Reino dos Mortos 22 - Escadaria

REINO DOS MORTOS [22]

O grupo estava amontoado nos primeiros degraus da escadaria, esperando os mortos invadirem a torre. Ali ia ser a sua última resistência. Galdor, o mago, teve uma ideia, e disse para os outros que voltaria logo. Ele subiu a escada e sumiu de vista.

– Será que o velho vai nos abandonar? – Kvarn perguntou, desconfiado.

– Ele é o nosso líder – Jim o lembrou. – E é um homem bom. Eu confio nele.

– Nós precisamos dele aqui – Raíza gemeu, assustada. – Nós três não conseguiremos segurar o ataque sozinhos. Em alguns instantes, milhares de zumbis irão cair sobre nós.

– Tenha fé em Galdor – Jim aconselhou, mirando sobre seu último dardo. – Não temos outra opção.

– Só estou dizendo que ele tem a magia do fogo e do vento. Sem ele, iremos morrer em instantes.

O primeiro corpo caiu do lado de dentro da torre, passando pela brecha da porta. Em seguida, a porta inteira tombou, arremessando poeira para as laterais. Uma enxurrada de esqueletos invadiu a torre, correndo em todas as direções. O primeiro grupo que apareceu pela arcada da escadaria, foi esmagado pelo trio de aventureiros e pelos outros mortos que vinham logo atrás.

– SEGUREM! – Kvarn gritou, flexionando os joelhos para erguer o escudo.

Ao ver a onda de mortos, Jim guardou sua besta e sacou a espada. Ele ficou ao lado de Kvarn, fatiando zumbis, freneticamente. Raíza ergueu os braços, e raízes brotaram do chão, criando uma espécie de tranças grossas entre eles. Ela ergueu uma barreira, isolando-os dos inimigos. O trio se afastou, recuperando o fôlego.

– Se não fosse pelas suas raízes, teríamos morrido – Jim olhou para Raíza, assustado.

– Não sei quanto tempo elas irão durar.

– E onde está aquele velho? – Kvarn gritou, furioso. – Eu sabia que ele iria nos abandonar!

– Cuidado com as palavras, criatura de pouca fé – Galdor respondeu, surgindo pela curva da escadaria. – Eu estava ganhando tempo para Toiva trazer o Martelo de Gerion.

– O que você fez? – Kvarn perguntou, desconfiado.

– Eu subi até o topo da torre e comecei a lançar bolas de fogo em todo o jardim da muralha interna. Daqui a pouco, ele se tornará um anel de fogo entre nós e os mortos.

– Meu jardim? – Raíza gritou, furiosa. – Você irá destruir minhas raízes!

– Galdor – Jim estava apavorado. – Essa torre está no centro do jardim. Se ele virá um anel de fogo, nós estaremos dentro de uma panela de pressão. Todos nós iremos morrer.

– É melhor adiar a morte sempre que pudermos, não acha? – Galdor colocou a mão em seu ombro. – Ou você prefere morrer pelos nossos amiguinhos ali fora?

– Ei, escutem isso – Kvarn se inclinou, colocando o ouvido na barreira de raízes. – As criaturas pararam de grunhir e arranhar.

Todos se inclinaram e também notaram o silêncio. Mas um som duro e seco fez as raízes tremerem. Depois outro. Era som de um machado cortando tronco. Uma grossa raiz caiu no chão, abrindo um buraco pequeno entre eles.

Olhos vermelhos surgiram pelo buraco, cercados por um elmo de bronze e uma barba cor de ferrugem. Era sor Dhazil, a nova aberração do necromante.

– Que o deus Spólios tenha misericórdia de suas almas – a voz gutural e monstruosa de Dhazil ecoou pela escadaria.

– Você ainda não entendeu que Spólios não é um deus? – Kvarn gritou e enfiou o cabo do machado pelo buraco, acertando os olhos de Dhazil com tudo. – Subam!

O grupo subiu a escadaria correndo, ouvindo o grito de raiva do anão crescendo em suas costas. Em seguida, ele voltou a cortar as raízes, movido pelo ódio.

O grupo chegou até o topo da torre, cujas paredes e telhado eram apenas ruínas, com acesso ao céu aberto. Eles foram até a borda e viram que o jardim inteiro pegava fogo, e os mortos cambaleavam em chamas, desnorteados. Uma fumaça negra começava a se erguer ao redor da torre, criando uma cortina escura entre eles e o mundo lá fora.

– É aqui pessoal – Kvarn reconheceu. – Não há outro lugar para fugir. Estamos encurralados. Esse é o lugar onde iremos morrer. Hoje mesmo terei uma morte honrada e irei para Heimvel.

– Eu só tenho um último dardo – Jim disse, segurando sua besta.

– Eu não tenho mais minhas raízes – Raíza murmurou, olhando para o seu jardim destruído.

– Eu também estou fraco – Galdor revelou.

Não demorou muito para passos surgirem pela abertura da escada. Sor Dhazil os alcançara, vestido em uma armadura completa, com espinhos saltando para fora.

O grupo se preparou para o combate final, e cinzas começaram a nevar sobre eles.

Nagond, o necromante, assistia a muralha ser coberta pela fumaça densa. Ele aguardava em segurança no topo de uma laje, olhando através de sua máscara de caveira. Logo, logo tudo estaria terminado.

 

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Publicado por

Felipe Cangussu

Felipe Cangussu é advogado, teólogo, professor, escritor e narrador de RPG há mais de uma década. Amante de todos os gêneros de literatura e filmes, gosta de rock e pagode, fala "biscoito" e "bolacha", crê no casamento de religião e ciência, gosta do calor e do frio.

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