Fortaleza

REINO DOS MORTOS [15]

Após matarem a aberração, o portão da fortaleza se abriu novamente, revelando um pelotão de zumbis marchando em sua direção.

– Rápido – Galdor começou a correr de volta para o túnel. – Não conseguiremos enfrentar todos.

Jim recuperou o colar do cadáver do monstro e seguiu o mago. Os dois entraram na cozinha abandonada, e quando perceberam a ausência de kvarn, olharam de volta para o pátio. O guerreiro ficara para trás, e agora lutava contra mais de vinte zumbis, sozinho. Não demorou muito para ele ser imobilizado e arrastado para dentro da fortaleza. Jim e Galdor assistiram escondidos.

– Por que ele fez isso? – Jim perguntou, apertando o colar com força. – Por que esse idiota entregou a própria vida assim? E agora, Galdor? Primeiro Toiva, depois, Clay, e agora, Kvarn. Os mais fortes do nosso grupo se foram! O que será de nós? Como fugiremos de Negressus?

– Os mais fortes se foram? – Galdor perguntou, tirando um cachimbo da bolsa de couro e o enchendo de fumo. – Você não devia menosprezar o poder de um mago.

– Sem ofensas – Jim disse em tom de desculpa. – Mas você possui apenas dois grimórios. Suas duas magias não são o suficiente para nos livrar dessa.

– O maior poder do mago não está em um papiro, garoto – Galdor olhava fixamente o pátio, soltando anéis de fumaça do cachimbo. Ele cutucou a própria testa. – É aqui que reside o nosso verdadeiro poder.

Pouco tempo se passou, quando dois esqueletos de armadura saíram da fortaleza para guardar o portão externo. Galdor já havia limpado e guardado seu cachimbo. Ele saiu da cozinha e fez um gesto com a mão, puxando-a repentinamente para junto do peito. Uma ventania derrubou os zumbis do muro, e os arrastou pelo chão, fazendo suas armaduras tilintarem na pedra. Assim que os dois chegaram diante da cozinha, Galdor se virou para Jim.

– Mate um, e coloque o colar no outro.

O arqueiro obedeceu, enfiando uma flecha com a mão no olho de um zumbi, e puxando o outro para dentro. Jim passou o colar pela cabeça do esqueleto, antes que ele pudesse mordê-lo. De repente, o morto ganhou carne, músculos e pele novamente, se tornando uma pessoa comum. Tinha uma cabeça retangular, cabelos crespos e rosto bonito. Ele olhou de Jim para Galdor, assustado, e depois, para as próprias mãos, completamente confuso.

– Eu sou Galdor, um mago da ordem de Alof, e tenho a Chama Violeta de Tannar! – disse o velho barbudo, erguendo os braços para cima, imponente. – Eu o livrei de sua maldição, e poderei fazê-la voltar novamente, a não ser que cumpra uma missão para mim!

– Minha boca está seca – respondeu o homem, lambendo os lábios. – Você não teria um vinho por aí, teria?

Jim e Galdor se olharam, inseguros.

– Você não ouviu o que eu disse? – Galdor perguntou, mal humorado. – Está mais preocupado com vinho do que voltar a ser um zumbi?

– Pelo menos antes, eu não estava com sede – o homem deu de ombros, se levantando para vasculhar o cômodo. – Essa é a pior cozinha que já vi.

– Ouça! – Galdor o seguiu, impaciente. – Realize a missão que te darei, e você terá quanto vinho quiser.

– Agora sim estamos negociando – o homem girou sobre os tornozelos, apontando os indicadores para o mago. – Me chamo Bob Harrow. Como você se chama mesmo? Você disse tantos nomes que eu me perdi.

– Eu sou Galdor, da ordem de Alof… e esse é Jim.

– Sim, sim – Bob tateava a própria armadura velha. – E que tipo de missão estamos falando?

– Você precisa entrar na fortaleza do necromante e resgatar o orbe de cristal na Torre da Garra – Galdor explicou, apontando para o castelo do lado de fora.

– E resgatar nosso amigo, Kvarn – Jim acrescentou. – Se ele estiver vivo.

– Que mal lhe pergunte – Bob olhou para os dois, desconfiado. – Por que vocês me escolheram para esse serviço?

Galdor removeu o colar de seu pescoço, e Bob voltou a ser um zumbi.

– Porque você tem a camuflagem perfeita – disse o mago. – Ninguém suspeitará de você.

– Uau – Bob olhou para os próprios braços feitos de ossos. – Então quer dizer que eu tenho sido… isso, nos últimos tempos? Digam-me, em que ano estamos?

– Estamos em 714 depois da Aliança – Jim informou.

– Deuses! – se os olhos do esqueleto já não fossem esbugalhados, Bob estaria os arregalando nesse momento. – A idade não me caiu bem. Mas tudo bem, vamos para o que interessa. Eu pego esse orbe, salvo esse tal de Kevan…

– Kvarn – Jim corrigiu.

– Que seja – Bob abanou com descaso. Ele olhou para Galdor. – E você me tornará humano novamente, e me pagará com ouro e vinho!

– Eu não disse nada sobre ouro – Galdor coçou o queixo.

– Qual é – Bob sorriu, passando o braço pelo ombro de Galdor. – Não existe uma missão sem ouro no final, não é? Mas depois falamos do peso do ouro – ele o soltou e foi até a porta. – Preciso ir. Pelo visto, esse orbe não virá rolando sozinho da fortaleza, e nem seu amigo Kevan irá se soltar.

– Kvarn – Jim corrigiu em voz baixa, para si mesmo. Enquanto Bob se aproximava do portão, o arqueiro se virou para Galdor. – Acho que ressuscitamos o zumbi errado.

– Talvez a inteligência de um mago não seja lá grandes coisas – Galdor acendeu o cachimbo novamente. Seus olhos vaguearam até se depararem com o cadáver de Clay, lá fora. Uma ideia surgiu em sua cabeça, e ele lembrou do pergaminho de cura em sua bolsa.

 

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Publicado por

Felipe Cangussu

Felipe Cangussu é advogado, teólogo, professor, escritor e narrador de RPG há mais de uma década. Amante de todos os gêneros de literatura e filmes, gosta de rock e pagode, fala "biscoito" e "bolacha", crê no casamento de religião e ciência, gosta do calor e do frio.

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