O Presente das Fadas Parte 02

O Presente das Fadas Parte 02 – A Quinta Estação

O Presente das Fadas Parte 02 é uma das três partes do primeiro capítulo do romance “fan made” A Quinta Estação, por Oghan e publicado no site do Movimento RPG. Para acompanhar a série completa, entre neste link. Caso você goste desta história compre as obras do autor clicando aqui clicando aqui! Caso você não tenha lido a primeira parte do conto, clique aqui!

Sinopse

O Exército do Reinado triunfou! Liderados por Sir Orion Drake, a coalisão de soldados, heróis e mercenários venceu onde era impossível vencer. Mas, nem só a Tormenta é uma ameaça para este mundo: A Aliança Negra, o Império de Tapista e muitos outros problemas precisam de heróis para enfrentá-los.

Nesta época de transformações, surge a Confraria dos Redentores, uma companhia mercenária especializada em proteger os mais fracos e impedir que o mal se espalhe.

Mas, o que acontece quando o mal parte de dentro da própria Confraria?

Sobre o autor

Oghan é escritor de afrofuturismo e primeiro autor de steapunk do Brasil com seu romance O Baronato de Shoah, foi vencedor do Wattys 2018, e é autor de Os Oradores dos Sonhos, além de publicado na Revista Nigeriana Omenana Magazine e na MV Media nos Estados Unidos; também tem seu nome gravado no legado de Arton através de um conto em Crônicas de Tormenta volume 2 e seu sonho é escrever o primeiro romance focado na Grande Savana.


O Presente das Fadas Parte 02

Parou na beirada de um lago, onde sentiu a vida pulsar e os líquidos de seu corpo correrem com mais velocidade. O coração palpitou com a ansiedade e ela gritou pela irmã das águas.

— Eu sei que você está aí, Meriele! — as ninfas eram como as dríades, com a diferença que suas almas ficavam presas a lagos ou rios, ao invés de árvores. — Pare de fingir que foi passear!

— Não quero comprar nada! — carrancudo como só um lago poderia ser, Meriele — Muito menos doações para duendes abandonados!

— Saia daí ou eu vou ferver você, sua ninfa preconceituosa! — Lylia passou os dedos pelo lago, esticou o bebê para frente e o deixou cair. Ao invés de afundar e se afogar ele rodopiou na água e respirou como se ela fosse seu ambiente natural.

Meriele emergiu ao lado do infante, erguendo-o em uma coluna de seu elemento, o bebê esticou os bracinhos quando ela fez menção de pegá-lo. Abraçaram-se, a ninfa passou a mão em seus cabelos, gostara dele, apesar do excesso de superfície em seus modos.

Ao invés da alegria de Tyro ou da inocência de Lylia, Meriele transbordava sensualidade, as curvas de seu corpo atraíam humanos desde o princípio dos tempos, ela fora adorada por muitos povos e quase se casara com o Grande Oceano. Cortejada por marinheiros, estivadores e matronas nas beiras dos rios, acostumara-se a ser amada.

— Mas não é que vocês, das terras verdes e duras, até que fizeram um bebê bonitinho? — Os cabelos de Meriele eram de um tom azul-escuro que lembrava uma tempestade em alto-mar, os olhos eram profundos como rios antigos, a boca lembrava chuvisco, era doce, pacata, delicada.

Certa vez, por inveja ou ciúmes, Tyro chamara Meriele de “aquela gorda”, Lylia nunca entendera como isso poderia ser um insulto, o corpo de Meriele a fazia pensar em noites de amor e abundância. Os seis irmãos elementais levaram o caso ao tribunal da Floresta Negra, e a discussão foi encerrada com um único e frio “Calem a boca” proferido por Trevas, a mais velha.

— Eu tive de desfazer a sua alcova — parecia um lamento, Meriele beijou o sobrinho na testa — Achei que você não voltaria mais depois de sua última história.

— Foi culpa minha, eu devia ter avisado que retornaria, mas não tinha certeza que as outras iriam me querer aqui… Não é todo mundo que aceita muito bem o romance entre dríade e… — Lylia interrompeu a si mesma — Mas eu devo confessar que esperava um pouco mais de paciência da sua parte. Só fiquei duas luas fora!
— Seu amante era mais era um rei — Meriele deu de ombros — E você conseguiu ver através do Rio do Tempo o que ele faria no futuro.

— Quem sabe não criamos um espacinho para o bebê? — A verdade era que Lylia estava enjoada da alcova e queria construir outra, mas tinha preguiça de gastar tempo e energia reformando o que Meriele lhe fizera. — Humanos demoram muito para crescer?

— Um bocado, mas não tanto quanto elfos e eu não faço ideia do quanto essa coisinha vai viver — Meriele mantinha a criança em cima de uma onda que ela mesma criara, abaixando e levantando a maré para diverti-la.

— Dá azar não batizar os recém-nascidos, dizem que os trolls surgem à noite para roubá-los — Meriele sabia que era mentira, os trolls eram muito piores do que se imaginava — trolls são devoradores de carne humana e colocam os bebês deles no lugar do seu.

— Como você sabia que o pai dele era um rei? — Lylia, desconfiada, tentou pegar o filho de volta, mas Meriele o erguera alto demais.

— Até mesmo o pântano mais imundo possui água, e onde houver água, estarei — Meriele recitou — Você veio em busca de um presente para ele?

— Sim, é o que vim buscar — um pouco angustiada, Lylia pensou em usar sua mágica para resgatar o filho, mesmo tendo certeza de que a irmã jamais o machucaria.

— Ele irá amar, mais do que os humanos são capazes de conseguir, menos do que os deuses são capazes de entender. — Meriele desceu a onda onde Khanta estava sentado. — Seu amor será tempestuoso, conflitante e intenso, mas será verdadeiro.

— O amor é uma arma – Lylia segurou no braço da irmã, deixando que sereias levassem o filho para o meio do lago. As duas começaram a andar por cima da água para chegar ao outro lado da floresta, embaixo da superfície elas podiam ver baleias, golfinhos, tubarões e um kraken.

— O amor pode ser uma arma, ou um escudo, tudo depende de como você o carrega — Meriele retrucou, parou nos limites do lago, menos de cinco metros adiante a floresta recomeçava. — Você sabe a origem do sangue do pai dele?

— Sckharshantallas, o dragão vermelho — Lylia sussurrou no ouvido de Meriele, que fingiu surpresa.

— Mentirosa — a ninfa das águas sorriu — Rainhas Elementais não se misturam com Dragões-Reis.

A frase teve um peso muito maior na conversa do que elas esperavam. Houve um silêncio incômodo e pesado entre elas, uma parede de segredos colocada entre duas entidades ancestrais e tão velhas quanto os próprios dragões.

— Foi só uma brincadeira, eu jamais me deitaria com Sckhar! — Lylia quebrou o silêncio com mais uma frase cheia de significados que a irmã não conseguia desvendar.

— Acho bom, Lylia — Meriele retrucou — Até mesmo a Rainha da Luz deve ter algum bom-senso de vez em quando.

— O pai do meu filho é um caçador da Grande Savana. — Lylia recolheu o bebê. — Ele procurava um presente para sua tribo.

— Eu gostei dos seus presentes, Meriele – Lylia não queria que o filho sofresse, mas o amor era uma constante na vida dos mortais. Sua prole transitaria entre os dois mundos e superaria o presente-maldição. — Que o amor seja uma arma e um escudo.

Lylia estava do outro lado do lago, olhou para trás e viu Tyro e Meriele conversando. Queria se juntar a eles e ir brincar na mata também, mas tinha responsabilidades a cumprir, precisava presentear o filho para que ele crescesse e se tornasse um herói.

O Presente das Fadas Parte 02

Autor: Oghan N’Thanda.
Revisor: Isabel Comarella.
Adaptação do Post: Douglas Quadros.
Ilustrador da Capa: Theo S. Martins.

 

Publicado por

Oghna N'Thanda

Oghan é escritor de afrofuturismo e primeiro autor de steapunk do Brasil com seu romance O Baronato de Shoah, foi vencedor do Wattys 2018, e é autor de Os Oradores dos Sonhos, além de publicado na Revista Nigeriana Omenana Magazine e na MV Media nos Estados Unidos; também tem seu nome gravado no legado de Arton através de um conto em Crônicas de Tormenta volume 2 e seu sonho é escrever o primeiro romance focado na Grande Savana.

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