O grupo batizou o beco sem saída como “Baixada da Égua”, uma viela de barro cercada por muros prestes a tombar sobre eles. Se alguma horda os visse ali, eles estariam encurralados.
– Não sei se alguém reparou, mas anoiteceu – Kvarn observou.
– Acredito que todo mundo reparou nisso – Toiva rebateu, mal humorada.
– E então? – Kvarn perguntou batucando o escudo com os dedos. – Não vamos sair?
– Você ainda não entendeu nada, seu bruto? – Galdor perguntou, impaciente. – Existem zumbis corredores nesta cidade. Se sairmos, estaremos mortos!
– Então vamos ficar para sempre aqui, é isso? – Kvarn sussurrou com sua voz grave. – Pois isso não me parece uma opção muito melhor.
– Não – Clay se intrometeu. – Vamos apenas ter certeza de que o perímetro está seguro.
– E como vamos saber disso se ficarmos aqui? – Kvarn perguntou.
– Eu esperava receber algum sinal – Clay assumiu, decepcionado. – Algum barulho longe daqui, alguma pista de que eles estão longe… Mas não ouço nada. O jeito é fazermos uma varredura.
– Eu vou – Toiva se ofereceu.
– Não – Clay balançou a cabeça. – Sou o mais silencioso do grupo. Eu irei.
– E se você ficar cercado? – Jim perguntou.
– Eu afastarei os zumbis – Galdor disse, olhando para Clay.
– Obrigado – o líder assentiu para o velho, e ambos deixaram a Baixada da Égua.
– A gente espera aqui – Kvarn brincou. – A não ser que fiquemos entediados.
Clay ignorou o comentário do guerreiro, e cobriu sua cabeça com um capuz. Galdor o seguiu, erguendo as mãos para realizar sua magia, caso fosse preciso. A rua era iluminada pela luz da lua, e o silêncio era tamanho que eles podiam ouvir o som das ondas quebrando nos cais. Desceram a rua em sentido sul, cuidadosos. Chegaram até um local onde podiam ver a rua por vários quilômetros à frente, numa longa descida. Clay sorriu.
– O caminho inteiro está livre.
– Então vamos chamar os outros – Galdor sugeriu.
Eles fizeram o percurso de volta até a Baixada da Égua, quando encontraram o grupo acuado, todos com armas em mãos. Eles pareciam assombrados.
– Vocês viram? – Toiva inquiriu, olhando ao redor. – Vocês o viram?
– De quem você está falando? – Clay indagou, preocupado.
– Ele era grande – Jim disse, umedecendo os lábios secos. – Ele era… era muito grande.
– Mas de quem diabos vocês estão falando? – Galdor perguntou, impaciente.
– Depois que vocês saíram – Toiva sussurrou –, ele passou em frente ao beco. Graças aos deuses, não olhou em nossa direção. Ele caminhava como uma pessoa normal, de forma calma e coordenada. Esse monstro não era como os outros. Eu nunca vi um zumbi assim.
– Seu rosto era coberto por trapos – Jim acrescentou. – Seu martelo se arrastava pelo chão, abrindo um sulco na terra. Espinhos compridos saíam de suas costas…
– Espere – Galdor o interrompeu. – Martelo? Zumbis não usam armas. Eles são criaturas irracionais. Incapazes de manusear qualquer objeto.
– Então o que vimos não era um zumbi – Kvarn garantiu, soturno. – Precisamos dar o fora daqui.
– Temos que sair desta cidade – Jim disse, colocando a mão no ombro de Clay.
– Mas o nosso contratante… – Clay começou a responder.
– Foda-se o contratante – Kvarn o interrompeu. – Existem zumbis corredores e uma aberração nesta cidade. O contratante não falou nada disso. O nível de dificuldade da missão subiu consideravelmente.
– Não sabia que você fazia o tipo assustado – Toiva disse.
– Eu não faço o tipo filantropo – Kvarn rebateu. – Se vocês quiserem que eu continue, o meu pagamento precisa subir também.
– Eu concordo com ele – Galdor ficou ao lado de Kvarn. – Zumbis corredores e uma aberração são coisas demais para mim.
– Todos pensam assim? – Clay se virou para Toiva e Jim que concordaram com a cabeça. – Então a missão está cancelada. Vamos dar o fora de Negressus.
O grupo deixou o beco e seguiu de volta ao norte. Todos seguravam suas armas em prontidão, atentos a qualquer barulho. Não demorou para chegarem na muralha da alfândega, recheada de cadáveres pelo chão e corredores.
– Oh, me foda! – Kvarn disse assim que adentraram o pátio entre os portões.
O grupo olhou em direção à saída da cidade e se depararam com o imenso portão levadiço fechado. As válvulas e correntes para abri-lo não estavam mais ali. Foram arrancadas à força e levadas para algum lugar. Seria impossível abrir aquele portão. Clay olhou ao redor, para o muro interno da alfândega e percebeu que só havia uma passagem disponível, a que levava de volta para dentro da cidade. E sob o umbral dessa passagem, um homem gigantesco os observava.
– Emboscada! – Clay gritou.
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