Conheça a Iniciativa – Brasil de Heróis #01

Um mundo diferente…

Que tal um cenário de super-heróis diferente dos outros? Um cenário onde superpoderes podem ser aprendidos, onde as lendas são reais e onde o mundo segue a mesma linha do tempo que a do nosso? Um cenário com mais de três anos de atividade, contando com a participação de centenas de pessoas que desenvolvem, além de material de rpg, também ilustrações, mangá, animações e dublagens? Pois este cenário existe. Boas-vindas ao Brasil de Heróis!

Olá pessoal! Eu sou Victor Gaigaia, autor e diretor do Brasil de Heróis – ou, como gostamos de chamar, o BrH. Hoje eu irei apresentar para vocês este cenário único mostrando 4 pontos que o diferenciam de todos os outros! Então, vamos começar?

 

Primeiro Ponto – Todos os humanos podem aprender superpoderes!

Há uma diferença crucial nos humanos que moram em Terram – o planeta do BrH. Diferente de nós, terráqueos, os terranqueos possuem uma capacidade natural chamada de arete (que você pode ler no original grego como ‘areté’ ou na pronúncia mais brasileira mesmo de ‘aréte’). Através da arete, os tarranqueos são capazes de gerar uma energia especial, o Fisioplasma, que, com treinamento, estudo e desenvolvimento, pode ser manipulado para feitos incríveis – os superpoderes.

O arete e a geração de fisioplasma são uma coisa comum para todos os terranqueos. Até bebês, em seus primeiros meses de vida, já começam a produzir suas primeiras ‘ondas de energia’, e vocês podem imaginar quão difícil não é cuidar de um bebê em Terram! Porém, assim como nós precisamos treinar e estudar para melhorar nossas habilidades, os terranqueos também fazem isso com os poderes.

A ciência que estuda a arete e fisioplasma se chama Aretística. Através dela, os aretólogos, cientistas especializados em aretística, conseguiram desenvolver diversas rotinas e programas de treinamento, que são tanto físicos quanto mentais. Os poderes mais simples ou de menor força são fáceis de se conseguir. Por exemplo: num fim de semana molenga você poderia rapidamente aprender a entortar colheres ou levitar pequenos objetos!

Porém, os poderes complexos ou efeitos grandiosos só são alcançados com muito esforço e dedicação. Caso você se dedique intensamente em treinar seus poderes até chegar num nível de arconte –  o nível profissional – então você poderá trabalhar exclusivamente usando seus poderes. Isto é: você pode ser um herói!

Exato! No Brasil de Heróis a profissão de herói é a das pessoas que se especializaram no uso de seus poderes em grande escala. Isso engloba desde os heróis técnicos, focados em áreas muito específicas, até os defensores, que são os heróis combatentes que auxiliam no trabalho de policiais, bombeiros e militares.

É um caminho longo e árduo para se tornar um herói. Muitos vão para colégios heroicos, iniciando uma jornada de treino desde o ensino fundamental. Daí, passam pelos cursinhos heroicos, vão para universidades heroicas, tendo que fazer diversos testes até ganharem suas certificações. É dito constantemente que este é um trabalho ingrato, com alta taxa de mortalidade, pagamento ruim e muitos gastos…mesmo assim, todos querem ser heróis como nas lendas antigas. E falando em lendas…

 

Segundo Ponto – Lendas são reais e realistas!

Sabe as lendas e mitologias que povoam o imaginário humano? Então, em Terram, elas são reais. Os panteões divinos de fato existiram. Se caminhasse pela Grécia no passado, poderia acabar testemunhando algum feito de Hércules e Aquiles, ou visto em primeira mão a fúria de Poseidon ou Zeus. Isso porque estas figuras antigas não eram realmente ‘deuses’, mas sim pessoas com imenso poder ao ponto que eram consideradas como ‘deuses’.

Igualmente, criaturas fantásticas também existiram e ainda existem. Chamadas de Criptídeos, elas nada mais são do que animais com ‘superpoderes’. Os criptídeos mais comuns são os animais atrozes – maiores e mais fortes que os normais, ou com algum tipo de super capacidade. Porém, existem também as mitoferas, que são as criaturas de nossas lendas terráqueas como dragões, unicórnios, e até seres de nosso folclore como boitatás, mulas-sem-cabeça, corpo-seco, cabra cabriola e tantos mais! Só que em Terram, essas lendas são verdadeiras, e existem ainda nos dias de hoje, até mesmo nos zoológicos!

Do mesmo modo que criptídeos, podemos ver também a manifestação viva do clima em elementais. Ventanias muito fortes, chuvas ou mesmo incêndios podem gerar uma versão ‘super’ de si, que necessitam da intervenção de heróis para serem detidos. Quando algum desastre ecológico surge, esses elementais são distorcidos em poluiçais, com lama tóxica viva e nuvens de chuva-ácida!

E os povos mitológicos – fadas, anões, iaras, sereias, ogros – também são realidade dentro do BrH. Na modernidade, esses povos são chamados de Alomorfos, e são pessoas cujos poderes alteram permanentemente sua aparência e forma corporal. Por conta disso, alomorfos costumam sofrer preconceito, sendo tachados de ‘inumanos’ ou ‘semi-humanos’ quando, de fato, não existe diferença genética entre alomorfos e isomorfos (isto é, as ‘pessoas normais’). Mesmo assim, muitos grupos levantam bandeiras contra alomorfos, algo que reflete bastante problemas de nosso mundo real. Isso nos leva ao próximo ponto… 

 

Terceiro Ponto – O Brasil de Heróis é um super reflexo do nosso mundo!

O cenário e o mundo do BrH existe para ser uma forma de repensarmos o nosso mundo real a partir da metáfora dos super heróis. É um mundo com heroísmo, mas também vilania. Onde pessoas são capazes de grandes feitos, mas também onde os problemas são em grande escala. E tudo isso ocorre em consonância com a nossa realidade.

Tudo que acontece na Terra também acontece em Terram. Os desastres ecológicos de 2019 que afetaram o Brasil – Brumadinho, as queimadas na Amazônia, as manchas de óleo em nosso litoral – tudo isso ocorreu em Terram também. E do mesmo modo que vemos o mundo afetado pela pandemia do coronavírus, em Terram esta mesma pandemia assola a civilização humana.

A diferença é que existe um ‘super filtro’ em todos os acontecimentos. Incêndios podem gerar perigosos elementais de fogo. Manchas de óleo podem criar gigantescos poluiçais capazes de destruir navios. E o coronavírus, além do seu efeito insidioso e invisível, também gera terríveis espectros, capazes de drenar a energia vital mesmo dos heróis mais poderosos do mundo.

E este reflexo não é restrito a problemas ambientais. Todas as pessoas de nosso mundo existem no BrH – figuras políticas, atores, empresários, policiais, médicos… até mesmo você! Todos existem em uma versão dentro do BrH. Por essa razão, o BrH se torna uma plataforma onde podemos analisar e pensar nosso mundo, além de criar histórias que se respaldam em problemas reais e em pessoas reais. E o melhor disso tudo é que VOCÊ também pode fazer parte do Brasil de Heróis.

 

Quarto Ponto – Somos uma iniciativa aberta e colaborativa!

A iniciativa Brasil de Heróis já existe há mais de três anos, sendo um grupo aberto onde qualquer pessoa pode participar. Atualmente há mais de cem pessoas envolvidas, não apenas jogando, mas também participando de diversos projetos. Dentre eles, temos jogos eletrônicos, dublagens, mangá, músicas, animações, livros e adaptações para vários sistemas de rpg (como Mutantes e Malfeitores, d20 e 3d&t).  E você pode participar desse mundo! Seja criando seu personagem e jogando, seja como uma artista e desenvolvedor, entrando em um dos grupos de projeto.


Nos próximos episódios

Aqui terminamos o post mas não se preocupe, é apenas o começo! Continuaremos trazendo bastante material do BrH, abordando os diferentes poderes do mundo, a sociedade heróica, a organização de vilões, o bestiário de criptídeos e elementais, além das centenas de personagens que foram criados nesses mais de três anos! Também traremos novidades, adaptações do BrH para diversos sistemas e muito mais!

Neste meio tempo, venha participar de nossas comunidades. Nosso discord serve de base de operações e tem quase 2 mil pessoas! Temos também diversas redes sociais onde postamos nossas atualizações, podem ver a lista abaixo!


Links do Brasil de Heróis:

– Discord do Projeto
– Canal no Youtube
– Grupo do Whatsapp
– TikTok
– Instagram
– Twitter
– Canal do Facebook
– Arte da Capa por: @panetonyshow

Três heróis da agência Magnólia, da esquerda pra direita: Coruja de Concreto, Monstrão e Coelínea. Arte por: @beatrews

Até a próxima e Excelsior!

Obscuras Travessuras #2 – Floripa By Night

Saudações criatura noturnas!

Olá senhoras e senhores leitores(as) da Liga das Trevas! No último post de Obscuras Travessuras, acompanhamos a complicada situação de Willian e da sua Camarilla ao iniciar a noite com o sequestro de Felipe, que de alguma forma é ligado aos lobisomens. Essa situação coloca a Torre de Marfim em cheque diante do Sabá, os sequestradores, e dos Garou, temíveis e fiéis a pactos. Nosso grupo de neófitos ficou encarregado de negociar a troca com o Sabá, vejamos o que fizeram.

Obscuras Travessuras II – Quem mandou?

Enquanto se preparavam para fazer as trocas, os neófitos  receberam de Willian apenas uma recomendação: “Se do jeito que for, o objetivo é regatar o rapaz, afinal de contas,  Felipe é filho de Augusto, o ancião garou que domina parte de Ilha.” Mesmo sem saber muito sobre essas lobisomens, já entendiam que frente a sua ira a fuga é a sua única chance de sobreviver. Garous possuem força sobre-humana naturalmente, e isso só se torna mais terrível quando ele se transformam em sua forma híbrida.

Felipe ainda era jovem, morava no centro com sua mãe e, pelo que parecia, ainda não tinha despertado sua ancestralidade. Porém, esse detalhe era desconhecido aos néofitos envolvidos no resgate. Os mais temerosos ou apegados a miséria de sua não-vida, temiam fazer o resgate. O motivo não era a possibilidade de precisar enfrentar membros do Sabá, mas a possibilidade de irritar um lobisomem jovem e não sobreviver.

Anthony, tomou a iniciativa e reuniu o grupo. Fez uma chamada para o número de Diego, o membro do Sabá que trataria a troca, deixando-a em viva-voz. Marcaram o encontro na entrada das Docas. Anthony percebeu uma postura um pouco evasiva e passiva no tom de voz de Diego. Estranhou o fato, pois o modus operandi do Sabá é mais agressivo e combativo. Desconfiado, advertiu o grupo e logo partiram para o encontro.

Os neófitos, Anthony, Juliano, Breno e Johann, encaminharam-se para o depósito em que eles entregariam algo que os membros do Sabá precisavam resgatar. Assim que os membros do Sabá estivessem em posse do objeto eles deveriam entrar em contato com Diego que se dirigiria para o lugar onde o rapaz seria entregue.

A noite era de muita neblina e pouco vento, de modo que a iluminação fraca das docas fazia que o ambiente ficasse nebuloso e silencioso. Assim como combinaram, Diego não veio, mas vieram quatro enviados do Sabá. O clima entre os grupos era tenso, parecia que uma troca de tiros e golpes poderia ocorrer a qualquer hora. Entre os do Sabá, parecia que Mônica era quem gozava de mais prestígio e razoabilidade entre eles.

Uma discussão em frente a porta do depósito ao qual precisavam entrar, quase iniciou uma briga. Mônica acalmou os ânimos dos seus colegas. Roger, extravasou sua raiva dando um soco numa porta metálica, na qual ficou impresso seu punho em meio ao amassado. Ameaçou esmagar a cabeça de um dos neófitos assim como ele esmagou a tranca da porta do depósito ao qual precisavam entrar, caso a troca não ocorresse bem.

Foram até o lugar indicado, pegaram o referido pacote em um cofre escondido numa parede falsa do escritório. Um caixote comprido de aproximadamente um metro de comprimento, uns 15cm de altura e 25cm largura, revestido de couro com dois feixes metálicas. Juliano, assumiu para si o pacote, e afirmou que somente entregaria mediante a troca com o rapaz sequestrado.

Era hora de renegociar. Afinal eles estavam entregando o que lhes era solicitado, mas estavam sem garantias de que receberiam o que pediram. A lógica era simples, mas o desconforto foi bastante grande. Em uma ligação para o Diego, firmaram como posto de troca para o “toma lá, dá cá” a roda gigante que estava na Beira Mar Norte. Era um lugar aberto, visível e movimentado, mas agindo da maneira certa, poderiam conseguir trocar sem grandes problemas. Antony e Juliano ficariam responsáveis por trocar com os dois capangas de Diego que estavam servindo de guarda-costas de Felipe.

Os demais membros do Sabá estavam livres, e mesmo que os ânimos incitassem uma briga e um extermínio ao inimigo, a gravidade da missão foi mais urgente. Por isso, Juliano e Anthony foram para o ponto de troca e Breno e Johann, também foram, mas escondidos para proteger a retaguarda.

Porém, antes de seguirem seus rumos, uma notícia os deixou desconfiados. Lillian e Viktor conseguiram informações de que Mons. Luke e o arcebispo não estavam em Florianópolis há quase um mês. Tinham registro de passaporte com viagem para França e conseguiram rastrear a localização deles lá. Além disso, a análise da caligrafia em contraste com outros escritos que tinham registros, mostrou sinais de diferença. A orientação que receberam do Xerife e do Príncipe a partir dessas informações foi: foquem no resgate do rapaz.

O príncipe enviou no aplicativo de comunicação próprio da Torre de Marfim desenvolvido com acesso apenas entre os membros dessa Camarilla. “No momento não importa quem mandou, o que importa é que o rapaz seja entregue aos lupinos antes de amanhecer. Quem mandou, quem enganou a nós, quem armou tudo isso fica pra depois. Sem entregar o rapaz ao pai dele, não teremos um depois.”

 

Continua…

Espero que estejam curtindo a trama e o desenvolvimento da Crônica. É um tanto difícil transformar partidas de jogo em crônicas, mas espero que a leitura seja satisfatória.

Talvez alguns termos específicos do sistema do Word of Darkness possa parecer confuso para quem não tem contato com esse RPG. Por isso, acompanhe todos os posts da Liga das Trevas e fique por dentro de tudo. Aprenda o sistema, a rica história do cenário, as características que estão por trás da nossa crônica e das partidas que estamos jogando.

Jogue também!

Um Guerreiro de Honra #6 – Contos de Thul Zandull

Um Guerreiro de Honra – Parte VI

 

O grupo estava determinado e iniciaram sua jornada rumo a destruição causada pelas aranhas. Havia ansiedade nas possibilidades do que encontrariam na morada dos escamosos. Se eles, em maior número, não conseguiram salvar sua fortaleza, o que cinco goblins poderiam oferecer de ameaça às criaturas gigantes aracnídeas que dizimaram os Kobolds. 

Gadrak e Kine iam a frente cuidadosos, enquanto Baas levemente recuado protegia a retaguarda. Era nítido que Gbada e Ogwe estavam temerosos, mas comedidos, devido às lembranças do companheiro perdido em meio a impulsividade. 

Enquanto andavam com cuidado, usando a mata como cobertura, analisaram o caminho e perceberam que a copa infinita das árvores acima deles poderia ter oferecido a cobertura necessária às aranhas. Não havia estrago ou trilhas que indicassem avanço terrestre, perceberam padrões de ataques vindos de cima, o que indicava que algumas aranhas talvez pudessem ter algum tipo de inteligência, fato que os deixava ainda mais apreensivos. O golpe certeiro vindo do alto se espalhou pela fortaleza e agora, enquanto se aproximavam, percebiam que as madeiras e troncos rompidos se projetavam de dentro para fora. Houve combate frenético ali, os escamosos lutaram com todas as forças. Enquanto avançavam, os goblins contavam o número de aranhas abatidos, percebendo que para cada kobold caído havia pelo menos cinco aranhas que tinham metade da altura deles. A força invasora deve ter sido monstruosa, pois o número que restava ali  nem de perto deveria se equiparar ao horror enfrentado dias antes. Analisavam os dias que se passaram do ataque pela condição dos corpos, a presença dos vermes e o mau cheiro presente. De certa maneira, aquilo beirava o sobrenatural, mas independente do mistério que ali havia, não tinham espaço para outras preocupações além de ferramentas, armas e quaisquer objetos que pudessem ajudá-los a derrotar os invasores.

À medida que contornavam a formação rochosa, Kine fazia gestos com as mãos indicando uma pequena passagem que tinha encontrado no dia anterior que os levaria para dentro oferecendo cobertura além daquela propiciada pela noite. No caminho até tal passagem notaram o movimento de uma aranha de tamanho equivalente a quatro palmos deles, logo outras duas se juntaram à primeira. O movimento delas era rápido, mas sempre se concentrava do ponto que necessitavam adentrar. Os goblins se reuniram e Baaz disse que poderiam tentar arremessos certeiros. Gadrak concordou mas complementou que deveriam se aproximar mais, para evitar erros que pudessem chamar a atenção de mais criaturas, chamou para si a responsabilidade de acertar um delas enquanto restavam aos outros, duas tentativas para cada aranha.

Respiraram fundo e se aproximaram agachados. Quando chegaram a seis metros das ameaças, se levantaram rapidamente para o arremesso. Gadrak fixou seu olhar na cabeça da aranha e imaginou os olhares dos agressores de sua terra, um misto de raiva e fúria fizeram com que o arco de seu braço e a potência muscular fossem impulsionadas em um arremesso perfeito que fez com que a ponta afiada de madeira entrasse firmemente entre os diversos olhos, rasgando a carne aracnídea, permitindo que um fluído cinza escorresse da cabeça perfurada, findando assim a vida daquele monstro. Ao mesmo tempo os demais também acertaram seus alvos, porém espasmos ainda eram percebidos dos corpos das duas aranhas que foram atingidas. O líder se adiantou e sacou sua machadinha de pedra desferindo golpes rápidos para evitar mais barulho. Os goblins aproveitaram para recuperarem as pequenas lanças de madeira antes de seguirem pela passagem descoberta por Kine. O caminho era um corredor natural de pedra, bem pequeno e estreito, que permitia um goblin de cada vez, se deslocando vagarosamente. Ali havia teias grudentas e um cheiro incômodo de carne pútrida de um Kobold morto, em provável tentativa de fuga. Haviam ainda aranhas menores em quantidade, que se alimentavam da podridão presente. Os caçadores não tinham outra opção já que estavam ali, além é claro que aquele trajeto diminuiria consideravelmente o tempo para atingirem os pontos de interesse dentro daquela fortaleza de morte.

Avançaram com dificuldade mas não se abateram com aquele desafio, outros piores já tinham sido superados e logo se deram conta que nas fissuras daquele caminho mais uma criatura de maior tamanho se esgueirava. Dessa vez fora Ogwe o primeiro a perceber a ameaça que se dirigia ao líder. Não podia hesitar e nem gritar o aviso, foi então que sacou sua machadinha tosca e fez um arremesso desafiador no pequeno espaço disponível. Gadrak ao ouvir o leve barulho da arma girando acima de sua cabeça notou então o perigo mortal, mas já era tarde para temores, não necessitaria engajar-se em combate, pois o jovem caçador demonstrou habilidade no golpe aplicado. Um gesto de cabeça positivo foi prêmio suficiente para o goblin que logo recuperou sua arma da cabeça da aranha que surgirá.

Terminaram o apertado caminho retirando cuidadosamente tábuas quebradas que antes tinham como objetivo selar a passagem. Diante um espetáculo macabro. Entre as rochas, os escamosos tinham construído muros de madeira e casas de boa qualidade com habilidade invejável, as habitações eram ligadas a segmentos do muro de madeira, ao sul de onde estavam percebiam um buraco no chão, com diâmetro assustador, no qual os Kobolds construíram uma estrutura de cordas e rodas que deveria descê-los para uma caverna, se lembrava disso, mas ficou pensativo imaginando o que construíram e acharam lá embaixo. Independente disso, eles pareciam ter prosperado em riquezas e números e ficou triste em perceber que tudo tinha sido substituído por teias compostas por filamentos de espessura variados com aglomerados de ovos bizarros com tonalidades que beiravam um cinza claro. Em meio aquele dossel fúnebre havia corpos desmembrados e putrefatos. Alguns inchados e cheios de aranhas que se deslocavam ávidos por alguma seiva vital que pudessem usar para nutrir-se. Gadrak fez gestos apontando o caminho que fariam até a primeira estrutura que até onde via parecia fechada. 

Puseram-se a andar agachados usando o que pudessem para evitar as criaturas, esquivavam-se das teias, sabendo que todas pertenciam a uma perigosa rede de defesa que alertaria sua presença. Os corações de todos dispararam e suas respirações precisavam ser contidas diante do perigo que se abatia sobre eles. Apesar do tormento, o líder orientou-os bem e chegaram até a estrutura sem serem perturbados pelas aranhas maiores. Empurraram a porta e por sorte a mesma não estava trancada, lá dentro havia um caos causado pela possível fuga de muitos escamosos, mas ainda restavam objetos úteis. Não havia teias grossas ali, apenas as comuns de aranhas pequenas. Fecharam a porta e puseram-se a procurar algo útil. Gbada parecia ter instintos apurados para procurar coisas, achou ferramentas úteis de curtição com facas afiadas de aço, algumas com lâminas pequenas e curvas, além de outros itens que poderiam enfim permitir a manufatura das armaduras desejadas. Além disso, o jovem perspicaz notou um local secreto entre tábuas da estrutura onde pequenas chapas e malhas de argolas de metal  foram encontradas. Aquilo era fantástico, além das expectativas. Kine logo achou mochilões onde tudo foi acomodado, porém haveria barulho se ficassem se deslocando com aquilo. Gadrak orientou que os dois mais jovens voltassem, refazendo o caminho, levando consigo os tesouros obtidos, enquanto Baaz, Kine e ele iriam até o local onde o grande ancião ficava. Todos concordaram e o grupo se dividiu. Os três mais experientes aguardaram até notarem que os jovens de fato não teriam dificuldades para escapar levando as preciosidades obtidas. Mais calmos, ao perceberem o sucesso nesta fase da empreitada recobraram o foco no último alvo.

Ao se deslocarem perceberam que ali havia maior movimento das aranhas, mas o grosso daquela massa aracnídea mantinha movimentos constantes em torno do buraco. Notaram que a casa do ancião tinha sido levemente fortificada, talvez usada como bastião de resistência, porém havia um buraco no teto, causado por grande pressão ali aplicada, com certeza ponto de onde o ataque se espalhou para dentro. Para terem sucesso escalariam um segmento de muro descoberto de teias e depois deveriam fazer um salto perfeito para o teto, por onde desceriam. Precisariam de corda, ao passo que Baaz retornou à oficina vasculhada para encontrar o item vital. Kine citou que poderia ficar aguardando em cima, garantindo a segurança da corda para o retorno. Gadrak concordou.

Pouco tempo se passou e Baaz retornou com corda suficiente para o trabalho. Puseram-se então a escalar com as mãos nuas, aproveitando qualquer pequena brecha de apoio. Cada avanço era desesperador, pois as teias se acumulavam e se projetavam como tentáculos ávidos pelo contato incauto que asseguraria mais alimento às aranhas que ali estavam. Ao chegarem a uma altura suficiente, arquearam os corpos para tentar se projetarem com um empurrão rápido das pernas. Eram ágeis e fortes, fato que permitiu sucesso na queda no telhado. O movimento de queda foi suavizado pela habilidade que tinham em amortecer impactos similares, habilidade adquirida pela necessidade das caçadas e fugas diversas que tiveram. Aranhas pequenas se abateram sobre eles, mas nada digno de medo. As maiores permaneciam fixas no entorno do buraco ao sul, abaixo e distante deles. Olharam pela rachadura do telhado e notaram que ali dentro havia teias maiores e grossas, assim como o mau cheiro típico e sinais de combate desesperado. Kine buscou ponto para fixar a corda e se encarregou de segurá-la e puxá-los rapidamente se necessário. Baaz e Gadrak começaram a descer. O local era rico em objetos de barro, ídolos e outras riquezas em tecidos, couro e tesouros que poderiam ser interessantes em outro contexto, buscavam ali, algo para combate e logo perceberam entre corpos de Kobolds e aranhas, os restos mortais do ancião de roupas adornadas. Diziam que ele possuía poderes mágicos de cura, infelizmente nunca teriam chance de presenciar esse milagre, pois ali estava o ancião caído em um canto, com uma aranha com o dobro de seu tamanho derrubada a frente dele, próximos dos dois, restava um escamoso com duas espadas curtas de ferro em suas mãos, deveria ter tombado em luta, segurando firmemente as armas e tentando defender o ancião. 

Baaz recolheu as armas e retirou do corpo o que restava da armadura de couro, pois ela continha também pequenas placas de metal e argolas. Gadrak se aproximou do corpo do possível curandeiro e viu que o mesmo tinha duas boas adagas na cintura, um cajado de metal adornado e segurava firmemente um globo de objeto cristalino transparente com um líquido prateado dentro, parecia ser muito frágil e parecia realmente um milagre que não tivesse se quebrado. O objeto era uma esfera perfeita e não havia saída para o líquido escapar, havia metade do espaço interno ocupado por aquele grosso fluido prateado.

Recolheram os objetos, puseram em uma bolsa encontrada e puxaram levemente a corda, sendo içados um a um por Kine. Pularam com habilidade de volta ao segmento de muro e começaram a descida. Ao chegarem ao chão ouviram um estrondo vindo da parte sul onde estava o buraco. Olharam com cuidado e viram que outro segmento da murada caíra, revelando indivíduos que se dirigiam ao buraco. Não eram humanos, reconheceram as peles verdes e musculosas das figuras que invadiram o local. Estrutura óssea larga, corpos pesados com pele grossa similar a couro. Eram seis Orcs, cinco deles vestindo peles e munidos de armas grandes variadas. Viram de relance o movimento, pois logo várias aranhas gigantes se abateram sobre eles. Era fantástico, os gritos de guerra e a maneira como aqueles guerreiros abriram as criaturas aracnídeas com facilidade enquanto moviam-se para o buraco. Gadrak agradeceu aos espíritos ancestrais, pois aquela distração permitiria a eles retornar. Enquanto se afastavam perceberam que nenhum dos seis tinha tombado e que a luta era ferrenha e se estenderia por muito tempo diante do número de aranhas. O único daqueles Orcs que se destacava era um grandalhão com uma espada de aço reluzente de duas mãos que lutava de peito nu usando apenas um elmo com chifres curvos. Não entendia o objetivo deles, mas eles precisavam manter o foco.

Logo o trio se encontrou com os jovens do lado de fora. Retornaram pelo caminho feito pensando no que presenciaram. O barulho de luta continuava a cortar a noite, mas os goblins precisavam voltar ao acampamento e se prepararam para o retorno e sua própria luta pela salvação da terra de seus ancestrais e aqueles do clã que dependiam deles.


Continua…

Para ler mais contos de Thul Zandull clique aqui.

A Maldição de Strahd: Horror psicológico em D&D

O RPG nos permite viver diversas histórias de estilos narrativos muito distintos e, por extensão, também de muitos gêneros diferentes. Estamos acostumados a narrativas épicas baseadas em gêneros de fantasia, de ação ou até mesmo históricos. Alguns outros sistemas, como Vampiro: A Máscara, expandem esse leque para gêneros de terror e suspense. Mesmo DnD sendo um sistema de heróis poderosos e capazes de feitos incríveis, também é possível trazer o horror para as aventuras, e um módulo fez isso de maneira excepcional: A Maldição de Strahd. 

Antes de chegarmos ao módulo em si, vamos explorar um pouco o gênero do Horror. O que caracteriza esse gênero? O gênero do horror é um tipo de ficção especulativa que tem como objetivo assustar, amedrontar ou enojar o espectador, no nosso caso, os jogadores. Tudo isso pode ser encontrado em a Maldição de Strahd.

Não é fácil fazer horror num jogo de DnD, afinal é preciso que os jogadores se sintam fracos em relação aos obstáculos para que funcione, é necessário uma sensação de impotência. Heróis super poderosos nunca sentirão medo, afinal eles podem lidar com qualquer coisa que ficar em seu caminho, e é exatamente assim que uma ficha de DnD faz os jogadores se sentirem, mas o Maldição de Strahd sabe disso e usa isso ao seu favor. O Módulo é famoso por ser muito difícil, por vezes até desbalanceado. Diversas mortes de personagens e até os temidos TPKs são comuns em A Maldição de Strahd. Essa dificuldade somada a sensação de estranheza, desolação e isolação que Barovia causa é o que faz o horror desse módulo funcionar. Mas, onde o módulo realmente brilha, é na construção de seu vilão: O Conde Strahd Von Zarovich. 

Claramente inspirado no Drácula, Strahd é considerado um dos melhores vilões de DnD. E ele realmente é! Strahd é construído para ir além dos clichês de vilões de RPG, ele é um personagem complexo, com conflitos externos e internos, uma história cativante, altamente carismático e, que por vezes, consegue conquistar nossa simpatia. Mas ele tem seu outro lado, muito mais obscuro, que gosta de perseguir suas vítimas, fazê-las sofrerem e vê-las se quebrarem perante ele, esse lado de Strahd se preocupa em ir muito além de apenas matar seus alvos, ele gosta de tortura-los de maneira física, emocional e psicológico. 

Essa dualidade em Strahd que o faz um personagem interessante e um vilão memorável e que faz com que o horror psicológico seja tão presente nessa aventura. O módulo não tenta esconder o vilão em nenhum momento, afinal o próprio título da aventura já nos diz quem será o chefão final. Os jogadores já ficam cientes da existência do Conde desde dos primeiros momentos da aventura e sabem, que para sair da situação que se encontram, eventualmente eles terão que entrar em conflito com ele. A principal diferença entre Strahd e vilões de outros módulos é que ele é um vilão ativo! Ele não espera que os jogadores virem até ele e a todo momento tenta se inserir na história. Strahd irá brincar com seus novos experimentos, vulgo os personagens dos jogadores, irá oferecer acordos, pedir favores, manipulá-los, tentar descobrir seus segredos mais íntimos, para depois usar isso contra eles. Ele fará tudo ao seu alcance para tornar a vida desses aventureiros, que entraram em suas terras, o mais difícil possível. É normal que antes de enfrentarem o vilão em seu covil, o icônico Castelo Ravenloft, os jogadores já tenham tido algumas interações com Strahd e até mesmo algumas lutas, nas quais o Conde certamente irá limpar o chão com os personagens, e fará isso da maneira mais humilhante possível. 

O grande trunfo para o horror psicológico em A Maldição de Strahd é que os jogadores sabem, desde do primeiro em que encontram Strahd, que eles não têm a menor chance de enfrentá-lo de frente. É um longo caminho até que os aventureiros tenham força suficiente para lutar com o vampiro. E o próprio Strahd não e bobo! Ele irá usar todo esse tempo em que os aventureiros estão em suas terras para espioná-los e obter todas as informações possíveis sobre eles e se preparar para o momento em que ele irá, de uma vez por todas, acabar com os intrusos. 

Quando os jogadores acabam de sair de um dos encontros brutais do módulo, só para encontrar Strahd, montado em seu pesadelo e bloqueando o caminho, pronto para oferecer algum tipo de acordo para eles, até o mais insano dos bárbaros se ajoelhará perante o Conde. Podem acreditar, eu já vi acontecer! 

Não é atoa que essa aventura, publicada pela primeira vez 1983, é considerada até hoje uma das melhores aventuras de DnD já escritas e ganhou, em 2016, uma atualização para a quinta edição de Dungeons and Dragons.

Para os fãs do gênero horror, e de RPG em geral, é uma aventura imperdível e memorável que com certeza irá ser lembrada na sua mesa por muitos anos. E para os mestres de plantão, é um excelente estudo em como criar um vilão inesquecível! 

Criação de Personagem – Deadlands

Deadlands, que atualmente está em Financiamento Coletivo no Catarse, tem um sistema de criação de personagens muito simples, característico do sistema de Savage Worlds Edição Aventura (SWADE).

Este, por sua vez, como já foi dito em outros posts, é um sistema com sua base genérica, similar ao popular GURPS, porém, diferente deste, há um resumo de criação de personagem em poucas páginas!

Em Deadlands, este resumo de criação de personagens se dá em duas páginas… É sério. 😉

Claro que você não cria completamente o personagem com duas páginas do livro, se fosse assim não teria sentido produzir um livro daquele tamanho. 😛

Nas páginas seguintes da criação do personagem você encontra todos os detalhes, como as vantagens, complicações e equipamentos.

Criando Personagem

Agora vou descrever os principais conceitos e o processo de criação de personagens para Deadlands.

Raças

Deadlands possui vários tipos de monstros, aberrações e demônios, mas neste cenário somente humanos são raças jogáveis.

Porém, vale lembrar que Deadlands é uma realidade alternativa ao nosso mundo, então todas as etnias são jogáveis, o limite é sua imaginação.

Mas lembre-se, o ano é 1884, então preconceitos e ilegalidade de imigrantes eram bem comuns.

Humanos ganham uma vantagem de estágio novato, cumprindo os pré-requisitos.

Complicações

Os personagens são definidos por suas qualidades, mas também, claro, por seus defeitos e com isso entram as complicações.

Na criação de personagens você pode adquirir até 4 pontos em complicações, que podem ser menores ( 1 ponto cada), e maiores (2 pontos cada).

Sendo assim você pode ter 2 complicações maiores ou 4 menores ou alguma combinação dentro desse limite.

Você pode escolher mais Complicações se quiser, mas não vai ganhar nada com isso. 🙂

Estes pontos que você adquirir (até 4), podem ser gastos comprando benefícios para sua personagem, como vantagens, mais recursos, etc.

Tecnicamente o jogo não te obriga a comprar complicações, mas boneca de porcelana sem defeitos não sobrevive ao Oeste Estranho.

Atributos

Igual outros sistemas, em SWADE você tem pontos para distribuir em atributos, mas diferente de outros sistemas, aqui você não compra gasta pontos para aumentar pontos de atributos.

Em Savage Worlds, e consequentemente, Deadlands você gasta pontos para aumentar dados, é isso mesmo, todos os personagens começam com d4 de atributos e podem aumentar estes atributos a custo de 1 ponto.

Por exemplo, você começa com espírito com d4, gasta 1 ponto e aumenta ele para d6, gasta mais 1 ponto e ele passa para d8, mais 1 ponto vai para d10 e por fim, e não mais do que isso, d12 a custo de mais um ponto.

Na criação de personagens você possui 5 pontos para gastar aumentando atributos, sendo que o limite é d12.

Você também pode gastar 2 pontos de complicações para aumentar um atributo em 1 tipo de dado.

* Nota: isso não é sistema d20, você não vai rolar o dado correspondente ao seu atributo para ter o número, o tipo de dado já é o seu atributo. *

Os atributos básicos são 5:

Agilidade I Astúcia I Espírito I ForçaVigor.

Perícias

Perícias são o que seu personagem sabe fazer, algumas são inerentes de todas as pessoas e você já começa com d4 de nível nelas.

* Igual aos atributos, o seu nível é igual ao tipo de dado, do d4 ao d12 *

As perícias inatas são:

Atletismo I Conhecimento Geral I Perceber I Persuadir I Furtividade

Além desse nível inicial nestas perícias você tem 12 pontos para gastar na mesma sistemática da compra do tipo de dado de atributo.

Você também pode usar 1 ponto de complicações para aumentar em um o tipo de dado.

Estatísticas Derivadas

Algumas regras são o que são, a menos que sejam alteradas por vantagens ou complicações adquiridas anteriormente na criação de personagens, tais como:

  • Movimentação: é igual a 6 quadrados, cada quadrado equivale a 2m em termos de jogo.
  • Aparar: é igual a 2 mais metade do dado de Lutar (a perícia), arredondado para baixo. No caso de seu personagem não ter a perícia Lutar,  aparar será 2.
    Por exemplo, um personagem tem d6 em lutar, o aparar dele seria 5 (2 + 3). Essa será a dificuldade de um adversário para atingir sua personagem em combate corpo a corpo.
  • Resistência: é igual a 2 mais metade do seu dado de Vigor (arredondado para baixo).
    Por exemplo, um personagem com d10 de vigor terá 7 (2+ 5). Essa é a quantidade de dano massivo que você pode tomar em cada ataque sem ficar abalado.
    Abalado te dá condições específicas, que se aplicam ao combate e fora dele, se você conseguir sair dele vivo…

Lembrando que cada aplicação de dano te causa um ferimento, você confere mais disso nas regras de combate.

Vantagens

Como disse lá no início, seus personagens são compostos de complicações e vantagens, aqui você decidirá quais habilidades especiais te tornam especial. 😉

Humanos recebem uma Vantagem inicial gratuita, como visto em Savage Worlds.

Para cada 2 pontos de Complicações gastos, você pode escolher uma Vantagem.

Equipamentos

“Armas, muitas armas… e um cavalo…e roupas…. um chapéu…. ah e claro, o mais importante, uma boa bota!”

Todos os personagens começam com as roupas do corpo e um pouco de dinheiro correspondente a região apropriada, via de regra são $250,00 e por 1 ponto de complicação você consegue um valor adicional de $500,00.

Neste livro de Deadlands lá uma sequência de listas com os equipamentos, armas, transportes e muitas coisas para você gastar seu suado diñero compadre.

Histórico e os monstros em baixo da cama.

Chegou a hora de descrever o passado obscuro, ou não, do seu personagem, por onde ele passou, quem ele é, que corações ele ou ela já quebrou e o que do Oeste Estranho você já viu.

Faça esse histórico ser compatível com a criação do seu personagem, suas perícias, atributos, vantagens e complicações.

Estes detalhes ajudam a interpretar seus personagens e dá ao mestre, ou Xerife, ganchos para aventuras.

Além disso, pense no que o assusta, Deadlands é uma versão da nossa realidade, se alguns fatores tivessem ocorrido, seu personagem não é um super herói sem medos ou vergonhas, ele é uma pessoa no fim das contas e todos nós temos medos.

Então pense, o ele ou ela tem medo, e porquê?

Pense no sonho que te faz acordar suando frio à noite, aqui, ele pode ser real… 

E não se esqueça!

Apoie o financiamento coleto lá no Catarse, clica no link aqui em baixo e garanta a sua cópia.

Financiamento Coletivo – Deadlands da Retropunk!

Nós do MRPG podemos dizer em primeira mão que está incrível!

Um Guerreiro de Honra #5 – Contos de Thul Zandull

Um Guerreiro de Honra – Parte V

 

A baixa ocorrida horas atrás ainda incomodava o grupo que restava, a preocupação com ira da fêmea ainda rondava a todos, a única distração em todo contexto de tensão era a dor muscular de carregar tamanho peso daquele javali de cascos brônzeos. Kine assumiu para si a responsabilidade de batedor, já que demonstrava naquele momento maior vigor que os companheiros de caça. Gadrak e Baas, mais experientes às dificuldades das jornadas tentavam forçar a marcha enquanto Gbada e Ogwe tentavam demonstrar sua resiliência ao enfrentar um terreno difícil, irregular de mata fechada enquanto nitidamente sofriam com a carga que carregavam, carga essa não só física, mas emocional. Sabiam que tinham cometido um grave erro ao desrespeitar as orientações do líder de caça. Percebiam pelos olhares rápidos de Gadrak que talvez houvesse arrependimento de tê-los trazido, algo que só ocorreu devido a falta de opções do clã, mal eles sabiam que na verdade o líder entendia que o fardo imposto aos jovens tinha sido exagerado e lamentava a perda precoce de um dos seus.

Mesmo com um clima de incerteza e pensamentos atormentados variados, os goblins chegaram a um ambiente cheio de pequenos montes cortados por raízes gigantescas e formações rochosas peculiares. Ouviam zumbidos altos nas copas frondosas que formavam um tapete verde majestoso acima de suas cabeças. A Mata Velha cativava a cada olhar, mas os sons e sentidos aguçados das pequenas criaturas alertava sobre os horrores que espreitavam naquele ambiente. 

Kine que estava mais a frente percebeu pequenos sinais na mata que indicavam território do povo que procuravam. Pequenos penduricalhos feitos de corda grossa e ossos que tentavam intimidar outras raças com presságios de mau agouro e maldições. O batedor respeitava estes objetos e demonstrou respeito se ajoelhando e fazendo sinais para que em breve ele e os demais companheiros pudessem adentrar aquele local sem que ameaças sobrenaturais se abatessem sobre todos. Logo os quatro que carregavam a caça chegaram ao ponto em que a reverencia ocorria e de maneira similar, porém mais rápida, também prestaram respeito. 

A marcha precisava continuar, mas a exaustão estava cada vez mais próxima. Havia agora revezamentos para que a preciosa caça pudesse ser ofertada rapidamente aos Kobolds. Gadrak tentava inspirar a todos, mas percebia que era um esforço grande demais. Faltava pouco para que as esperanças fossem renovadas, porém ao terminarem de subir a última colina antes da grande morada do povo escamoso perceberam que talvez os ancestrais os tivessem abandonado.

Abaixo deles era possível ver a grande formação de pedras irregulares que antes parecia uma poderosa fortaleza natural cravada entre as árvores milenares. Os kobolds eram criativos e a madeira vasta que ali jazia fora moldada a vontade deles, fechando as brechas entre as rochas, ampliando proteções oferecidas pela selva, porém algo que as criaturas ignoravam é que elas mesmas poderiam apenas ter se expandido a desejo daquela Mata Velha, sempre geniosa e sorrateira com aqueles que ali tentavam explora-la. Em algum momento aquela força selvagem sentiu um breve temor com os escamosos e então se sentiu compelida por presságios a acabar com a ameaça enquanto a mesma era controlável. 

Diante dos incrédulos goblins havia um emaranhado de teias cobrindo o que antes era a morada de um povo aliado. A madeira partida e os corpos dilacerados podiam ser vistos aquela distância pelos olhos treinados dos caçadores e a angústia tomou conta de todos. Eles acreditavam que aqueles mais próximos dos Humanos poderiam ajuda-los de alguma maneira. A sábia Akerele nunca errara em suas visões, então como aquilo podia ser verdade. 

Em meio aos questionamentos da dura realidade que se apresentava todos sentaram e ficaram por um momento distantes recuperando o fôlego e ao mesmo tempo aturdidos com as possibilidades que se esvaiam. Gadrak ficou pensando consigo mesmo que era o líder e cabia a ele qualquer decisão difícil. Se lembrou de como seu povo o respeitava por sua mente afiada e sua habilidade em inspirar, talvez tivesse sido líder a mais tempo se não fosse tão jovem. Foi então que compreendeu os sussurros da anciã de seu clã. As respostas poderiam ser encontradas ali, respostas sobre como enfrentar os invasores, todas estavam diante dele, imaculadas. A Mata Velha não retirara suas esperanças mas sim, propunha a eles um desafio, um jogo no qual suas habilidades seriam testadas e se vencessem sairiam mais experientes e preparados para erradicar os invasores. Chamou Kine e pediu que ele andasse em torno daquele local ameaçador analisando os perigos e possíveis entradas, depois chamou Baas e pediu que procurasse um refúgio possível para acamparem e recuperarem as forças. Para os dois mais jovens ordenou que começassem a limpar o animal abatido, tirando o couro com cuidado. Enquanto isso, começou a escalar uma das altas árvores que ali estava para organizar os pensamentos.

Do alto de um dos galhos, Gadrak observava a antiga morada dos kobolds, sentia uma espécie de iluminação enquanto estava ali solitário organizando as rápidas ideias que chegavam. O povo escamoso tivera contato com Humanos, aqueles lagartos tinham desejo por ferramentas e sempre se gabaram dos tesouros adquiridos com esforço. Eles poderiam ter boas armas e se o grupo que restava a ele fosse habilidoso poderiam entrar naquele emaranhado de teias e sair com objetos preciosos para enfrentarem novamente os invasores de sua terra. Tinham consigo couro e ossos do javali Brônzeo, além das placas do besouro gigante, somados e manipulados com boas ferramentas poderiam se tornar armaduras boas e leves. A mobilidade do grupo seria importante para enfrentar oponentes com tanto aço. Se entre aqueles corpos lá embaixo houvesse lâminas ou qualquer outro item que de alguma maneira providenciasse vantagem, não faltaria coragem aos seus para entregarem suas vidas pela proteção do clã. Ao mesmo tempo não sabia quantas aranhas existiam no emaranhado de teias, seria um perigo tremendo arriscar tudo naquele jogo proposto pela Mata Velha, mas não restara alternativas. Pensou no herói de seu povo e em como as provações o tornaram digno e honrado. Sabia consigo mesmo que poderia haver brechas para falhas.

Gadrak desceu da arvores e então notou que tempo havia passado, Baas já tinha retornado e estava ajudando os mais jovens na tarefa de limpar o javali e retirar o couro. Logo, ele explicou que encontrou embaixo de uns trançados de raízes uma proteção adequada para fazerem um acampamento. O líder ordenou que boa parte da carne fosse deixada ali, retirou os ossos necessários a efetivação dos planos futuros traçados a pouco e disse que a carcaça farta do animal garantiria que predadores pudessem ser apaziguados. Kine retornou e se juntou a eles na breve marcha até o ponto seguro. O local escolhido realmente permitia uma boa visão do ambiente, em um ponto mais alto onde as raízes moldaram-se em uma concha natural que provia cobertura. Se apressaram em camuflar o ambiente. Acenderam uma pequena fogueira, o máximo que o refúgio permitia, assaram a carne e começaram a conversar. O líder explicou que sua meta seria invadir o local e buscar objetos importantes com base nas lembranças que tinha, começando pela morada do coureiro e depois rumando para a tenda do ancião, precisariam ser rápidos para não terem perdas e obterem a chave para o confronto derradeiro que viria ao retornarem a seu lar. Kine complementou dizendo que talvez seria possível, haviam muitas aranhas gigantes no local mas a concentração era oposta aos locais que seriam visitados, o batedor citou que uma aranha maior que tudo que viu, rondava uma entrada de caverna que havia ao Sul do centro da aldeia escamosa, fato que levava as demais aranhas a ficarem em torno dela. Talvez teriam algum conflito, mas se fossem ágeis seriam bem sucedidos. Baas disse que poderia ajudar, lembrou que uma erva chamada urtiga de mosca talvez oferecesse leve proteção. Essa erva era usada para afastar insetos que eram comuns em locais de pesca, pensou que em demasia e cobrindo os corpos de todos pudesse causar repúdio as aranhas. Gadrak acrescentou que não eram aparentadas, os mosquitos e aranhas, mas que valia a tentativa, pediu que o mateiro tirasse o dia para procurar a erva e preparar o unguento. Aos mais jovens restou a tarefa de prepararem mais azagaias enquanto o líder e Kine revezariam a ronda.

Com mais um dia terminado, houve avanços sensíveis, o unguento estava preparado, três azagaias para cada caçador foram distribuídas e nenhum perigo novo surgira. Escolheram avançar a noite, pensando que talvez houvesse alguma vantagem, não levaram consigo peso extra além das armas, pois precisam ser rápidos. Kine desenhou no chão o caminho que fariam e Gadrak completou as informações apresentando onde estavam os dois pontos que visitariam. Com o plano traçado era chegada a hora de enfrentar o desafio, mas estranhamente os cinco ao se entreolharem percebiam que de alguma maneira vínculos fortes estavam se formando, a missão era maior que todos individualmente, se houvesse esforço mútuo haveria vitória na demanda que aceitaram.


Continua…

Para ler mais contos de Thul Zandull clique aqui.

Savage Worlds do Luxo a Revisão

Savage Worlds para muitos jogadores é o melhor sistema da atualidade,  por ser flexível adequando-se a vários cenários e aventuras,  tendo como características principais a velocidade do jogo e facilidade em sua preparação.  Em 2019 a Savage Worlds Edição do Explorador (SWEX) que foi lançada no Brasil na versão de luxo foi revisada, apresentando a Savage Worlds Edição de Aventura (SWADE) trazendo muitas alterações mas a base do sistema permaneceu a mesma, por exemplo a rolagem selvagem do dado não mudou, vamos entender melhor as mudanças.

O que mudou então? 

Perícias:  os personagens começam com perícias básicas que todos têm, e os pontos para distribuição diminuíram para 12

Carisma: foi removida como  característica,  no entanto se mantém como mecânica,  concedendo vantagens e complicações 

Vantagens e Complicações:  muitas mudanças incluindo  a resolução de rolagens 

Combate: as manobras foram revisadas e o entendimento também está mais claro

Regras de  ambientação:  agora quando se saca um Curinga todos os jogadores recebem Benes e “olhos de cobra”, isso não pertence mais a ambientação e passou a ser regra. E ainda há os Desafios voltados a prejudicar o adversário e o Suporte que pode ser usado para auxiliar os aliados. As tarefas dramáticas e regras de perseguição sofreram alterações,  e há regras para encontros rápidos quem complementam  sistema de combate rápido da edição anterior

Poderes:  os modificadores passaram a poder alterar a forma, como os poderes são lançados, dando bônus com contrapartidas 

Bestiário: as escalas de tamanho estão mais claras e geram menos confusão 

De modo geral as mudanças que ocorreram tornaram o jogo mais fluído e esclareceram dúvidas que os jogadores tinham antes da revisão. 

Não deixe de conferir o financiamento coletivo que está rolando para Deadlands, o Oeste estranho, amigo! Carregue sua arma, sele o cavalo e aventure-se!

Sabá – Seitas de Vampiro: A Máscara

Muitos pensam no Sabá apenas como monstros sanguinários para serem detidos pelos personagens da Camarilla mas, como sempre, há muito potencial inexplorado aqui. Hoje vamos conhecer mais sobre esses fanáticos religiosos que rejeitam o caminho da humanidade.

Fanáticos religiosos?

Sim! Embora o Sabá também tenha sido fruto da Revolta Anarquista do século XV como uma resposta violenta ao domínio dos anciões, eles acabam aproximando-se mais de um DAESH ou KKK.

A base das crenças do Sabá é o Livro de Nod e os mitos de Caim. Eles acreditam que são o exército que Caim usará para destruir os antediluvianos quando a Gehenna chegar. Ao mesmo tempo, rejeitam as tradições que foram abraçadas pela Camarilla. Mas mesmo dentro dessas características um tanto vagas, os cainitas dessa seita se dividem e subdividem em uma multiplicidade de visões e Trilhas da Sabedoria diferentes, quase como cultos dentro de um grupo maior.

Mas no fundo, todo mundo adora um Festim de Sangue bem feito.

Trilhas

A grande maioria dos membros do Sabá abandona sua humanidade e abraça a besta. Mas impedi-la de tomar controle total exige esforço e equilíbrio. As Trilhas da Sabedoria são cultos que tentam encontrar formas de lidar com a realidade da não-vida e manter a besta minimamente sob controle.

Na minha experiência como narrador, não encontrei muitos personagens com valores altos em Trilhas (até porque é difícil começar com um valor alto). Personagens assim podem ser um pouco descolados da sociedade humana ao seu redor, mas terão uma compreensão única a respeito da sua imortalidade. São estudiosos de sua condição de um ponto de vista religioso. E são esses vampiros que compõem o núcleo do Sabá na maioria das cidades.

Isso serve pra mostrar que a violência do Sabá não é aleatória e errática como muitos cainitas de fora da seita pensam. É fundamentada numa pluralidade de visões e interpretações sobre a condição do vampirismo e focada num objetivo claro: destruir o domínio dos anciões.

“Hoje é segunda, dia de botar fogo no Elísio da Camarilla.”
“Ah, mas eu queria diablerizar neófito.”

Rituais

Por serem uma facção religiosa, a questão ritualística do Sabá é sempre muito presente. Ao mestrar ou jogar uma crônica do Sabá, é muito importante destinar um tempo para entender o Auctoritas Ritae e também para desenvolver pequenos ritos e crenças particulares do seu personagem.

Aliás, introduzir uma crônica em um desses eventos é um truque semelhante a começar uma crônica da Camarilla durante uma reunião de anciões ou um chamado do príncipe. Vaulderies e Festins de sangue devem ser descritos com riqueza de detalhes, pois expressam muito bem a natureza da violência do Sabá. Às vezes é tentador justificar a violência do Sabá villanizando os Anciões, mas mesmo bandos mais “brandos” dentro da seita ainda abraçam profundamente sua natureza imortal e desprezam a humanidade. Tortura e assassinatos brutais são uma parte fudamental dos rituais da Espada de Caim.

(Lembrando que todas as descrições devem SEMPRE respeitar os limites pessoais e o consenso dos jogadores. Fazê-los ficar arrepiados com uma descrição detalhada de um ritual brutal do Sabá pode ser bem legal, mas fazê-los se sentir mal com isso, definitivamente, não é).

O Código de Milão

Assim como a Camarilla tem em suas tradições um guia fundamental para a seita, a maior parte do Sabá adere aos 13 princípios do Código de Milão. Há discussão entre o Sabá sobre uma revisão realizada em 1933 com a adição de mais 3 cláusulas. O código completo tem os seguintes preceitos:

I. O Sabá deve permanecer unido e fiel ao regente da seita.

II. Todos os membros dever fazer o seu melhor para obedecer seus líderes, desde que os líderes honrem a vontade do líder da seita.

III. Todos os membros devem praticar fielmente o Auctoritas Ritae.

IV. Todos os membros devem manter sua palavra de honra para com os outros.

V. Todos os membros devem tratar seus iguais com dignidade e igualdade.

VI. Todos os membros devem colocar o bem do Sabá acima de suas necessidades pessoais.

VII. Aqueles que não honrarem esse código não serão considerados iguais e portanto não serão dignos de ajuda,

VIII. Como sempre foi, sempre será. A Lei de Talião deve ser o modelo para justiça dos imortais.

IX. Todos os membros devem proteger uns aos outros. Desafetos pessoais devem ser responsabilidade pessoal, a menos que ponham em jogo a segurança da seita.

X. Todos os membros devem proteger o território da seita.

XI. A Liberdade é um princípio fundamental do Sabá.

XII. O rito da Monomáuia deve ser usado em disputas entre membros do Sabá.

XIII. Todos os membros devem apoiar a Mão Negra.

Adendo

XIV. Todos os membros têm o direito de monitorar as atividades dos outros membros da seita para manter a liberdade e a segurança.

XV. Todos os membros têm o direito de chamar um conselho de seus iguais e líderes imediatos.

XVI. Todos os membros devem agir contra membros da seita que usarem os poderes e a autoridade do Sabá. Todas as ações devem ser aprovadas por um quórum de Prisci.

“Liberdade é só pros imortais. Vocês vão morrer todos mesmo.”
“Pô, sacanagem.”

Fanáticos religiosos ou estudiosos da condição imortal, o Sabá tem muito a oferecer para suas crônicas. E não se esqueça de conferir os Contos de Thull Zandull.

Bom jogo a todos.

Um Guerreiro de Honra #4 – Contos de Thul Zandull

Um Guerreiro de Honra – Parte IV

 

A jornada pela Mata Velha deveria continuar, o grupo passara um tremendo susto no embate com o besouro gigante, porém sabiam que deveriam continuar a jornada para caçar o javali de casco brônzeo. Após algumas horas de viagem, a mata à volta deles já era mais espessa, com o nome dado ao local remetendo aquelas surpreendentes árvores de copa frondosa que se estendiam como uma onda verde majestosa. Tudo ali fazia com que eles se sentissem mais pequenos do que já eram. Os troncos maciços eram largos, mesmo de mãos dadas, todos juntos não conseguiriam superar a circunferência daquele alicerce vegetal com centenas de anos. A fome já não era um problema, já que o besouro abatido continha um interior repleto de massa comestível e sabor agradável para os padrões goblins, podiam assim, manter o ritmo da caminhada, sem ter pausas para refeição. 

Já à tardinha, Baas percebeu sinais claros da passagem de animais, ao passo que Gadrak, analisou os rastros ao lado de Kine, ambos concluindo que tinham encontrado o que estavam procurando. Aqueles sinais demonstravam que estavam adentrando a morada de um casal sem filhotes, tendo em vista que o deslocamento das criaturas seria conjunto. Gadrak conseguiu extrair mais informações com seu olhar treinado e experiência de caça, julgando assim um tamanho e peso aproximados, que denotava um casal adulto de proporção levemente superior à média da espécie. Devido ao odor tênue, pôde ainda dizer que haviam passado por ali há pouco tempo, fato que daria a eles tempo para o preparo da armadilha. Logo, Gbada, Jajem e Ogwe começaram a cavar, usando suas mãos e as toscas machadinhas de pedra, precisam de um buracos largo de 50 cm de profundidade para colocar os pontas esculpidas de madeira, que lesariam a mobilidade de uma das criaturas permitindo que todos se abatessem sobre a caça. Os caçadores mais experientes disseram aos jovens que assim que terminassem deveriam subir nas árvores próximas e se esconder, passando em seus corpos o extrato da raiz roxa, enquanto eles próprios iriam seguir a trilha em busca do casal de cascos brônzeos. Assim fizeram.

Os três caçadores começaram sua busca pela trilha, lendo os detalhes e caminhando com cuidado prestando atenção a todos os sinais da floresta, a mata alta impedia visões a longa distância, mas confiavam em sua audição, furtividade e também na raiz roxa que poderia ser um fator decisivo contra outros predadores. Enquanto caminhavam improvisaram pequenos escudos com as placas de quitina retiradas do besouro abatido horas antes. Fizeram furos centrais nas pequenas placas por onde passaram pedaços de corda que seriam usados para segurar a barreira diante deles. Não era algo projetado para durar, mas poderia ser útil para garantir suas vidas em pelo menos uma pancada. Ainda, julgaram que o uso de fundas seria um recurso provocativo importante na estratégia que usariam, assim com as placas rígidas mais curvadas prepararam a cuia na qual as pedras poderiam ser acomodadas e atiradas, usaram cipós para fazerem as alças. Gadrak demonstrava domínio nesses ofícios. Agora; preparados; mantiveram os passos. Já à noite, perceberam que os rastros indicavam maior proximidade das criaturas, sinais de fezes frescas fizeram com que suas respirações e, enfim, seus corpos respondessem a um perigo iminente. Sentiam como se os músculos deles gritassem, ansiosos pelo embate ou pela fuga.

A escuridão nunca fora um inimigo da raça dos três, portanto continuaram sua aproximação, notando bem todos os detalhes do local que os circundava. Eis que ouviram o som de água corrente. Subiram cuidadosamente em uma árvore próxima e então viram o córrego no qual os dois fabulosos animais, se refestelavam. Puderam ver a coloração amarronzada das peles de ambos, com variadas cicatrizes, demonstrando os desafios enfrentados até chegarem a fase adulta, havia ainda pelos grossos e eriçados ao longo de suas colunas e aquelas afiadas e proeminentes presas, mortais a quaisquer seres que não respeitassem aquela fúria em forma de músculos que ali estava. Nesse momento, Gadrak fez gestos para que Kine se deslocasse para o ponto oposto de onde aguardavam e vigiavam. Deveriam aproveitar um momento em que ambos estivessem separados para um ataque conjunto que despertaria a ira, assim poderiam prosseguir com o plano. Seria uma boa distância de corrida, fato que fizera com que o trio já tivesse feito um combinado a partir das ideias de Gadrak, revezariam entre deslocar-se e separar-se, um misto de provocar e correr, contando com sua habilidade para escalar as árvores e usá-las como fonte de breve segurança. A criatura iria persegui-los e estaria cansada quando chegassem no ponto combinado, onde enfim abateriam o grande animal. 

Observaram atentamente, até que todos perceberam o momento em que a fêmea, de presas levemente menores e mais curvadas, começou a se afastar atravessando o córrego. Gadrak levantou vagarosamente o braço, na qual Kine viu a funda, o sinal que aguardava. 

Kine foi certeiro ao atirar a primeira pedra. A fêmea foi atingida no focinho e irritada se deslocou ao ponto originário daquela agressão, o macho iria segui-la caso não tivesse sido atingido por duas pedradas na cabeça, fato esse que desviou sua atenção. As criaturas se separam. Rapidamente os goblins aproveitaram os galhos grandes e seu leve peso para se deslocarem rapidamente por cima. Continuaram a atirar pedras certeiras à medida que o animal acumulava fúria e investia contra as árvores. Baas e Gadrak sempre paravam de se deslocar evitando perder o equilíbrio nestes golpes, aproveitavam ainda para demonstrarem suas presenças à criatura, provocando-a ainda mais. Enquanto isso, Kine seguia processo parecido, mas não apresentava sua presença, escondendo seu corpo com habilidade e seu cheiro graças ao extrato de raiz roxa. Sua intenção era distrair e ganhar tempo, pois a fêmea ficava irritada e atordoada com a situação. 

A dupla de caçadores continuou seu deslocamento preciso, com saltos curtos, mantendo a criatura num implacável ritmo de perseguição. Sabiam que Kine fizera bem sua parte e torceram para ele retornar em segurança. Mantinham e repetiam cuidadosamente suas atitudes, evitando cometer erros. A criatura demonstrou leve cansaço e já não investia como antes, para um caçador inexperiente aquele poderia ser um sinal errôneo de presa fácil, fato que se concretizou. Quando estavam bem próximos do buraco perceberam que os jovens goblins, ávidos pela emoção ou apenas inconsequentes, estavam no chão, confiantes apenas no extrato usado e em sua pouca habilidade de camuflagem. Gadrak pensou naquele momento que eles talvez quisessem provar coragem e seu valor diante dos mais velhos enquanto Baas pensava que os três eram burros demais para não seguir uma orientação clara. Esses breves pensamentos rapidamente foram seguidos dos gritos de ambos caçadores, que tentavam alertar sobre o perigo enquanto mantinham a atenção do poderoso javali. Foi em vão, a criatura tinha sido duramente castigada e seu cansaço foi suplantado ao ver presas; finalmente; a seu alcance. Sua fúria foi despejada violentamente em uma carga contra os goblins que acreditaram estar ocultos àquela besta que posicionava suas presas para um golpe fulminante.

Gadrak viu o momento em que Jajem foi atingido no peito, as presas perfuraram o peito do pobre jovem com tamanha força que o líder de caça sabia que costelas e órgãos se partiriam diante daquela violência, pode rapidamente ver nos olhos do incauto caçador, o desespero diante da morte e as lágrimas que escorriam em seu rosto. Lágrimas temerosas de um jovem intempestivo após cometer erros, porém aquele erro seria o último cometido por Jajem.  O goblin foi arrastado por alguns metros, enquanto todos ouviam enquanto ele se afogava em seu próprio sangue, sinal dos pulmões perfurados. Havia aquele som gorgolejante de pedido de socorro que impedia os movimentos de Gbada e Ogwe. Os dois ficaram parados, desesperados e atônitos com o que havia acontecido. O corpo do indivíduo atingido caíra, quando o javali balançou rapidamente a cabeça para se livrar do peso extra, fez uma pequena curva para iniciar nova investida. Não ouviram mais sons suplicantes de Jajem.

Baas e Gadrak sabiam que o medo levaria a vida dos outros dois. Sacaram suas azagaias, segurando-as com uma mão e com a outra prepararam os escudos improvisados. Saltaram corajosamente, gritando em direção aos jovens. Aquela ação surtiu efeito e impediu o exato momento de novo ataque do animal, que aparentemente avaliava a ameaça. Isto deu tempo para o líder de caça orientar aos berros os jovens a se afastarem. A voz firme dele fez com que Gbada e Ogwe recuperam-se momentaneamente o controle e se afastassem em direção a árvores próximas. O javali ao perceber a situação das presas iniciou seu movimento letal. Baas se posicionou e esperou até o último momento para tentar se esquivar, habilmente posicionou o escudo de maneira que as presas não o atingissem em cheio e que o golpe resvalasse a sua esquerda. Sua astúcia foi decisiva e impediu o ataque mortal, porém a força e o impacto foram tremendos que ele foi arremessado perdendo seu escudo e arma. Gadrak aproveitou então esse momento para escorregar do lado oposto ao ataque aproveitando para estocar a parte inferior da anca do javali, aquilo diminuiria sua velocidade e permitiria que eles tivessem maiores chances. O golpe foi perfeito e a azagaia penetrou fundo em uma parte em que o couro não era tão rígido, inclusive se partindo. 

O animal ferido sentiu o golpe e cambaleou. Gadrak não sacou armas, soltou seu escudo e pensou no buraco, precisaria de menos peso possível e todos os membros livres para adquirir velocidade e potência para ação que imaginava. O javali hesitou, mas pôs-se a enfrentar o desafio, focando toda sua ira no líder. 

A disputa começou, o goblin correndo em direção a armadilha, pensado que seria sua última esperança enquanto a fera sentia que enfim acabaria com seu agressor. Ambos, goblin e fera sentiam arder em seus corpos, fornalhas que queimavam ao máximo as energias em uma disputa férrea entre predador e presa. A Mata Velha já tinha assistido aquela disputa inúmeras vezes e logo Gadrak percebeu que não teria chances diante da robustez de seu algoz. Ouvia os cascos cada vez mais próximos e percebia que faltava pouco para que seu plano desse certo. Foi então que o líder ouviu um zunido; uma pedra atingiu o olho da grande besta. A dor, desequilibrou-a, fazendo com que o salto da presa pudesse ser dado, restando ao javali uma queda direta sob as pontas afiadas do buraco. 

Baas recobrou as forças no momento certo e não deixou seu bravo parceiro sozinho, sua habilidade com a funda fora fundamental. Assim que percebeu a queda do animal, recuperou sua arma de haste e segurou firme sua azagaia com as duas mãos enquanto se dirigia para o buraco. Gadrak, ao terminar seu salto, já se virou rapidamente sacando sua machadinha de pedra. Ambos caçadores ouviam o sofrimento do javali, pois a queda desengonçada fizera um grande estrago em seu dorso, com várias perfurações. Tal fato instigou os golpes precisos da dupla de caçadores, que agora conseguia desviar dos lentos e ineficazes golpes da fera. 

Kine alcançou a todos no momento do abate do animal. Demorou para afastar a fêmea e então cuidadosamente se deslocar furtivamente de volta, sabia que o fato de cortar o córrego atrapalha qualquer perseguição olfativa. Sua sensação de alegria no sucesso rapidamente foi cortada ao perceber os jovens próximos de um dos seus, caído em meio a mata.

Os três caçadores estavam cansados. Se aproximaram de Jajem enquanto Gbada e Ogwe olhavam tristes para o líder. Gadrak queria gritar, mas não havia tempo para aquilo ou mesmo para rituais fúnebres. Manteve sua mente clara e logo orientou os jovens a pegar cipós e organizarem tudo para arrastarem a caça, precisavam ser rápidos em se movimentar pois a fêmea ainda estava viva e poderia retornar. Não poderiam carregar a besta abatida e Jajem ao mesmo tempo, não poderiam desperdiçar forças mesmo para preparar uma fogueira fúnebre, não poderiam perder tempo em uma cova. Olhou para todos, não precisou dizer uma só palavra. A vida deles era dura e não podiam nem mesmo se dar ao luxo de lamentar suas perdas. 

Gadrak se abaixou e pegou os adornos do clã. Quando pudesse, cantaria por ele e em suas palavras exaltava a maneira como entregou sua vida pelos membros da família que aguardavam em seu amado lar, iria ignorar a exaltação de sua tenra idade, sua memória não seria manchada pelo ímpeto, Jajem pagou com a vida e sua barganha seria usada para alimentar canções de caçadores e doutrinar aqueles que nasceriam. 

A jornada precisava continuar e o grupo dos cinco se afastou rapidamente sem olhar para trás, deixando Jajem ao abraço acolhedor da Mata Velha.


Continua…

Para ler mais contos de Thul Zandull clique aqui.

Quintessência e Nodo – Conceitos de Mago: A Ascensão

Olá meu senhor, acredito que você esteja atrasado, sem falar que semana passada o senhor não apareceu. 

Como ousa falar assim comigo criança? UM FEITICEIRO NUNCA CHEGA ATRASADO, ELE CHEGA EXATAMENTE NA HORA QUE TEM QUE ESTAR.

Mas vamos continuar os ensinamentos, se me interromper novamente, você terá uma morte dolorosa! 

Na última conversa, tivemos um vislumbre superficial do que são os magos verdadeiros, mas hoje iremos falar sobre o combustível da vontade, a quintessência.

QUINTESSÊNCIA

A quintessência para leigos, é o nosso pontos de sangue, para os lobisomens, é sua gnose, mas a quintessência não flui dentro do sangue do mago, e sim por por toda a sua existência e eles podem absorver de lugares (para alguns) sagrados, ditos como Nodo!

Nodo

Nodo é uma “fonte” que transborda este combustível e hoje em dia ele é raro de se encontrar, quando público, pode ser alvo de ataques de diversas criaturas das trevas. 

O nodo pode ser um lago em um lugar remoto, um laboratório (igual a esse dos nossos tecnomantes), um parque abandonado, ou seja… Um nodo pode ser em qualquer lugar. 

Capturando

Existem magos poderosos que conseguem capturar a quintessência de lugares ermos, sem a necessidade de um nodo,  mas é claro que, isso irá gerar um tremendo paradoxo. 

A quintessência também pode auxiliar na facilidade da realização da mágica, além de ser o combustível, com um pouco a mais, você pode deixar o seu feitiço mais fácil de ser lançado. 

Você conseguiu entender bem o que é um nodo e a quintessência? 

Na próxima aula vamos falar sobre avatar e se tivermos tempo, falaremos sobre paradoxo.


Henrique Ferraz
Lorde e Regente da Capela do Vale das Trevas.

Para mais textos de mundo das trevas clique aqui!

Sair da versão mobile