disse, “Peço humildemente, que se puderem, ajudem os meus irmãos a voltarem a morar neste lugar. Pois trabalhamos muito por esse lar e quero que todos se orgulhem do que fizemos aqui. E principalmente que não se esqueçam de quem somos!”. Fez levemente um gesto tranquilo, aceitando que sua hora havia chegado. Kagror, apesar do tamanho, foi o único que não se conteve, deixando lágrimas escorrerem. 

Pouco tempo depois, uma pira funerária foi preparada e Gorac disse a todos, “Temos uma dívida com esse que nos salvou e com aqueles de seu povo que agora fazem parte de nosso clã. Vamos restaurar esse lugar e os pequenos poderão reclamar seu antigo lar, assim eu juro por meus antepassados”. Ao terminar de falar levemente cortou a palma da mão em uma adaga, gesto seguido por todos.

Toda honra a Shivar

Era chegada a hora de descobrir os segredos da caverna. Porém naquela noite, deveriam honrar os ancestrais, os espíritos. E principalmente aquele que sem levantar uma lâmina, protegeu e zelou por todos os experientes guerreiros que ali estavam. 

Continua…


Sangue e Glória – Parte 06 – Contos de Thull Zandull 

Autor: Thull Zandull 
Revisão de: Isabel Comarella 
Artista da capa: Douglas Quadros 

Venha ser um Padrinho do Movimento RPG, e nos ajude a apresentá-lo a outras pessoas. 

 

 

Como Nascem os Bardos – Contos de Soros

TEMPO 1 – MANHÃS

Era manhã de inverno no continente de Soros, sentada em frente da carroça, que sempre andava abarrotada de quinquilharias teatrais, uma mãe elfa tentava acalmar seu filho, afinal aquela era uma carroça de uma famosa trupe circense e as coisas ao redor dela sempre andavam agitadas o dia todo. Ao primeiro raio de sol já se podia ver o fogo tímido da fogueira ganhar força para esquentar a água do chá do desjejum. Quem sempre fazia essa função era um homem mais velho, um humano, chamado por todos que trabalhavam naquela trupe, de pai. O velho Ulisses Plumad’Ouro, era o líder por ali. De fato ele não era pai biológico de ninguém, mas possuía bom coração e adotou muitos ao longo dos seus 70 anos de vida, bem vividos. Sua trupe era composta por cinco pessoas. Vigo ViraCorpo era um meio-elfo contorcionista; Alina Fogoforte era uma humana cuspidora de fogo; Andrey BlocodePedra, um anão levantador de peso; Prisca AsasdeFada era a elfa, que já foi citada nessa história, e a criança que ela tentava acalmar era o jovem Fidel Aspas, um meio-elfo, seu filho.

Se acalme jovem príncipe! – Insistia a elfa, enquanto massageava os seios lentamente.

Esse menino ainda tá pedindo leite? – Indagou Ulisses, enquanto fazia o chá. – Você devia colocar limites nele, afinal uma criança de 8 anos não deveria mais pedir peito…

Jovem Rei, a mamãe não tem mais leite e … – insistia Prisca

Você devia tratar esse menino direito, pare de chamar ele de rei, de príncipe… Todos nós sabemos que ele não é nada disso, você devia ensinar ele a falar. A língua dele não solta porque ele fica querendo chupar seu peitoAlina Fogoforte era sempre ríspida em suas pontuações.

Alina você devia entender a relação dos dois, quando Fidel aprender a falar não irá parar mais! Vigo ViraCorpo ao dizer isso trocava olhares com Prisca. Era de ciência de todos que Vigo era apaixonado por ela, e que os dois já haviam se relacionado. O meio-elfo cuidava do jovem Aspas como se fosse seu próprio filho, afinal os dois eram ligados pela mesma raça.

Ei magrelo, ajuda o tio anão a levantar essa pedra, mostra pra eles o quanto você é forte.Andrey BlocodePedra adorava brincar com o menino, os dois passavam horas levantando pedras. Andrey pegava as grandes, Aspas tentava, mas o tipo franzino do menino deixava-o levantar somente as bem pequenas.

Prisca olhava com gratidão para o anão, enquanto a criança se entretia com as pedras e com as brincadeiras propostas por Andrey. Aquela elfa tinha algo de diferente, sempre foi a atração principal daquela trupe. Sua beleza havia levado aqueles artistas a se apresentar para reis. Todos conheciam a fama de AsasdeFada, uma exímia dançarina, que parecia flutuar enquanto dançava, daí vem seu apelido. Mas o encanto daquela mulher também era sua perdição. Objeto de desejo de muitos homens e mulheres de Soros. Prisca, sentada em frente a fogueira, tomando seu chá que havia ficado pronto e apreciando seu filho brincar, guardava segredos difíceis de compartilhar.

TEMPO 2 – TARDES

O sol não dava trégua no verão de Soros, ao lado da carroça de espetáculos da Trupe Odisséia o desânimo pairava sobre os membros da companhia. As apresentações não davam mais tanto dinheiro quanto antigamente, na verdade fazia mais de um mês que eles não conseguiam pagamento algum. A reserva financeira que fizeram nos tempos áureos estava no fim e o racionamento de comida era constante. De barriga vazia ninguém ali era capaz de produzir nada. Reclamações e insultos era o que imperava naquele lugar. Neste dia em específico a briga foi mais intensa e Aspas, ainda jovem, precisou agir.

A culpa de toda essa desgraça é sua Prisca, nós éramos a companhia do Rei, mas você tinha que se engraçar logo com Rodri.Alina FogoForte estava realmente furiosa e dessa vez Vigo ViraCorpo estava do seu lado.

Eu sempre te defendi, mas você realmente parece que não me valoriza. Alina está certa, você e esse moleque devem sair da companhia. Ele é uma boca a mais e você não possui mais seus encantos.

Prisca escutava tudo calada, Aspas também, afinal ainda não havia aprendido a falar, todos achavam que aquele garoto tinha problemas, ficava quieto, tocando os instrumentos e nunca disse uma palavra. Os insultos continuavam e a situação naquele calor de tarde estava realmente mais quente que o de costume. Ulisses e Andrey, tinham ido até a vila mais próxima com o intuito de arranjar alimento e uma taberna que se interessasse pelo trabalho da Trupe. 

Você é uma vagabunda, Prisca, a gente sempre deu duro para conseguir nosso lugar nessa companhia enquanto você dava… – Nesse momento Alina foi interrompida por uma rapieira que atravessava sua glote e fazia seu sangue jorrar na cara de Prisca. 

O corpo desfalecendo de Alina, caiu lentamente no chão e por trás dela podia se ver a figura do jovem Aspas segurando uma rapieira, adereço de um dos espetáculos da trupe. Vigo ViraCorpo olhou assustado para a situação, afinal ele e Alina haviam começado um relacionamento a pouco. Ele caminhou lentamente até o corpo de sua amada. Enquanto ouviu as primeiras palavras do garoto Aspas.

Corre, pega essa maldita e corre para bem longe, antes que seu destino seja o mesmo que o dela. – nesse momento o crepúsculo se aproximava e sumindo juntamente com o sol no horizonte ViraCorpo se distanciava carregando o corpo de Alina

TEMPO 3 – NOITES

As noites de outono estavam mais silenciosas que nunca, a frente da Trupe, uma cova rasa cavada por Aspas durante o dia agora estava preenchida pelo corpo de Andrey BlocodePedra. O anão já com idade avançada adquiriu uma doença pouco mais de um mês atrás e toda sua força se esvaiu. Aspas se martirizava, achava que tinha sido culpa sua. De fato, Andrey ficou muito abatido com a partida repentina de Alina e ViraCorpo, nunca entendeu o motivo dos dois terem abandonado a trupe. Mas Aspas sabia e por isso se culpava vendo o amigo sofrer, enquanto guardava esse segredo. Aquele acontecimento tinha sido anos atrás, mas a presença daquelas memórias eram constantes na cabeça do jovem. Após o enterro ele se dirigiu com sua mãe para a sua tenda, enquanto Ulisses ficou próximo a cova de Andrey observando as estrelas e contemplando o silêncio. O velho via sua família definhar e nada podia fazer para salvá-la.

Mãe, você acha que eu tive culpa na morte de Andrey? – Perguntava Aspas a caminho da sua tenda

Para de dizer besteiras meu filho, você não é culpado por uma pessoa ter morrido de doença…

Mas Alina vivia dizendo que eu era a culpa dessa família ter perdido seu esplendor, que eu havia trazido a maldição para cá.

Deixa de besteiras Aspas, aquela mulher só usava sua língua para plantar discórdia, e o seu destino foi traçado pelas asneiras que ela falava. Você apenas fez o que tinha que fazer. Agora tente limpar sua cabeça desses pensamentos e durma, amanhã será um longo dia. – Prisca falava isso enquanto se ajeitava para dormir – Boa noite, filho!

Mãe, por que eu acho que você me esconde algo? – A pergunta tinha sido em vão,  Prisca havia pegado no sono e mais uma vez Aspas tinha ficado sem resposta. Revirou na sua cama, mas não conseguia dormir, seria mais um noite em claro. Levantou, se dirigiu para fora da tenda e foi ao encontro de Ulisses. O velho estava sentado do lado de fora de sua tenda olhando fixamente para as estrelas, enquanto fumava um cachimbo fedorento, porém saboroso. 

Ainda acordado Aspas? – Perguntou o velho logo após cuspir o fumo do cachimbo no chão.

Cada vez mais está difícil dormir.Aspas puxou um banco e sentou ao lado de Ulisses.

Aproveita agora que Andrey finalmente descansou e não teremos que escutar seus gemidos de dor durante a noite. 

Pai … se um dia alguém fizesse mal a minha mãe você seria capaz de matar essa pessoa? 

Ulisses olhou Aspas, se levantou, foi até a carroça, pegou a rapieira que Aspas havia usado para estocar Alina e voltou a se sentar ao lado de Aspas. – Você meu filho, me pergunta algo que na verdade você já tem a resposta. – manejou habilidosamente a rapieira no ar e a entregou a Aspas, que o olhava aflito.

– Então… você sabe? – O silêncio tinha ficado mais intenso nesse momento. – Pai, por que o senhor não me puniu? Pai…

Você queria que eu tivesse feito o que?Ulisses o interrompeu bruscamente – Deixado você e sua mãe para os lobos comer? Não sou esse tipo de pessoa, garoto e já está na hora de você saber… – Pegou o cachimbo e deu trago profundo – Eu não sou seu pai.

– O que o senhor quer dizer com isso?Aspas se levantou abruptamente do banco e se colocou em pé à frente de Ulisses. Era possível, a tal distância, sentir o calor da respiração do velho.

Está na hora de saber a verdade Aspas, sente-se é melhor escutar com calma. – O velho puxou novamente o banco e ofereceu ao garoto. – Certa vez estávamos realizando uma apresentação no castelo do rei Rodri, tínhamos muito prestígio na época, sua mãe era a mulher mais bonita do reino e não demorou para Rodri se interessar por ela. O rei era casado, mas todos no reino sabiam que ele não resistia a uma mulher, seus atos de infidelidade para com a esposa era conhecido por todos. Na noite após a apresentação no castelo fomos convidados a ficar para o jantar e a dormir por lá. O rei estava muito satisfeito com os serviços prestados e fazia questão da nossa presença. O jantar foi grandioso, nos divertimos muito. Prisca foi dormir e o rei também se retirou. Estávamos bêbados demais para notar a ausência dos dois, que a essa hora já estavam em algum cômodo do castelo agarrados um nas coxas do outro. Depois disso ficamos no castelo por alguns meses, nos tornamos a companhia do Rei, mas logo Prisca começou a mostrar seus sinais de gravidez. Sabíamos que Rodri mandava matar os bastardos e então decidimos guardar esse segredo e ir embora sorrateiramente no meio da noite. Logo depois a Rainha anunciou que também estava grávida e o rei tinha mais com que se preocupar. Sua mãe te pariu na estrada e quando nasceu constatamos o que era certo, seus olhos verdes provam sua descendência, você é o filho mais velho do falecido rei Rodri

Aspas saiu correndo, correu por horas no meio daquela mata silenciosa, chegou no final da noite a uma cidade pequena. Ele não olhou para trás, seu coração disparado e seu corpo agitado precisavam descansar e ele se dirigiu até a taberna do lugar, pediu uma cerveja e bebeu até não se lembrar mais.

TEMPO 4 – MADRUGADAS

As madrugadas das primaveras eram especiais, o cheiro da florada se espalhava pelas cidades  e encantava Aspas. Sabia distinguir o perfume das flores e das mulheres, vivia metido em bordeis e tabernas. Tinha a essa altura da vida alguns vícios em jogos, trapaças e virilhas. Não tinha o costume de ficar muito tempo no mesmo lugar, afinal para cada lugar tinha um golpe, um roubo, ou uma charlatanice diferente. E assim conseguia viver mesclando a arte aprendida na Trupe Odisseia com a habilidade aprendida nas ruas. Aspas se tornou um homem astuto. Após uma longa noite de viagem ele havia chegado a mais uma pequena vila, o cheiro perfumado de umas das casas logo revelou à sua narina que ali havia prazeres para ele. Adorava os bordéis, sempre acolhedores e divertidos. Amarrou seu cavalo junto a alguns outros que pastavam ali na frente daquele estabelecimento, ajeitou a roupa, pegou seu bandolim e entrou. O lugar não estava tão cheio, sentou em uma das mesas, pediu uma bebida e chamou uma das moças que estava de costas no balcão, uma senhora de uns cinquenta anos, porém bem esbelta, gostava das mulheres mais velhas.

– Pois não! – A moça se dirigia até ele, enquanto Aspas, assustado, deixava seu instrumento musical cair no chão.

Após longos anos, foi a primeira vez que as palavras lhe faltaram. Não sabia o que dizer, ficou mudo, observando a mulher se aproximar e sentar na cadeira a sua frente. 

Há muito que te sigo Aspas. Anda, peça um quarto, tenho coisas a lhe dizer e é melhor se apressar, não temos muito tempo.

Aspas rapidamente se dirigiu até o balcão do estabelecimento e pediu um quarto. Subiu as escadas, que levavam até os dormitórios, acompanhado daquela mulher, que ele não via há anos. Suas pernas bambas revelavam o medo e o desconforto que ele sentia com aquela situação. Entrou no quarto, não quis sentar, ficou parado próximo a cama. A moça entrou em seguida e trancou a porta atrás dele.

– Vejo que está surpreso em me ver. – Aquela voz esganiçada não era a mesma que ele conhecia, mas a cicatriz no pescoço, bem na altura da glote, revelava uma mulher que ele achava que estava morta.

A..lii.na..– balbuciou as palavras enquanto sentia uma faca encostar no seu abdômen. –  O que faz aqui? Não há motivo para isso…

– Sente-se e fique calado. –  Ela o interrompeu o empurrando sobre a cama – Ouça o que eu vou lhe dizer, rapaz e fale apenas quando eu mandar. Sua mãe está morta e o velho Ulisses também. 

– Mas como…?Aspas estava pálido, sua boca estava seca, ele pegou o jarro ao lado da cama, encheu a taça de vinho e virou em um único gole, deixando o líquido escorrer pelo seu queixo.

– Shiiiii… apenas escute rapaz. Você fez bem em abandonar aquela Trupe, logo depois que você saiu, Ulisses e Prisca adoeceram, eu cheguei a reencontrá-los, mas pouco pude fazer por eles. Vigo também morreu da mesma doença e me parece que essa praga assola todo continente de Soros. Sua mãe antes de morrer me disse  que você havia ido embora sem se despedir e me pediu no seu leito de morte para que eu o encontrasse. Logo eu, a quem você achou que tinha matado. Mas como vê, sou difícil de matar, não é mesmo? 

– O que você faz aqui Alina? O que você deseja de mim?Aspas bebia compulsivamente sem acreditar no que seus olhos viam. Ele podia jurar que aquela mulher estava morta, mas como era possível ela estar ali diante dos seus olhos?

– Eu vim aqui a procura de vingança de Aspas, você me tirou tudo que eu tinha, agora é sua vez de pagar.Alina FogoForte pegou um frasco de óleo em sua algibeira e jogou sobre Aspas, acendeu uma vela, que estava em cima da mesa de cabeceira e caminhou lentamente na direção dele, enquanto o homem se encolhia na cama.

Alina não me mate… Eu posso dar um jeito em tudo… AlinaAlina, por favor eu… – Nesse momento Aspas sentiu uma pancada na cabeça.

– Acorda vagabundo, aqui é uma taberna e não uma estalagem, se bebeu demais volte para  sua casa. – A taberneira batia com a colher na sua cabeça, enquanto repetia essa frase. 

Aspas havia dormido sobre a mesa e o calor da vela já no fim, quase queimava seu rosto. Acordou, sua testa escorria suor, sua cabeça girava, olhou ao redor e nenhum sinal de Alina, pensou que devia ser mais um pesadelo com aquela mulher. O gosto de vinho na boca e a dor no estômago eram sinais de que ele havia bebido demais. O céu começava a clarear do lado de fora da taberna. Ele pegou suas coisas e caminhou em direção a saída. Deixou umas poucas moedas para pagar o que tinha consumido. Na porta da taberna parou repentinamente. A taberneira gritava por ele e tentava lhe mostrar algo.

– Ei bêbado, uma mulher deixou isso aqui para você, ela tinha uma voz estranha e uma cicatriz no pescoço. – A taberneira estendeu a mão e entregou um bilhete a Aspas.

Ele cambaleou até aquela mulher, pegou o bilhete e leu: -“Eu conheço seu segredo jovem rei, e irei cobrar o que você me deve.” Um beijo caloroso A.FF. – sua cabeça rodou, uma luz encheu seus olhos e ele caiu desmaiado no chão da taberna sobre os feixes de raio de sol de uma nova manhã.

Sou Bruno Quiossa, membro do Mestres de Masmorra, visite nosso canal no YouTube para ver mais conteudo a respeito e aproveite também para ver os outros manuscritos que temos aqui no site do Movimento RPG com varias temáticas interessantes clicando aqui.

Nos vemos pelas mesas da vida. Que rolem os dados.


Escrito por: Bruno Quiossa
Revisão e Arte da Capa por: Douglas Quadros

Sangue e Glória #5 – Contos de Thul Zandull

Sangue e Glória – Parte 5

O encontro misterioso da noite anterior ainda reverberava na mente de Gorac. Contudo os perigos inerentes de se fazer um acordo com um dominador de magia antiga seria algo impossível de se ignorar. Até mesmo para o mais ávido e ganancioso. Porém só o fato dele ter um meio de estender o conflito. Ou seja, levando a guerra ao coração do poder Autarca já valia o risco.

A crença odiosa que subjugou por séculos diversos povos. Dessa forma quase aniquilou variadas raças, e ainda trata com o açoite qualquer questionamento a Fé Diáfana devia ser derrubado de uma vez. Além dessa possibilidade, Gorac também pensava que seu nome e dos seus seria gravado para sempre em Karzas. Porém  eram muitas informações atormentando sua mente naquele momento. 

Mira se aproximou notando os olhos distantes de seu líder enquanto os outros organizavam tudo para prosseguir viagem. Todavia Orog e Xalax já haviam sido liberados por ela para fazerem a varredura dos perigos e das informações necessárias do caminho a frente. 

Mira se aproximou de Gorac e questionou o que havia. O líder de guerra, virou-se e olhando para sua velha parceira de lutas, e assim contou tudo que ocorria em seus pensamentos. Mira ouviu atentamente, sempre esteve ali, lealmente para ajudá-lo. 

Uma parceria mais profunda

Foi então que ela disse “São muitas coisas, muitas chances para dar errado. Mas enquanto não escolhermos um caminho eles apenas vão ser fantasmas que vão nos atormentar. Sendo assim, em vez de pensar em andar, o certo é andarmos e lidarmos com os perigos dessa viagem. Ainda não tem inimigos aqui, só vão ter quando seguirmos. Lutar com fantasmas vai tirar suas forças, vamos escolher os inimigos e centrar neles. Viajamos muito, lutamos muito para conseguirmos o pouco que trouxemos para essa terra que nos odeia. Agora, os problemas viraram chances, de verdade uma chance de mudar as coisas. Você é bom líder, preocupado com o clã, com o grupo de guerra, nós vamos seguir você onde for…”

Gorac ouviu atentamente e percebeu que Mira sempre estaria ali. Não se importando se suas escolhas custassem a vida dela. Se aproximou e tocou seu rosto. Encostou sua testa na dela e complementou “Você sempre esteve comigo. É mais que minha parceira nas lutas. Que nosso vínculo dê frutos nessa terra que conquistaremos juntos”.

Um rápido beijo cortou o momento de incertezas. Kagror riu alto, apontando para Anáxalas, “Ahhhh mulher, eu ganhei a aposta, ainda está dentro do meu tempo, falei que ia acontecer, pode pagar sua dívida!”. A Orc bufou, mas se aproximou entregando as moedas que provavelmente haviam sido reunidas após aquele grupo discutir sobre a situação de Mira e Gorac. Era muito perceptível que esse vínculo estava mais que selado em tantas campanhas e situações que ambos venceram juntos.

Ao encontro de perigos 

Colocaram-se em marcha. Ainda que os animais de carga sofressem com o terreno irregular. Mas venciam lentamente as dificuldades da Mata Velha com apoio dos Orcs. 

Contudo os batedores Orog e Xalax haviam retornado apontando um caminho mais fácil para prosseguirem. Após horas de viagem, já a noitinha, chegaram a um pequeno monte que permitia visão da área que atacariam. Perceberam a frente, o círculo rochoso e a maneira como os kobolds haviam construído uma muralha de madeira fechando brechas. Portanto, permitindo assim uma defesa fabulosa do local. Porém um ataque vindo de cima seria muito inesperado para os pequenos estarem preparados. 

O velho Shivar explicou que havia ali dois portões, o local mais afetado pelo ataque estava do lado oposto do ponto em que chegaram. Muitas pesadas criaturas se chocaram na área que ainda estava em expansão. Sendo reforçada, o que por sinal facilitaria a invasão naquele momento, no ponto indicado pelo kobold. Mesmo as aranhas gigantes menores, já eram maiores que ele mesmo. 

Anáxalas explicou ao grupo que aquele ataque estava ligado ao mistério que iniciaram na noite anterior. Analisou os padrões de violência sobre as estruturas e citou que havia traços de estratégias. E que na opinião dela estariam ligados ao açoite mágico muito comuns em outrora, magias que motivavam e direcionavam a mente de criaturas de vontade fraca.

Enfim o confronto 

Apesar da informação, não havia mais tempo para dúvidas. Todos tiraram pesos extras dos materiais carregados e começaram a descansar e se preparar para a luta que estava próxima deles. Xalax espalhou unguentos e pediu a todos para mastigarem algumas ervas e raízes. Essa ajudariam a manter o foco na luta e amenizariam qualquer dor que tivessem devido ferimentos. 

Gorac preparou seu elmo de chifres, afiou sua lâmina e organizou todos para uma carga ao portão frontal. Apenas Anáxalas ficaria um pouco recuada dando suporte com o arco. O grupo avançaria e Gorac manteria o arco frontal com a lâmina de grande porte. No entanto, os demais manteriam o escudo em pé assegurando o avanço da formação em “V”. Com o término da carga, todos formariam um círculo. Em seguida a arqueira se colocaria na posição central cedendo cobertura enquanto todos estariam firmes combatendo as hostes de aranhas. Concordaram e enfim, já com o manto da noite, puseram-se a avançar.

A carga inicial trazia consigo toda violência da raça Orc. As ervas e raízes dadas pelo mateiro, entorpeceu a mente para qualquer agressão externa ao mesmo tempo em que abriram facilmente os portões da fúria de guerra. Os urros rapidamente alertaram as aranhas que avançaram sobre os inimigos tentando evitar que entrassem naquela morada aracnídea. Mas nada puderam fazer contra lâminas afiadas que eram habilmente e brutalmente manuseadas pelo povo guerreiro. O líquido vital das criaturas manchava a terra e a grama alta. Enquanto o grupo mantinha um percurso de morte pelo terreno. O som de rasgos violentos, os sons das feras sendo partidas e rechaçadas com facilidade alimentavam as chamas da fúria daquele grupo. Agora quanto mais inimigos, maior era o clamor colérico e os urros.

As vezes é preciso improvisar na batalha

A frente deles havia os restos da muralha de madeira que rapidamente vieram abaixo com a força descomunal do choque daqueles frenéticos Orcs. Anáxalas rapidamente subiu em uma rocha próxima. Mantendo uma posição alta enquanto a tática de avanço foi trocada por um semicírculo protetivo. Os combinados de antes do ataque foram levemente alterados devido ao local vantajoso encontrado. 

As aranhas se acumulavam, flechas zumbiam e acertavam perfeitamente o centro dos vários olhos daquelas criaturas. Gorac não deixava as criaturas se aproximarem fazendo da lâmina de grande tamanho um arco ceifador de carne.

Os demais com seus escudos mantinham posições, estocando e rasgando. O número continuava a crescer, mas os Orcs ficaram firmes. Houve tentativas de ataque vindas de cima, com saltos e quedas das árvores provenientes das defensoras. Mas as flechas precisas davam a cobertura necessária para a manutenção da formação. As pinças afiadas das aranhas  começaram a perfurar as grossas peles dos Orcs, mas mesmo com sangue jorrando a fúria permanecia.

Uma a uma as criaturas se lançavam sobre os atacantes, sem hesitação. Era nítido como todas também estavam envolvidas por uma força sinistra que as colocavam como uma muralha viva diante dos invasores. Os corpos iam se acumulando, o movimento dificultado, e ainda assim a luta persistia. Aranhas surgiam de frestas na rocha, de dentro da mata, de construções no interior da vila Kobold. Mesmo com a opressão da vantagem numérica das criaturas, Gorac gritava para não se movimentarem e manterem a formação.

É o esperado, mas ainda não acabou

Anáxalas já havia trocado seu arco pela espada curta e escudo, gritando que não poderia mais dar suporte a ataques vindo de cima. Foi então que Mira berrou que a melhor opção seria manter a defesa de uma estrutura. Assim mantendo um gargalo de segurança entre eles e as aranhas. Gorac imediatamente concordou e fez um grande esforço para varrer criaturas à sua frente abrindo uma brecha para o movimento. 

Deslocar-se em meio ao emaranhado de feras, era desesperador, mas os Orcs eram treinados e forjados para lutas sangrentas. Kagror estava ensanguentado com tantas marcas de perfurações. Já Xalax temia por sua vida, mas ele também sentia o corpo vacilar devido aos números de cortes em suas pernas. Mira sentia os músculos gritarem devido a manutenção de tanto tempo de esforço e Orog já começa a vacilar devido às feridas abertas que jorravam sangue.

Conseguiram acessar uma construção com muita dificuldade. Ao passo que Gorac ordenou que dois mantivessem a posição de defesa da entrada enquanto os demais recuperavam o fôlego. Aranhas maiores surgiram e o embate durava. Revezavam-se enquanto mantinham a posição, até que o número de inimigos e a pressão começou a diminuir. As aranhas começaram a dispensar quando todos ouviram um movimento proveniente de algo grande e avassalador. 

Um impacto violento balançou toda a estrutura e parte do teto rachou revelando do lado de fora uma aranha de tamanho descomunal. Ela tinha mais de três metros de altura, cerdas afiadas brotando do corpo como uma proteção proveniente das profundezas do mal. Os olhos gigantes e avermelhados, patas com placas quitinosas afiadas, além de esporões mortais que percorriam todo corpo evitando qualquer agressão.

Mira e a bênção dos Líderes 

Os Orcs mantiveram os escudos levantados, sacaram adagas e machadinhas que percorreram o ar ao ser arremessados em direção a fera gigante. Gorac puxou seu último fôlego e avançou para retalhar as patas próximas, mas sofreu um impacto direto que o arremessou metros para trás. Caiu desacordado com a violência do golpe. Mais um encontrão da criatura contra a estrutura e mais a entrada ruiu. 

Mira, vendo o que ocorreu a seu companheiro, gritou ameaçadoramente, ela correu até a espada de lâmina longa e a segurou firme. Abandonou qualquer hesitação defensiva e partiu para o ataque. Esperou o momento certo do novo encontrão e de novos arremessos de armas de seus parceiros de luta. Quando teve uma brecha, saltou em direção a gigante, agarrando-se em uma pinça. O movimento de recuo da fera, fez com que o Mira tivesse seu salto alavancado pelo agarrão que fizera com um de seus braços àquela pinça mortal. Isso fez com que Mira caísse por cima do corpo da criatura. 

Equilibrando-se devido aos movimentos bruscos, não hesitou e começou a golpear a parte superior. Isto fez com que a aranha ficasse totalmente atordoada, sem ter como reagir a agressão. O grupo então aproveitou o momento para também sair das posições de defesa e cercar a aranha gigante golpeando-a de todos os lados.

Mira teve finalmente a chance e selou a vitória cravando a lâmina dos líderes Orcs profundamente na base superior daqueles múltiplos olhos. Mais algumas aranhas tentaram vingança, mas agora com número reduzido não foram páreo para os ataques Orcs.

Adentrando as minas

A vitória foi alcançada, mas primeiro havia a preocupação pelo líder caído. Todos correram para o que restou da estrutura onde estavam. Mira se adiantou segurou a cabeça de Gorac encostando sua testa na dele, lágrimas surgiram de seus olhos. Mas antes que pudesse expressar mais um sentimento conseguiu ouvir a respiração do líder e sua voz rouca dizendo que seu momento não havia chegado.

Em suma todos que ali demonstraram sua felicidade, diante da vitória e de nenhuma perda. Porém todos vacilaram e buscaram locais de descanso. Os ferimentos e efeitos do veneno, poderiam não matá-los, mas agora estavam obviamente vulneráveis e precisavam recuperar-se urgentemente.

Com a possibilidade de aproximação, Shivar pôs-se a trazer os animais e recursos. Em seguida todos seguiram até uma estrutura ainda intacta e tomada de teias e ali organizaram tudo para poderem se recuperar. Enquanto um apoiava o outro, o velho Kobold correu para analisar o elevador de roldanas que haviam feito. Todavia disse que poderia consertar, mas demandaria alguns dias. Gorac então falou, “…não se preocupe, no estado em que estamos, ninguém irá a lugar algum…”. Pesados risos sucederam a fala rouca e cansada. 

Continua…


Sangue e Glória – Parte 4 – Contos de Thul Zandull

Autor: Thul Zandull;
Revisor: Isabel Comarella;
Artista da Capa: Douglas Quadros.

 

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Sangue e Glória #4 – Contos de Thul Zandull

Sangue e Glória – Parte 4

O tempo estava fechado, com prenúncios de chuva, mas nada que pudesse, de fato, atrapalhar a jornada. Gorac estava preocupado com Kagror, pois o ferimento da luta ocorrida contra os Autarcas fora grave. Havia o vigor da raça ao lado daquele grande guerreiro, mas o líder sabia que muitos valorosos Orcs tinham sucumbido diante de inimigos silenciosos. Mesma situação se aplicava às queimaduras sofridas por outros membros do grupo.

Diante da situação e pensando que até o momento tinham acumulado vitórias e espólios especiais, pensou em não agir como tolo, resguardando suas forças para as verdadeiras batalhas. Se o velho Shivar estivesse certo, haveria dificuldades à frente que demandariam força completa. Sendo assim, quando a paisagem pedregosa começou a mudar, destacou o rastreador Orog e o mateiro Xalax para irem a frente com a intenção de acharem um bom local para acamparem e reporem as forças naquele dia. 

A Mata Velha não podia ser ignorada, havia criaturas de grandes proporções e magia antiga naquele local. Histórias diziam como o ambiente tinha olhos invisíveis e vontade sob aqueles que ali adentravam. Diante disso, sabiamente Gorac destacou sua arqueira de maior habilidade, Anáxalas para caçar algo que pudesse ser usado em um rito de oferenda à entidade que regesse aquele mar verde que adentrariam, foi antes específico que a caça fosse proveniente ainda daquele limite rochoso que estavam atravessando.

Kagror, Gorac, Mira e Shivar mantinham a marcha enquanto os demais seguiram as ordens dadas. Aos poucos a vegetação se espalhava para todos os lados, um caminho irregular, repleto de rochas de tamanhos variados cobertos por raízes, musgos e plantas variadas e grandiosas. Havia um poder vital retumbante naquela morada ancestral das entidades naturais. Apesar de questionador de alguns costumes de seu povo, Gorac respeitava a magia e as histórias originadas dela, portanto havia cautela em seus passos. Tal cuidado, seria recompensado pela percepção apurada de Mira, que foi a primeira a alertar sobre rastros frescos notados no caminho que faziam. Segundo ela, provavelmente um grande javali. O alerta deixou todos mais atentos aos movimentos da floresta.

Para alguns, é apenas mais uma batalha

O estado de atenção foi crucial para que repentinamente o grupo notasse o barulho de um avanço violento pela vegetação. Os galhos quebrando, os sons dos cascos brônzeos e as presas ferozes que se jogavam em uma carga mortal em direção a eles. Infelizmente para aquela besta furiosa, havia diante dela Orcs forjados em batalhas, experientes e sagazes quando o assunto era sede de sangue.  

Mira foi a primeira a se movimentar com a intenção de sair da direção da investida, ao mesmo tempo em que disparou uma flecha certeira no corpo do animal. Gorac ergueu Shivar pelas roupas e o arremessou em um galho grosso, enquanto sacava com a outra mão, uma de suas machadinhas. Kagror ficou imóvel esperando o momento, também de posse de lâminas menores, neste caso, adagas.

A besta sofreu com a flechada, mas manteve a corrida em direção a Kagror, que esperou até a janela derradeira de tempo para esquivar-se e desferir um golpe que rasgou o couro rígido com facilidade. Ao continuar sua rota, Gorac teve espaço para arremessar a machadinha com violência e precisão na base do pescoço do animal, que ao ser atingido gradativamente diminuiu seu ritmo até sua queda e morte, metros à frente. 

Todos riram da situação, descontraindo o momento, já que imaginaram animais mais ameaçadores do que um Casco Brônzeo, proveniente daquele ambiente opressor. Com a presa abatida, percebiam que somado à caça dos animais de carga que estavam consigo, havia muita comida e recursos, algo que poderia significar uma coisa, um descanso longo regado a muita comida.

Os batedores encontraram um espaço adequado abaixo de uma pedra inclinada, havia cobertura e espaço ideal para acampamento. Os itens saqueados dos Autarcas traziam mais luxo aquele ambiente selvagem, o que mais agradou na pilhagem foram temperos e ervas que traziam mais sabor à carne. Orog e Xalax também haviam tido sucesso em suas empreitadas, acharam raízes e plantas necessárias aos cuidados que todos requisitavam para melhorarem. 

A caçadora por outro lado ficou irritada, pois teve todo cuidado de trazer uma oferenda, enquanto seus companheiros já haviam matado um animal de grande porte. Ainda assim, Anáxalas fez os ritos antigos, montando um grande patuá com ossos do javali, enfeitou-os com penas das grandes aves e o pendurou em uma árvore com a intenção de agradecer a caça enquanto prestavam respeito ao poder do ambiente que os cercavam. Todos entoaram gritos e canções de guerra seguindo os rituais das épocas tribais de outrora. Com o rito solene prestado, prepararam grandes fogueiras para aproveitar a fartura que ali havia. 

Os sussurros da Mata Velha

Gorac designou as vigílias e deitou-se mais aliviado percebendo que Mira havia feito boas escolhas. O grupo que o acompanhava era forte. No próximo dia, já a tarde avançariam lentamente, o que seria suficiente para o vigor e fôlego retornar aos corpos de todos, porém a noite escondia mistérios…

O líder foi despertado com uma estranha sensação de perigo. Ao acordar não havia ninguém à sua volta, apenas a fogueira crepitante e uma figura sentada ao lado dela. O indivíduo era franzino, uma figura humana cansada e idosa, mas de barba branca bem aparada espalhada pelo rosto marcado pelo tempo, rugas se acumulavam e contavam histórias de décadas de vida. Já não havia cabelo em sua cabeça e mantos adornados protegiam seu corpo, provavelmente do frio. Apesar da idade não tinha uma aparência curvada, logo notou que a figura conseguia manter uma postura ereta e firme. O encontro sinistro fez com que Gorac pegasse sua arma, mas ao levantá-la notou que a mesma estava envelhecida, enferrujada e quebradiça. Urrou e partiu para combate, amaldiçoando aquela bruxaria e pensando em acabar com o velho com seus punhos e dentes, mas antes que desse um passo mais sentiu forças invisíveis segurando-o.

O velho interrompeu o rompante furioso dizendo: 

“Não há forças em seu corpo para lutar contra os conhecimentos antigos. Não se preocupe, mestre de batalha, não sou seu inimigo e muito menos estou aqui para ameaçar sua jornada. Na verdade, seus passos irão atravessar os meus por um fortuito acaso semeado por mim décadas atrás. Infelizmente meu corpo carece de cuidados, já que está dormente e selado, mas minha mente e minha magia apenas cresceram com o tempo. Estou aqui para lhe passar uma mensagem, neste ambiente solene no qual os senhores dos sonhos semeiam suas vontades. Estou aqui para que você decida prosseguir algo que teve início com os pequenos Kobolds. Necessito de sua ajuda para me libertar das correntes que me prendem. Caso faça isso, terá a seu lado um Veneficus, um dominador dos Geodos Arcanos há muito dormente em uma prisão subterrânea esquecida. 

Shivar foi um dos muitos que inspirei em suas noites de descanso para construírem e prosperarem, sem perceberem que estavam em minha busca, em um trabalho por minha liberdade. Porém, a iminente aproximação dos Kobolds despertou defesas antigas que não pude lidar por minha situação. Posso te oferecer a chave para ir além, pois as areias do tempo sempre correm a favor de um Veneficus. Se desejas conquistar, há chaves que posso te oferecer para derrubar a Autarquia, posso lhe oferecer um futuro glorioso. Terá o momento de escolha quando enfrentar as aranhas, tome a decisão correta.”

Com o discurso encerrado, a figura fez gestos e um clarão se espalhou a partir das chamas, o que ofuscou o Orc. Ao recobrar a consciência percebeu a sua volta todos do grupo assustados olhando para ele. Mira foi a primeira a se adiantar e perguntar o que havia ocorrido. Todos tinham despertado momentos antes com os gritos que ele emanou e ao tentarem fazer algo, descreveram que Gorac estava em um transe, com os olhos abertos, mas ao mesmo tempo brancos e distantes. 

Kobolds e seus segredos

Gorac imediatamente levantou-se e foi até o velho Shivar, questionando-o sobre o sonho. O velho Kobold estava calmo e começou a contar que alguns membros de seu povo sempre sonharam com essa figura, que os instruía e guiava. Foi por ela que fizeram descobertas e se tornaram fortes, seu líder sabia o nome daquele guia poderoso e então o pequeno disse em voz alta que a figura misteriosa se chamava Harm Van Driel.

Estranhamente todos sentiram um arrepio, como se uma porta tivesse se aberto. Medo não era algo comum aos Orcs, mas naquele momento todos estavam perto de entender a sensação. Gorac, percebeu que sua jornada havia se misturado a algo muito antigo, porém lidar com essas forças era algo perigoso. Ficou em silêncio por longo tempo, contemplou aqueles que aguardavam orientações e disse calmamente: 

“Descansaremos como previsto, após o meio-dia seguiremos em direção a antiga aldeia do povo de Shivar e lá limparemos a ameaça, depois decidimos o que fazer com aquilo que foi oferecido a mim. A oferta, vem de um bruxo, um pacto por poder, um pacto oferecido em meus sonhos. Eu penso, vocês podem pensar também e depois das ameaças, juntamos o que pensamos para tomar uma decisão”. 

Todos ficaram confusos, mas começaram a juntar as evidências daquela noite. Uma certeza havia, a oferta trazia promessas de sangue e glória!

Continua…


Sangue e Glória – Parte 4 – Contos de Thul Zandull

Autor: Thul Zandull;
Revisor: Isabel Comarella;
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Obscuras Travessuras #3 – Floripa By Night

Saudações criatura noturnas!

Olá senhoras e senhores leitores(as) da Liga das Trevas! Recordando o último post de Obscuras Travessuras, acompanhamos o grupo de neófitos da Camarilla indo ao ponto de encontro do bando do Sabá para negociar uma troca. Um objeto desconhecido, encaixotado, pelo jovem rapaz de linhagem lupina. Ao fim da troca, surgiram notícias que abalaram a todos, pois parece que o mandante da troca não era realmente o Arcebispo do Sabá, mas alguém se passando por ele.

 

Obscuras Travessuras III – Uma conversa de bar

Ainda diante do mistério sobre quem mandou ou não, os neófitos dão seguimento ao plano de resgate. Na mesma noite, Gregor pensou em se adiantar para conseguir informações sobre assunto. Afinal,  ele não precisava estar presente na troca. Em acordo com o Xerife, que era também seu ancião, o jovem Nosferatu seguiu os membros do Sabá até o Harley Davidson, um bar para o público que curte motocicletas, rock n’roll e cervejas. Gregor descobriu, nessa visita, que o bar era um ponto de encontro comum entre os membros do Sabá que viviam num estilo gangster.

Seguindo-os ocultado pelo seu poder do sangue que lhe permitia andar despercebido, entrou com ele no bar. Viu que os quatro cainitas foram até a mesa onde estava um homem atento ao celular. Aproveitando-se da sua Ofuscação, então, os observou por um tempo. Concluiu que o homem em questão era o Diego, aquele com quem deveriam negociar. Via mensagem de texto, comunicou-o de que estava ali, e que era membro da Camarilla. Pediu que dispensasse seus colegas para que conversassem a sós. Uma conversa amistosa com interesse comum, sem rodeios, sem brigas.

Diego assim o fez. Dispensou seus colegas e aguardou que Gregor se fizesse presente. Tão logo Gregor se aproximou, percebeu certa tensão por parte de Diego. Gregor, iniciando a conversa,  foi direto e incisivo: “Sabemos que vocês e nós estamos sendo enganados por alguém que se fez passar por seu líder para obter algo. Fomos envolvidos nisso a partir do sequestro do rapaz, o que diz respeito a interesses nossos. Fato é, vocês estão ferrados. Nós vamos devolver o rapaz e tudo vai ficar bem. Para vocês, me parece que mexeram em algo que era dos seus superiores.”

Diego respondeu: “Tô ligado. Mas os teus colegas vão nos entregar, nós vamos guardar de volta no lugar e fingir que isso nunca aconteceu. Simples assim.”

Gregor arguta e sensatamente questionou: “Alguém que desconhecemos se movimentou para fazer toda essa trama e intriga. Você acha que essa troca vai acontecer numa boa? Pacote vai, Felipe vem, final feliz? Vejam bem, alguém que tem a coragem de mexer com duas seitas de vampiros e uma tribo de lobisomem criando animosidade entre eles. Você realmente acha que vale a pena arriscar tudo isso e deixar a troca acontecer numa boa?”

A lógica de Gregor foi fatal. Diego nem sabia que haviam lobisomens no meio da jogada. Nas cartas de instrução que recebera achava que “cãozinho” era só uma maneira de menosprezar o menino. Imaginava que ele devia ser de alguma importância, mas não um lobisomem. Nunca vira um, mas sabia que não devia se meter com eles. Isso sim era uma lógica simples de entender e aceitar. Sobre o pacote, não sabia do que se tratava, mas na instrução que recebera, dizia que era necessário ter objeto em bom estado e segurança, pois pertencia ao cardeal que viria para promover o levante. Ele agiu gananciosamente a fim de contar com o prestígio desse homem

Mais algum tempo de conversas e esclarecimentos, até que Gregor decidiu ser mais incisivo, e blefar. “Posso capturar você agora. Assim como cheguei despercebido, tem pessoas escondidas armadas, aguardando um sinal.”

Pela mudança de fisionomia de Diego, Gregor percebeu que o blefe o tinha atingido. Prosseguiu: “Precisamos saber como isso aconteceu, e você foi o mais próximo do mandante. Você é nossa pista. Se tentar fugir, vamos te caçar. No entanto, a tua colaboração pode ser muito valiosa nesse jogo. Quanto mais você colaborar, mais chances têm de sair vivo dessa jogada. Se entregue a mim. Vamos um esconderijo, você fala o que sabe, dá as informações que tem. Se tudo der certo, pode ter um álibi e viver suas noites entre nós, ou pelo menos livre de nós. Mas, se você ficar, garanto que não terá tempo hábil organizar aliados e reaver o pacote. Vai precisar enfrentar a fúria dos seus superiores e ser a vergonha do bando.”

Gregor estendeu a mão e concluiu: “Não é fácil, mas é pegar ou largar”. Diego, em poucos segundos de raciocínio se viu encurralado por todos os lados. Sua vontade imediata era criar uma confusão e fugir dali. Era assim que vivia, como um líder de rebeldes, ele se defendia fazendo confusões, entrando em brigas. Mas ter um homem sozinho diante de si, falando com firmeza e mostrando claramente o que estaria por vir, fez com que o orgulhoso cainita da Espada de Caim se sentisse acuado, fraco.

Em meio as rápidas confusões de pensamento,  líder sabia que seu bando estava próximo, responderiam imediatamente o seu chamado. Seria só mais uma briga de bar. Mas não sabia quantos estavam com Gregor, e imaginou que eram muitos. Tamanha segurança e frieza pra essa conversa não devia ser à toa. Talvez, pensou Diego, ele estivesse diante de um dos poderosos da Camarilla, ou, talvez já estivesse enredado em algum poder de sangue que manipula a mente. Deu o braço a torcer.

Enfim, Diego levantou-se e disse: “Eu vou. Deixe meu bando ir pra casa. Eu os abandonarei à própria sorte”.

Enfim, Gregor, que estava sozinho, conseguiu o que veio buscar. Combinou com o Pedro, o Xerife, um lugar pra prender Diego e interrogá-lo. Nas noites que se seguiram, Pedro, Lillian e Gregor perceberam ele tinha informações preciosas, mas não era tão tolo. Ele era resistente e tinha um senso de fidelidade para com seu bando. Mesmo tendo pensado em os abandonar, tentou manter viva a promessa Camarilla. Pois, viu na venda de informações uma possibilidade de garantir-lhes viver a não-vida em outro lugar, longe do peso que viveriam quando tudo isso viesse à tona.

Algumas noites depois, soube que Breno, um membro da Camarilla, se dedicou à missão de reunir seu bando, explicar a situação e mandar-lhes ir embora para o quanto longe pudessem, e que não seriam caçados pela Camarilla até que dessem motivos novamente. Diego ainda não tem certeza se é verdade, mas preso, era tudo o que ele podia acreditar.

Quanto à sua não-vida, bom, ele foi submetido viciar-se no sangue de Pedro para ficar mais “interrogável”. Por vezes se via pensando em reconstruir sua não-vida como um membro da Camarilla. Sentia um fascínio e um temor por Pedro e isso o deixava confuso. Ainda permanece preso, ainda permanece confuso. Às vezes é usado para reconhecer alguma informação, às vezes é deixado para ficar em solidão por longas noites.

Por fim, Gregor, com essa sacada rápida e tendo conquistado esse trunfo mesmo no meio do caos, passou a gozar de certo prestígio. Ele é um membro muito novo, mas conquistou um status rapidamente com um feito notável. Nem sempre obter um sucesso assim rápido é interessante, pois desperta inveja, e entre os vampiros, e isso é um veneno cruel. Porém, até o momento, as coisas estão seguindo bem, ao menos em aparência.

 

Continua…

Essa parte da crônica não estava prevista para acontecer, foi improvisada. Ainda assim se tornou muito interessante. Ela não ocorreu exatamente como as coisas estão escritas, precisei ajustar os fatos importantes à uma narrativa com contexto.

Espero que estejam curtindo a trama e o desenvolvimento da Crônica. É um tanto difícil transformar partidas de jogo em crônicas, mas espero que a leitura seja satisfatória.

Talvez alguns termos específicos do sistema do Word of Darkness possa parecer confuso para quem não tem contato com esse RPG. Por isso, acompanhe todos os posts da Liga das Trevas e fique por dentro de tudo. Aprenda o sistema, a rica história do cenário, as características que estão por trás da nossa crônica e das partidas que estamos jogando.

Jogue também!

Sangue e Glória #3 – Contos de Thul Zandull

Sangue e Glória – Parte 3

O Autarca Kent Chambers sentia o peso de sua idade nessa longa viagem até a comunidade de Harlam. Contudo seu amigo Lester Chapman também apresentava sinais de cansaço. Se não fosse a presença do cavalariço Pete, provavelmente os dois senhores teriam sucumbido devido aos pesados trabalhos para obtenção de água e manutenção do acampamento.

Chambers prosseguia com grande habilidade na confecção do mapa da região, pontuando os melhores trajetos. Todavia o trabalho consumia tempo e os perigos das montanhas eram sempre variado. Animais com características rochosas, bestas mágicas que por vezes quase cruzaram seu caminho com a dos cartógrafos.

Chapman se perdia em lembranças dos tempos gloriosos nos quais serviu na Ordem dos Zelotes. Por muitas vezes liderando hostes em nome da Fé Diáfana.  Porém os tempos de expansão e vitórias pareciam cada vez mais distantes.

Havia muitos inimigos e pouca resiliência para estes tempos sombrios. Ele também se entristecia ao ver como seu amigo Chambers tentava em vão disfarçar a angústia da separação de Jasmine e Willian daquele grupo. Os dois eram promissores, mas Jasmine demonstrava algo especial, a obstinação e a têmpera dos grandes Exarcas de outrora. 

Ambos os mestres da fé conseguiam apaziguar os desafios com o uso de pequenos milagres. Mas toda emanação por menor que fosse da presença de sua Divindade causava muita fadiga nos velhos senhores. A luta, uma emboscada goblin, que ocorrera há mais de dois dias ainda causava dores a ambos. Porém  quanto maior a emanação mais havia choque de retorno ao corpo. Quando eram jovens, conseguiam manifestar poderes incríveis e se recuperavam rapidamente das dificuldades. No entanto o uso destes poderes ao longo de décadas fragilizou a saúde de maneira irreversível. 

Sonhos perdidos na montanha

Em suma Pete sentia-se honrado com o trabalho e sempre se colocava à prova para doar-se totalmente aos esforços em nome da Fé. Mas seu amigo fazia falta, seja nas conversas noturnas e longas vigílias, seja na divisão de alguns trabalhos braçais. No entanto apesar da separação necessária, percebia que tiveram muita sorte até aquele momento. Os pequenos desafios vencidos com astúcia e a chegada a Harlam seriam recompensados. Com boa comida e tratamento digno aos representantes do Grande Senhor que Tudo Vê. 

O senhor  Chambers havia dito que chegava a hora do descanso. Afinal faltava apenas um dia, sendo que o pior trecho pertencente àquelas malditas trilhas nas montanhas em breve seriam deixadas para trás. Encontraram no caminho que faziam uma área em que a rocha formava uma espécie de concha, na qual a temperatura era amena. Portanto poderiam armar acampamento para concretizar e organizar as anotações feitas até aquele momento. Pete organizou tudo, prendeu os animais de carga e começou a preparar a refeição. Que por sinal seria farta, pois havia abatido um velho alce perdido naquele labirinto natural e rochoso. Os alforjes cheios e a tranquilidade reinavam entre aquele trio, pelo menos momentaneamente. O cheiro de boa comida já se espalhava e os velhos Autarcas já guardavam seus livros e anotações quando ouviram silvos bem conhecidos.

Quatro flechas atingiram Pete. Três em seu peito e uma que atravessou em cheio seu pescoço. Nem houve tempo para o sofrimento. O longo manto da Morte enrolou-se sobre ele de maneira que talvez em outra vida, ainda estivesse confuso com o que ocorrera naquele momento. 

Nunca foram apenas velhos

Imediatamente os dois Autarcas abandonaram dúvidas e se colocaram em pé percebendo que o destino inevitável enfim alcançara ambos. Viram surgir por entre as pedras um pouco mais a frente, dois Orcs de pele verde em tom bem escuro tal qual os musgos daquelas pedras. Sendo um mais alto, protegido por uma armadura feita por camadas de pele costuradas e reforçadas por tiras de couro e rebites de metal, empunhando um machado grande erguido por ambas as mãos e o outro de peito nu, mas com um elmo chifrudo em sua cabeça, item típico de líderes de guerra. Em suas mãos uma espada grande de alta qualidade, forjada em material que quase reluzia com a luz que ainda havia. Os dois estavam em uma carga violenta com alvo bem definido.

Chapman foi o primeiro a pronunciar suas palavras de poder, pedindo a intercessão do Diáfano naquela luta. Sentiu que os músculos retesaram  enquanto em suas mãos um chicote flamejante surgiu. Sendo assim Chambers pediu uma dádiva pela vida de ambos, fechando seus corpos, encarcerando seus espíritos mesmo que qualquer ameaça rasgasse suas peles.

Os Orcs não se intimidaram e continuaram sua carga, resultando em golpes precisos nos corpos dos dois Autarcas. Porém Chapam recebeu o golpe do líder, um amplo rasgo em diagonal que quebrou o osso de seu ombro e continuou abrindo caminho até resvalar por seu tórax. Mesmo rechaçado, não houve dor e a magia de seu amigo começa a fazer seu efeito, amenizando a violência da agressão e restaurando o vigor. No entanto Chambers já não teve a mesma sorte, pois para evitar um golpe direto do machado em seu crânio, colocou o braço a frente, que foi imediatamente decepado pela violência de seu algoz. A magia ao fazer efeito amenizava dores e fechava ferimentos. Porém membros perdidos não poderiam ser restaurados, mas diante da situação desesperadora, não havia mais o que fazer.

Chapman avançou fazendo o chicote estender-se de tal maneira que a língua flamejante lambeu os corpos de ambos os Orcs. O grandalhão urrou de dor quando uma das caudas flamejantes cauterizou seu olho esquerdo. O líder protegeu-se como pôde, mas seu peito e braços foram marcados em chamas. 

Chambers mantendo a concentração tocou no local onde fora golpeado e começou a orar. O local da ferida se abriu e se espalhou pelo braço, ao mesmo tempo em que ele percebia a troca de suas poucas energias vitais pela condução do poder entre os planos divino e terrestre para golpear seu agressor. Dessa forma uma rajada de luz prateada surgiu quando ele apontou para o Orc portador do machado. O impacto foi direto, queimando e rasgando a carne da criatura, que mesmo empurrada e jogada ao chão ainda se mantinha viva. 

Na Fé a amizade começou na Fé ela findou

Antes que os Autarcas pudessem continuar com a retaliação, perceberam mais zunidos. Quatro flechas certeiras no corpo de Chapman. Contudo este hesitou, percebendo que nenhuma dádiva suportaria resistir a tantos ferimentos. O velho Zelote cambaleou, mas não perdeu o foco de sua magia e gritou fazendo com que as caudas flamejantes saíssem de suas mãos e rastejassem em busca dos atacantes. E assim o fez, percebendo que as caudas serpentearam até encontrar e causar dor e agonia aos arqueiros ocultos entre as rochas. Seu prazer foi momentâneo. Pois aquele esforço fez a magia curativa perder força. Antes que pudesse pensar em fazer algo para se manter na luta, teve tempo de ver o líder em um estado de fúria preparando o golpe que iria em direção a seu pescoço. Sendo decapitando imediatamente.

Chambers ajoelhou ao ver que seu inimigo estava caído e não morto. Porém se concentrou nas preces curativas para tentar ganhar fôlego para uma última magia. Porém ao perceber o sacrifício de seu amigo, perdeu levemente a concentração. Havia dor e desespero em seus pensamentos. Olhou diretamente os olhos do líder Orc quando este se virou para o novo alvo. O sangue que esguichava do ferimento mortal de seu velho parceiro de Fé, transformava aquela criatura em algo bestial oriundo das profundezas dos pesadelos. No entanto o Orc urrou e levantou a espada para o alto desferindo um golpe retilíneo na cabeça do velho senhor. A lâmina fendeu a cabeça e parou na metade do tronco, tamanha era a força produzida pela fúria.

O combate havia terminado.

Bons ventos para os Orcs

Gorac correu até Kagror, que aos poucos se levantava. A ferida era feia, deixaria uma grande cicatriz, mas felizmente não era mortal. Já seu olho, estava perdido para sempre. Kagror riu alto e agradeceu aos ancestrais, pois ainda sobrara um olho para permitir novos dias de luta. Mira saiu de uma saliência na rocha cambaleando pela dor. Gritou que a última magia os feriu demais, mas nada que não pudessem se recuperar.

O líder estava cansado e estava surpreso com aqueles velhos malditos que quase acabaram com seus planos. Ordenou que os demais vasculhassem tudo. Recolhessem os recursos preciosos que ali estavam e que juntassem os corpos dos três. Diante da falta de medo demonstrada na luta, Gorac preferia que o fogo consumisse os corpos de oponentes dignos. Mira organizou tudo enquanto Xalax já aplicava emplastros e unguentos nas feridas causadas pelos Autarcas derrotados. Seus remédios amenizaram muito as dores.

Shivar, o Kobold, ao analisar os papéis logo percebeu a riqueza que tinham ali. Se apressou em mostrar os mapas a seu líder que ficou muito satisfeito com o achado. Agora tinham um caminho curto para o ataque futuro a Basil, trilhas detalhadas que fariam o assalto a cidade ser menos complexo do que imaginava.

Gorac começava a acreditar que finalmente, aquele trabalho marcaria seu nome entre os grandes guerreiros e líderes de seu povo.

Continua


Sangue e Glória – Parte 3 – Contos de Thul Zandull

Autor: Thul Zandull;
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Sangue e Glória #2 – Contos de Thul Zandull

Sangue e Glória – Parte 2

Aquele dia começou com uma pesada chuva, os Orcs já estavam nas redondezas da comunidade de Harlam há três dias. Tinham organizado todo plano de ir até o antigo assentamento Kobold graças ao sábio Shivar que passou orientações de como chegar lá. Os mercenários já tinham deslocado seus saques, levando-os até seu barco. Porém os homens do contratante deveriam chegar logo, pois sua empreitada dependia disso, permitindo que eles se deslocassem. Sendo assim Mira, seu braço direito, também orientou Gorac que a busca fosse revelada aos responsáveis dos Virag.

Pois depois de tantos esforços tudo que eles não gostariam, seria levar uma saraivada de flechas pelas costas. Assim o líder do grupo aguardava, organizando o percurso que fariam e também preparando um novo contrato no qual abririam essa rota. Portanto limpariam os perigos no percurso enquanto retirariam sua pequena parcela, digna dos desafios que derrubassem. 

Enquanto os batedores eram aguradados, mantinham olhares constantes avisando sobre os movimentos. Mensageiros dos outros mercenários também chegaram avisando que os demais Orcs tiveram pleno sucesso nos outros ataques. 

Reforço a vista

Ao fim do terceiro dia, uma pequena embarcação se aproximou da comunidade costeira. Todavia era perceptível que sofrera com o mau tempo. Seu capitão, um Virag de pele negra e com adornos típicos de sua cultura, de nome Kembab se aproximou. Explicando aos guerreiros que das cinco embarcações, a única a chegar fora aquela. Uma tempestade terrível se abateu sobre eles e demoraria quase um mês para receberem reforços, fato que estenderia o contrato de todos e também os valores pagos.

Foram dois dias tensos em que os líderes Orcs foram até Harlam debater os detalhes do novo contrato. Nesta reunião Gorac dividiu as informações, fato que animou todos os presentes. Afinal era nítido que o compartilhamento do fato realçava o apreço e respeito que os demais tinham por ele. No entanto o problema residia nos valores que seriam pagos pelo contratante e as funções exercidas durante o período longo. Todos concordaram que fortificar pontos estratégicos para manutenção da posição e ampliação do número de batedores seria fundamental. Deveria haver troca constante de informações. Pois o número de invasores era pequeno para cobrir uma grande área durante tanto tempo.

Assim, o trabalho de abertura de rota para a mina não contaria com a força total esperada por Gorac. Teria a sua disposição apenas quatro dos seus, além de seu braço direito Mira. Dessa forma os demais manteriam funções de ocupação, vigília e comunicação.

As forças Humanas também seriam divididas, porém a pequena embarcação que sobreviveu não contava com mais que 40 almas, responsáveis por guardar Harlam. Conforme ficou acordado, as riquezas encontradas seriam divididas igualmente. Cabendo para aqueles que abrissem a trilha uma parcela maior.

Traçando estratégias

Com os detalhes acertados e todos satisfeitos, puseram-se a trabalhar. Mira então foi escolhida para selecionar os quatro que acompanhariam a empreitada. Contudo seria um percurso duro, pois o local que explorariam ficava na Mata Velha.

Para alcançá-la teriam que pegar trilhas nas montanhas Dol-Agurad. Estas se estendiam até o mar, cortando a área verde que circundava as aldeias costeiras, daquela porção mais antiga de vegetação milenar. Shivar iria acompanhá-los e disse que havia um clã confiável de goblins na região, o clã Três Cortes. Eles poderiam ser bons guias para a jornada, porém Gorac achou melhor, devido a situação, que tentassem evitar mais olhos sobre eles até que houvesse mais reforços em Harlam. Principalmente com o atual número de invasores, caso houvesse retaliação vinda de Basil, seria complicado manter as posições obtidas.

A Mata Velha era um local que preocupava muito. Mira sabia das histórias daquele local, havia magia antiga lá e as criaturas eram muito maiores e mais fortes, teria que agir com cuidado em sua escolha.

Após muito refletir, Mira escolheu o rastreador Orog, o brutamontes de mente lenta Kagror. O mateiro Xalax e a caçadora e exímia arqueira Anáxalas. A experiência do grupo estava garantida, pois todos os escolhidos já haviam participado de uma dúzia de campanhas sob a liderança de Gorac. Além disso, apenas o Kobold Shivar iria com eles, os demais sobreviventes manteriam o acampamento Orc perto do barco ali em Harlam. Aquela era a única garantia de fuga com alguns espólios caso tudo desse errado. 

Em rumo à busca de grandes tesouros

Assim, deixando o comando do restante de sua companhia e a pequena Harlam para Kembab, partiram para abrir uma rota até as riquezas descobertas pelo povo Kobold. Se tudo desse certo seriam três dias até lá e mais três para retornar. 

A marcha deveria ser constante e aquele grupo tentaria ao máximo manter-se oculto. Apenas levavam consigo provisões suficientes para evitar perder tempo na busca por comida. De forma alguma poderiam se dar ao luxo de extravagâncias. Mas com sorte e habilidade talvez pudessem ter refeições melhores se houvessem animais que cruzassem seu caminho. Consequentemente Orog e Anáxalas traçaram o melhor caminho e escolhiam com cuidado as rotas traçadas à medida que a paisagem se revelava.

Adentrando Mata velha

O primeiro trecho até as montanhas estava tranquilo, encontram cabanas de caça e de lenhadores, porém sem habitantes. Sempre havia o temor que alguém houvesse escapado aos olhos dos atacantes e que pudesse estar nesse momento viajando para avisar Basil sobre o ocorrido.

Porém os locais encontrados não tinham marcas de utilização constante, o que seria positivo, já que poderiam usar um destes para prepararem acampamento. Por sorte foi exatamente o que ocorreu, já ao anoitecer encontraram mais uma choupana simples de caçadores, suficiente para dar-lhes um abrigo. Conforme o bom presságio, Anáxalas também conseguiu abater um porco do mato de bom tamanho, algo que enriqueceu a alimentação. Prepararam o fogo e logo estavam assando a carne e pensando nos desafios que viriam. Gorac mantinha preocupação com a luz durante a noite, porém para outros que vivessem por perto aquilo significaria apenas que caçadores da vila estavam em ação.

Não houve nenhum evento estranho durante a noite. O mateiro Xalax aproveitou a tranquilidade para buscar ervas. E iniciou o preparo de unguentos e algo que pudesse ser útil contra os inimigos que em breve seria enfrentado. Ele sabia da letalidade dos venenos de aranhas gigantes, mas com as plantas certas o veneno poderia ser apenas um incômodo para os corpos mais resistentes dos Orcs. Por isso seus esforços foram necessários e o líder daquele grupo achou por bem esperar até que o mateiro terminasse seu trabalho. 

Com tudo organizado puseram-se em marcha novamente. E tal qual a paisagem serena da floresta que cercava Harlam transformava-se em terreno pedregoso com carência de vegetação, a subida pelas trilhas serpenteantes de Dol-Agurad começava. As subidas e descidas seriam mantidas por algumas horas e à medida que avançavam sempre estavam atentos a sinais de perigo, porém tudo estava estranhamente calmo.    

Não estamos sozinhos

Orog chegou a comunicar sinais de criaturas das montanhas quando se aproximaram de fontes de água e também em restos de presas abatidas e fezes de animais, mas nada que indicasse proximidade de ameaças. Afinal era um rastreador bem treinado e sempre seguindo um pouco a frente, escalando pontos fáceis para ampliar sua visão. Então foi o primeiro a notar algo na paisagem pedregosa. No ponto mais alto que estavam da trilha perceberam que havia outro caminho. Mais abaixo e neste caminho um espaço côncavo formado pela erosão natural no qual  o acampamento foi preparado. Havia montarias com alforjes carregados, dois homens de mais idade e um jovem que cuidava da fogueira e preparava o alimento.

Estavam a uma distância razoável e havia muitos pontos para uma descida segura e capaz de permitir um ataque surpresa. Inicialmente Mira disse que atacar velhos não seria honrado, porém foi rebatida por Anáxalas que explicou que preparados daquela maneira, perceberiam os problemas em Harlam. Eles poderiam retornar buscando ajuda, portanto todo sucesso da empreitada dependeria da aniquilação de olhos curiosos. Sejam eles quais fossem. Ainda assim Kagror e Xalax permaneceram em silêncio. Gorac ponderou sobre tudo, analisou com cuidado os sinais que traziam e logo expressou sua decisão explicando que definitivamente aquelas pessoas não eram figuras indefesas e frágeis.

Haviam escolhido um caminho perigoso e traziam nas roupas e demais itens adornos que significavam apenas uma coisa, membros da Autarquia. Gorac quase sentia o cheiro de magia, fato que levou a ordem de ataque.

Sem questionar, todos os integrantes do grupo começaram a fazer o percurso de descida, de maneira cuidadosa para obter o efeito máximo de surpresa.

Gorac não arriscaria sua Glória para servidores daquela fé maldita!

Continua…


Sangue e Glória – Parte 2 – Contos de Thul Zandull

Autor: Thul Zandull;
Revisor: Isabel Comarella;
Artista da Capa: Douglas Quadros.

 

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Invasores Detectados – Um Conto de Mago: A Ascensão

O apartamento de Max ficava no 7° andar e era mais parecido com um lixão do que com uma moradia, tamanha era a sujeira e desorganização. O único lugar limpo e organizado era a escrivaninha onde ficava o PC. Max havia alugado esse lugar a pouco tempo, mas o suficiente para que papéis, latas de refrigerante, restos de comida, pedaços de fios, metal e placas estragadas de computadores se espalhassem pelo chão. Em total contraste com aquele ambiente caótico, estava uma mesa branca, polida, com um PC de última geração em cima, este que ficava ligado 24h por dia. A única coisa que nos dava a sensação de que aquela mesa fazia parte daquele apartamento era um cinzeiro abarrotado de bingas de cigarro que Max  quase nunca esvaziava.

A desculpa de Max era sempre a mesma quando alguém o visitava e se deparava com a sujeira – “Não repara a bagunça” – dizia ele – “estou trabalhando em um projeto que me consome muito tempo”. Ele quase nunca recebia visitas, mas a solidão que ele tanto gostava de ostentar às vezes era quebrada. Importante mencionar que o prédio de Max não tinha porteiro, somente um sistema de câmeras antigas e um interfone que mal funcionava. Esses dois fatores fizeram com que ele desenvolvesse por conta própria um sistema de segurança simples naquele lugar, nunca precisou usar, mas tudo tem sua primeira vez.

Nesse dia Max ainda não havia acordado, continuava dormindo um sono profundo proporcionado pelas doses de vodka, maços de cigarro e remédios para ansiedade tomados na noite anterior. Já eram quase 16 horas e Max estava lá sem esboçar nenhum sinal de vida. De repente algo inesperado aconteceu naquele apartamento. Você pode pensar que eu esteja falando de algum rato, que apareceu em meio a sujeira, mas pelo infortúnio de Max o problema seria um pouco maior. O Computador começou exatamente às 16:01h emitir um som estridente como um alarme, a tela piscava em vermelho com a seguinte mensagem: – INVASORES DETECTADOS.

Max demorou um pouco para entender o que estava acontecendo, gozava ainda de um estágio entre o sono e o despertar. Não estou falando desse despertar que você está imaginando, Max era um desperto e já a algum tempo usava do seu computador para moldar a trama da realidade… enfim, cada desperto tem seus meios.

Voltando ao quarto bagunçado, quando Max se deu conta de que o apito estridente e a mensagem vinham de seu computador, não exitou, levantou de pronto da cama, puxou a cadeira e se sentou de frente para o PC. A primeira reação do jovem foi esfregar os olhos para ver se não estava delirando, depois bebeu um resto de bebida que tinha num copo em cima da mesa, em seguida acendeu um cigarro e por último começou a digitar.

A habilidade de Max com essas máquinas transcendia o comum, era como se o computador fosse parte do corpo dele, digitava rapidamente uma infinidade de códigos. Os primeiros códigos foram para identificar se o invasor estava no mundo virtual e tentava acessar os segredos dos dados de Max, ou se o invasor era alguém físico, que havia entrado sem permissão no prédio. Após verificar que ninguém havia tentado invadir pelo mundo virtual, Max digitou os códigos e acessou as câmeras do edifício. Ele começou a verificar câmera por câmera de trás para frente, um alívio preencheu seu peito quando percebeu que o seu andar ainda estava vazio, o 6° e o 5° também estavam, quando acessou as câmeras do 4° andar, seu coração brevemente aliviado começou a bater descompassadamente. Quatro homens vestidos com ternos pretos e portando armas de fogo subiam silenciosamente as escadas. Max parou e respirou, aproximou a imagem da câmera e o que ele constatou fez com que seu corpo ficasse dormente. Dois dos homens que subiam em direção ao quarto de Max possuíam olhos cintilantes e braços mecânicos. Max sem perceber soltou um grito. Era um grito de desespero misturado com raiva: -”Cyborgs, desgraçados…”- as palavras ecoaram pelo quarto, o que fez com que aquelas “pessoas” começassem a subir mais depressa. Max estava mexendo com coisa grande, aqueles cyborgs não estavam atrás dele por acaso. Lembra do grande projeto que ele sempre dizia que estava trabalhando? Max estava na verdade roubando dados dos tecnocratas e sabia que mais cedo ou mais tarde isso iria lhe afetar, esperava que fosse tarde, mas infelizmente foi cedo demais.

A urgência dos fatos fez com que Max agisse rapidamente. Puxou da gaveta da escrivaninha um HD, plugou no PC, digitou alguns códigos e iniciou a transferência de dados. Os códigos que Max criava não eram esses comuns, que hackers adormecidos costumam usar. Max era um desperto, e cada tecla que ele apertava daquele PC era um comando não só para máquina, mas também para os fios da trama da realidade que ele desejava alterar.

De dentro do  quarto já se ouvia o som dos passos dos homens subindo as escadas, isso era sinal que eles estavam mais perto. O PC continuava transferindo dados em uma super velocidade. Max se levantou, pegou uma mochila, colocou algumas roupas dentro, pegou também sua carteira com alguns documentos falsos, que ele mesmo tinha falsificado e tornou-se a olhar para o computador. Nesse momento as batidas na porta soaram como um sinal de desespero. Ele puxou o HD rapidamente do PC, os dados já tinham sido transferidos, digitou mais um código rápido. Do lado de  fora escutou: – “Vamos arrombar!”

Sobre a mesa do computador havia uns óculos, desses de realidade virtual, que os adormecidos usam para entretenimento. Max colocou os óculos e apertou o botão da lateral do equipamento, no mesmo momento em que as madeiras da porta do quarto estalaram com a forte pancada do arrombamento. Max sumiu! Não estava mais ali.

Os homens reviraram o quarto atrás do garoto, uma busca sem sucesso em meio àquela bagunça. Um deles, um cyborg, sentou no computador, do seu dedo saiu um dispositivo de conexão USB e conectou-se ao PC. Neste exato momento um clarão invadiu o quarto, uma explosão varreu homens, máquinas e a sujeira daquele lugar.

E onde estava Max afinal?

Em um quarto bagunçado, no sétimo andar, a dois quarteirões dali.


Escrito por: Bruno Quiossa
Revisão por: Douglas Quadros
Arte da Capa: Bruno Quiossa

Sou Bruno Quiossa, membro do Mestres de Masmorra, visite nosso canal no YouTube para ver mais conteudo a respeito e aproveite também para ver os outros manuscritos que temos aqui no site do Movimento RPG com varias temáticas interessantes clicando aqui.

Nos vemos pelas mesas da vida. Que rolem os dados.

Sangue e Glória #1 – Contos de Thul Zandull

Sangue e Glória – Parte 1

O mar estava bravio, mas todos a bordo já estavam acostumados com aquele cotidiano difícil. Os momentos de preparação de suprimentos, a organização das armas e a escolha dos mais aptos ao trabalho. Os contratos firmados em sua terra, Karzas, sempre eram os mais perigosos e os contratantes sempre buscavam os mais habilidosos mercenários para resolver situações que os exércitos ou forças regulares não podiam se envolver. Em outros momentos apenas um meio de evitar baixas significativas ou ainda para missões suicidas nos quais nenhum Humano poderia voltar.

Para todas as situações apenas Orcs poderiam resolver o problema, em troca é claro de quantidade suficiente de moedas de ouro.

A viagem até aquele continente maldito regido pelo Deus vigilante era rápida. Vinte dias entre sua terra a nordeste e o porto aberto pelos Virag, um protetorado descontente com as políticas do Império Argênteo, regido pelo Pontífice Autarca.

Muitos foram os inimigos criados nos últimos vinte anos e a guerra era custosa em vida e moedas. Os territórios suseranos não podiam mais arcar com taxas, impostos e as ações destrutivas regidas pela crença cega. Dorac não havia estudado formalmente, mas era astuto e entendia como as coisas funcionavam, como as pessoas governavam e como os acordos eram necessários. Seu povo tinha consigo a força da tradição, a fúria selvagem liberada em batalha. Mas após séculos de massacres, aprenderam a duras penas que negociar e barganhar eram armas mais poderosas que magia ou golpes de machado. Assim seu povo assentou-se aos pés de um vulcão adormecido, uma terra sem muitos atrativos para invasores, mas rica em terra fértil e de acesso tão difícil que grandes embarcações evitavam a mera aproximação.

Os Orcs de Karzas adquiriram habilidade marítima, sem negar seu treinamento físico e suas habilidades marciais, algo que naturalmente guiou-os ao trabalho como mercenários.

Virag, assim como outros protetorados se organizavam para rechaçar cidades portuárias imperiais, aquelas mais distantes e desprotegidas de forças regulares. Precisavam ser rápidos para aniquilar tal resistência, normalmente fanática, abrindo caminho para desembarques pesados e a construção de uma cabeça de praia para de fato flagelar o Império e forçar uma negociação, tendo em vista que não haveria forças para abertura de várias frentes de batalha.

Aos invasores não havia recursos para adentrar o continente, mas teriam o suficiente para forçar um acordo lucrativo. Era sempre um risco, mas a companhia de Dorac apenas queria fazer o serviço, saquear o que pudesse e retornar para casa. Tinha à disposição vinte valorosos guerreiros, dentre os quais, machos e fêmeas, ambos lutavam igualmente bem. Seu barco, construído com calado baixo poderia facilmente adentrar os rios com leito mais baixo e pegar a comunidade de Harlam de surpresa, com sorte, não haveria mensageiros para a viagem mais longa contornando as montanhas Dol-Agurad até a cidade de Basil, assim tomar a cidade seria facilitada com um ataque surpresa avassalador. 

Ao se aproximarem da costa seguindo o trajeto feito por Mira, sua imediata, sua parceira em combates já alguns anos, o capitão mantém-se atento aos pescadores ou viajantes, certo de que a noite trará o manto necessário para evitar o efeito planejado por todos que o acompanhavam.

Era sabido que os Orcs preferiam peles de animais e armaduras de couro, pois precisavam de sua mobilidade para garantir-lhes vantagem em combate, investiam seu bom minério em grandes escudos e armas de altíssima qualidade. As fêmeas de seu povo eram bem treinadas em combate corpo a corpo, mas somente a elas era dada a função de arqueiras, uma tradição difícil de ser quebrada, ainda mais por demandar desonra ao macho, por demonstrar covardia. A companhia de Dorac não acreditava nisso e várias vezes foram alvo de escaramuças em sua terra devido a desconfiança gerada por um grupo questionar as tradições. Isso pouco importava agora, machos e fêmeas estavam munidos de arcos longos e flechas de pontas afiadas de metal para garantir vantagem inicial e decisiva na invasão. 

Adentraram o sinuoso rio de leito baixo por dois quilômetros. Se aproximaram da margem, todos desembarcaram. Gorac ordenou aos Orcs que organizassem o acampamento e destacou dois batedores para observar as redondezas.

Dos vinte que estavam consigo, destacou três para cuidarem do acampamento que levantariam, afinal aquele não seria um ataque único, outros cinco barcos com grupos como o dele atacariam pequenas comunidades e depois se juntariam para o ataque na cidade de Basil. 

Após três horas, já em alta noite, Gorac aguardou as informações dos batedores antes de agir. Eles indicaram perímetro seguro e posição que sugeria uma viagem curta até a comunidade de Harlam, que não contava com mais de duzentos habitantes, algo que significava uma força regular de dois soldados treinados e uma milícia local composta por voluntários. Um alvo fácil para aquele grupo bem treinado. Assim, puseram-se em marcha protegidos pela escuridão, eram dezessete Orcs de pele esverdeada, machos e fêmeas com igual perícia mortal em armas. Gorac, como de costume, colocou seu elmo de chifres curvados, feito em metal enegrecido e ricamente adornado para os padrões de seu povo, um utensílio comum a capitães e líderes de ataque.

Ele também afiou sua grande espada de duas mãos, arma que manipulava com maestria e usada para abrir brechas nas defesas inimigas e segurar posições. O mercenário pensava consigo nas possibilidades de saques da cidade grande, a pequena Harlam seria apenas um aquecimento para a verdadeira glória que obteriam da grande cidade.

O ataque, como era de se esperar, foi um sucesso. Nenhuma baixa em seu grupo. Os Humanos foram pegos de surpresa e os dois vigias foram rapidamente abatidos a distância garantindo que o ataque principal a guarnição fosse massacrada. Os milicianos foram mortos ainda em suas camas e os dois soldados que despertaram tentaram em vão resistir, estavam despreparados, sem armadura e aturdidos pelo despertar inesperado. Após derrotar as defesas principais, começaram as invasões às casas e depois a pequenos comércios e o pequeno templo construído em um salão amplo. Homens adultos ainda tentaram resistir, mas após mortes trágicas de alguns corajosos, logo todos se renderam.

Os invasores ganharam pequenos cortes, arranhões e luxações, nada incomum dentro da carreira que seguiam. Para surpresa de todos, a comunidade, devido ao fluxo mais intenso de comércio dos últimos meses, tinha mais moedas e riquezas que o normal, infelizmente nenhum grande navio atracado, mas as barcaças que ali estavam tinham bons materiais. Tomaram cavalos e encheram todos com os espólios. Como houve rendição, todos os Orcs seguiram as normas passadas pelo capitão, não molestando mulheres, crianças e anciões. Já os homens adultos que se renderam, acabaram sendo decapitados. O misto de medo e respeito era algo necessário. 

Enquanto todos reuniam as riquezas obtidas, Mira veio até seu líder e explicou que haviam achado algo intrigante. Cerca de vinte Kobolds chegaram à cidade e foram presos, seus bens tomados pelos Humanos e metade executada nos últimos dias, em uma cerimônia solene de expurgo praticada pela Fé daquele povo. O ancião entre eles disse que tentavam buscar ajuda para uma invasão de criaturas terríveis que ceifou sua cidade, matando vários de sua raça. Segundo o relato, eles tinham aberto uma grande mina, mas antes que pudessem aproveitar as riquezas, aranhas gigantes se abateram sobre eles. Poucos fugiram. Desesperados tentaram comprar apoio, mas foram subjugados e presos. 

Ouvindo aquilo, Gorac percebeu a riqueza de detalhes, libertou os pequenos, mas em troca pediu que um mapa fosse feito. Indagou como eles escoavam o que obtinham e como conseguiram se organizar. O ancião deles então explicou que de tempos em tempos, encontravam-se com mercadores Virag, em uma praia deserta, fazendo acordos. Evitavam os imperiais, mas devido a situação desesperadora pensaram que talvez tivessem ajuda. 

Aquela história despertava no capitão e nos mais próximos uma sensação que os Virag não tinham como meta principal a cidade de Basil, mas sim as riquezas dessa tal mina dos pequenos, ou melhor, ambos. Se a história fosse verdadeira eles teriam controle de uma região com grandes riquezas, podendo manter hostes de mercenários que garantiriam o tempo necessário a qualquer negociação, que por sinal poderia ser bem arrastada. Em posse dessa informação os Orcs se reuniram e discutiram brevemente, os Kobolds deveriam ficar sob guarda daquele grupo, eram poucos e poderiam trabalhar, o ancião de nome Shivar, seria útil, para revelar segredos e guiá-los e finalmente, nem precisariam se esforçar no ataque a cidade, garantindo mais riquezas por esforços menores.

Havia muitas possibilidades, mas Gorac sabia que não poderiam ser gananciosos, tinham uma força pequena e quebrar acordos com os Virag não estava nos planos, era necessário ter aliados futuros e oferecer uma mina como aquela a seus contratadores daria aquele grupo grande prestígio e renome, além é claro de sua parcela obtida de maneira justa pelos serviços.

Mira se encarregou de desenrolar a situação com os Kobolds, que por sinal se mostraram bem receptivos diante de seus libertadores, não tinham mais nada, sem família, sem oportunidades. Aqueles Orcs ofereciam trabalho, comida e proteção. O ancião Shivar concordou em revelar os segredos com a promessa feita pelos presentes que seus irmãos seriam vingados com as entranhas das aranhas malditas. 

Gorac via a sua frente bons ventos e seu nome logo seria conhecido e temido.

Continua…

 


Sangue e Glória – Parte 1 – Contos de Thul Zandull

Autor: Thul Zandull;
Revisor: Isabel Comarella;
Artista da Capa: Douglas Quadros.

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Um Guerreiro de Honra – Final – Contos de Thul Zandull

Um Guerreiro de Honra – Final

Gadrak, Kine, Baas, Ogwe e Gbada finalmente estavam caminhando nas trilhas rochosas de sua amada terra. Havia ansiedade entre eles, principalmente com os momentos transcorridos um dia atrás. Suas vidas foram atravessadas por tantos eventos em tão pouco tempo que a mente de cada um tinha dificuldades em decifrar, como uma ação após a outra houvera colocado um pequeno grupo de caçadores como os principais heróis para um povoado goblin nas montanhas. Eles agora estavam armados, com espada e adagas de bom material, tinham armaduras de couro com pequenas placas e malhas espalhadas em pontos vitais, tinham escudo de quitina reforçada e enfim um poderoso item mágico que daria a eles a força necessária para expurgar invasores. Eram tantas bênçãos dadas pelos ancestrais que apenas faltava um último elemento aquele honrado grupo, agradecer e se preparar para caçada final em um local sagrado, um local no qual os antepassados ouvirão seus sussurros e os inundarão com a habilidade e coragem necessárias. 

Assim fizeram e mais uma vez estavam na caverna de Três Cortes, caminhando em local solene, ouvindo o gotejar distante propagado no ambiente, vendo os brilhos dourados comuns naquele templo natural, antigo e sagrado. As paredes acidentadas e cheias de fissuras logo se estreitaram e enfim revelavam a perfeita estátua do grande senhor daquelas montanhas, o Pai de todo clã. Gadrak foi o primeiro a se ajoelhar, seguido dos demais que fizeram uma linha, junto uns dos outros para agradecer e para pedir pelo companheiro caído, pediam forças para rastrear e caçar a ameaça ao povo que apenas queria viver ali. O poder da crença imbuia a mente dos presentes, fazendo com que as percepções fossem totalmente nubladas, fato que impediu qualquer um de notar a aproximação de uma ameaça. Logo, eles notaram que suas preces foram atendidas rápido demais. 

Gbada foi o primeiro que notou algo estranho, ao se virar percebeu que no ponto máximo de estrangulamento da caverna havia uma figura feminina reluzente com couraça de metal completa, um grande escudo com um brasão de um olho coroado e uma espada afiada gritando desafio e morte. Logo atrás, em posição levemente acima, protegido pela guerreira, estava um homem com leve armadura de material similar a deles, mas portando uma arma pesada no qual se projetava uma seta de madeira maciça com ponta de metal. A reação de Gbada diante daquilo foi gritar a todos, ao passo que todo grupo foi igualmente surpreendido com a situação.

Gadrak ordenou que todos se posicionassem para o ataque, mas antes que pudesse reagir ouviu o barulho produzido pelo zunido violento da arma usada pelo homem que estava à retaguarda da guerreira. A seta cortou rapidamente o ar parando no ombro de Ogwe, que caiu com aquele forte impacto. A armadura usada por ele não foi suficiente para amortecer o impacto do disparo de curta distância. A guerreira gritou, chamando-os à luta e Gadrak e os demais arremessaram azagaias. O homem esguio se abaixou usando pedras como cobertura, enquanto a guerreira facilmente aparou os arremessos. Seu escudo estava intacto, mas ela manteve a posição. O líder dos goblins percebeu a astúcia de sua oponente, ela evitaria ser flanqueada pelo número maior dos seus, usaria sua proteção pesada para segurar os ataques e então rechaça-los. Sua esperança residia no item que tinha consigo. Pegou rapidamente a esfera enquanto os demais buscavam cobertura. Ao apanhar a esfera, notou que o esguio atirador também recarregou a sua arma. Ogwe estava acordado, mas não podia mais se proteger levantando o escudo, Gbada ficou em área aberta para tentar dar cobertura ao companheiro de luta.

O líder novamente fez o gesto erguendo a esfera e gritando aos demais. Seu clamor encheu os corações dos goblins concedendo coragem, confiança e habilidade para uma carga violenta. Baas e Kine estavam à frente já com lâminas em posição, enquanto Ogwe e Gbada também saíram de suas posições de defesa para um ataque violento, portando as azagaias. Dessa vez sentiram que a força concedida seria suficiente para atravessar o metal maldito daquela guerreira amaldiçoada. Gadrak vinha logo atrás com espada de lâmina curta e a esfera levantada acima de sua cabeça.

A guerreira preparou seu corpo para o impacto e posicionou o grande escudo. Logo, houve o choque e o tinir de lâmina contra a parede de metal, também o zunido das azagaias, que dessa vez amassaram as bordas onde se quebraram. 

Gadrak teve esperanças e em breve romperiam a proteção!

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Jasmine estava aflita, pensou que o ataque surpresa e a posição seriam suficientes para acabar com aqueles vermes que conspurcavam a terra com seus hábitos bárbaros, porém eles possuíam um item mágico, as malditas criaturas tinham obtido algum poder provavelmente em uma barganha de sangue. Sua fé estava ameaçada por aquele ato blasfemo, precisava aguentar a provação se quisesse ser uma Exarca. 

A carga pesada dos goblins demonstrava que estavam em uma fúria bestial, porém segurou firme já se preparando para estocar o oponente que estava a sua frente. Sua lâmina longa das fundições de mestre Zalrin, investiram contra a proteção tosca das criaturas, a ponta da espada encontrou breve resistência em aglomerado de placas e malha de baixa qualidade, elas logo se partiram na pressão colocada por Jasmin, naquele golpe, o couro que ainda protegia o goblin, se rompeu e a lâmina cortou a carne e órgãos, entrando rapidamente e profundamente naquele pequena besta de pele esverdeada. 

A guerreira ouviu o grito daquele que parecia ser o líder. Após concluir seu golpe e rapidamente puxar a lâmina de volta, para sua surpresa as cordas de entidades profanas ainda mantinham aquela patética criatura em pé. Ela percebia a determinação naqueles olhos, determinação maligna e perigosa. Num misto de assombro e descrença momentânea, sentiu um impacto em sua coxa esquerda, o outro ser de olhos brilhantes havia golpeado com tanta força sua perna, que a placa da coxa quase rompeu, sentia dor no local. Ao mesmo tempo, duas azagaias novamente vieram em sua direção. Conseguiu levantar o escudo para um dos golpes, mas o seguinte passou, chocando-se em seu peitoral, a madeira não penetrou mas se partiu e os estilhaços se espalharam atravessando elos da malha na parte interna da armadura que protegia seus braços.

Logo a guerreira percebeu que não podia subestimar as criaturas, gritou um comando para William quebrar os ataques à distância dos oponentes, no mesmo momento que o escudeiro já se preparava para novo golpe.

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Gadrak, sentia os pulmões quase explodirem ao gritar percebendo o ferimento mortal recebido por Baas. Seus companheiros mantinham a coragem e força sobrenaturais e o líder teve uma esperança ao perceber que uma azagaia rompera aquela proteção e que Kine finalmente fizera aquela usurpadora sentir dor. Baas ainda estava de pé, mas a magia que o mantinha não seria suficiente, Gadrak se movimentou tentando aproximar-se para ajudar seu companheiro de caça e amigo, mas o humano com arma pesada fez novo disparo. A seta de ponta brilhante acertou novamente Ogwe, porém um golpe certeiro no meio do peito. O jovem goblin tombou para trás sem esboçar dor, sem gritar, sem gesticular, percebeu naqueles olhos apenas a gratidão por tombar ali, naquele local sagrado, com os olhos atentos e o orgulho dos ancestrais. Gbada ao ver a cena, puxou a adaga que tinha recebido e se preparou para o combate próximo, seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas também não esboçou sons, estava orgulhoso e queria que os demais companheiros também observassem sua glória em combate.

Baas vacilou com a dor e pensou que não poderia lutar, sua vida estava se esvaindo rápido. Viu Gadrak e Gbada chegando, enquanto Kine estava ali firme. Não hesitou, se agarrou nas bordas do escudo, tentando com suas últimas forças arrancá-lo, ao fazer isso abriu toda sua guarda e se desvencilhou de arma e escudo. Estava firme em seus pensamentos e orações diante daquele esforço final, fechou os olhos e sentia novas estocadas em seu corpo enquanto colocava sua força de vontade acima de tudo. Finalmente sentiu o escudo da guerreira soltar-se e num último suspiro arremessou-o para longe. Ao abrir os olhos viu a lâmina diante dele e tudo escureceu.

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Jasmine estava pasmada com a criatura que mesmo moribunda conseguia segurar seu escudo, ela havia cortado e estocado aquela maldita besta, mas ela não desistia. Novamente recebeu golpes no flanco esquerdo. Não conseguia aparar e posicionar o escudo sendo agarrada ferozmente. Suas placas resistiram aos golpes da espada de baixa qualidade do goblin de olhos brilhantes, porém mais deles se aproximavam. 

Willian preparava a besta novamente e ao ver isso Jasmine respirou fundo e em um breve vacilo, teve finalmente seu escudo arrancado e arremessado, furiosa ela cravou sua espada na cabeça da criatura enquanto usou sua pesada manopla esquerda para esmurrar a cara do goblin que tentava vencer a resistência de sua armadura. Com a violência do soco, o goblin cambaleou e foi segurado pelo arremessador de azagaias. Jasmine viu que o líder portador do item mágico estava perto e tentou acertá-lo, porém era ágil e evitou dois golpes. A guerreira saiu de sua posição, agora tomada de ódio por aqueles frágeis e dementes adoradores de figuras sombrias que se opunham contra a força de sua Fé.

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Kine sentia dor terrível, seu nariz e outros ossos se quebraram naquele soco, foi segurado por Gbada. Ambos viram a guerreira avançar furiosa em direção a Gadrak, havia oportunidade para golpear o atirador. Assim fizeram, avançando sobre ele. O esguio humano viu a ameaça chegar e não havia tempo para mirar, foi então que quase a distância de meio metro disparou. A última seta disparada foi certeira e atingiu Gbada no pescoço. Mesmo ferido e movido pelo calor do momento saltou e cravou sua adaga no olho do seu algoz, enquanto Kine fez com que a lâmina curta entrasse firme entre as costelas do oponente. 

Kine viu Gbada em pé, firme após o golpe, trocaram olhares, Gbada acenou com a cabeça e sentou-se ao lado do humano inerte, com a respiração gorgolejante. Kine entendeu e correu para ajudar seu líder. Mais um jovem goblin se despedia, mas sem desespero, apenas a convicção de vitória acalentava aquele fechar de olhos.

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Jasmine avançava lentamente e golpeava repetidamente fazendo movimentos variados sempre evitados pelo líder, a esfera brilhava e algumas vezes percebia que aquele maldito item de alguma maneira conseguia segurá-la tempo suficiente para que seu inimigo se esquivasse. Mesmo em luta próxima Jasmine viu Willian entregar sua vida, se encarregando de mais um goblin. Aquele jovem escudeiro teria sua história de bravura contada. 

Ela sabia que logo seriam dois contra ela, sem escudo e sem posição de vantagem, poderia ser pega facilmente e as placas não a salvariam. Foi então que ela respirou fundo, novamente concentrando-se na Fé Diáfana. Por um momento houve silêncio e seu golpe foi preciso. 

Jasmine não tentou vencer com um golpe mortal, mas sim extirpou a luz maldita daquele goblin, decepando sua mão junto do item que era segurado. O goblin imediatamente caiu de joelhos com a dor tentando agarrar o toco, onde antes havia esperança profana.

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Kine se preparava para flanquear a guerreira quando viu a mão de Gadrak sendo arremessada junto da esfera para perto da estátua, sentiu pavor, sentiu medo, mas todos tinham entregado suas vidas. Não poderia ele hesitar nesta carga, neste ataque, nesta última luta. 

Correu em direção a invasora, que tentou golpeá-lo, Kine fez um movimento com o corpo, fazendo com que sua breve corrida e movimento atribuíssem ao golpe mais força que o normal. Finalmente a armadura não resistiu ao impacto e a lâmina curta cravou na perna, de maneira tão violenta que a espada partiu ao tentar ser retirada. 

A guerreira urrou de dor e antes de focar sua ira teve tempo de chutar o peito de Gadrak que caiu. Agora Kine viu que tinha toda atenção dela, começou a recuar após o golpe e teve rápida agilidade ao pegar a espada de Baas no chão. 

Aquela mulher avançava com dificuldade. Com as mãos retirou o resto de lâmina da perna, mesmo mancando continuou o movimento. Kine estava ofegante, o ímpeto mágico passou e agora sentia seus músculos reclamarem diante da tensão do momento. O goblin foi o primeiro a golpear, porém sem sucesso. A invasora aparava os golpes com habilidade e a cada brecha tentava desferir um soco ou um chute.

Mesmo em luta, Kine viu que cambaleante, Gadrak tentava recuperar a esfera mágica. Pensou que havia esperança enquanto resistisse.

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Jasmine odiava aquela raça imunda. Seu corpo sofria com as agressões recebidas, mas ela estava perto de vencer. O goblin a sua frente era valente e resistia, mas seu treinamento em armas era inferior, ela apenas precisava manter aquela dança mortal, até ele demonstrar um vacilo, que logo veio a ocorrer. Um golpe mal executado permitiu que Jasmine movimentasse seu corpo de maneira que sua perna pudesse se colocar à frente do goblin, que caiu no encontro de ambos os corpos. Sua arma escapou das mãos e agora estava ali caído.

Jasmine soltou brevemente a arma se ajoelhando perto da criatura. Iria golpeá-la com as manoplas. Ao ser virado o goblin, ainda sacou rapidamente uma faca feita em marfim, que apenas arranhou seu peitoral. Soco após soco a futura Exarca extraia aquele brilho profano dos olhos da criatura. Sangue e glória em sua luta de fé chegavam ao ápice à medida que a templária continuava a se banhar com o que restava da cabeça do goblin que ousou ferir seu corpo imaculado. 

Restava apenas um. Ao olhar para trás viu que o líder se arrastava até a estátua, símbolo de uma crença maldita que logo seria erradicada.

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Gadrak se arrastava, sofrendo com as dores. O chute devia ter quebrado costelas, sua mão decepada se esvai em sangue. Viu Kine morrer, suas lágrimas corriam à medida que sua cabeça via os corpos de todos os seus companheiros. Sua astúcia, os ancestrais, sua crença estavam perto do fim. Pensou em toda sua vida, chegando até aquele momento, todo esforço para se prepararem, sua família, seu clã. Não era justo o que estava acontecendo, ele sabia que os encontros, o item encontrado, sua convicção na causa justa de sua luta seriam de alguma maneira recompensadas. A guerreira vinha lentamente em sua direção, após pegar sua espada. Chegou até a esfera e recuperou-a. Estava aos pés da estátua. Sonhava com o dia que talvez pudesse ser como seu antepassado, se lembrou do nome sagrado daquele que inspirou seu rito de nomeação, Garlak, Três Cortes. Queria honrar a todos, estava ali disposto a se entregar para proteger seu povo, mas como poderia…

A algoz estava perto, Gadrak olhou para esfera e viu a mesma brilhar. Ele estava determinado em ser um guerreiro e um líder honrado dando sua vida pelos demais, manteve esse pensamento firme enquanto segurava a esfera, que brilhava com muita força. O líquido se expandia, quando Gadrak, sentiu a lâmina entrar em seu peito. Continuou olhando enquanto seu corpo perdia a força, continuou olhando quando a esfera caiu de sua mão, continuou olhando e ignorando o segundo golpe, o terceiro…. continuou olhando quando misteriosamente a esfera se partiu aos pés da estátua. Continuou olhando enquanto as lágrimas escorriam…..continou….cont….

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Jasmine olhava a cena ofegante. A ferida na perna era um incômodo verdadeiro, seu corpo e sua Fé foram vitoriosos. Sentiu tristeza ao ver o líquido prateado aos pés da estátua, o objeto de poder foi quebrado antes que pudesse ser estudado pelos membros de sua Ordem. Precisava deixar aquele local logo.

Enquanto regozijava-se pela vitória, já em posição de oração, viu que uma luz se espalhou a partir do líquido se espalhando por toda estátua. O brilho ficou cada vez mais intenso, quando Jasmine sentiu seu corpo novamente se preparar para a luta. Recuperou o escudo e ficou em posição. 

Jasmine percebeu o líquido correr pelo corpo da estátua enquanto a pedra tornava-se casca quebradiça que aos pouco caia, pedaço a pedaço até que todo corpo do herói Garlak, Três Cortes estivesse de novo intacto. 

Assustada com a cena, contemplou aquela figura maldita. Tinha uma armadura de couro rígida ricamente adornada, com proteções espalhadas pelo corpo. Havia inscrições em um material brilhante espalhadas na proteção usada por aquele goblin, ele tinha uma aparência resoluta e solene olhando seus iguais, de alguma maneira Jasmine sabia que ele de fato conhecia o que ocorrera ali momentos antes. Garlak se ajoelhou diante daquele corpo caído a seus pés e ela pôde ouvir um “…Obrigado irmão, eu continuo daqui seu legado…”.

Garlak sacou duas adagas de lâminas levemente curvas e esguias, eram feitas de um mineral perfeitamente polido de cor vermelha com inscrições rúnicas brilhantes. Aquele goblin tinha um tom de pele verde bem escura e logo começou a se mover na direção de Jasmine.

A guerreira estava assustada com a nítida arma mágica que colocaria a prova suas defesas e Fé. O goblin investiu, a templária levantou seu escudo se preparando para responder aos golpes, mas quando deu por si, notou que o pequeno havia escorregado por seu flanco vulnerável esquerdo, evitando o escudo e desferindo um corte preciso na parte de trás de sua perna, na junta. Sua placa foi facilmente rompida e os músculos e tendões afetados.

Jasmine tentou retaliar, mas aquela besta maldita era rápida, evitando o golpe e se recuperando deste escorregão lateral com um movimento acrobático impossível.

Garlak viu que a guerreira tentava inútilmente mover-se, mas aquele corte foi preciso. Já sem movimento Jasmine tentava ficar firme quando o goblin arremessou sua adaga e correu em seguida. A adaga deixou um rastro vermelho e cravou no escudo, enquanto ele corria. A mulher se preparou com a espada, mas os sons foram cortados por um estalido, um som feito pela boca do goblin. A lâmina da adaga respondeu, saindo do escudo com movimento tão brusco que abriu a guarda no momento decisivo. Garlak evitou a espada longa, passou o primeiro corte na base da garganta o segundo no seio direito no exato momento em que a arma voltou a sua mão num piscar de olhos e finalmente o terceiro golpe com um movimento rápido de vai e vem na qual o corte da base do pescoço se transformou em uma perfuração completa na lateral do mesmo local.

Jasmine tombou para trás enquanto Garlak puxava as lembranças de seu período petrificado, sua consciência magicamente trazia lembranças de décadas. Havia muito a fazer, mas antes precisava dar um funeral digno a todos que se sacrificavam por seu grande povo. 

Se lembraria de todos os nomes, mas especialmente de Gadrak, que oferecerá sua vida de bom grado na esperança de um futuro melhor aos goblins daquelas montanhas.

Ele honraria esse desejo, o Herói de outrora retornou!

Fim?


Um guerreiro de honra – Parte IX

Autor: Thul Zandull
Revisor: Isabel Comarella
Artista da Capa: Douglas Quadros

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