Kali de Los Santos – Dado Selvagem – Entrevista

Autora de Dado Selvagem, Kali de Los Santos é mestre em Letras, designer de contéudo e narrativa no Behold Studios e escritora de outros romances para o exterior e no Brasil. E hoje, tivemos uma entrevista com ela sobre seus trabalhos e sobre o mais atual romance do universo Tormenta; Dado Selvagem!

Sobre a Autora

Kali, um prazer te conhecer. E cara, tu foi uma grande surpresa para mim pelo menos porque você “surgiu” muito do nada no cenário de Tormenta e de Ghanor, os quais você está escrevendo. Fiquei “Meu Deus, quem é essa pessoa?”. Uma pessoa mestre em seu campo. Então antes eu queria que você falasse um pouco sobre você, o que você já escreveu, dos seus contos para o exterior, para a Dragão Brasil, então pode se introduzir para quem ainda não te conhece, por favor.

Vou ver por onde eu começo haha, eu tenho formação em Letras. Eu fui fazer Letras porque eu sempre gostei muito de ler e eu gostava muito de jogar RPG, e eu gostava de escrever e a coisa foi meio por esse caminho. Uma coisa que acabou me pegando muito durante formação e tal, foi quando eu nunca percebi que eu tinha uma desconexão forte com o cenário nacional, com as coisas estavam acontecendo aqui. A minha formação em Letras é em inglês, meu TCC foi em inglês. Meus trabalhos tem muita coisa de literatura inglesa, estadunidense e australiana. E eu acho que vem um pouco daí essa sensação de “nossa, essa pessoa veio ‘do nada’”, porque o caminho que eu acabei trilhando dentro da literatura foi muito de começar a ir a alguns eventos e conhecer uma galera de São Paulo e ai disso começar a transferir pra galera daqui (Porto Alegre). Então eu tenho um background mais forte na Literatura e agora pra criar para Video-Game também, trabalho a alguns anos com isso.

Mas eu sempre joguei RPG, que é uma coisa que eu comecei a jogar mais no inicio da adolescencia. Tormenta foi a segunda coisa que eu joguei, a primeira foi GURPS…

(Houve um pequeno silêncio nessa parte) Todo mundo começa com alguma droga pesada, né? Hahaha, é GURPS, é Vampiro, alguma coisa do tipo! Hahaha

Né? Haha, Então eu joguei muito Vampiro também. Joguei um tanto de D&D, mas não gostava tanto. Joguei um tanto de Mutantes & Malfeitores, e foi indo assim. Eu tive um periodo de parar um pouco de jogar pela vida e tals, ai os amigos se juntam para jogar em um dia que eu não conseguia e tal. E ai isso foi desaparecendo um pouco da minha vida, mas eu sempre gostei de me manter em contato de alguma forma. Tanto que o meu conto da Dragão Brasil foi em 2018, quando estavam lançando o Império de Jade. Então eu fiz um conto que se passava em Tamu-Ra, o Leque e a Espada (Dragão Brasil #132).

Eu sempre gostei muito do cenário de Tormenta, então gostava de me manter atualizada nisso. Eu comecei a trabalhar com RPG em 2019 e 2020, com revisão e tradução, eu trabalhei na tradução do Tales From The Loop e parte do suplemento Anarch de Vampiro V5. Traduzi os apêndices da campanha Odisseia dos Lordes Dragões de D&D e fiz revisão e preparação de texto para outros sistemas.

Então foi um momento muito feliz da minha vida de estar trabalhando mais direto com RPG. Mas é real que em termos da comunidade de RPG, eu me enfiei muito na literatura e eu fui entrando aos poucos quando comecei a trabalhar com isso, conhecendo, vendo quem estava falando do que, por onde seguir… É um processo, ir conhecendo novas comunidades e entendendo como funciona esses ecossistemas. E para mim foi muito especial quando a Jambô me chamou para escrever Dado Selvagem.


Sobre Dado Selvagem

É uma honra, sabe? Ano passado, quando o Cassaro tava em live, se eu tava vendo a live, sempre tinha alguém que perguntava; “E ai, quando vai voltar Dado Selvagem?”. Ai eu mandava um print para ele falando; “Olha ai, o pessoal fazendo as perguntas certas!”.

E eu escrevendo ali no sigilo, sem ninguém saber e eu não podia falar nada, haha. É algo muito grande e muito legal ver o voto de confiança que o Cassaro, a Karen e Jambô me deu, eu fico muito feliz.

Aproveitando esse gancho que você deu; Dado Selvagem, hein! Eu tenho uma história curiosa porque sempre foi uma historia muito misteriosa pra mim. Uma historia que sempre tenta voltar e nunca se fechou. Começou com uma aventura do Só Aventuras 3D&T Vol. 2, que se passava na cidade de Bek’ground e já tinha a Hit. Depois teve a HQ que saiu pela Dragão Brasil e foi cancelada, com o Daice Commoner.
Como veio esse convite para escrever Dado Selvagem? Você citou que o pessoal comentava e você já estava escrevendo, você se ofereceu? Chamaram você pelos trabalhos que você já tinha feito? Você escreveu pra DB, gostaram e ai te chamaram. Como foi?

Do que eu sei mais ou menos, é uma coisa que a Jambô tava querendo; Livros infanto-juvenis. Tormenta tem livros excelentes, com uma produção muito boa, mas muito adulta. O publico de RPG precisa se renovar. A gente tem essa coisa do pessoal que começou com 3D&T e é muito bom para o adolescente que tá cheio de criatividade e que tá cheio de ideia na cabeça e precisa de algo que seja simples e não a limite. Eu vindo de GURPS… (Hahah), para D&D e Tormenta, eu senti limitações, e me apontavam para o 3D&T, que não tinha essa estrutura bem fechadinha com tudo certinho. E 3D&T abre muita possibilidade.

Mas além do sistema, é interessante ter a literatura que chame a galera mais nova. Eu conheço e tenho amigos que tem filhos que são adolescentes e pré-adolescentes, que são muito fãs de Tormenta e agora vão ter um livro para apresentar o universo para esses filhos. E é muito especial fazer parte disso!

A Karen fez mestrado na PUC que nem eu, eu já havia chamado ela para eventos lá antes e a gente já se conhecia. Eu havia publicado na revista já e eu tinha esse link. Eu recebi esse chamado para fazer um romance infanto-juvenil. Eu achei muito ótimo.

Eu comecei a pensar algumas coisas, e ai ela chegou e falou “O Cassaro tem uma ideia!”. E ai quando falaram a ideia, eu fiquei imediatamente “SIM! VAMOS!”.

Muito legal! O Dado Selvagem tentou aparecer de muitas formas, como Aventura, como HQ, os personagens do Dado Selvagem, a Hit e o Dee, aparecem em outros pontos do universo Tormenta. A Hit inclusive aparecendo em um momento anterior do que ela é canonica no universo. Como foi escrever uma historia que já tem tantas interações e com esse histórico de uma historia que nunca “se fechou”?

Eu gosto muito de trabalhar com limitação. Então a ideia de trabalhar com um cenário que tem sistema pra mim já era maravilhosa, haha. Eu não preciso pensar como os poderzinhos acontecem, já sei como eles acontecem, eu jogo esse negócio, haha.

Quando entra na camada dessa premissa, ficou mais interessante ainda. Eu tinha várias coisas estabelecidas e eu tinha muita liberdade. O Cassaro passou; “Olha, a premissa é essa, tem essa pessoa aleatória que recebe o dado. A gente quer manter a Hit..” Que é uma personagem que todo mundo pergunta quando fala de Dado Selvagem. Elas falam “VAI TER A HIIITT!”

Hit, a Doida da Ponte. Ou não.
É uma personagem muito querida do cenário.

Ela é uma fofa! E assim como tinha essas limitações, eu tive muita liberdade. Eu pude escolher algumas mudanças para fazer em relação ao que usar da aventura ou o quadrinho. Que são formatos muito diferentes de um romance.

O Cassaro até virou pra mim e falou “Pode mudar mais!”, e eu “Não quero mudar mais!”, haha. Como eu resolvi manter um menino como protagonista, mas eu mudei o nome dele.

Não é mais Daice Commoner? D: Hahahaha

Não é mais Daice Commoner… É o Theo, Theozinho, meu bebê (Hahaha).

Eu fiz algumas mudanças para questão de adaptação, mas eu senti que foi gostoso reler os quadrinhos e pensar “Okay, o que eu posso usar que fica legal, o que não fica tão legal”. O processo de eu ter uma adaptação em mãos, mas eu tenho a liberdade para adaptar como eu achar que fica legal. E o Cassaro é um excelente editor, também, ele acompanhou o trabalho bem de perto.

Todo mês eu mandava pra ele o que eu havia escrito, e ele é muito querido então a gente conversava, foi um processo muito tranquilo. Não teve nenhum momento em que eu falava que queria algo e ele impedia na hora. Foi algo muito orgânico e leve o processo.

Que ótimo, cara. Isso tudo sobre o processo ser leve, a história é leve. Mas ai, eu começo a ler o currículo da Sra. Kali de Los Santos e começo a ler; “Escritora de horror” e ai eu leio o último conto dela e é uma boneca de pano assustadora, haha. Tudo isso é brincadeira, mas você pelo o que eu pesquisei, você veio do horror e escreve muita coisa de horror, mas também de fantasia. E em Tormenta, os livros e HQs mais adultos de Tormenta, como A Trilogia de Tormenta e Holy Avenger: Paladina. Nimb, o principal deus dessa historia, ele sempre aparece em uma pegada mais assustadora. Cômica, mas aquele cômico que tem algo de errado por trás.
Como foi para você, uma escritora também de horror, fazer isso de maneira que o adolescente possa pegar, ler e não chorar no meio da madrugada?

Hahaha… Então, assim… Eu acho que o que me fez focar muito bem nesse aspecto foi pensar; Eu cresci 100% com os livros como meus melhores amigos. Então eu quero escrever um livro que se eu lesse quando eu tivesse 12 anos, ele virasse um dos meus melhores amigos. Foi isso que me manteve nessa linha de fazer algo mais leve.

Tem alguns… momentinhos que eu fiquei; “E se eu dar uma pitadinha, um sustinho, uma pitadinha mais fechada”. Mas eu penso bastante que isso é algo que podemos construir. Não é uma questão de subestimar público. Um adolescente, um pré-adolescente, pode muito bem ler coisas que nos achamos que é pesado, mas principalmente quando eu tava mais no meio, eu senti um apego tão grande aos personagens que eu não queria que nada de ruim acontecesse com ele. Dai eu passava para o meu namorado dar uma lida antes de mandar pro Cassaro e ele falava “Eles precisam sofrer mais!” e eu respondia “Não…”

Mas ai eu fazia, porque tem que ter tensão, tem que ter esse jogo para fazer as vitórias serem significativas se as vitórias forem mais difíceis de alcançar. Mas tinha alguns momentos que eu tava tão apegada que eu só queria entregar tudo para eles resolvido.

Eles são muito, muito queridos. A Hit é perfeita… Foi mais ou menos por ai a minha visão.

Não importa com quem está o tabuleiro. Quem move as peças é Nimb!
Eu acho até curioso você falar que gosta de trabalhar com limitação e o Deus do Caos estar na jogada.

Comentando sobre isso, algo que eu fiz foi uma lista de poderes do dado e efetivamente joguei o dado enquanto escrevia, cada vez que o Theo usava os poderes. Os resultados são aleatórios. Se eu precisava que ele fosse esperto e lidar com o dado, eu precisava lidar com o dado. Em apenas uma única vez o poder não foi aleátorio e que eu senti que a narrativa precisava disso.

Eu tenho em vídeo inclusive porque quando tinha escrita em conjunto com a Karen, quando ela virava pro lado tava eu rolando o dado, e ela falava “tem que gravar isso!”.

Outras coisas, como poderes de Nimb da Hit, as vezes não dá certo e eu tenho que ser fiel a natureza aleátoria da coisa.

Algo que eu como mestre, ficava muito encucado, é que tanto na aventura quanto na HQ não tinha todos os poderes do Dado, então eu fico muito curioso de saber quais são os poderes do dado.

O Conto de Ghanor

Saindo um pouco de Dado Selvagem, eu queria falar um pouco de Ghanor. Você está escrevendo um conto para o livro As Aventuras de Feldon e Alma. Você entrou nesse livro enquanto já estava trabalhando no Dado Selvagem, como foi? Veio desse network com a Jambô?

Foi mais ou menos isso, mesmo. Tem uma coisa muito legal da Jambô que ele gostam de trabalhar com as pessoas que tem projetos que rolaram bem e continuar trabalhando juntos.

E eu estava quase terminando o romance, ai rolou o Financiamento e conversaram comigo para escrever o conto.


Escrever varias quests desconexas entre sí é bastante complexo, pelo visto.

Escrita para Romance vs Escrita para Jogo

Não temos muita informação sobre o Conto de Ghanor, mas falando mais sobre a autora, eu queria saber de você o que você acha que é a maior diferença entre escrita e literatura. Você trabalha desde 2018 com quests e textos para jogos, e eu queria saber pra você qual a maior diferença de escrever para isso e para literatura.

Então, eu tenho uma posição de design narrativo e de contéudo que faz as coisas serem mais especificas mas também muito geral. No jogo que eu to trabalhando agora, eu escrevo todas as quests e todas as cutscenes, descrição de item, etc… Empresa pequena, eu fico a frente de muita coisa. Eu sei de gente que faz apenas a parte escrita. Mas eu mexo dentro da engine de desenvolvimento tudo que é preciso.

A parte mais diferente é muito o processo. Em um romance eu sento com um documento aberto, eu faço um outline de todas as cenas do livro e trabalho nelas, sem alterar muito signficamente esse outline, no máximo alterando cenas de lugar.

Em jogos, tem um pouco disso, tem um flowchart grande e bonito para ver o que solta o que, que Quest pode começar, mas o trabalho é mais picotado. Porque você tem que fazer todas essas quests que se ativam depois de uma outra. E não tem um documento único bonito que segue uma linha. É uma engine com sete pastas diferentes com varias quests diferentes com sub-quests diferentes em lugares diferentes com tramas diferentes.

Então eu vou na engine, abro o arquivo, crio o prefab com aquela ação especifica. É um processo diferente porque eu to escrevendo uma experiência. É algo que me fascina porque tem muita coisa junto que molda a experiência, diferente da literatura.

As duas coisas tem seu valor, mas o processo é completamente outro.

Na minha visão, o livro é muito inicio, meio e fim. Você pega, lê o livro do inicio ao fim e acabou o livro, acabou experiência. Termina você guarda e talvez você leia depois de um tempo. O jogo tem coisa que talvez o jogador nem veja, que talvez um veja e outro não.

É bem isso.. Nesse jogo que eu estou trabalhando, tem como você começar duas main quests ao mesmo tempo. Mas a ordem e o que tu vai fazer no meio delas depende do jogador.

Tem jogos que são mais lineares em relação a isso, e isso não é um problema, depende do que o jogo tá querendo fazer, mas você tem essa possibilidade.

Essa possibilidade você tem em um livro jogo, mas não em um romance. A não ser que seja um livro muito experimental que vá nessa direção. Mas em geral um romance mais comum ele tem inicio, meio e fim.

O romance é uma experiência mais linear, o jogo é mais diferente para cada pessoa.

O que tem pra cima de Arton?
Você falou que o segundo RPG que você jogou foi Tormenta e tivemos o Atlas de Arton recentemente, e você está escrevendo em uma cidadezinha no canto do mapa. Se a senhora Karen e o senhor Guilherme falarem; “Adoraram Dado Selvagem, foi um sucesso, acabaram as unidades na CCXP, pode escrever em qualquer canto que você quiser!” para onde você iria?

Norte.

Norte?

Norte.

Norte inexplorado?

É, hahaha. Eu peguei o Atlas e eu fiquei imediatamente “Norte”…

“O que será que tem pra cima? Será que tem Ghanor para cima?”

Eu acho que seria bem essa vibe de; vamos pro norte, passar por Zakharin, vamo pra Namalkah, vamos subir!

Atravessar o deserto da perdição e ver o que tem depois!

Isso, e se possível chegar no deserto! Eu tenho ascendência árabe, e como teve esse aprofundamento do lore do deserto. Eu fico muito querendo ir pra lá!


Ascendência Árabe

Você tem ascendência árabe?

Tenho!

Síria?

Síria, exatamente! Hahaha

Síria-libanesa ou só síria?

Eu cresci ouvindo que era sírio-libânes. Mas vendo registro eu vi que é síria mesmo. O meu último sobrenome é Los Santos mesmo do meu pai, mas eu sou Abrahão por parte da minha mãe.


Falando de Jogar RPG

Qual a sua build favorita para jogar Tormenta20?

Que pergunta difícil… Esses dias eu tava no servidor vendo se alguém me ajudava a fazer um multiclasse que eu achei muito legal. Que era de Druida com Caçador… Mas eu gosto muito de jogar de Bardo… Eu gosto muito de ser suporte, porque uma coisa que eu faço muito é tankar e ser guerreiro e dar dano. E eu queria fazer outra coisa, dai eu notei que jogando de outra coisa, jogando de suporte eu penso mais enquanto estou jogando. Ao invés de só ir na cara do monstro e bater nele, eu sou suporte, eu tenho que pensar no que os outros estão fazendo, manejar mais a minha mana, pensar um pouco mais.

Eu tenho gostado de jogar de Bardo e de Druida, uma vibe mais suporte.


Dee e Vilões

O Sumo de Nimb é tão misterioso quanto seu deus.
Tem algo que eu to muito curioso… Lendo a aventura e a HQ, não fica muito claro quem é o principal antagonista de Dado Selvagem, dá a entender que é o Dee, mas eu não sei. Então a minha pergunta é; Como foi escrever o Dee? Porque assim como o Dado Selvagem tá ai, o Dee tá até a mais tempo, ele tá sendo explorado a muito tempo em muitas coisas, e é um dos sumo-sacerdotes mais emblemáticos do cenário. Como foi pra você?

Então, eu peguei o Dee bem na vibe da HQ. Então já vou deixar claro para não criar expectativas que o Dee não aparece muito no livro. Ele existe ali, mas não tem muito foco nele.

Porque; Outra coisa que a Jambô quer e eu vi muita gente comentar, é que tem menos coisas oficiais que lidem com escopos pequenos. O que é oficial vai ter um escopo enorme. Por exemplo; Os livros da Karen já tem um escopo muito grande no Joia da Alma e aumenta bastante o escopo em A Deusa do Labirinto. E antes disso teve o Flecha de Fogo, que eram os mais recentes.

Eu sinto que o Cidade da Raposa (Lucas Borne), o Dado Selvagem e as Torres de Wynlla do João Vitor, a ideia era diminuir o escopo para lago mais low level e que esteja em um espaço mais focado e que não tenha algo como “Oh meu Deus a grande consequência do cenário”.

Grandes campanhas e grandes sagas precisam existir, mas a ideia dessa leva de romances é dar um passo pra trás e pensar a vida de quem ainda não é um grande herói épico.

E isso encaixa bem com o que o Lucas escolheu, quanto com a ideia de um livro mais infanto-juvenil com personagens mais jovens. O Theo tá ganhando o dado e tá começando dai. Eu troquei o irmão dele por uma irmã, que é mais presente e mais jovem que o irmão do Daice no quadrinho.

Fazer algo com um escopo menor com essas pessoas que não são adultos e aventureiros. Então é algo para não envolver que o Dee que é muito mais complicado e poderoso para esse nível de história.

Adendo sobre a Hit

Eu só queria fazer um adendo. Todos os meus leitores beta tiveram a Hit como a sua personagem favorita. Então fãs da Hit, fiquem felizes! Hahaha.

Eu estou bem feliz de como curtiram a Hit e era muito importante que ela seguisse sendo muito importante.


Conclusão

Estamos partindo para o final da entrevista, então você pode passar uma mensagem para os leitores, o que tá no seu coração.

Aqui em Porto Alegre, eu e outras pessoas como a Vitória Vozniak, Andrezza Postay e o Brendon Duhring organizamos um sarau que se chama Singularia, que é um sarau de literatura insólita e queer, é um projeto muito querido e que estamos muito felizes de estar fazendo. Tem dito mais pessoas LGBT envolvido com literatura fantastica e eu acho que precisamos pensar mais nisso e trazer bastante isso.

E pra mim é uma alegria ser a primeira autoria não-binária bissexual de Tormenta, first time ever, eu fico muito orgulhosa por isso. E eu acho que é isso. Estarei tentando participar mais de eventos e fazer mais coisas por ai para conhecer mais da comunidade que é tão bonita e tão acolhedora.


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Entrevista com Kali de Los Santos, Autora de Dado Selvagem

Texto: Gustavo “AutoPeel” Estrela

Revisão e Arte da Capa: Isabel Comarella

Entrevista com Pedro Henrique – O Legado RPG

Olá, pessoal! Antes de conhecermos o jogo de O Legado RPG, conheceremos o autor desse cenário publicado pela Craftando Jogos.

Pedro Henrique, ou PH Autarquia, é formado em direito,  professor universitário, se arrisca a escrever alguns contos, é aprendiz de game design e desenvolvedor de RPG de mesa. Além disso, é streamer de RPG atualmente do canal 20contar RPG.

Movimento: Como foi o início de sua vida rpgística?

PH: Com 14 anos de idade fui convidado para jogar Vampiro, a Máscara. Foi paixão à primeira vista. Logo em seguida descobri 3D&T e Tormenta, nos quais desenvolvi inúmeras campanhas. Já nessa época tentava criar RPGs, mas nada muito legal… Não demorou muito para descobrir AD&D e GURPS também.

Inspirações

Movimento: O que lhe fez criar o mundo do Legado?

PH: Minha paixão por fantasia moderna! Amo histórias de fantasia futurista e moderna, influência direta da série Final Fantasy. Ao longo dos anos tentei desenvolver cenários nessa pegada (inclusive, cheguei a fazer uma versão futurista de Tormenta!). Porém, só lá por meados de 2016 comecei a ter ideias de um jogo de fantasia nos tempos atuais. Em 2017, joguei pela primeira vez o Devil May Cry 1 e fiquei maravilhado! Tinha que fazer um jogo naquela pegada. Depois assisti a série Shadowhunters e, apesar de não apreciar o enredo, amei toda aquela ambientação fantástica nos tempos atuais e baseada nas mitologias cristã e judaica. Tudo isso me inspirou bastante para criar O LEGADO.

Movimento: Não há como não olhar O Legado e não lembrar de Mundo das Trevas da White Wolf ou então o, também, mundo das Trevas do Daemon. O que difere o Legado destes cenários/sistemas mais antigos (ou clássicos)?

PH: Bem, o Mundo das Trevas é fantasia urbana puxada para o terror e drama, O LEGADO é fantasia urbana, mas heroica. Mas para não dizer que não aproveitei nada do Mundo das Trevas, adotei um sistema de Alma que lembra a Humanidade em Vampiro. Já Daemon foi uma influência para muitos rpgistas dos anos 2000 por conta de sua acessibilidade (era barato e vendia em bancas). Porém, ao fazer O LEGADO, fui direito na fonte de inspiração de Daemon: Call of Cthulhu e Basic System.  Ah sim, Pathfinder 2 também influenciou muito!

Futuro do Legado RPG

Movimento: Há previsão de novos produtos para O Legado? Pode nos adiantar alguma coisa?

PH: Além do LEGADO, também haverá outro livro básico: SOMBRAS E AMEAÇAS, que é o livro das ameaças e antagonistas. Teremos também um livro com uma campanha do nível 1 ao 10 desenvolvida e escrita pelo nosso querido Ximu (Casa Velha, Muito Abaixo do Oceano), na qual os personagens deverão evitar o próprio Apocalipse. E por fim temos o suplemento que traz elementos da cultura japonesa para o jogo: Discípulos da Virtude, escrita por Leandro Abraão (Cangaço Trevoso e Morte S/A) e O’Neil Deatsu (Flecha Mágica).

 Movimento: Você participou ou participa da produção de algum outro produto nerd?

PH: Sim. Tenho um conto (Um Herói em Ação) na coletânea Curtos e Fantásticos vol. 2 da Jambô. Também serei autor de uma aventura em Muito Abaixo do Oceano. Atualmente sou o gamedesigner de O Último Ancestral RPG.

 

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Entrevista com Bárbara Côrtes – Movimento Labareda

Bárbara Côrtes é criadora do Movimento Labareda, Coordenadora da Área de Games da Copag e co-fundadora da Liga Brasileira de Mulheres Tabuleristas e foi entrevistada pelo Movimento RPG após convite no DOFF 2023

Entrevista

Primeiramente, Barbara, muito obrigado por aceitar fazer está entrevista e por poder participar aqui, e eu gostaria que você se apresentasse e dissesse um pouco mais sobre você e sobre o seu trabalho.

Em primeiro lugar, muito obrigado pelo convite! Fico muito lisonjeada.

Meu nome é Barbara Cortês e o Movimento Labareda é uma produtora cultural que eu abri para dar conta de projetos culturais relacionados a jogos de mesa modernos, principalmente, mas também a linguagens culturais urbanas que constituem nichos culturais com projetos que já estavam rolando. Eu eventualmente fazia alguns através da Liga Brasileira de Mulheres Tabuleristas, que foi refêrencia para mulheres do mundo dos jogos do ano de 2020 até o final de dezembro de 2022. Foram três anos muitos bonitos em que estive envolvida com a Liga.

Por ser antropóloga eu tinha muito essa pegada, particularmente, de compreender os comportamentos de mundos de nicho na cidade grande. E um dos mundos que me chamavam muito a atenção era dos jogos offline, chamados de jogos de mesa, que está crescendo para caramba mas ainda é uma coisa que a gente considera um nicho. Mas o objetivo da Labareda não só é difundir essa linguagem para a população em geral, mas mudar a visão e a percepção sobre ela nas instituições, particularmente do governo inclusive e também no imaginário popular.

Deslocamento Cultural

Como que a gente tem essa visão? A gente quer deslocar culturalmente o que é vendido como um entretenimento superfluo, que é um aspecto relevante culturalmente falando, mas também abranger ai a percepção. O jogo tem a potencialidade muito similar ao do livro. Assim como as exposições museológicas, a do cinema. A de outra forma de expressão criativa, humana.

E além de ser uma linguagem cultural como todas essas outras e com o seu potencial, ela traz muito além do caráter lúdico, da diversão e das narrativas que a gente conta, o jogo moderno é muito pautado pela escolha. Então a gente começa a formar o pensamento a partir do momento que a gente joga, a partir do momento que a gente fala sobre jogos, a gente está literalmente reproduzindo uma forma de pensar o mundo.

Eu posso, por exemplo, preparar um sanduíche em um jogo. E isso está me ensinando como é que aquilo funciona, como existe uma relação de ação e consequência na montagem de um sanduíche, que a gente chama das mêcanicas de jogo.

Esse potencial está sendo muito desperdiçado enquanto ele estiver somente concentrado em um varejo pequeno, com alcance reduzido e elitizado, limitado ao aspecto do entretenimento supérfluo e etc…

Aqui eu vou começar com uma pergunta que me é muito importante; Eu me considero uma pessoa períferica e nunca tive condições de comprar jogos de tabuleiro em grande quantidade. Amigos meus tinham jogos clássicos como Jogo da Vida, Banco Imobiliario e etc.. Mas eu nunca tive um meu. Eu fui começar a jogar jogos de tabuleiro quando fiquei mais velho. Enfim, a minha duvida é; A gente vê uma ascensão muito grande, muito boa, da periferia em meios culturais.
A gente vai ter a Perifa Con chegando com diversos movimentos da comunidade periferica, o SESC dá um auxilio muito bom para isso. O que o Movimento Labareda e a Barbará como pessoa também tem de planejamento para a literária na periferia, para as comunidades que muitas vezes infelizmente vai viver a vida inteira sem jogar um jogo de tabuleiro diferente do que a gente já conhece por não ser acessível. Então qual seria a visão do Movimento Labareda para essa integração da periferia com os jogos analógicos?

Acho que justamente um dos problemas que a gente vivencia no nicho é a ideia que a pessoa física, o consumidor final, precisa ter poder aquisitivo para comprar o jogo na sua casa para poder jogar, para poder conhecer o jogo. E existe uma ilusão que o questionamento disto, que uma visão diferente disto ela vai contra o caminho das editoras.

Na minha visão, inclusive agora eu estou trabalhando com uma editora que é a Copag que tem um porte industrial, é uma outra situação para estes produtos populares, então ela é uma via de conexão do mundo dos jogos com a população geral. Agora, a partir da Labareda, que é uma outra frente da minha vida, o que eu posso dizer é justamente que ela tem como visão central ocupar os espaços urbanos das bibliotecas, dos espaços públicos, dos espaços privados de circulação publica como livrarias, cafés, restaurantes populares e não populares, de uma forma que as pessoas possam ter contato com o objeto de jogo para além da aquisição dos exemplares.

Popularização dos Livros

Então, por exemplo, como é com o livro? O livro está mais incluído na nossa sociedade, o que pouca gente sabe é que nem sempre foi assim. Se a gente corre um pouquinho atrás da historia da Europeia Ocidental (que de um jeito muito problemático nos influencia até hoje por conta da nossa historia) a gente tem uma grande concentração do acesso ao ler simplesmente por conta do clero que era uma classe estatal também. A partir do momento que nós temos a tradução da Bíblia, a gente começa a ter a popularização do primeiro livro e se torna muito popular e temos a difusão das bibliotecas.

Curiosamente, mesmo com muitas implicações politicas e de uma forma muito ligada a religião, mas é um fato histórico interessante que eu acho que pode nos ensinar também, é que a partir do momento que um objeto se torna estável, se torna acessível que você pode pegar, tocar e ter uma relação própria com aquilo, a gente sai desse lugar da sacralidade inalcançável do totem que é de acesso apenas dos ricos ou quem tem um poder politico especifico e a gente começa a popularizar esse objeto e que as pessoas podem interpretar porque ela vão ter contato com aquilo.

A Sociedade Moderna

No caso da sociedade moderna, falando particularmente dos jogos, quando eles começam a estar presentes em locais aonde podem ser tocados, jogados e podem trazer a curiosidade das pessoas, eles começam a fazer parte da vida das pessoas de uma forma muito simplificada.

Além disso, a gente vai desafiar uma certa cultura de escalabilidade, de colecionismo da galera que tem poder aquisitivo e que acumula jogos em um lugar que chama de “prateleira da vergonha” mas na verdade é uma “prateleira da ostentação”. Que tem uma quantidade absurda de produto lacrado e que nunca vão ver mesa.

Enfim, como que a gente vai abordar isso? Primeiramente, tentando colocar atividades com jogos nos espaços culturais, a começar pela rede Sesc.

A Rede Sesc

A rede Sesc é uma parceira sensacional e a gente sempre briga para manter o Sesc porque a gente vê o brilho no olhar das pessoas que vem muito facilmente e muito rapidamente que aquilo é para elas. As pessoas que estiverem lá vão ter diferentes realidade socioeconômicas, profissionais e de perspectiva, e todas elas entendem que aquilo é para ela porque simplesmente é um espaço de circulação, e se esse objeto participa de um espaço de circulação, participa da vida delas sem necessariamente precisarem ter um poder aquisitivo para serem proprietárias daquilo, elas são usuárias.

Além disso, mudando a percepção do governo sobre os jogos, a gente consegue ter uma difusão nas escolas, que é um dos espaços fundamentais, e das bibliotecas publicas, aonde elas conseguirão ter este acesso.

Produção Local

E também precisamos investir na população local, nos talentos nacionais que são muitos e que começam a criar uma rede de produtos. A gente criar um campo educacional todo próprio porque é algo que não tem estruturado no Brasil, e valorizar essa produção local com talento de todas as partes de todas as cidades e movimentar a economia local com isso e também dar oportunidades aos desenvolvedores destes locais e de lugares periféricos, e também para beneficiar o consumidor final que tende a ter aquele produto com preço mais acessível.

Problemas que a gente tem; Produção local carece qualidade. Mas isso é porque a gente não tem muitos exemplos de produção estruturado. Nós temos talentos incríveis que não conseguem fazer um produto de qualidade porque não tem a quem recorrer. Por outro lado a gente pessoas que tem acesso ao material de qualidade mas que não tem acesso ao que é game design e ao desenvolvimento de jogos mais difundidos. Nós precisamos desenvolver a conexão dessas contas através de bancas de estudo de game design, da produção de conhecimento e de conteúdo pedagógico para ao despendimento de projetos voltados para isso, como se há necessidade de financiamento coletivo, além de cursos e referências de game design, etc…

Sobre Iniciativas

Uma parcerias com iniciativas como a PerifaCon e uma recente do Movimento Labareda que é o Maloca Games. Que tem um protagonista perifico, não eurocentrado, no caso do Maloca é um estúdio, uma editora fundada por quatro sócios incríveis que se propõe em fazer afrogames, jogos de perspectiva não eurocentrica.

A gente já se conhece a muito tempo, eu, o Renan e o Sanderson particularmente, o Sanderson tem um trabalho incrível, o Cangaço é um dos jogos que mais me chamou atenção em termos de produção nacional. Ele é muito bem feito em termos de game design e criação, mas também é muito bem produzido.

Maloca Games

De uns tempos para cá a Maloca Games tem investido em aprimorar os seus processos e entender como estabelecer de forma mais estruturada essa ponte. Então tem sido um trabalho que a gente é muito apoiado em termos de produção cultural parceira.

Esse tipo de parceria e nós fomentarmos iniciativas  que tenham esse olhar também é fundamental para que a gente possa popularizar a discussão.

Na Palestra do DOFF sobre ludoliteracia, um dos palestrantes comentou que era professor e que poucos alunos conheciam jogos de tabuleiro que temos como difundidos, o que é algo muito triste e preocupante. Qual você acha que é o primeiro passo para atrair o governo e as escolas publicas para adicionar ferramentas educacionais com jogos analógicos nas escolas?

A primeira coisa é a gente começar a ocupar os editais culturais. Não existe a categoria jogos de mesa na maioria dos editais e, quando existe, geralmente é ligada a jogos eletrônicos. O que é extremamente raro mas que eu não posso afirmar que não acontece é que, quando existe a categoria de jogos offline ela é muito distorcida, ela está ou dentro de “brinquedos” ou dentro de uma leitura bastante problemática de “jogos educativos” que, ao meu ver, não são jogos e sim dinâmicas lúdicas ruins. Como perguntas gerais de conhecimento de mundo. Isso não é uma característica que a gente chamaria de jogo, que tem um começo, meio e fim, um objetivo, seguir regras e falar sobre o tema sem ser baseado em uma desigualdade entre os jogadores, pelo contrario, que quando os jogadores estiverem ali eles estão em um campo de semelhança.

A Renegação dos Jogos Analógicos

Os jogos não existem como categoria, mas existem brechas que a gente encontra para começara inseri-los nesses editais culturais. Nós podemos, por exemplo, fazer publicações associadas a jogos, a gente pode fazer atividades culturais com jogos.

E estando junto com atores culturais que tem mais voz institucional, sempre dialogando com entidades que tem uma proximidade politica mais interessante do governo (sempre questionando, também, essa entidades) a gente consegue acessar as pessoas que estão fazendo isso.

A gente não pode esquecer que as coisas que acontecem nas instituições acontecem através do interesse pessoal de alguém. Não no mal sentido, mas tendo uma disposição de energia de alguém lá dentro para que isto aconteça.

A Luta Paralela

Claro, existe uma luta paralela também, uma questão muito mais voltada as questões tributárias, em projetos de lei que modifiquem a compreensão da categoria jogo enquanto mercado. Isto é outra coisa e tem sua relevância econômica para o mercado de jogos, mas em termos culturais dessa visão da importância do potencial educativo do jogo, a gente precisa usar os mecanismos do governo para que conheçam o jogo. Eles não conhecem, eles não sabem do que se trata, como a população geral.

É um trabalho de formiguinha de ir lá, pessoalmente, dar as caras e falar “Olha, existe isso aqui”.

Outro trabalho também é desmistificar o jogo em si mesmo, o que é isso?

Desmistificação dos Jogos

Não é um jogo para aprender matemática, um jogo para aprender biologia, esquece isso.

Quando um professor ele passa um filme em sala de aula, ele sabe do valor cultural alto que aquele filme tem. Não necessariamente passar um filme para passar matemática, porque ele já aprendeu na formação dele que o filme é uma linguagem cultural, o que ele aprendeu sobre o jogo? Que o jogo é um brinquedo, uma ferramenta, e que ele pode usar essa ferramenta com um outro fim, como ensinar um conteúdo da grade curricular. Mas a gente precisa mudar essa visão do próprio educador também.

Tudo bem, ele pode usar como ferramenta, mas já parou para perceber que o jogo é autossuficiente? Ele por si só, como obra de arte, ele desafia na prática, que o aluno esteja simulando alguma coisa, alguma experiência de vida.

Alternativas para desmitificação

Com as pessoas que compõe o governo e os educadores e com as instituições culturais que tem mais voz publica. E ocupar os editais culturais fazendo projetos para inscrever jogos como parte deles.

Outra possibilidade é exposição museológica sobre jogos, documentário, produção audiovisual, integrar a linguagem é uma coisa que a Labareda faz e que traz uma mudança na visão das pessoas sobre os jogos.

Você trouxe muito o exemplo de colocar os jogos como manifestação cultural da mesma maneira do livro e do cinema. Nesses casos, a gente percebe um ciclo destas duas; Os livros tiveram uma época do Brasil em que eram pouco consumidos e depois foram popularizados com grandes autores nacionais e no cinema tivemos uma época de um certo vazio e um crescimento com grandes obras como Cidade de Deus e Central do Brasil. Hoje temos um cenário literário e de cinema com grandes referências porém bastante nichado.
Qual dessas áreas você acredita que os jogos brasileiros estão? Você que ele está em uma ascensão para um expoente relevante ou você acha que vai ser seguido outro caminho?

Na minha visão é o seguinte; Depende quem a gente deixar tocar essa locomotiva. As forças são paralelas e andam juntas, talvez seguimos diversos caminhos ao mesmo tempo.

Se a gente seguir a tendência de olhar para a editora que estiver fazendo mais sucesso com um produto especifico, etc e tal. E tentar fomentar o consumo baseado nessa aquisição de classe média, classe média alta do consumo como algo exaltado e muito valioso em termos econômicos, infelizmente a gente vai continuar nichado por muitos anos.

Felizmente, eu acredito e faço parte desse movimento ativamente de pessoas interessadas de seguir um outro caminho que é um caminho de difusão e que tem como principio que existem diferentes agentes no mundo dos jogos. Eles são diversos, tem diferentes realidade socioeconômicos, diferentes recortes raciais e de gênero e que exercem papéis complementares nessa comunidade.

Agente Sociais

As editoras são responsáveis por divulgar a obra no nicho, produzindo os jogos. Mas também os produtores de conteúdo tem essa relevância primordial porque são agentes de comunicação e informação.

Os game designers, criadores, tem uma importância que deveria ser obvia, mas ainda são pouco valorizadas.

Os eventos tem uma importância na fomentação de comunidade também.

Se todos esses agentes começam a ganhar visibilidade a gente segue um caminho muito mais interessante, porque se torna um caldo mais diverso.

Há pouco tempo atrás tínhamos a conversa de “Quais jogos apresentar para minha família”, os famosos jogos de entrada (que eu acho um termo bastante problemático) que parece um portãozinho para se entrar e autorizar a entrar.

Além da visão “micro”

Mas quando saímos desse micro do jogo, objetos agrado, que está na mão da distribuidora que é a única coisa que importa. Você começa a conhecer o mundo dos jogos a partir dos agentes, dos Tabuleiristas, você começa a ter uma difusão que não é só uma pessoa que vai jogar um jogo famoso, mas também aquele cara que tem uma ideia de jogo e começou a querer estudar game design, e também aquela pessoa que começa a falar de hobbies (literatura, cinema, etc..) e ela começa a falar de jogos porque é um dos conteúdos.

As pessoas começam a chegar de lugares diferentes. No momento que o Brasil está é um momento que a gente está decidindo deixar o poder concentrado em um ou dois players que “nossa são os heróis que fundaram o nicho no Brasil” ou dar o próximo passo e falar “Legal, muito obrigado, mas o que a gente pode fazer a partir de agora?”

Vamos construir de uma forma plural? Que reconhece as pessoas que estão fazendo acontecer, como coletivo? Em pessoas diversas que estão chegando agora, sem ficar presos em um mito fundador de quem trouxe o hobby para o Brasil? A gente pode fazer melhor e virar essa chave que pode trazer uma realidade plural para os jogos.

Dentro do nicho dos jogos de tabuleiro, tem algo um pouco mais intrínseco mas que o Brasil está mais difundido nisso, que são os RPG de mesa. Particularmente eu vejo o Brasil um pouco mais familiarizado com isso, nós temos um cenário de RPG de mesa bastante quente com exemplos como Old Dragon 2 que saiu a pouco tempo do Financiamento Coletivo e editoras que escrevem romances, quadrinhos e também RPG. Também é possível perceber que o RPG cresce muito em cima de nomes específicos.
Aproveitando esse gancho, qual a relação da Labareda com o RPG de mesa?

Olha, a relação está engatinhando pelo motivo muito simples que é; eu estou engatinhando nessa relação e começando agora no mundo do RPG. A visão é a seguinte; o RPG é uma visão fantástica, mas sim, diferente do que chamamos de jogo de tabuleiro modernos.

Por ter algo muito mais interpretativa e baseada e eventos. O grosso dos jogos de tabuleiros modernos é muito baseado em previsibilidade, que vai ao contrário do RPG.

Nesse sentido, existe uma intenção da Labareda de fazer projetos com RPG? Sim, completamente.

Quais projetos? Manda ai, proponham. Hahahaha.

Como que a Labareda funciona? Existem duas frentes; Produção e criação interna, em que a equipe pensa o que tem demanda e o que precisa ser feita e encontra maneiras de executar isto. E a outra frente é o sentido oposto; Alguém procura a gente sem saber como executar algum projeto que queira fazer. Se for uma empresa a gente faz um trabalho de consultoria mesmo. Mas caso seja um coletivo, uma pessoa, a gente vê o que faz sentido para aquela ideia, encontrando qual a maneira mais interessante de aplicar aquela ideia que ele propõe.

Então faço o convite aqui a pessoas do mundo do RPG que tenham interesse em fazer projetos culturais, desde eventos até atividade integradas, por exemplo; O RPG se relacionando com a galera do teatro, como um espaço cultural com uma programação que faz uma parte de interpretação e depois uma mesa de RPG como demonstração. Trabalhando uma atividade para fazer a outra.

Mesmo que o RPG seja um jogo, estamos mais focados nos board/card games, mas a gente tanto tem abertura para RPG quanto temos abertura para outras práticas verticais.

Algo que é pouco conversado no meio é sobre acessibilidade. A gente teve grandes avanços quanto a acessibilidade, não apenas financeira, mas também acessibilidade física. Muitas vezes coisas como daltonismo ou niveis de dislexia afasta algumas pessoas dos jogos de tabuleiro e que eu não consigo ver muita resposta.
Como seria possível vender uma caixa separada para essas condições especificas. E são diversas variáveis que adentram esse problema e eu vejo pouco isso ser falado no meio dos jogos de tabuleiro. Existe alguma ideia ou iniciativa que está sendo conversa de soluções para tornar acessíveis os jogos de tabuleiro? Quais as soluções que o Movimento Labareda enxerga para acessibilidade no meio dos jogos de tabuleiro.

Em uma conversa que eu tive com o Mario no canal Sabe o Mario? Um cara incrível que trouxe muito isso para a pauta por ser cadeirante e encontrou dificuldade de acesso em alguns eventos em SP. Curiosamente, o evento mais acessível foi em uma biblioteca pública, no BGZO (Board Games Zona Oeste) que é um evento muito legal. Bibliotecas publicas, por serem publicas e por serem bibliotecas são lugares muito mais acessíveis por uma questão de lei, mas que já são uma questão interessante para a gente pensar nos circuitos de circulação da comunidade tabulerista.

Como estávamos falando, uma das maneiras das pessoas acessarem os jogos são os eventos, aonde elas vão ter contato com aqueles jogos. Quando as pessoas não participam dos eventos elas também não conhecem os jogos.

Para bem e para mal (agora falando como antropóloga) nada surge para todos, nada nasce para todos. As coisas podem se tornar cada vez mais acessíveis, plurais e diversas, cabe do nosso trabalho fazer com que isso aconteça.

Porque nada nasce para todos? Não é porque as pessoas são mal intencionadas (As vezes sim…). Porque toda criação humana parte de uma perspectiva e toda perspectiva é limitada.

Desenvolvendo eventos

Ninguém consegue prever todos os grupos sociais e todos os seres humanos na sua própria criação. O que é lindo de viver em sociedade? Que a partir do momento que a criação é posta no mundo, pessoas diversas vão começar a saber da sua existência, e a partir desse momento a gente começa a questionar se essa existência não pode ser desenvolvida para outros caminhos.

Esse fenômeno social chamado de “Jogos de Tabuleiro moderno” nasce poucas décadas atrás em um contexto eurocentrico, excludente, elitizado, branco, europeu, masculino e esse jogo moderno começa a ter outros agentes sociais que acham aquilo interessante e que também querem fazer algo dentro disto e a gente começa a ter discussões de acessibilidade, passando por questões de gênero, raça, classe, deficiência, dentro outras.

É uma transformação constante, e o nosso trabalho é trazer as pautas a debate para mesa conforme a demanda.

Nós temos um trabalho muito interessante com a comunidade surda através do Diversão Offline e do pessoal do Joga na Mesa, que não tem uma dificuldade com o jogo em sí mas muitas vezes com o evento que divulga, já que temos uma tradição muito oral de aprendizado dos jogos e isso pede que tenhamos mais material divulgado de maneira escrita para esses jogos e temos também a galera do Tabuleiro Acessível e o Sabe o Mario? Falando sobre a questão da acessibilidade dos espaços.

De acessibilidade dos jogos, temos alguns estudos de jogos sendo feitos para cegos e muitos  casos de estudo de jogos que são feitos pensando em daltônicos na sua versão original.

A visão da Labareda

A Labareda procura fazer com que todas as suas atividades sejam acessíveis na medida do possível com seus recursos atuais. Se a gente não reconhece a diferença e a limitação da perspectiva, ou seja, fique cada contexto de trabalho necessite uma atenção especial, de um recorte e pensando sempre tudo para todos, a gente tá passando um rolo compressor na sociedade passando uma sensação de igualdade.

Por isso, os espaços precisam ser acessíveis. Os jogos podem ser produzidos cada vez mais para que mais pessoas possam ter acesso.

Se o jogo que é produzido hoje deixar de participar de um evento porque ele não é acessível para uma certa demografia e eu tenho uma proporção enorme de outra demografia que seria impactada, eu preciso priorizar isso neste momento.

A Labareda trabalha com acessibilidade em todos os sentidos possíveis, mas não significa necessariamente que todas as atividades serão acessíveis para todos. O nosso proposito é ter cada vez mais consciência de qual é o direcionamento publico que a gente tem, que cada atividade seja explicitamente anunciada dessa forma. E que ela vai ter uma limitação, o mínimo possível, mas dependendo do contexto.

Eu queria perguntar sobre a Liga Brasileira das Mulheres Tabuleristas, como que foi a liga para você, o processo como profissional. E o que mais você puder falar sobre o projeto para você.

É sempre muito afetivo para mim falar da liga… Foi um coletivo muito transformador para mim e para a comunidade tabulerista (que foi um termo que a gente cunhou alias hahaha). Tentando resumir, contextualizando para quem não conhece, a Liga surgiu da percepção que mulheres ao redor de todo Brasil vivenciava experiências parecidas em relação ao mundo dos jogos. Isso aconteceu com a pandemia em 2020, a GenCon aconteceu de maneira online e teve a GenCon in Portuguese com vários painéis abertos. Um desses panes foi sobre representividade e convidou algumas iniciativas protagonizadas por mulheres ao redor do Brasil para falar.

Entre elas estava a Lady Lúdica, que é um evento famoso no Rio de Janeiro. A BG Girls, a BG das Minas, que até então eu não conhecia e que é de Aracaju e a Joga Mana que é de São Paulo e do qual eu fazia parte.

A Nanda Sales era uma das integrantes do Joga Mana ia participar do painel da GenCon. E ai, olhando a programação desse painel, vi que eram todas iniciativas de mulheres que tinham uma historia parecida; Que jogavam em eventos mistos e encontravam situações de machismo, dificuldade de convivência e resolveram criar um evento só para mulheres na própria cidade.

Cada uma em uma cidade diferente, passando pela mesma coisa e tendo a mesma ideia e a gente não tava junto. Quando vi isso, eu cheguei para as outras mulheres do Joga Mana e falei “Gente, desculpa mas a gente precisa criar um centro de referencia nacional e tem que ser agora. Porque a Nanda vai falar daqui a dois dias na GenCon e tem que ser lá.”

Elas olharam assim e não entenderam, me chamaram de louca, mas que me apoiavam.

A Iniciativa da Liga Brasileira de Mulheres Tabuleristas

A gente fez uma reunião e fizemos um site em um Google Forms com as informações que queríamos saber das participantes.

O formulário era muito grande, demorava cerca de 40 minutos para ser descendente preenchido e não dava nada no final. Nenhum brinde e nem nada em troca.

E mais de 250 mulheres ao redor do Brasil inteiro começaram a preencher, em muito pouco tempo. E foi uma prova de que o publico feminino não só existem como tem uma voz muito relevante no mundo dos jogos, mas que estava sendo invisibilidade, porque cenários mistos são muito sufocantes para mulheres.

Então a gente ter fundado a Liga foi um ato politico muito importante na minha opinião, de mostrar e dar visibilidade mesmo a um publico que já existia e que já estava fazendo muitas coisas acontecerem. Mas na hora de falar com a mídia e quais são as nossas referencias esse publico sempre é esquecido.

Então a gente começou a oferecer respostas; Oportunidade de publicação dos jogos, oportunidade de ouvir e acessar conteúdos que elas consideravam importantes mas que os três maiores da época não falavam. Como sustentabilidade na relação dos jogos, os temas do jogo, a questão dos jogos em família. A gente começou a executar essas coisas, até que começou as parcerias.

A Liga cresceu ao ponto de ter 14 mulheres de regiões diferentes de todo Brasil.

O Fim da Liga

Só que chegou um momento que era tanta coisa acontecendo, tantas demandas pessoais e tudo voluntário. Por outro lado, a gente começou a ter parcerias institucionais e questões jurídicas para lidar.

E a gente teve uma conversa sobre separar o grupo, porque se não alguma coisa teria que ser sacrificada.

Ou a gente virava um grupo como uma ONG ou uma empresa, a ideia não era ser trabalho, mas estava se tornando isto e precisavam ser melhor remuneradas e tornarem viáveis.

Decidimos juntos encerrar a Liga, ela tinha cumprido o seu papel, para que esse projetos possam seguir seus rumos. Nossos princípios foram espalhados, mas cada projeto seguiu seu próprio caminho.

Deixamos como legado a Oficina das Ligadas, que é um evento semanal de playtest de jogos de mulheres por mulheres. Apenas mulheres se encontram virtualmente para testar esses jogos.

De um primeiro momento foi gerido pela Nanda Sales, depois pela Cynthia Dias, Hélia Vannucchi e a Led Lima. Algo que eu acho muito interessante é que nenhuma delas é de São Paulo e foi algo totalmente orgânico de ter acontecido. A Oficina das Ligadas continua de forma totalmente voluntária.

E com os projetos, do meu lado eu fui com a Labareda, que eu criei com muito sangue nos olhos e o nome dela já diz muito né. Justamente de pessoas interessadas que só faltava uma atitude, uma labareda, para reagir e fazer.

Conclusão

Bem, Bárbara, muito obrigado pela entrevista e agora fica o espaço para falar de projetos e a conclusão.

Muito obrigada, mais uma vez, fico muito contente com esse convite e com esse papo. É uma honra poder estar conversando.

Quem quiser acompanhar eu to no instagram @movimentolabareda e @seumovimento, movimento é o que guia muita coisa na minha vida. Quem quiser conhecer o que foi a Liga Brasileira das Mulheres Tabuleristas, o site vai ficar no ar até o dia 31 de Julho.

Projetos futuros

Nós estávamos na DOFF 2023 que é um projeto que tá no coração da comunidade e com uma mulher a frente. E nesse momento do evento quisemos dialogar com a comunidade, por isso duas coisas aconteceram; Um projeto prático ligado a oficinas e prototipagem, desenvolvimento de game design na prática. E tivemos um espaço, o Espaço Labareda, aonde tínhamos um caderno de sugestões. Não existe jogo sem ação e a gente perguntou o que as pessoas queriam ver. A gente teve respostas muito interessantes e o que cada uma dessas pessoas podem esperar é um segundo semestre cheio de projetos, algo que eu já posso falar é que a gente tá com uma parceria muito legal com a unidade Bertioga do Sesc, lá do litoral. Estaremos presentes em Julho e talvez em Dezembro no Centro de Cultura Alemão que é um espaço aberto e gratuito, é só chegar.

E queremos trocar figurinhas, então mande sua mensagem, mande a pauta que quiser acontecer que a gente faz acontecer.

Muito obrigado pelo espaço, mais uma vez.


Por último, mas não menos importante, se você gosta do que apresentamos no MRPG, não se esqueça de apoiar pelo PadrimPicPayPIX ou também no Catarse!

Assim, seja um Patrono do Movimento RPG e tenha benefícios exclusivos como participar de mesas especiais em One Shots, de grupos ultrassecretos e da Vila de MRPG.

Além disso, o MRPG tem uma revista! Conheça e apoie pelo link: Revista Aetherica.


Entrevista com Bárbara Côrtes – Movimento Labareda

Texto: Gustavo “AutoPeel” Estrela

Revisão e Arte da Capa: Isabel Comarella

Entrevista com Mago dos Dados – Dados de RPG Artesanais

O Entrevistado

O Mago dos Dados vem há um ano fazendo dados e outros artigos de RPG de maneira artesanal. Abriu um financiamento no Catarse para apoiar alguns de seus projetos, e hoje concederam uma entrevista para o Movimento RPG.

O Mago dos Dados é gerenciado por Tamires e Bruno, um casal de Dice Makers brasileiros , que iniciou o projeto, quem fala comigo na entrevista é a Tamires.

Entrevista

Tamires – O Mago dos Dados

Cara, falta 3 dias (Na época da entrevista) para acabar o Catarse, e ai?

É! Faltam 3 dias, a gente ta correndo agora pra bater a meta de 40.000 que é a meta dos anéis de condição e estamos mandando mensagem pra galera que falou que ia comprar depois do dia 30, a gente tá lá ativando todo mundo. Falta mais ou menos menos de 4400 para bater essa meta.

 

Eu fui uma das pessoas que falou que ia apoiar depois do dia 30, mas já apoiei e agora to animado. Porque eu lembro que quando vi o Catarse de vocês eu achei bastante interessante porque sempre que eu compartilhava com meus amigos, o pessoal do meu grupo de RPG que eu mestro, sobre dado artesanal era sempre coisa de fora. Ai quando eu vi uns dados bonitos e tals, achei que era de fora mas era brasileiro. E é muito engraçado porque tem pouco brasileiro fazendo isso, então eu queria saber; Quando que deu na telha tipo “Pô, vamos fazer dado de RPG”?

Olha, foi muito engraçado, acho que eu tava fuçando na timeline do Instagram e ai apareceu um dado artesanal, maravilhoso. Ai eu falei; “Meu Deus eu preciso disso”. Eu mostrei pro meu marido, e eu sempre fui do lado de artesanato e ele mais do lado empreendedor da coisa, então ele me falou; “Porque a gente não faz?”

Começamos a ver sobre, pesquisar material no Brasil. Como eu trabalho em uma empresa química já ajudou porque tem coisa com resina, consegui bater um papo com o pessoal de como funcionava e tal.

Então começamos a fazer teste e descobrimos que no Brasil falta muita matéria-prima, o básico tem que é a resina e algumas cores, mas você vai comparar com o pessoal lá de fora, alguns efeitos que eles fazem, a gente fica quebrando a cabeça, fazendo teste, mudando matéria-prima, faz coisa mirabolante de virar molde para fazer o efeito que lá eles fazem só de colocar. E ai começou a dar certo.

Além disso, meu pai ele pinta muito, então a gente comprou uma impressora 3D e, quando tem que por coisa dentro, a gente imprime e dá para ele pintar um por um para colocar dentro, ele adora e fica maravilhoso.

E ai a gente começou a subir o nível, tem alguns outros brasileiros que fazem dado e a gente troca figurinha e troca ideia com outros dice makers e não só com eles, mas também com quem faz miniatura, com quem faz ilustração, etc…

Porque a gente começou fazendo não só para vender, mas também para dar como recompensa, dar de presente e tals. Então pra quem apoiar, na caixa não vai vir só os dados como também voucher de desconto de parceiros, de ilustrador, de miniatura, de camiseta.

A gente entende que um ajuda o outro e assim todo mundo vai junto na comunidade. A gente tinha bastante medo no começo, a gente ficava se perguntando; “Será que vai vender?”, “Será que alguém vai pagar por um conjunto de dados desse?”.

 

E é surreal, né? Porque parece que quando você está começando a planejar, as coisas parecem que são de outro mundo, e querendo ou não o RPG é um hobby caro, os livros são meio caros, mas comprar dado é um nicho dentro do nicho e a gente vive em um país subdesenvolvido e tudo mais. É difícil imaginar essas coisas. Mas quando eu vi eu achei muito daora porque vocês estavam fazendo algo que eu via pouca gente fazendo e que faltava no nosso meio.
E quando vocês venderam o primeiro, foi aquela euforia, como foi?

Então, a gente foi lá, postou, e quando vendeu o primeiro, eu não me aguentava. Ai a gente começou a planejar o que mais a gente consegue fazer de diferente. Então a gente pesquisa muito no Pinterest e no Instagram que tipo de efeito dá pra fazer. Nem tudo dá certo, eu até fiz um reels mostrando quantos dados deram errado até chegar no efeito certo. É muito difícil as vezes.

O próximo que a gente quer fazer e que a gente ta quebrando bastante a cabeça é um que tem o olho de Sauron no meio e ele se mexe, mas olha, quem comprar no catarse vão ser os primeiros que vão poder comprar quando der certo.

 

Ai, minha carteira, hahahaha. Porque eu já to vendo que eu vou querer um desse, já vi fotos de alguns parecido e são muito legais!

Então, reações desse tipo são o que motiva a gente, porque a comunidade abraçou a gente demais. E o pessoal do RPG é muito criativo, então vem cada ideia louca que a gente tenta fazer e dá certo.

E eles defendem muito a gente, eles compartilham com amigos.

Até teve uma historia muito legal de uma pessoa que pediu a outra em casamento. Colocou a aliança dentro do dado do d20. Ela fez um conjunto inteiro de 8 dados e no d20 maior tinha a aliança e ela pediu o namorado em casamento. Foi muito legal!

 

Eu acho muito maneiro coisas assim. E tipo, eu conheci vocês um pouco antes do catarse e vi que vocês tem bastante dado diferente mesmo, principalmente os squishy que você pode apertar, e que eu vou usar muito para tacar nos meus jogadores. Mas eu vi também que vocês começaram a vender outras coisas como grímorios de bolso e outros que são escudos do mestre.

Então, sim! A gente começou a vender um escudo que ele é mais ou menos do tamanho de uma folha sulfite, mas ele se desdobra e se modula para a maneira que o mestre precisar. Então tem as caixinhas que o mestre pode colocar como uma pratilheira, pode colar coisa com imã, tem imã escondido dentro da madeira para grudar coisa. Se precisar de espaço pode tirar para colocar outras peças. É exatamente para cada um usar do jeito que quiser.

Assim que todo mundo receber, a gente vai colocar alguns deles pra vender a parte, porque muita gente gostou do projeto do Escudo. Nós fizemos varios testes para deixar modular, cobrimos com veludo para não machucar os dados, fizemos aberturas para caber os dados dentro.

E começamos a fazer com logos personalizados com os sistemas que o pessoal mais joga, como Cthulu, Vampiro a Mascará, Dungeons & Dragons.

Ai disso começou a vir gente procurando a gente pedindo coisa personalizada e começamos a adaptar pela demanda que as pessoas traziam.

Como a Torre de Dados, que uma pessoa nos procurou pedindo e a gente adicionou ao Catarse.

A parte criativa parte muito também da comunidade e a gente só poe a mão na massa.

 

Uma das coisas que eu mais gosto é que vocês não fazem só dado mas também acessórios para mestre, como Escudo, torre, etc…

A gente enxerga que o Mestre/Narrador é o coração da mesa, ele que incentiva, que chama, que planeja, então a gente vê que tem que dar um carinho a mais. E isso foi ideia do Bruno de fazer um escudo para os mestres puderem usar.

A gente fez uma versão do Mago, mas também desenvolvemos com outras capas. E ele é feito de couro, com fivela, tem uns 7 kg o escudo, mas ele facilita bastante para colocar as coisas dentro.

No próximo a gente planeja fazer um suporte que cruza o escudo para que o mestre possa carregar de maneira mais fácil e levar como uma algibeira. E queremos montar também uma mochilinha para deixar mais organizado ainda, por mapa com grid. Mas isso vai vir apenas no próximo apoio. Porque pra levar e jogar na casa de um amigo precisa ser bonito para usar de decoração e ter aquele impacto na mesa e algo prático para levar com mais facilidade.

 

Uma coisa que me deixou bastante curioso disso tudo; No momento que vocês abriram o Catarse tá acontecendo muitos apoios de outros sistemas de RPG, o FATE acabou de acabar, mas começou o da Coleção Arton, Aburei RPG, A.I.L.A e de outros sistemas. Não são exatamente concorrentes diretos de vocês, mas rolou algum tipo de conversa com alguns dessas editoras? O Aburei por exemplo é independente, mas a Coleção Arton é da Jambô Editora que é maior e vocês já fizeram alguns baseados em sistemas existentes, mas chegou a ter alguma conversa com editoras para fazer algo do tipo?

Então, algumas editoras procuram a gente para fazer lançamentos, mas a gente não foi muito atrás. Até não época perguntaram se a gente ia abrir o Catarse agora porque ia sair a Coleção Arton de Tormenta, mas a gente já tava programado e já tinhamos falado com a comunidade e a gente tem uma conversa muito aberta com eles.

Então perguntamos o que eles queriam e eles preferiram o Catarse e perguntamos o que eles queriam que tivesse e montamos em cima do que foi pedido. A gente inicialmente ia produzir em Março, mas vendo os prazos não daria para produzir tudo, então conversando a gente chegou para abrir em Maio, que é bem quando a gente faz um ano de Mago dos Dados. Então juntou muita coisa; Ia ser em Maio, foi o que a gente combinou, é o mês do Nerds que tinha muita coisa saindo, então fechou em Maio mesmo.

 

Vocês trabalham em trio, você, seu marido e seu pai, mas o Catarse deu muito certo e teve bastante retorno. Há algum planejamento de expansão do négocio?

Então, com 6 ou 8 meses de Mago, a gente começou a sentir necessidade. A demanda começou a ficar muito grande, tinha gente que pedia dado mais complexo e que a gente precisava de mão de obra. A parte mais crítica é a parte de lixar o dado, começamos a procurar gente que tenha essa noção e delicadeza, porque se lixar errado acabou o dado. Começamos a procurar, mas é muito dificil. No Catarse percebemos que podiamos usar para investir nisso, então nós queremos comprar maquinario para acelerar o processo e chamar alguém para lixar com o máquinario.

Mas temos varios planos para o que dá pra fazer conforme o Catarse dá certo, com máquinas para polimento, para lixamento, etc…

E com o máquinario que faz isso, a gente consegue ganhar tempo para não ter que parar e ativamente fazer essa partes.

 

Sobre planos futuros; Quando toda a campanha tiver acabado, tudo entregue, o ultimo envio for feito, quais são os planos futuros?

A gente quer voltar com a lojinha porque tem bastante demanda de dados especificos. Quando a gente começar a desafogar os pedidos a gente vai começar a pensar em uma segunda edição, conversar com os nossos parceiros que são maravilhosos e topam nossas ideias e entram no que a gente quer fazer.

 

Esse é um modelo que vocês querem continuar seguindo? Tipo, de tempos em tempos abrir um Catarse com novas coisas?

Sim, ou com variações com o que a gente já trouxe, mas deixar 6 meses para interagir com o povo e para testar novas coisas.

Estamos conversando também com desenvolvedores de jogos que trouxeram jogos de fora e que vão abrir um financiamento também e que chamou a gente para fazer os dados deles. E são dados bastante diferentes.

 

Vocês já estão vendendo dados bem diferentes que são os dados de poção, né?

Sim! E nesse quebramos a cabeça, contratamos uma pessoa e passamos algumas referências para ela nos ajudar a fazer. Teve umas 17 versões dele e ai enfim a gente conseguiu, moldamos e conseguimos fazer. A gente comemorou tanto!

E é algo muito diferente porque não tem nada parecido no Brasil, ele faz barulhinho, tem um líquido dentro. É muito legal.

 

E qual a relação de vocês com o RPG em sí? Como começaram a jogar, o que jogam?

Hoje em dia tá dificil conseguir tempo para jogar porque eu trabalho e faço MBA. Mas a gente se conheceu jovem, em uma biblioteca, jogando RPG. Ele todo metaleiro com sobretudo e eu com cabelo curtinho pontudo pintado de vermelho, jogando Vampiro, a gente se olhou e ai eu descobri que ele era o meu vizinho.

A gente virou amigo, eu mestrava Lobisomem, e ele jogava Vampiro, D&D e 3D&T.

A gente ia em um Encontro Internacional de RPG que eu fui pra ir mestrar Lobisomem. Hoje é mais comum ter mulher mestrando, mas na época todo mundo estranhou “Você mestra lobisomem?”.

Gostava de jogar também Mago a Ascensão e Changeling.

 

Para finalizar a entrevista, O que vocês esperam pro futuro e se vocês tem algum recado para o pessoal que apoiou ou está apoiando?

Cara, a gente tem muito a agradecer. Porque a comunidade abraçou muito a gente e abraçou muito a gente. Se não fosse eles a gente não estaria nem aqui.

O pessoal que divulga, que incentiva, a gente tem só a agradecer do fundo do coração, porque a comunidade é demais.

Quando a gente sobe os videos e coloca isso no fim, é porque não dá pra traduzir em palavras em como é isso. Só dá mais gás e vontade de fazer coisa diferente e apostar e pegar pra fazer algo especifico para as pessoas, a gente gosta muito desse carinho que é reciproco.

E é muito legal também porque é tudo muito transparente, quando surge alguma dificuldaded com a resina ou algo do tipo a gente diz o que aconteceu, manda foto, vídeo e a pessoa recebe muito bem. A gente envolve o cliente desde o inicio e cria junto.

O Mago não é só duas pessoas, é a comunidade inteira. O Catarse deu certo por causa de todo mundo que participou e que divulga o nosso trabalho.

O que a gente espera é virar referência e quando alguém pensar em algo sobre RPG ter a gente em mente e pensar em parcerias com editoras para seguir o trabalho.

Uma coisa que sempre vem em mente é um cara que gatinha dele veio a falecer, e ele era muito pegado a gatinha. Ele chamou a gente falando que tinha pelinhos do gato e perguntou se a gente podia fazer algo com aquilo. A gente aceitou e fizemos o set com o pelinho dentro, fizemos umas patinhas do lado de fora.

E algo que ele não sabia é que a gente fez uma miniatura da gatinha com pintura e enviamos para ele sem ele saber.

Dai quando enviamos ele tava trabalhando, enviamos pro trabalho dele e ele enviou audio chorando e agradecendo.

Essa sensação, essas historias gostosas e fazer parte delas é algo que até arrepia e para a gente é muito bom falar disso e fazer parte disso.

As pessoas voltam com esse carinho. Nesse um ano não tivemos problema (E esperamos que continue assim), porque as pessoas nos ajudam demais.

Nós só temos a agradecer.

Conclusão

O mais legal dessa entrevista inteira foi o carinho que o casal do Mago dos Dados fala do projeto deles.

Algo artesanal assim, principalmente de brasileiros, é algo que sempre me deixa muito bobo com o trabalho sendo feito. Espero que você que tenha lido tenha gostado da entrevista e se sinta inspirado a ajudar com os produtores de artigos de RPG nacionais, como eu fiquei.

Caso se interesse em ajudar, o Catarse termina no dia 04/06, e você pode ver em Página do Catarse

 


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Texto: Gustavo “AutoPeel” Estrela

Revisão: Isabel Comarella

Arte da Capa: Juaum Artwork

Entrevista com Glauco Lessa – Coleção Arton

ATENÇÃO

Essa entrevista com Glauco Lessa terá spoilers dos livros A Flecha de Fogo, da Trilogia da Tormenta (Inimigo do Mundo, Crânio e o Corvo e Terceiro Deus) e da stream Oito Nuvens. Você está avisado!

 

O Entrevistado

Glauco Lessa é autor, assistente editorial na Jambô Editora e redator da revista Dragão Brasil, ele escreve alguns conteúdos para os jogos Tormenta20 e Império de Jade para lá e é escritor do Atlas de Arton, um dos livros da Coleção Arton, financiamento coletivo da Jambo Editora que bateu 100% da meta principal em 50min e aceitou conversar com o Movimento RPG.

A Entrevista

Cara, primeiro desculpa a demora, mas eu achei que o Meets gravava nativamente, mas to apanhando pra tecnologia aqui, o que é irônico porque eu trabalho com TI normalmente, então não deveria estar apanhando pra tecnologia hahahaha

Que isso pô, é normal, eu entendo bem como é, meu trabalho é escrever, revisar. Então, teoricamente, não é para eu apanhar de texto. Mas é justamente por trabalhar com isso que eu apanho, né? Eu estava mexendo em um texto do Atlas aqui, tendo uma dificuldade. Mas esse tipo de coisa acontece normalmente com a gente que trabalha com isso.

Mas cara, agora falando do assunto; Que absurdo de sucesso foi a Coleção Arton, hein rapaz?

É sim, foi um absurdo mesmo porque. Bem, eu não estava no primeiro financiamento, eu estava do outro lado, do lado do fã, né. Eu estava acompanhando e apoiando do lado de fora. E ai eu estava pensando antes de começar o financiamento do Coleção Arton; “Como é que vai ser esse financiamento agora?”. Porque naquela ocasião era um livro básico, então a pessoa que quer começar a jogar vai ter o novo jogo e tal. Mas agora vão ser os suplementos e nem todo mundo quer os suplementos. A pessoa as vezes tá satisfeita com o livro base ou vai querer só os PDFs. Eu fiquei pensando um pouco nisso.

Mas ai eu acho que entrou o trabalho da galera do nosso marketing e do Dan Ramos (Diretor de Arte da Jambo Editora), especialmente na parte visual, os caras são muitos bons. Pensando na Coleção enquanto produto, a Caixa e as capas dos livros que você vê lá no site do financiamento são muito bonitas e dá vontade de ter, sabe? É algo que o Thiago Rosa falou e que eu não tinha parado pra pensar; O Atlas e o Ameaças estão com capa de livro básico.

Porque é normal que o livro básico tenha uma capa mais elaboradora e não é natural que os suplementos sejam assim, eles são mais simples. E não cara, o Dan e a equipe deles colocaram um esforço nas capas que parece que são dois livros básicos. Apesar da gente reforçar que para jogar Tormenta20 você só precisa de um livro e nada mais para poder jogar, ele é apenas o primeiro passo que alguém que está entrando pode querer dar. O Atlas e o Ameaças não são necessários para jogar Tormenta20, mas se você tiver, vai ser outra experiência.

Durante a campanha da Coleção Arton, um pouco antes dela iniciar na verdade, o Guilherme Dei Svaldi (Diretor Chefe da Jambo Editora) postou no Twitter o que deixa ele mais animado para o Atlas de Arton e alguns dos escritores colocaram o deles. Mas eu não sei se eu perdi, até procurei antes da nossa conversa para confirmar, mas realmente não achei qual são as 5 coisas que mais te deixam animado para o Atlas. Então agora seria o momento de saber o que te deixa animado para o Atlas.

Cara, eu acho que eu perdi essa corrente hahaha. Mas eu vou corrigir isso sim, nessa corrente o pessoal foi puxando o que elas escreveram, então eu vou fazer isso também. Não está necessariamente em ordem de prioridade porque tem muita coisa boa, mas as 5 seriam; Tamu-ra no Atlas e a Pondsmânia, que foram as coisas que eu mais me envolvi no Atlas. E o que mais me empolga vendo as outras coisas é Ubani… Doherimm eu também acho que vai ficar muito bom e os Três Mares, porque foi uma coisa que eu levei em consideração enquanto escrevia é que Tamu-ra é uma ilha distante e agora que Arton está tendo aventuras marítimas mais intensas já que, agora no cenário, os mares estão mais conectados e está mais fácil navegar por ali e chegar mais facilmente em Tamu-ra.

Porque antes quando tinha o Istmo de Hangpharstyth, teoricamente, só o lado leste do continente de Arton podia ir de barco e de se morar. Agora após os eventos da Flecha de Fogo, mesmo ainda sendo muito difícil, teoricamente você pode sair do lado oeste do continente de barco, passar por Khubar ali e chegar em Tamu-ra, se você quiser.

Assim a lista final fica desta maneira:

  • Tamu-ra
  • Pondsmânia
  • Ubani (a antiga Grande Savana)
  • Doherimm
  • Três Mares
1410 – Istmo de Hangpharstyth

Só lugar tranquilo, né? Passar pela Ossada de Ragnar, atravessar Khubar que só tem um Dragão-Rei que de vez em quando sai da água, suave hahaha.

Hahahaha, mas se bem que Khubar foi a primeira temporada do Legado do Ódio né? Altas tretas realmente, só que comparado com a Ossada de Ragnar, Khubar é um point, é uma parada que as pessoas fazem.

Você comentou dos Três Mares e uma das ultimas coisas que se sabe do cenário é porque o deus Oceano desapareceu e que vários grupos marítimos estão buscando ele. Essa situação do Oceano está um pouco nebulosa, tem algo sobre isso que você sabe e pode falar?

O legal é que nesse caso eu posso ser sincero, porque eu não sei também hahahaha. Mas é de se esperar que vai ter algo porque, na minha visão, um dos objetivos com o final do Flecha de Fogo (além da historia) foi facilitar essas historias de navio e de pirata. Como que ficava a situação; Você queria jogar com algo assim, um pirata, um bucaneiro e Arton é um mundo com um grande continente importante. Tem Tamu-ra, tem Moreania mas, no geral, meio que você ficava com o mar preso porque tinha um pedaço de terra que dividia as coisas. E o que aconteceu no final do Flecha de Fogo, obviamente faz sentido com a historia que o Leonel Caldela estava contando, tinha que ser ali mesmo e tinha tudo haver com a profecia e tudo mais. Mas em termos de world building, é também muito conveniente e pertinente porque agora todos os mares estão conectados.

Então por mais que tenha a Ossada de Ragnar no caminho, que é um obstáculo muito legal para uma aventura, ainda é um lugar navegável, antes não era. Você troca um lugar que só estava no meio do caminho e que antes nem passar dava e agora é possível atravessar para o outro lado.

Eu e o Trevisan (Editor-Chefe da Dragão Brasil) gostamos muito de historias de pirata e de aventuras no mar, tanto que ele jogou com o Nargon da stream da Guilda do Macaco. E esse tipo de historia é algo muito diferente do que a gente está acostumado a ver, e eu acho que a tendência é vermos muito mais historias de aventuras desse tipo, não só conteúdo de jogo mas conteúdo de lore, vai ter muita coisa legal como a Frota Aurea, vai falar mais sobre outros piratas e outros tipos de facção que possam existir no mar. Mas esse especifico eu não parei pra ler, eu me preservei um pouco porque o meu personagem no Legado é um devoto de Oceano e eu não sei o Segredo do Oceano. Eu fiz um personagem devoto de um deus que está numa situação meio nebulosa, eu me coloquei nessa lugar de jogador sem saber mesmo a resposta.  As pessoas as vezes podem achar que “Há, o Glauco está jogando com um devoto de Oceano então ele deve saber o que vai ser, e ai ele já fez um personagem pensando nessa revelação”. Mas quando a revelação vier, eu não faço a menor ideia, dependendo do que for revelado sobre Oceano, eu não sei como o Lauss (O personagem) vai reagir.

1420 – Ossada de Ragnar

Você acha que o Atlas vai abordar essa questão do que aconteceu com o Oceano? É algo que quem não está muito próximo do cenário nem sabe muito bem que está acontecendo.

Eu não sei muito bem, eu chuto que no Atlas vai comentar sobre o que aconteceu mas não vai dar a resposta. É uma coisa que só quem acompanha Live sabe que essa é uma questão no cânone, porque no livro básico não fala nada. Acho que vai ser algo meio a longo prazo esse plot do cenário, então provavelmente não vamos ter a resposta agora. Acho que justamente para ter esse mistério dos mares. De terem lendas e rumores do porque ele está assim e os próprios mestres poderem explorar isso na própria mesa sem ter uma resposta cravada.

Com a nossa conversa, eu percebi que você trabalhou mais no Atlas que no Ameaças, então você não teria muita coisa para falar sobre o Ameaças, né?

Não, não, no Ameaças eu não trabalhei muito. Diferente do Atlas que eu estava envolvido desde o começo, antes de saber quais eram os reinos eu sabia que ia ficar com Tamu-ra porque meio que aconteceu de eu herdar Tamu-ra em um certo sentido, sempre supervisionado né hahahaha. Isso foi acontecendo na Dragão Brasil, quando eu comecei a escrever pra lá, a primeira coisa foi sobre Império de Jade, eu era a pessoa que ia tendo ideias para Império de Jade, tendo esse domínio em termos de cenário o que estava acontecendo lá. Então meio que eu penso assim; “Cara, eu já estou aqui no Atlas, eu não sei quais reinos eu vou ficar. Provavelmente Tamu-ra vai ser um deles e vamos ver quais os outros né?”, e ai eu fiquei com a Pondsmânia. Como o Atlas é um livro feito por muita gente, teve um divisão bem maneira dos reinos, ninguém ficou com mais ou com menos. Claro que tem o Guilherme Dei Svaldi, o Marcelo Cassaro, o Leonel que escreveram boa parte tanto do Atlas quanto do Ameaças porque são alguns dos autores e tal.

E quando dividiram, me deram algumas opções e eu escolhi a Pondsmânia porque eu gosto muito de coisas que tem a ver com fadas e eu já tinha algumas ideias que encaixariam bem lá. E eu achei bem legal o resultado final, até porque eu acho que muita gente tem essa percepção de que o Glauco é o cara de Tamu-ra, então ele vai fazer de coisas como honra e Samurai…

Não vou mentir que quando eu busquei quem estava fazendo o que eu vi que você estaria com Tamu-ra fiquei “Nossa, o Glauco com Tamu-ra, que surpresa” hahahaha

É, então, eu achei legal porque na Pondsmânia eu pude mostrar um lado que é bem diferente, porque lá é um lugar muito caótico né?

Bem diferente de Tamu-ra que é tudo certinho, retinho, a Pondsmânia é loucura, é doidera.

Sim, é até bem o contrario, é muita viagem e tal. E eu sempre tive esse lado mais criativo de fazer umas paradas mais viajadas, só que em Tormenta eu ainda não tinha mostrado isso. Então foi uma oportunidade de mostrar isso.

Mas além das partes que eram suas, você ajudou a escrever outra parte do Atlas? Tipo, de auxiliar algum outro reino ou coisa do tipo? Alguém escreveu com você alguma das suas partes?

De ajudar a escrever mesmo não, a Pondsmânia e Tamu-ra eu escrevi sozinho. Claro, depois o texto é editado, o Trevisan leu e teve ideias que foram aprovadas ou não, e ai o Leonel leu e complementou com algumas coisas ou achou melhor tirar certas coisas, mas aí é no mérito do texto, não no mérito criativo.

O Leonel especificamente contribuiu com algumas ideias bem legais que foram pro texto final também.

No caso de Tamu-ra era mais o Cassaro, tanto que o texto que eu estava apanhando era justamente de Tamu-ra. Porque ele está pronto, só que ai ficou muito grande, dai ele olhou gostou e fez alguns apontamentos do que a gente precisava reduzir. Não para jogar as ideias fora, mas para não colocar todas elas porque o Atlas ainda tem um limite de tamanho e de número de páginas, não é um livro sobre Tamu-ra, então varias ideias boas tiveram que ser retiradas, com muita dor no coração, para aparecer mais pra frente. Talvez em alguma matéria da Dragão, futuros suplementos ou até futuros livros.

Algo que alguns jogadores especulam é que Samburdia, aonde fica a Pondsmânia, é bastante inspirada no Brasil. Então uma duvida que eu tenho é se você colocou alguma criatura do Folclore Brasileiro na Pondsmânia, como algum Saci, Curupira, Caipora ou algo do gênero.

Pô, na verdade no texto em sí eu não coloquei nada. Mas para mim nada impede que existam na Pondsmânia criaturas desse tipo. É uma das coisas que eu tomei para mim foi o seguinte; Se você pegar a Pondsmânia do reinado, ela tem um plano de fundo muito celta, como os contos de fada mais europeus. E eu acho isso legal, mas eu tentei transparecer a ideia que isso são mais as fadas nobres, mas na Pondsmânia existe de tudo. Então eu tentei que as fadas fossem o menos étnicas possível e o mais aleatório que pudesse ser. Nesse sentido que seria algo da mente humana, sabe? Então você poderia ter um Curupira na sua aventura da Pondsmânia assim como poderia ter uma Mula-Sem-Cabeça ou um Duende. No Terceiro Deus tem uma inscrição de uma fada que é tipo um Flamingo com uma cartola e ele é uma fada, sabe? É meio esse caminho que a gente foi.

Então meio que a Pondsmânia pode ir para qualquer lugar, né? Não está preso a uma espécie de fada ou de cultura especifica.

É, lendo o texto você percebe que pode colocar qualquer criatura de conto de fada ou folclore que funciona, não só um conto de fadas europeu, inclusive coisas de lugar nenhum que são da minha cabeça. A ideia é um pouco essa.

Cara e a Cidade Normal dos Humanos? Quando eu fui ver a região no Mapa de Arton, eu fiquei muito curioso com ela. O que você pode falar sobre ela?

Cara, a Cidade Normal dos Humanos foi a menina dos olhos do Leonel na hora dele revisar o meu texto, porque foi uma ideia dele. A Cidade Normal dos Humanos é a adição mais recente a Pondsmânia porque ela aparece a primeira vez no Tormenta20, todas as outras coisas da Pondsmânia são do Reinado ou do Tormenta RPG. Então eu tive que mergulhar em materiais bem antigos para ter certeza que não estava esquecendo nada para trás ou que eu não ia dizer nada contraditório com o passado. Mas a Cidade Normal dos Humanos foi ao contrario, eu só precisava ler o que estava no Tormenta20 e descrever mais, inventar mais coisa e preservar a sensação de estranheza que a cidade dá nos humanos. Ela nada mais é que uma cidade criada por fadas tentando simular o que os humanos pensam, mas elas tem dificuldade em fazer isso, essa é a graça da cidade.

Uma coisa legal que eu posso falar é que essa cidade tem a figura de um prefeito agora que é um NPC que eu criei, que é o típico NPC para dar aventuras para os jogadores, mas o legal dele é que ele é uma figura meio misteriosa até para uma fada.

Ele é conhecido como Ilustre Desconhecido, eu to chamando de ele, mas não tem nenhum gênero predefinido. O lance é que tem esse título de Ilustre Desconhecido. A parada dele é que toda pessoa que vê ele parece que é estranhamente familiar.

Como aquela pessoa que tu vê na rua e é estranhamente familiar, parece alguém que morou próximo ou que estudou com você mas você não lembra quem ela é.

Mas além disso, ele reconhece você. Então quando você encontra o Ilustre Desconhecido pela primeira vez, você tem essa vaga noção que você conhece ele de algum lugar e ele reconhece você. Tipo, ele vira e fala: “Fulano, quanto tempo hein!”, mas você não sabe de onde ele te reconhece. Ele não te reconhece só de nome, ele fala coisas como “Pô, lembra quando você estava naquela masmorra? Pô, foi difícil, você quase morreu”. E por mais que você se lembre daquele acontecimento, você não lembra dele lá. Só que no caso, você não se lembra ou não sabe se ele está falando a verdade. E o legal que dá pra usar esse NPC como um alivio mais cómico quanto como algo mais aterrorizante, que é uma das graças das fadas.

Agora, sem mais delongas podemos falar do seu lar em Arton, do seu xodó que é Tamu-ra, você tem uma relação muito próxima com essa região, não?

Sim, por mais que eu goste da Pondsmânia que agora também é meu lar em Arton, Tamu-ra foi quando eu comecei a jogar ela ainda estava destruída depois dos eventos de Inimigo do Mundo. Ai eu lembro que eu estava lendo os livros de Tormenta do 3D&T Turbo que era o que eu jogava e ai quando chegava na parte de Tamu-ra eu achei muito maneiro, como assim Samurai existe no mesmo mundo de Cavaleiro, mago, etc.. ? Que ideia genial!

Ai quando eu fui ler a seção de Tamu-ra, no finalzinho; “E foi destruída pela Tormenta e tudo se perdeu para sempre e agora só existe um bairro em Valkaria”. Eu me senti abalado, me prometeram tudo, me prometeram um Império de Jade, mas eu havia chegado tarde, ele já foi todo destruído, hahahaha.

Mas uma das coisas mais legais da Trilogia é que ela foi salva, foi reconquistada de volta. Ai veio Império de Jade e eu comprei alucinado, e então comecei a escrever na Jambo, como contei agora pouco, por causa de Tamu-ra.

E qual a principal diferença que temos entre a Tamu-ra do jogo Império de Jade e da Tamu-ra apresentada no Atlas?

A principal diferença logo de cara é que ela foi reconstruída agora. No Império de Jade tá em 1410, dez anos atrás na timeline atual do cenário. Ela estava se reconstruindo, o que ajuda a explicar porque ela não se envolveu em tramas como a Guerra Artoniana.

Além da distância, ela tava se reconstruindo, Tamu-ra é muito aliado do reinado porque ele recebeu os refugiados de Tamu-ra. Mas ela estava muito concentrada em se reerguer, obviamente que a Guerra Artoniana acontece e se resolveu, e grande parte da trama é jogar com aventureiros que estão fazendo missões para ajudar a reconstruir o império de uma forma ou de outra. Lutando contra monstros da Tormenta que sobraram ou resquícios dela.

No Atlas, agora estamos em 1420, foram 10 anos de reconstrução. Foi tempo mais que o suficiente para Tamu-ra estar de pé novamente.

Para mim foi muito importante a nível pessoal, o que tornou a escrita de Tamu-ra muito mais difícil que a Pondsmânia.

Mesmo conhecendo Tamu-ra melhor que a Pondsmânia, eu sempre quis escrever para a Pondsmânia, então eu sentei e estudei as publicações antigas, tive as minhas ideias e escrevi empolgado. Mas em Tamu-ra eu tive vários momentos de “Pô, mas será que está bom?”

Porque agora Tamu-ra vai estar reconstruída e vai ser eu que vou dizer como ela está, o Cassaro vai ler depois e tal, mas sou eu que estou dizendo. Eu estou tendo essa oportunidade de, certa forma, reconstruir Tamu-ra na lore.

Essa é a principal diferença; Tamu-ra está reconstruída, prosperando, mas claro que como qualquer lugar em Arton ainda tem seus problemas para os aventureiros resolverem.

Pode dar alguns exemplos desses problemas?

Um deles é manter o que foi construído e isso passa por uma série de novos plots. Um deles são os Tradicionalistas, que são os que mais se relacionam com o continente. Eles são tamuraninos da nobreza ou das classes influentes e acreditam que o Império está se deturpando e se perdendo.

Antes da Tormenta destruir Tamu-ra, ela era muito diferente. Não aceitava estrangeiro, mulheres não tinham cargos de liderança, que mudou no Império de Jade, que teve algumas mudanças em certos costumes.

E essas pessoas descontentes com o novo Império elas são mencionadas no Império de Jade, que nem todo mundo gosta do Imperador e das medidas de aceitar estrangeiros e de conceder cidadania aos Nezumi (Homens-rato).

Nesses 10 anos que se passaram, esses descontentes se articularam politicamente e começaram a ter uma agenda. Como Tamu-ra é uma monarquia com uma forma de detectar honra de uma maneira objetiva, então quando um senhor feudal é pego em desonra por um Shugenja, ele perde o título de Nobreza na hora e ele só recupera ao ter sua honra de volta, se redimindo de algum jeito.

Para os Tradicionalistas conspirarem, eles não podem ser descobertos. Então eles tem que levar uma vida de certa virtude e conspiram com rumores. Eles espalham rumores falsos sobre a Identidade do Imperador, que atualmente renasceu como criança, dizendo que é uma criatura farsante ou contratando mercenários do continente principal.

Então eles agem de maneira a manter a honra deles intacta, enquanto outras pessoas que não são da nobreza ou não tem honra alta vão espalhando e disseminando a intriga, correndo o Império.

Outro exemplo legal de problema é a Cauda do Dragão, que é um pequeno arquipélago ao sul de Tamu-ra que estão lá desde o primeiro mapa de Arton. Antes da Tormenta, elas eram umas ilhas meio paradisíacas, aonde só viviam Yokai, Hanyo, alguns humanos tamuranianos que viviam em aldeias de uma forma mais simples pela pesca. Quando teve a Tormenta, essa área começou a ser mais habitada, e quando os mares foram abertos após a Flecha de Fogo, começaram a vir navegadores ousados, ambiciosos e piratas. Em busca de uma rota marítima para fazer comércio.

E muito desse comércio é feito na própria capital, que é próximo as ilhas, mas não é um comércio muito honrado, digamos assim.

E acabam acontecendo nessas ilhas menores que estão relativamente distantes da autoridade Samurai, mas que ainda estão convenientes próximas da capital, transformando a ilha em um entreposto comercial.

E começaram a vir gente de todo canto, tentando fazer um trocado ali. Pessoas de Khubar e da costa de Arton.

Uma curiosidade que tenho; Você comentou bastante que agora os mares estão conectados. É possível que nessas ilhas da Cauda do Dragão tenha Moreau?

Então, eu fiquei muito tentado, mas evitei mencionar moreau diretamente porque, bem ou mal, ainda é muita água no caminho. Mas lá na Cauda do Dragão tem de tudo, Minotauro, do Deserto da Perdição, de Ubani e Moreau lá também. Talvez alguém saindo de Moreania e se perdendo no mar pode acabar muito para o norte e acabar chegando lá.

É bem provável e inclusive curioso porque, de um ponto de vista do tamuriano, o moreau nem seria visto como tão estrangeiro assim, ele seria facilmente confundido com um Hanyo.

Porque o Hanyo é um meio-yokai, mas ele tem traços animais, como o Hanyo raposa ou o Hanyo gato.

Então esteticamente eles são muito parecidos, então um Moreau poderia ir e se passar por um tamuriano, talvez só não enganando Shugenjas e Shinkans, que são sacerdotes capazes de detectar se aquela criatura é um meio-yokai.

Tem mais alguma coisa que você pode falar sobre Tamu-ra.

Outras duas coisas que colocamos é que o norte está começando a ser repovoado, na época do Império de Jade não tinha nada lá porque a reconstrução estava começando, e agora já tem senhores feudais no norte.

E a Tormenta, como inimigo de Tamu-ra, foi derrotada. Mas na mesa de Oito Nuvens, tem um gancho de um Oni que acabou se envolvendo com a Tormenta, e que vai estar no Atlas porque se tornou algo relevante. E a Tormenta segue como uma ameaça dormente, ainda é difícil você encontrar os lefeu clássico e a influência dela está muito menor, mas ela pode acabar atacando. Alguns lugares de Tamu-ra ainda estão com a terra vermelha do ataque. Mas a Tormenta ainda não esqueceu Tamu-ra, ainda influenciando a ilha de uma maneira silenciosa, a Tormenta ainda não esqueceu, ela apenas escolheu outra maneira de lutar contra Tamu-Ra.

Em Tormenta, tem um aconselhamento aos autores não se aproximarem muito de fatos históricos reais porque Arton é um mundo de fantasia. Mas é nítido que Tamu-Ra é muito baseado no Japão, mas você buscou influências de outros países asiáticos para colocar em Tamu-Ra?

Então, o meu maior domínio em termos de conhecimento é o leste asiático, ao Japão mesmo. Então eu tentei ir com cautela em qualquer referência coreana e chinesa. Por eu não dominar e não acabar sendo desrespeitoso. Então nesse sentido eu tentei me preservar no campo que é o que eu mais conheço. Mas uma coisa que não há na cultura japonesa e que eu fui buscar foi Hokkaido para a parte norte da Ilha, que não fazia parte do Japão.

Lógico, não traçamos paralelos óbvios, mas procuramos essa referência que não é muito obvia. E na Cauda do Dragão não foi possível não ter influência da ilha de Okinawa que era um entreposto de comercio entre países daquela região. Não me inspirei exatamente na cultura de Okinawa, mas me inspirei como um local que é um meio do caminho para outros lugares.

Me inspirei um pouco também na Mongólia, principalmente no Império Mongol. Tem uma região no Império de Jade chamada Dai’Soogen, que é uma grande estepe. E o Cassaro havia comentado comigo que ele queria que essa região ao invés de ter os Samurais clássicos tivesse uma galera bem mais parecida com os Khan. Por questão de espaço não fui muito a fundo neles, mas eles estão mencionados no texto e dá pra entender que eles são um povo relativamente nômade que vive em tendas e tem suas próprias montarias e tal.

Esse é um exemplo bacana de um elemento não japonês que eu tinha familiaridade e fiz uma certa pesquisa por trás para colocar no jogo sem acabar sendo estereotipada de alguma forma ou ofensivo.

Conclusão

A conversa com o Glauco foi muito leve e muito daora de se ter. Falar com alguém que trabalha nos bastidores e que, a pouco tempo atrás consideravelmente, também estava escrevendo sobre RPG é algo muito daora e muito inspirador, diria eu.

Essa foi a primeira de uma série de conversas que eu pretendo ter com outros escritores da Coleção Arton, então espero que você tenha gostado, aproveitado e esteja tão animado pra Coleção Arton quanto eu.

A página do Financiamento Coletivo para que você possa apoiar é https://www.catarse.me/arton.


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Texto: Gustavo “AutoPeel” Estrela

Revisão: Edu Filhote

Arte da Capa: Juaum Artwork

Nerdcast RPG: entrevista com Karen Soarele

Dia 25 de Dezembro de 2020 já esta marcado no calendário de todo RPGista brasileiro, todos temos um compromisso firmado com um grupo de valentes investigadores do paranormal que está a caminho de uma ilha maldita enfrentar o DEMÔNIO em tentáculo pessoa! MAS para quem está com a ansiedade a flor da pele e já não aguenta esperar, pode acompanhar o financiamento coletivo que inicia agora dia 04 de DEZEMBRO e trará muito material para os fãs desta série.

Mas ainda assim, para quem não consegue esperar até dia 04 (como eu), pode ter um pouco mais de informações sobre este financiamento coletivo lendo esta entrevista que conseguimos com a Autora Karen Soarele, que descobrimos recentemente ser a AUTORA DO LIVRO-JOGO DA SÉRIE! Além deste marco a autora também foi foi finalista dos prêmios Jabuti, AGES e LeBlanc com seu último livro, A Deusa no Labirinto. Um baita ano para esta fantástica autora que este que vos escreve acompanha desde seu primeiro livro Crônicas de Myríade.

 

Movimento RPG: Este não é o primeiro financiamento coletivo que tu está por trás organizando (e enlouquecendo um pouco [sem trocadilho com o tema]), e Tormenta 20 foi e sempre será um marco na história do RPG e do financiamento coletivo em si! Mas quando falamos do site Jovem Nerd a escala sobe um pouco no sentido de público. Diferente da Jambo, que tem uma legião de fãs no público do RPG, o site do JN possuí um publico que gosta de RPG sem nem mesmo saber o que é RPG! Com isso em vista, como foi a experiência de trabalhar nesta campanha grandiosa, com uma temática FAMOSISSIMA e com gente GIGANTE como é o pessoal do JN?

Karen Soarele:Não importa o tamanho do financiamento coletivo, ele sempre será desafiador. Enquanto campanhas menores enfrentam dificuldade em encontrar seu público, as grandes encaram o desafio de alcançar ou até ultrapassar as expectativas do público que já detêm. Os fãs do Nerdcast, assim como os de Tormenta, não irão se contentar com qualquer coisa. É preciso propor um material de altíssima qualidade, trazer nomes de peso para compor a equipe criativa e oferecer uma experiência inesquecível durante a própria campanha. Para mim, está sendo um projeto incrível! É um prazer enorme trabalhar com pessoas tão carismáticas e éticas como o pessoal do Jovem Nerd. Além do mais, essa campanha vem para mim com um gostinho especial. Afinal, além de liderar o time de comunicação, também serei autora do livro-jogo que está entre as metas estendidas! E peço a ajuda de todo mundo para alcançar essa meta.”

 

MRPG: Está é uma obra que ultrapassou a muito tempo o seu próprio autor, com material sendo desenvolvido em todas as mídias e mesmo que não fosse escrever o livro-jogo, não consigo nem imaginar a insanidade e correria que deve ter sido para pesquisar todo este material para a campanha em si, que por falar nisso, está FODASTICA! Agora que temos essa informação (E VAMOS AJUDAR A BATER ESSA META HEIN!), me diz, como foi essa imersão na mitologia de Cleitão (Nome carinhoso do Cthulhu)? Quais os principais desafios?

Karen Soarele: Como eu já estava familiarizada com os principais contos do Mythos e já acompanhava o Nerdcast há muitos, muitos, muitos anos, não foi tão desafiador no quesito da imersão. O que precisei fazer foi escutar novamente os episódios para lembrar os detalhes e conversar com os nerdcasters, especialmente com o Leonel Caldela, que é o mestre e autor do romance, para evitar dar spoiler na divulgação e para integrar a proposta do livro-jogo aos demais materiais que ainda não foram publicados.

 

MRPG: Demais materiais que ainda não foram publicados… certo, sabemos que este financiamento coletivo é bastante transmídia tendo: romance, graphic novel, livro-jogo e é claro o Podcast em si! Com a experiência de T20 que além de tudo alcançamos até mesmo um Curta Metragem no universo de Tormenta! Podemos esperar algo desta grandiosidade para as metas estendidas neste financiamento coletivo?

Karen Soarele: Vamos criar apenas metas que possam ser cumpridas nesse momento de pandemia, evitando qualquer tipo de evento ou projeto que envolva muitas pessoas se encontrando presencialmente — como seria o caso de um set de filmagens ou uma equipe de animação. Isso seria expor as pessoas a um risco que pode ser evitado. Para essa campanha, focamos em diversas recompensas que possam ser criadas em equipes pequenas e ambientes segundos. Dito isso, vem coisa por aí que os fãs têm pedido incessantemente!

 

MRPG: Entendi, faz bastante sentido este cuidado nos momentos que estamos vivendo… mas, quando você diz o que os fãs estão pedindo incessantemente, você esta falando de um Cenário de RPG deste sistema ou um Jogo Eletrônico?

Karen Soarele: É um financiamento coletivo de livros e colecionáveis, então as metas estendidas terão como objetivo melhorar esses livros e colecionáveis.

 

MRPG: Certo, muito obrigado pela entrevista Karen, vou deixar você voltar para os trabalhos ai agora. Deve estar em uma correria danada né? Para finalizar nossa entrevista quer deixar algum recado para os leitores do Movimento RPG?

Karen Soarele: Agradeço a todo mundo que apoiou o meu trabalho até aqui, e peço mais uma vez aquela força! Saibam mais sobre o projeto em www.nerdcastrpg.com.br, apoie a campanha e nos ajude a fazer a coleção mais megaboga possível! 😁

 

Você pode acompanhar todas as novidades deste financiamento coletivo clicando aqui! (ou então fica no nosso site que a gente te mantem atualizado também!)

 

Questfinder: entrevista com Douglas Quadros

A dificuldade para encontrar mesas de RPG, boardgame ou cardgame é algo comum a qualquer jogador. Seja por não conhecer quem também se interesse pelo hobby, seja porque a vida desfez as mesas, ou qualquer outro motivo. Nosso big boss Douglas Quadros é um dos desenvolvedores do app Questfinder, um muito necessário Tinder nerd onde ao invés de encontrar amor e pegação, você encontra dados, fichas de papel e refrigerante.

Movimento RPG: Antes de mais nada, o que é o QuestFinder?
Douglas Quadros: O Questfinder é um aplicativo que, através de geolocalização, permite encontrar pessoas e locais para jogar RPG, card games e boardgames em sua região.

MRPG: Como você teve essa ideia?
DQ: Eu mudo muito de cidade, e daí é sempre aquela correria atrás de grupo no facebook pra achar uma mesa (muitas eu tive que criar), então conversando com meu sócio Raul Galli, tivemos a ideia de um aplicativo para encontrar mesas de RPG. Segundos depois ele falou “Questfinder”! E então a ideia foi evoluindo.

MRPG: O aplicativo está em que versão? Quando foi o lançamento?
DQ: Foi lançado dia 20/08/2019 mas já esta em desenvolvimento desde 15/08/2017. Está na sua versão 1.0.1 na data desta entrevista. Mas tem muita coisa para melhorar, eu acredito existe muito potencial de crescimento e pode se tornar algo bem grande, mas que tem muito a evoluir ainda.

MRPG: O usuário vai precisar pagar? Se não, vai ter modo pago?
DQ: Ele é gratuito. A única limitação atual é a quantidade de mesas ativas: um usuário comum pode ter apenas 2. Já o usuário Premium tem acesso a quantas mesas quiser. Este diferencial nem é tão grande (futuramente outras funcionalidades virão para o premium), mas é mais uma aposta dos usuários no potencial do projeto. O Valor é R$15,00.

MRPG: Como vai funcionar? Vai permitir, por exemplo, definir as buscas por sistema ou universo?
DQ: Inicialmente não temos o sistema de busca ativo. Você procura mesas próximas de você e pede para entrar, então o mestre daquela mesa avalia seu perfil e aceita ou não você como usuário. Mas em breve vai ter buscas e filtros sim.

MRPG: Quem participa da iniciativa?
DQ: Atualmente estamos em 4 pessoas, Eu sou o designer de experiência do usuário e gerente de projeto, Raul Galli é o designer gráfico e publicitário, Andrews Duarte é o desenvolvedor e o Thiago Nascimento é o outro desenvolvedor. Anteriormente também tivemos ajuda do Jaykon Willian, que era desenvolvedor.

MRPG: Que funções mais vai apresentar?
DQ: Futuramente vai exibir no mapa locais específicos com material Rpgistico/Boardgamistico/Cardgamistico (huehue*) para os interessados em comprar. Além disso, vai exibir pontos públicos e privados (com permissão) onde a galera pode se reunir para jogar. Outra feature interessante é a ficha digital, que o mestre vai ter acesso para evitar aqueles jogadores que sempre a perdem… Huehue*.

MRPG: Vai funcionar só nos grandes centros? Só no Brasil?
DQ: Inicialmente vai ser só no Brasil, mas futuramente não terá limites. Quanto à localização, só depende dos jogadores criarem as salas  na região onde moram. Já tem algumas até mesmo no interior do Rio Grande do Sul e no Acre.

MRPG: Humano, elfo, anão, halfling, goblin, orc ou barata gigante resistente à radioatividade?
DQ: Barata Gigante Resistente à Radioatividade sempre! Huehue*.

 

Você pode baixar o Questfinder aqui.

*Nota da redação: Douglas Quadros não ri com “huehue”, mas quem manda aqui sou eu.

Tormenta 20: Entrevista com Saladino

No último domingo de abril, este aqui que traz notícias RPGísticas para vocês, também conhecido como Vinicius Mendes, foi no Diversão Offline 2019. Uma oportunidade única de conhecer e conversar um pouco com Rogerio Saladino, um dos membros do Trio Tormenta!

A chance apareceu com o lançamento da antologia de contos Curtos & Fantásticos, fruto do projeto Diário de Escrita do Papo de Autor, que inclusive tem uma participação do nosso arquimago Douglas Quadros. O livro foi lançado pelo Odisseias, selo alternativo da Jambô Editora, e aproveitei que estava no mesmo stand que Saladino no maior evento de boardgames da América Latina para fazer uma rápida entrevista com um dos criadores do universo que está comemorando 20 anos

Rogerio Saladino foi muito simpático e acessível, disposto a responder quantas perguntas fossem. Apesar disso, concordamos em realizar a entrevista por e-mail para que ele pudesse dar maior atenção aos admiradores no evento, assim como aos desejos de parabéns, já que também fazia aniversário no dia.

Logo abaixo você pode ler Saladino falando um pouco sobre o processo de criação de Tormenta, os planos para 2019 e os 20 anos e a visão dos criadores de Tormenta sobre a mudança no público nerd nos últimos anos. 

Curiosidade: No dia de hoje, 10 de maio, iniciou o financiamento coletivo do projeto Tormenta 20. Eles bateram o objetivo em menos de 1 hora  e derrubaram o site do Cartase pela quantidade de acessos. Parabéns a todos os envolvidos!

 

Juro que essa não é uma tentativa de fazer jabá da antologia e que foi a melhor foto do Saladino no evento que consegui. Além de nós dois, Waldir Léo Santos (Curtos & Fantásticos), Álvaro Freitas (autor do jogo Império de Jade), João Lucas Gontijo Fraga e Carlos Perini (ambos do Curtos & Fantásticos). Foto: Reprodução/Jambô Editora Instagram Oficial

 

Para quem não é muito familiarizado com a criação de Tormenta, qual foi seu papel na construção do cenário?

Rogerio Saladino: Olha, a coisa não foi tão… cartesiana como algumas pessoas podem pensar, não foi uma coisa de se pegar um mapa e se dividir na régua o que cada um ia fazer. Em muitos casos, a gente deu palpite na ideia do outro, e um terceiro acabou escrevendo! Pegamos muita coisa que já estava escrita, que já tinha saído na Dragão Brasil e vimos como se encaixava em um cenário maior, se dava para usar ou não. O que precisava escrever a mais, a gente fazia. Em alguns casos, faltava uma coisa, a gente via quem ia escrever. Eu lembro que eu tive uma boa participação na criação dos grandes magos do cenário, Vectorius e Talude (afinal todo cenário tem um grande mago, Tormenta tem dois!), na Academia Arcana e em Vectora, no deus da traição Sszzaas, nos trolls nobres e em várias coisas menores e vários reinos do Reinado (os reinos foram meio que decididos com nós três juntos). Um pouco dos dragões-reis, também.

Eu posso estar esquecendo algumas coisas, claro… (poxa, são 20 anos!)


Estão começando as comemorações de 20 anos de Tormenta. Quais novidades podemos esperar em 2019?

RS: Bom, a primeira é a (tcharãns) campanha do Tormenta 20, um baita livrão em que vamos comemorar os 20 anos do cenário com tudo novo. Vamos evoluir o sistema do Tormenta RPG, com a intenção de deixá-lo mais ágil e rápido, sem tirar a multitude e variedade que são tão queridas dos fãs. E vamos fazer o possível para que o novo sistema seja compatível com o que já saiu em livros anteriores. E com “compatível” quero dizer que você vai poder usar os livros antigos, não que seja a mesma regra, ipsis literis. Claro que vai ter um pouco de adaptação, mudar umas poucas coisas de um para outro, mas, note bem POUCAS coisas.

Ainda neste ano vamos ter mais novidades, mas ainda não posso falar delas… só garanto que os fãs vão ter certeza que 2019 foi um ano marcante para Tormenta.

Tormenta é o cenário de RPG brasileiro jogado há mais tempo consecutivo e tem grande público fiel e apaixonado. A decisão pelo financiamento coletivo foi uma forma de fazer esse público se sentir incluído no projeto? Como foi o raciocínio por trás dessa escolha?

RS: Pensamos muito em como poderíamos fazer o Tormenta20 ser uma comemoração, não só um livro novo. A ideia era que, com o financiamento coletivo, os fãs poderiam participar mais, ter seu nome no livro e, dependendo de como fosse o projeto, participar com sugestões, opiniões, ou através das metas, melhorando ou dizendo como eles queriam o livro.

Foi uma forma de dizer “vamos fazer esse livro aqui, querem ajudar a gente?”. No RPG, quanto mais gente participa, é melhor, então achamos que podíamos levar essa ideia para o livro também.

Como o projeto Tormenta 20 pretende abraçar os fãs antigos? E como esse projeto renova o cenário para conquistar fãs novos?

RS: A ideia é exatamente essa, fazer um sistema que não afaste o jogador novo e que contente o antigo. Seja compatível com o que já existe, mas com soluções rápidas e divertidas para o jogador iniciante. Vamos dar uma boa olhada e mexida na criação de personagem, nas habilidades de raça, classe, nas próprias raças e classe e no sistema de magia, para deixar o jogo ágil, e mais rápido de se criar um personagem, com mais elementos para ajudar na interpretação e na criação da história do personagem.

Para deixar a coisa rápida e divertida, para ajudar a jogar e criar a história.

Esses são elementos que dão mais ferramentas para o jogador, e acreditamos que sejam legais tanto para o novato como o experiente.

É claro que vamos ter um baita trabalho para colocar isso em regras que possam ser compatíveis com os livros anteriores, mas acreditamos que seja possível de se fazer, com um pouco de discussão e game design.


O RPG, e o meio nerd como um todo, tem se tornado cada vez inclusivo e temos um grande aumento tanto de consumidores LGBTQ e mulheres, quanto da representatividade nas obras, com mais personagens de outras etnias e mulheres menos sexualizadas, por exemplo. Como você e os outros criadores de Tormenta enxergam essa mudança?

RS: De uma forma extremamente positiva! Vivemos num mundo diverso, e o RPG, como um produto cultural, tem que ser um reflexo disso. Temos feito um esforço para adequar o cenário, em todos os seus produto (livros, quadrinhos, livros de RPG, etc.), para fazer a marca Tormenta cada vez mais inclusiva, e não apenas em seus personagens, mas nas tramas, histórias, estilo, colaboradores, direção de arte e… bom, tudo. Nossa intenção é fazer um jogo que todos se divertam e que possa ser usado por todo mundo.

 

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