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Powerchords – O poder da música no RPG

POWERCHORDS!!!

Acho que, primeiramente, devo explicar o que é Powerchords: trata-se de um roleplaying game de mesa sobre personagens jogadores envolvidos com o universo da música (em especial como membros de uma banda de rock). Essa é a definição simplista.

Na realidade Powerchords é isso e muito mais. Sem medo de parecer emocionado Powerchords é um dos livros de RPG mais bem escritos e imersivos que já li na minha vida rpgista nos últimos 25 anos. Powerchords usa como base o sistema Compact System, pouco conhecido e ineficiente, o qual pode ser ignorado sem prejuízo à proposta do jogo. Saído da mente de Phil Brucato, um dos autores do RPG Mago a Ascenção, mesmo que controverso e envolvido em polêmicas na comunidade internacional,  é um livro para ser usado com seu jogo preferido de Fantasia Urbana (a exemplo de Ordem Paranormal, Delta Green ou Vampiro a Máscara).

Dentro de Powerchords

O texto de Powerchords foi escrito por Brucato de uma forma que apresenta ao leitor a música enquanto um fenômeno artístico e ao mesmo tempo místico – passeando por referências de músicos e princípios filosóficos/esotéricos. O sobrenatural que comove, excita e causa até catarse, tanto nos músicos quanto na audiência.

Para os personagens jogadores, entretanto,, as possibilidades extrapolam o tropo do músico. Também é possível encarnar o fã assíduo, o empresário ou até o técnico da banda, o que garante o andamento do show.

O leitor não deve entender Powerchords como um drama do mundo da música, mas sim enquanto uma saga numa montanha-russa de eventos. Cada show é uma batalha, cada música um desafio a ser performado em grupo. Assim o sucesso ou fracasso de uma apresentação dependem da capacidade coletiva de criar harmonia e reduzir atritos. Aqui entram os famosos conflitos da vida dos músicos: brigas entre membros da banda, discordâncias artísticas, empresários aproveitadores, pressão do mercado musical, rixa com grupos concorrentes, etc.

Outro elogio a fazer sobre Powerchords é a dedicação na construção da persona do músico. O texto incentiva o jogador a criar seu personagem com traços humanos profundos com exemplos de vidas de músicos do século XX e até anteriores.

O enredo criado é enriquecido pelos arquétipos construídos para o contexto específico do cenário do livro. No capítulo 3, “More Human than Human”, Bruchato mostra como interpretar criaturas sobrenaturais influenciam a forma que os músicos se expressam. Por exemplo “anjos musicais” são aqueles que estão presentes não só para exaltar o que há de mais sacrossanto na música, mas também trazer os ânimos para fora do fundo do poço, ao passo que “sereias e sereianos” se concentram em mesmerizar seus ouvintes.

A cereja do bolo

No capítulo 6, “I put a Spell on You”, Brucato nos mostra a forma que a música se torna magia. Através da vibe do som, esoterismo, talento e/ou originalidade do músico, os sons ganham poderes sobrenaturais, transbordando para sua plateia. O autor, ainda que use como base o seu sistema de regras Compact System, sempre incentiva o uso das regras que o narrador achar mais conveniente. Tendo um bom conhecimento do sistema de regras que você prefere não é uma tarefa árdua fazer as devidas adaptações.

Na seção “Ascending Accords” do mesmo capítulo Brucato cria formas de dar mais personalidade a cada personagem, no qual os jogadores optam por alguns tipos de origem da “magia musical”:

  • Bacchanalia: aqueles músicos que obtém magia através da luxúria, superação de limites e liberdade;
  • Celesta: a música se transforma em magia com uso de tradições religiosas, de sacramentos pessoais ou comunitários;
  • Infernalis: a magia da música vem dos confins da existência e de entidades opositoras, danação e a abraçar a escuridão;
  • Musica: a música é uma linguagem universal, e seu uso sistemático gera uma magia própria, compreendida tanto por seres sobrenaturais quanto pelos comuns, transes e confusão fazem parte da Musica;
  • Spincasting: o amálgama entre música e tecnologia gera uma magia musical própria, com rompantes de percepção, humor e ritmo.

Enfim…

Powerchords é um livro de RPG cheio de informações e formas de construção de texto. Isso não serve só para quem pretende jogar o jogo, mas igualmente para apreciadores de um bom livro, uma verdadeira aula de escrita com paixão. Se não te convenci a procurar cópias desse jogo depois desse artigo, talvez você deva voltar a apreciar um pouco de música.

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