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A Regra (De Ouro) é Clara! – Off-Topic #3

Saudações rpgísticas a você, pessoinha maravilhosa que veio até aqui ler essa coluninha! É fato que quando falamos de RPG, imediatamente cada pessoa pensa no seu sistema favorito primeiro. Sejam as ambientações, os cenários, o conjunto de regras ou a facilidade de acesso, sempre há aquele sistema que chama mais a atenção ou acaba sendo o preferido do grupo para as jogatinas. Existem sistemas considerados muito complexos e cheio de regras e tabelas, como o famoso GURPS (que muita gente sempre gosta de lembrar da velha piada da perícia para cavar buracos ou subir em árvores), e existem sistemas muito enxutos e minimalistas, como o caso do 3D&T, mas um ponto se mantém o mesmo, independente de qualquer coisa: jogamos RPG para nos divertirmos. E quando falamos de diversão, apenas uma regra máxima deve ser levada em consideração: todos devem se divertir. Claro que com isso esbarramos em vários adendos e pormenores da regra máxima, variáveis a cada grupo ou mesa de acordo com suas peculiaridades. Dito isso, e estabelecendo a diversão como regra máxima, fica uma grande dúvida: regras do sistema devem ser seguidas à risca, sem alterações e sem discussão? Ou as regras devem ser maleáveis e adaptativas às necessidades das pessoas envolvidas?

Vejamos por exemplo a Língua Portuguesa. Temos um conjunto de regras que são aplicadas às estruturas das frases, às conjugações verbais, aos plurais e muito mais. Porém, contudo, entretanto e todavia, nem todas essas regras são seguidas à risca, e inúmeras exceções foram implantadas às regras (talvez tenhamos em nossa língua mais exceções que regras propriamente ditas). A mesma coisa se aplica ao sistema jurídico: as leis não são exatamente claras, e abrem muita margem para interpretações divergentes e conflitantes em muitos casos. Se as regras que utilizamos em nosso dia-a-dia constantemente não são 100% confiáveis e utilizáveis, por que nos prendermos às regras do sistema que escolhemos jogar?

Colocando em termos práticos, existem várias formas de se jogar RPG nos dias atuais. Enquanto Larpistas se encontram para dar vida a seus jogos se valendo de regras minimalistas apenas para delimitar ambientações e resolver conflitos, existe também quem jogue advogando regras e combeando-as para obter o melhor “desempenho” do sistema. Já quem prefere jogar de forma online, através de chats ou vídeo-chamadas, muitas vezes dispensam rolagens desnecessárias para que a narrativa siga de forma mais fluida. Há grupos que prezam mais a narrativa e interpretação de seus personagens, aliviando rolagens de dados em prol de uma interpretação brilhante, de uma cena bem montada ou de uma estratégia inegavelmente infalível! Claro que regras são importantes, mas analisando de forma maquiavélica, os fins nesse caso podem justificar os meios!

 

QUEM COM REGRA JOGA, COM REGRA SE LIMITA

A maleabilidade das regras pode ser aplicada de inúmeras formas, com inúmeros propósitos, mas sempre de forma consensual entre todas as pessoas participantes do jogo, seja ele em mesa, online ou LARP. Se uma determinada regra atrapalha o desembolar de uma narrativa mais fluida, nada impede que algumas (ou muitas) rolagens de dados tenham “resultados automáticos” para o bom desenrolar da trama! Imagine um grupo de heróis medievais enfrentando um inimigo poderoso! Entre golpes, magias, esquivas e táticas de combate, eis que surge um intrépido Bardo que, brilhantemente, resolve usar uma estratégia inusitada (mas 100% dentro da personalidade do personagem) que teria uma probabilidade baixa nos dados de funcionar (algo como 7 em 20) mas que seria uma cena extremamente divertida, condizente e emocionante a todas as pessoas envolvidas. Por que não “burlar” a regra da rolagem, e dar o resultado automático de sucesso e deixar a cena se desenvolver?

Nos dias atuais, assuntos como inclusão e visibilidade estão (felizmente!!!!!!!) muito em alta! Por que não refletir isso na mesa? “Ah, mas as regras não permitem um Meio-Orc Meio-Elfo Clérigo”… quem disse??? Basta criar um background legal! E esse é o termo chave na maior parte das vezes: BACKGROUND! Em nome de uma boa narrativa, de uma boa história, e de muita diversão, toda regra de RPG pode ser burlada, alterada, mudada, moldada e adaptada ao que melhor servir a quem delas precisar! E está tudo bem fazer isso! Alguns dos melhores artigos de RPG que já pude ler (assim como alguns dos personagens mais clássicos que hoje automaticamente nos remetem a nosso hobbie) são justamente personagens que fogem às regras!!! No cenário de Tormenta, por exemplo, temos um leque de personagens que fogem completamente à todas as regras dos sistemas existentes na época de sua criação! E isso fez dele um dos melhores cenários existentes! Mas podemos ir mais além ao lembrar de personagens como o Elfo Negro Drizzt Do’Urden, de Forgoten Realms; o Conde Strahd Von Zarovich, de Ravenloft, e muitos outros!

Não se prenda ou se delimite pelo sistema ou conjunto de regras usado! RPG é uma ferramenta base para imaginação e criatividade, logo não faz sentido algum limitar a imaginação e a criatividade por causa de regras, não é? Então meu conselho é: NÃO HÁ REGRAS! Liberte-se de grilhões imaginários, solte a criatividade, molde o sistema a seu bel prazer! Derrube regras que não ajudam, altere o background para incluir novas personagens e novas escolhas! Liberdade, ainda que tardia!

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Publicado por

Eduardo Filhote

Rpgista desde os saudosos anos 90, mais Narrador que Jogador. Podcaster do Machinecast, Filósofo e metido a escritor. Lupino da Liga das Trevas e aventureiro do mundo fantástico de Arton. Prefere Lobisomem a Vampiro, tem preguiça de D&D e considera 3D&T um dos melhores sistemas de jogo.

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