Zumbis

REINO DOS MORTOS [2]

O grupo seguiu pela rua de pedras, prestando atenção a cada esquina que cruzavam. Havia vários tipos de mortos, e nem todos eram lentos e fracos. O grupo já encontrara zumbis que corriam tão rápidos quanto os vivos. Havia também os nobres e ricos. A maioria dos camponeses passavam fome, e por isso eram magrelos e fracos. Após virarem zumbis, eles continuaram magrelos e fracos. Mas aqueles que viviam em castelos com banquetes fartos, comendo o dia inteiro enquanto os empregados faziam tudo, esses eram mais difíceis de matar. Seus corpos eram maciços, e não era qualquer pessoa que podia matar um desses zumbis gordos e ensebados.

– Alguém consegue matar um gordo? – Clay perguntou, olhando para os companheiros. Toiva e Kvarn negaram com a cabeça. Suas armas eram muito fracas para isso.

– Eu consigo afastá-lo – Galdor disse, tocando na bolsa que guardava seu papiro.

– Eu mato – Jim respondeu, mostrando a flecha um pouco mais grossa que o normal.

– Agora sim, me sinto mais seguro – Kvarn mandou um beijo para Jim. – “Garoto, o meu salvador”.

– Deixe-o em paz – Toiva sorriu. – Essa é a primeira missão dele fora de Deloran. Não o assuste.

– Assustado? – Jim perguntou, divertido. – Pelo contrário. Estou excitado. Não vejo a hora de matar uns zumbis.

– Se você está excitado para lutar com zumbis, você é um tolo – Galdor o repreendeu. – Não existe nada tão desesperador quanto ficar cercado por uma horda de mortos. Eles não sabem o que é ter medo. Eles simplesmente se jogam e te atacam com tudo o que tem.

– Eu não sou do tipo que fica cercado – Jim assegurou. – Caso uma horda apareça, a primeira coisa que faço é encontrar um lugar afastado e seguro, e…

Ele parou de falar assim que seu pé acertou um elmo de ferro no meio do caminho. O capacete rolou para dentro de um beco, direto para uma escadaria subterrânea de pedra. A cada degrau que acertava, o metal ecoava pelo túnel escuro, ribombando em meio a todo aquele silêncio.

O grupo ficou imóvel, olhando para a passagem no beco. Jim fechara os olhos, furioso consigo mesmo. Galdor deu um passo para frente. Seus olhos estavam arregalados e atentos. Ele virou o ouvido para ver se captava algum barulho.

– Não ouço nada – sussurrou, aliviado.

Mas antes que o grupo suspirasse, um som veio de baixo. Era um lamurio longo e rouco, seguido por um gemido agudo. Toiva se aproximou da escadaria e perguntou:

– O que é isso? Uma adega?

– Me parece mais um acesso aos esgotos – Galdor respondeu.

– Esgotos? – Kvarn perguntou, tentando parecer despreocupado. – Tipo aquele labirinto subterrâneo onde cabe milhares de pessoas? Certeza que é um esgoto?

– Definitivamente é o acesso de manutenção para o esgoto – Clay disse, olhando para a escuridão das escadas.

– Parabéns garoto – Kvarn se virou para Jim, pousando a mão em seu ombro. – Você começou bem.

Jim deixou os ombros caírem, envergonhado.

– Talvez seja só um – Toiva disse, se aproximando mais do buraco.

A resposta veio imediatamente em forma de gemidos. Várias vozes subiam do túnel, roucas e sem sentido. E estavam bem perto. O grupo se afastou da escada.

– Nós estamos mal equipados – Galdor se virou para Clay. – É melhor fugirmos.

– Ah, por favor! – Kvarn pediu, chateado com o conselho. Ele apoiava a espada sobre o ombro. – Nós vamos fazer essa desfeita com os nossos anfitriões?

– Galdor está certo, vamos procurar um refúgio – Clay disse, voltando a seguir seu caminho. – Venham todos.

O grupo o seguiu imediatamente. A poucos metros à frente, a rua virava para a direita, e logo estariam longe do campo de visão das criaturas que sairiam do esgoto. Assim que alcançaram a esquina, todos pararam de súbito. Não poderiam seguir adiante. A estrada estava bloqueada por zumbis. Dezenas deles. Os mortos vinham em sua direção, se arrastando lentamente. Os olhares das criaturas se moveram até o grupo, e começaram a estender seus braços, querendo alcança-los.

– São zumbis lentos – Toiva identificou. – Mas são muitos. Trinta, no mínimo.

– Se eles não andassem tão juntos – Clay mordeu o beiço.

– Precisamos voltar, Clay. Não podemos enfrenta-los – Galdor se virou pelo caminho que vieram, mas também teve que parar.

Zumbis saíam do beco, vindo do esgoto. Já havia cerca de cinco deles na rua, e no instante seguinte, esse número dobrou.

– Você disse que não era do tipo que ficava cercado – Galdor olhou para Jim. – Parece que você é um mentiroso filho da puta. Ainda excitado para matar zumbis?

– Primeira lição sobre Terras Mortas – Kvarn ergueu a espada do ombro. – As coisas escalonam muito rápido por aqui.

 

Reveja os capítulos de Reino dos Mortos clicando aqui. Ou então encontre mais livros do autor clicando aqui.

Publicado por

Felipe Cangussu

Felipe Cangussu é advogado, teólogo, professor, escritor e narrador de RPG há mais de uma década. Amante de todos os gêneros de literatura e filmes, gosta de rock e pagode, fala "biscoito" e "bolacha", crê no casamento de religião e ciência, gosta do calor e do frio.

Sair da versão mobile