Égide da Tempestade – Parte 5 – Contos de Thull Zandull 

Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 4, a tropa do Exarca Soren sofreu o ataque dos Orcs que estão ao lado do Veneficus ancião, e a consequências desse encontro podem atingir Dargon. Fique agora com Égide da Tempestade – Parte 5.

Égide da Tempestade – Parte 5

Um campo de dor

Aquela manhã estava tomada pelo cheiro acre de sangue da batalha ocorrida na madrugada. Mas não era apenas esse o odor de combate. Misturava-se a ele impressões olfativas provenientes da carne queimada, urina e fezes, algo comum quando barrigas são abertas por violentos golpes de lâminas, ou mesmo quando o medo se apodera do corpo, gritando por fuga em momentos decisivos. 

Compondo esta cena tétrica, homens suados e cansados caminhavam por entre o que restava de aranhas couraçadas, Orcs, recrutas e experientes soldados. A dádiva do Exarca trouxe esperanças, mas as criaturas restantes e os Orcs lutaram ferrenhamente, causando pesadas baixas à tropa que não estava completamente preparada para uma luta como essa. O treinamento dos legionários não incluía criaturas recobertas por camadas cristalinas resistentes e afiadas. 

Em pontos isolados ouviam-se gritos de dor e por todo campo gemidos comuns aqueles que estão à beira da morte. 

Dargon caminhava por entre os corpos, concedendo golpes de misericórdia aos inimigos. Observava atento aliados que ainda podiam ser salvos. Mas na maioria das vezes apenas deixava-se ajoelhar diante de antigos parceiros na parede de escudo, ouvindo suas preces e concedendo acalento com a mera presença ou um aperto de mão firme antes da partida para a morada eterna.

Soren olhava o campo sentado em uma pedra. Foi uma luta difícil e ele refletia sobre a real força do exército invasor. Pensava consigo que a companhia que caiu sobre eles nem de perto igualar-se-ia ao exército principal que de certo assaltaria da cidade de Basil. 

Pensava na maneira como o inimigo estava disposto a entregar-se de corpo e alma à causa. Durante a madrugada o Exarca acreditou que a demonstração de força bruta poderia ser um elemento abalador para convencer os agressores à opção de recuo, mas ao contrário, causou a ira, o frenesi de uma horda determinada. 

Pensava em séculos de opressão, no qual as mazelas e humilhações direcionadas a tantos povos, tantas raças e culturas finalmente cobravam seu preço. 

Ele era um homem de Fé, sabia que havia uma força que o guiava, mas nem de perto pertencia a doutrina da Autarquia ou do Pontífice Imperador. Ele seguia um código de honra e iria até o fim. Seu olhar se perdia em meio a pequena desolação, pequena julgava ele, pois o massacre de verdade ocorreria quando não houvesse mais escudos para aplacar ou amenizar tantos sentimentos profundos direcionados aos antigos conquistadores e escravizadores. 

Uma jornada de pesares

Após horas, quando covas comunais estavam sendo abertas para os aliados e fogueiras comunais reservadas aos inimigos, Dargon se aproximou de Soren:

-Impressionante a dádiva concedida a você! Não sei se seríamos capazes de resistir senão estivesse conosco. Nunca vi algo assim. Apenas em histórias antigas ouvíamos os feitos de Exarcas capazes de milagres espetaculares. Não entendo como uma figura como você não está em posição de prestígio, apesar de tudo que contou, ainda assim não entendo. Sua presença em qualquer exército ou mesmo nas forças de elite do Império seriam fundamentais. Nem de perto imaginava que ainda fosse possível conjurar poderes como esse.

Soren, ainda estava sentado e respondeu:

-Disse a você, o fanatismo cega, amaldiçoa e se espalha como uma doença mortal. Eu estou aqui por um juramento solene, um dever. Não para com o Império ou as instituições ligadas a ele, mas sim por algo mais antigo, algo que existia no alvorecer de nossa ordem, algo que se perdeu. Eu espero manter esse juramento…

Dargon demonstrou certa confusão:

-Difícil decifrar você Exarca! As vezes vingativo e desprendido e agora com esse tom solene? O que traz consigo de verdade, desejo compreender melhor aquilo que fala.

-Meu caro centurião, há um dever a cumprir e devemos procurar por sobreviventes em Zimosh. Em quanto tempo poderemos partir?

Dargon assentiu com a cabeça, entendendo que talvez tivesse ido longe demais. Afirmou que agilizaria os movimentos para uma rápida partida e pôs-se a distribuir responsabilidades à tropa.

Logo, todos os sobreviventes estavam em marcha. De todos os novos recrutas, apenas cinco sobreviveram ao batismo de fogo, já entre os soldados cerca de um quarto haviam quitado seus deveres para com a Fé Diáfana. 

Haviam feridos e estes realmente preocupavam a todos. Não havia recursos adequados para tratá-los e em muitos casos havia pouca esperança de melhoras. Mesmo assim, eram carregados e sempre apoiados pelos parceiros de combate. A guerra era cruel em diversos níveis e logo iriam se deparar com os escombros de Zimosh.

A aldeia de Zimosh

O que restou da legião chegou a vila já a tardezinha, a desolação era indescritível. Não havia nenhuma casa em pé, apenas escombros chamuscados, muitos locais ainda ardiam com as chamas e o crepitar da madeira se mantinham. Todos os corpos dos homens mortos no ataque também foram reunidos e queimados e não havia sinais de mulheres, crianças ou idosos, nem entre os restos mortais ali presentes. 

Alguns rastreadores, puderam trazer luz ao mistério. A força que os atacou era uma fração dos inimigos. Havia sinais que indicavam que os sobreviventes foram levados por invasores, para piorar, sem chances de resgate, devido ao número elevado da horda. Dargon chegou a questionar se Soren poderia novamente repetir aquele feito da madrugada, mas rapidamente recebeu uma negativa.

O Exarca disse que aquele tipo de dádiva demandava tempo de recuperação, pois exigia demais de seu corpo. De fato exigia, já que ele apresentava uma fadiga anormal naquela altura, chegou a cuspir sangue algumas vezes, mas mantinha-se firme na posição de líder. Reviraram escombros com alguma esperança, mas nada havia a ser salvo. Todo o local, suprimentos e qualquer item útil foi estrategicamente analisado, o que podia ser usado foi levado. Não restava nada além de prosseguir. 

Era nítido que sobreviver a luta não significava uma vitória expressiva, pois o golpe duro recebido e a maneira como encontraram a vila demonstrava que a cena que encontrariam na próxima parada talvez fosse ainda pior.

Mesmo assim, Dargon ainda esperançoso na desatenção dos invasores ordenou aos homens que procurassem sobreviventes escondidos nas redondezas e qualquer suprimento que restasse. Após pouco tempo os batedores mais experientes relataram que nenhuma busca obteve sucesso. 

Havia rastros de pessoas que em vão tentaram escapar, mas dentre os inimigos também existiam figuras treinadas e proficientes em rastreio. Quanto a suprimentos, tudo fora levado e o que restara, era apenas cinzas ou elementos lambidos pelo fogo.

O Exarca não hesitou e pôs a companhia à marchar. Dargon se aproximou:

-O que acha? Não seria prudente buscarmos estradas alternativas mesmo que demoremos mais? Evitar a próxima vila também seria uma opção mais adequada.

O Exarca manteve a seriedade e disse:

-Sim seria, mas eles sabem quantos somos e nossas posições, acredite em mim quando digo que há forte magia aqui. Ainda irei te explicar melhor, mas no momento posso afirmar que precisamos manter nosso caminho e rezar para que nossos inimigos sejam cautelosos em seu próximo movimento. Temos dias até nosso destino e provavelmente não teremos locais tão resistentes para armarmos acampamento. Teremos que colocar a tropa em marcha pesada e revezar os descansos, mantendo em vigilância bom número de homens. Eles também sofreram baixas pesadas e com certeza vão evitar novo confronto aberto. Quanto as trilhas, estas sim, são as armadilhas que devemos evitar. Os Orcs talvez até esperem que tomemos essa decisão.

Dargon concordou e retornou a sua posição. Havia grande tensão entre os homens, mas a marcha precisava continuar…

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 5 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Douglas Quadros

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Sangue e Glória – Parte 8 – Contos de Thull Zandull

Anteriormente em Sangue e Glória – Parte 7, Thull Zandull nos mostrou como esse mundo chegou nesse ponto. A Fé Diáfana trouxe sofrimento e segregação aos povos. Mas um de seus Inquisidores deu sua vida em sacrifício para provar a farsa dessa Igreja opressora. 

E agora…

Sangue e Glória – Parte 8

O dia amanheceu chuvoso. Mas esse empecilho natural não seria suficiente para impedir que os Orcs finalmente descessem pela garganta rochosa. Eles usaram o elevador de roldanas feito engenhosamente pelo Kobolds. Gorac e Mira analisaram os reparos cuidadoso feitos por Shivar e novamente demonstraram seu respeito ao objeto que ali estava. Pois o pequeno havia feito um trabalho magnífico em tão pouco tempo. 

Concordaram que Kagror e Orog deveriam ficar na superfície caso necessitassem recuar com maior velocidade. Já que o mecanismo, tinha manivelas de controle na gôndola do elevador e também no lado externo. Assim, em caso de urgência, os mais fortes fisicamente, poderiam se empenhar em rodar a manivela com velocidade permitindo assim que os membros abaixo pudessem se proteger melhor. Com essa situação acordada, Anáxalas então pôs-se a organizar a maior quantidade de flechas. Enquanto Xalax preparava suas armas de arremesso, afiando cuidadosamente suas machadinhas. 

Quando tudo estava preparado, começaram a descida, havia sempre um rangido incômodo  de madeira que somado a chuva pesada causava um desconforto contínuo. Pois demonstrava uma prenuncia sinistra da força antiga que encontrariam logo abaixo. 

A garganta rochosa era escarpada e traiçoeira. Portanto entre as rochas podia-se notar pequenas fontes de luz vindas de formações cristalinas de tamanhos variados que emitiam um brilho levemente esverdeado. Observar estes detalhes na descida era intrigante e ameaçador. 

Porém chegaram até o fundo, em uma plataforma construída e reforçada que oferecia a eles uma escada para prosseguirem até a boca de uma caverna.  Eles perceberam que havia uma parede de alvenaria com portões maciços de madeira entreabertos. As formações cristalinas se espalhavam ali em maior quantidade. E Xalax foi o primeiro a notar que no local onde construíram a plataforma havia vestígios de uma ampla escadaria que deveria levar à superfície. Porém terminava abruptamente no paredão rochoso. 

Os Orcs encontram a força da magia 

O mateiro citou aos demais que o local parecia ter sido enterrado em rocha e terra e indagou se realmente era uma boa ideia prosseguir. Ao passo que Gorac falou incisivamente que deveriam prosseguir com a demanda. 

Caminharam até os portões e lá dentro observaram a luminescência esverdeada em contrastes com as teias que se espalhavam pelo teto e paredes. Assim como ovos de aranhas prestes a eclodir. Era estranho, mas os ovos ali pulsavam em ķMira foi a primeira a citar que a magia ali era forte. Talvez os desafios vencidos contra as criaturas acima seriam diferentes dos perigos encontrados abaixo. 

Citou histórias sobre como as criaturas sofriam mudanças causadas pela magia. Xalax se antecipou e pediu para todos espalharem seus unguentos e mastigarem as ervas que poderiam ajudar. Enquanto Anáxalas já se preparou para responder a qualquer ameaça. 

Justamente nesse intervalo de preparação que a arqueira notou o avanço e os sons incômodos das patas de aranha contra a superfície rochosa do corredor. Logo, descreveu a seus companheiros que as aranhas tinham ao longo do corpo uma camada cristalina. Nas patas o cristal se acumulava, formando esporões afiados. Enquanto que no corpo formavam uma espécie de armadura natural. Eram levemente maiores que aquelas enfrentadas acima e nitidamente traziam consigo um perigo avassalador.

Com as descrições, Gorac rapidamente ordenou o recuo para lutarem em área aberta para facilitar os movimentos.  Anáxalas recuou até a parte superior da plataforma, Mira e Gorac ficaram na base da escada. Enquanto Xalax ficou em posição intermediária, já segurando duas machadinhas. 

Somos treinados e fortes

Oito criaturas se espalharam pela área. Sendo rapidamente alvejadas por flechas e os arremessos precisos do mateiro. Era nítido a resistência da camada cristalina daquelas monstruosidades mágicas. Porém todo o grupo era experiente, e se esforçavam em atingir áreas mais vulneráveis. A precisão e experiência  dos Orcs em lutas fizeram com que duas criaturas tombassem pouco antes de saírem do corredor.

Mira e Gorac mantinham a posição apenas mantendo a proteção do suporte a distância. Porém logo se engajaram em luta, rapidamente movimentando suas armas com habilidade. Ambos garantiam o domínio do terreno, Gorac com a lâmina grande fazia movimentos amplos. Ele impedia a aproximação das aranhas, enquanto Mira, munida de espada longa e escudo dava cobertura, se movimentando rapidamente na área. 

Sentiam a resistência da couraça cristalina, em cada golpe. Então percebiam que se as armas não fossem de qualidade, talvez já tivessem se estilhaçado durante a luta. Havia resistência e dificuldade, mas percebiam que as criaturas não se moviam estrategicamente. Elas apenas se acumulavam sobre o casal que atraía a atenção. Fato que permitia a Anáxalas e Xalax tempo para escolherem os pontos que atingiriam. O combate durou pouco tempo, graças a habilidade e entrosamento do grupo de guerra. 

Quando a ameaça cessou, todos se entreolharam imaginando que uma criatura de maior tamanho seria difícil de superar. Tendo em vista a proteção mágica oferecida pela couraça cristalina. A arqueira se adiantou em observar se haviam flechas que poderiam ser reutilizadas, enquanto o mateiro recolhia as armas arremessadas com precisão. 

Gorac e Mira começaram a observar os pequenos cortes recebidos, lascas do cristal tentavam entrar em suas peles. Mas eles rapidamente arrancaram os fragmentos. Sabiam que tinham extraído todos, pois eles queimavam em contato com a pele. Para qualquer outra criatura, os ferimentos já seriam um problema, mas para os Orcs, apenas escoriações leves. 

Adentrando a morada do Velho Veneficus

Começaram a analisar o corredor e perceberam que a estrutura era bem trabalhada, não havia rachaduras ou marcas da ação do tempo. Paredes e teto firmes e sinais e outros corredores ao longo do percurso. À medida que avançavam tinham o cuidado de dilacerar os ovos encontrados. Pequenas aranhas em processo de mutação eram destruídas antes que pudessem causar problemas.

Apesar de passarem por caminhos que levariam a outras salas, havia ao final daquele longo corredor central uma emanação forte de luz azulada que prendia a atenção dos quatro Orcs. 

Quando finalmente chegaram ao final, notaram que ali havia um salão de grandes proporções. Com pilares vistosos nos cantos, que por sua vez terminavam em um ponto arqueado, que tornava o teto uma grande cúpula, em formato de conchas abertas, algo que merecia apreço e atenção. As paredes continham detalhes em relevo, no centro do teto havia uma estrutura feita por aros, de tamanhos variados, um dentro dos outros, se movendo de maneira que parecia uma grande esfera viva. Em pontos aleatórios da parede havia suportes com objetos variados e curiosos. Tudo intacto. Abaixo do aro, repousava uma formação cristalina azulada, que lembrava uma tumba. Era transparente e no seu interior notava-se um humano de idade avançada amarrado com tiras de couro que continham inscrições em tons prateados. Em sua boca uma mordaça que parecia forjada em metal, quase uma máscara. 

O local todo tinha uma aura carregada de magia, mas isso não fez com que os Orcs baixassem sua guarda. Sentiam uma presença opressora ali. E antes que pudessem analisar mais detalhes da sala, perceberam que partes da tumba de cristal começaram a se quebrar diante deles. O volume foi diminuindo ao ponto que apenas uma leve camada mantinha o velho humano aprisionado. 

São muitas as proteções 

Enquanto o restante do material, em cacos se remontava a frente deles com uma forma levemente humanoide. 

O corpo daquele guardião era todo lâmina afiada, não haviam dedos, no que seria os braços, apenas duas superfícies que lembravam a ponta de um aríete, maciço, afiado e com pequenas irregularidades que deveriam ser capazes de rasgar a carne com facilidade. Não havia cabeça, apenas tronco de cacos, braços em formato de armas e suas pernas, mais largas e com maior aglomeração de cristais. Houve um breve momento de assombro diante da criatura, ela se deslocava com lentidão aparente, mas nem necessitava, pois era uma massa de terror azulada que desejava, com certeza, retalhar qualquer um que tentasse se aproximar.

Foi no breve momento de angústia e desespero que Gorac e em seguida os demais, sentiram uma breve pressão em suas mentes. Havia um sussurro dentro de suas cabeças, uma voz idosa e fraca que dizia a eles, para concentrarem suas visões ao longo do tronco do ser mágico. Não entendiam bem, mas sentiam que suas percepções eram guiadas a pequenos pontos onde o cristal perdia seu tom brilhoso, tornando-se levemente opaco. Tinha cerca de cinco centímetros e seria difícil observar se houvesse movimentações de ambas as partes. O sussurro indicava que aqueles eram os únicos pontos vulneráveis e precisavam ser atingidos para que o oponente caísse.

Um último desafio

Contaram quatro pontos, mas seria extremamente desafiador atingi-los. Todos concordaram que a tática seria um misto de avanço e recuo rápidos. Apenas estocadas certeiras poderiam causar algum tipo de dano. Xalax se juntou a Mira e Gorac no combate corpo a corpo, escolhendo a adaga como arma, para poder estocar ou arremessar com precisão próxima. Anáxalas sempre carregava seu escudo. Gritou para seu líder que seria a melhor opção, ao passo que sabiamente o mesmo, sacou uma espada curta, para poder focar na defesa oferecida. Os três que ficariam no embate próximo agora estavam com escudos levantados e apreensivos com a informação ofertada pelo ancião aprisionado.

O combate mais difícil da vida de todos estava prestes a começar!

Continua…


Sangue e Glória – Parte 8 – Contos de Thul Zandull 

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella 
Artista de Capa: Douglas Quadros 

 

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Sangue e Glória Parte 06 – Contos de Thull Zandull

Anteriormente em Sangue e Glória – Parte 05, o grupo de Orcs acompanhados por Shivar o sábio Kobold, chegaram até a antiga mina. Em sonho, Gorac recebeu a visita de um poderoso mago, oferecendo a ele um acordo. No entanto, mesmo com toda a força e habilidade dos Orcs, ainda sofreram com o ataque em massa das aranhas que defendiam os mistérios daquela mina na Mata Velha.  

E Agora…

Sangue e Glória – Parte 06

Shivar, o velho Kobold, despertou bem cedo. Antes mesmo dos primeiros raios de luz, pois havia preocupações variadas em sua mente. Primeiro foi até a antiga oficina e lá percebeu que muitos objetos já não estavam mais em seus lugares. 

Durante a fuga, provavelmente alguns dos seus separaram-se levando tudo que podiam consigo. Mas estranhamente e graças a percepção do ancião, houve uma intuição em relação às teias remexidas que ali havia. Portando deduziu que outros vieram antes e pilharam o ambiente. Porém àquela altura, tal evento era algo pequeno diante da vitória obtida no dia anterior. 

O Kobold se dirigiu aos fundos do local e após procurar um secreto alçapão, teve acesso às ferramentas e materiais mais valiosos. Gradativamente retirou o que precisava. Os levando lentamente até a borda da grande cratera aberta meses antes por muitos irmãos de sua raça. 

Deixou calmamente os utensílios que seriam necessários para consertar o elevador de cordas e roldanas que descia até as entranhas da terra. Agora eram nítidos os brilhos provenientes de cristais luminescentes vindos lá de baixo. Mas não seria ele que investigaria a mudança dos padrões de cores, que antes podiam ser vistos quando o pequeno povo explorava as cavernas. Todavia notou muitos pontos que precisariam ser substituídos da engenhoca criada por eles. Sendo assim demandaria trabalho cuidadoso com as toras de madeira que havia em estoque. Perdeu-se momentaneamente no tempo. Em seguida quando deu por si, lembrou que os animais de carga precisavam ser alimentados. E que os Orcs precisariam em breve de comida e mais cuidados em relação aos ferimentos. 

Shivar e Mira se unem para cuidar do Grupo

Era impressionante nenhum deles ter tombado naquela luta. Mas horas após o embate, os corpos apresentaram sinais de fraqueza.  Uma luta interna fez todos terem altas febres. Contudi ficaram bem debilitados. Portanto, cabia a ele os cuidados para aqueles grandes guerreiros e libertadores. Aqueles que poderiam em um futuro próximo, dar espaço aos poucos sobreviventes de seu povo. E nesse sentido fazerem um novo lar ou retornarem ao antigo. 

Prosseguiu então com os cuidados necessários. Com o preparo da fogueira, a manutenção de curativos e unguentos, organizados antecipadamente por Xalax. Organizou ainda, boa quantidade de mantimentos e preparou quantidades grandes de comida. 

Mira foi a primeira a acordar e percebendo o esforço do velho Kobold se antecipou em ajudá-lo. Todavia ela estava preocupada. Pois muitos Orcs inconsequentes ignoravam os ferimentos abertos. Deixando de lado o tratamento, que em consequência sempre trazia consigo uma febre letal. Por isso percebia a necessidade de não ignorar o momento de recuperação de todos. 

Daquela luta fora a única que tinha respondido melhor aos cuidados. Praticamente saindo do embate com apenas fraquezas temporárias e dores fortes musculares nos pontos onde haviam mais picadas profundas.

Shivar explicou que em alguns momentos precisaria da força da Orc para manipular objetos pesados. Mas que iria se dedicar integralmente ao reparo do elevador. Mira concordou, pois não iria se arriscar em içar um dos seus. Ainda mais no estado em que estavam. Poderia haver mais aranhas no interior da caverna e precisava ser cautelosa até que Gorac pudesse novamente assumir a voz de comando. Até lá, como uma companheira honrada manteria tudo em andamento como esperado.

Em busca do tratamento

Durante todo o dia, Mira e Shivar trabalharam arduamente. Percebendo que os demais companheiros começaram a apresentar leve piora. Já a noite, Gorac era o mais debilitado. Havia delírio nas palavras de muitos deles e as dores ao longo do corpo da Orc também apresentaram sinais de piora. Foi então que Xalax, em breve momento de consciência, explicou o que o kobold deveria procurar. Folhas e raízes específicas para um preparo de medicação forte. Em seguida explicou também que precisariam de mel, para aplacar os ferimentos e garantir melhora rápida. O velho ancião entendeu todas as orientações e sentiu que aqueles fortes Orcs necessitavam dele.

Na manhã seguinte Mira não tinha as mesmas forças. Foi então que Shivar deixou todos aos cuidados dela. Orientando a ficar em repouso, apenas cuidando levemente da manutenção mínima das ataduras e remédios. Antes de partir, porém, deixou alimentos preparados e todo serviço feito. Se equipou com armadura e armas que encontrou de seus antigos companheiros caídos. Jurou a si mesmo que no momento certo daria um enterro digno a eles.

Partiu em direção aos locais onde sabia que poderia encontrar as ervas necessárias. Fez sempre caminhadas mais longas devido seu cuidado em relação ao barulho e sobre sua presença. Não à toa, tornou-se um ancião. Sabia evitar os perigos daquele local, que por tanto tempo foi sua morada. Após recolher os elementos necessários ao remédio, pôs-se em risco para obter mel. 

De Shivar, o sábio para o Grande herói

Não demorou para encontrar uma das gigantes colmeias espalhadas pelos troncos das maciças e ancestrais árvores da Mata Velha. Procurou uma menos populosa, mas suficiente para matá-lo em instantes. Pois as abelhas ali já eram maiores que seu próprio tamanho. Começou rapidamente a juntar gravetos e folhas secas na base da árvore alvo e logo começou uma grande fogueira. Assim que o fogo estava alto, alimentou as chamas com gravetos verdes que faziam muita fumaça. Se afastou e esperou que a fumaça e fogo fizessem o serviço. 

Rapidamente percebeu uma brecha e escalou aquela árvore pelo lado contrário para evitar o grosso da fumaça até que estivesse na altura certa. Com habilidade se aproximou o suficiente para retirar favas e mais favas de mel. Repetiu o processo até encher várias cumbucas. Com dificuldade e arrastando tantas cumbucas cheias fez o caminho de volta. No entanto, demorou praticamente três vezes o tempo necessário.

Ao chegar ao refúgio, logo retomou as atividades. E ao entrar na casa escolhida para o repouso de todos, notou uma leve melhora em Anáxalas e Mira. Ambas ajudaram o Kobold no preparo de remédios e emplastros com mel.

Mira e Anaxálas notavam como o pequeno ancião parecia esgotado, mas determinado. Assim, passaram se os dias, com Shivar sempre mantendo-se firme. Bem como, apoiava a recuperação dos Orcs e enterrava cada um dos seus. Fazendo questão de abrir as covas e marcá-las com os nomes e famílias de todos. 

Mira percebia nele uma presença de sabedoria. Apesar do pequeno tamanho, naqueles dias tão perigosos o ancião mostrava seu valor e isso sim era digno de respeito.

Após uma semana, os reparos do elevador haviam terminado. Bem como todos os Orcs começaram a retomar pequenas atividades. Sempre sendo cuidadosos, pois ainda sentiam fraquezas provenientes da peçonha e ferimentos.

O legado para os Kobolds

Na oitava manhã, quando Mira acordou, notou certa agitação dos animais. Ao se aproximar viu que muitos serviços haviam sido rotineiramente concluídos e que a comida esquentava no fogo. Porém notou que o pequeno corpo do Kobold estava caído próximo aos animais. 

Correu para ver o que ocorria. Desesperando-se pela vida daquele que havia salvo o grupo todo com sua dedicação. Graças aos espíritos, o velho Kobold havia apenas desmaiado devido ao limite ao qual impusera a seu frágil físico. A Orc, rapidamente orientou a todos que precisariam retomar as atividades. Deixando o ancião se recuperar. Porém ao longo daquele dia, era nítido que não haveria melhora em alguém que sobreviveu a tantos invernos. 

Já a noite, Gorac estava desperto, reuniu todos em torno daquele que em tão pouco tempo aprenderam a respeitar. Havia na mente de todos uma sensação de dívida e então o pequeno com suas poucas forças disse, “Peço humildemente, que se puderem, ajudem os meus irmãos a voltarem a morar neste lugar. Pois trabalhamos muito por esse lar e quero que todos se orgulhem do que fizemos aqui. E principalmente que não se esqueçam de quem somos!”. Fez levemente um gesto tranquilo, aceitando que sua hora havia chegado. Kagror, apesar do tamanho, foi o único que não se conteve, deixando lágrimas escorrerem. 

Pouco tempo depois, uma pira funerária foi preparada e Gorac disse a todos, “Temos uma dívida com esse que nos salvou e com aqueles de seu povo que agora fazem parte de nosso clã. Vamos restaurar esse lugar e os pequenos poderão reclamar seu antigo lar, assim eu juro por meus antepassados”. Ao terminar de falar levemente cortou a palma da mão em uma adaga, gesto seguido por todos.

Toda honra a Shivar

Era chegada a hora de descobrir os segredos da caverna. Porém naquela noite, deveriam honrar os ancestrais, os espíritos. E principalmente aquele que sem levantar uma lâmina, protegeu e zelou por todos os experientes guerreiros que ali estavam. 

Continua…


Sangue e Glória – Parte 06 – Contos de Thull Zandull 

Autor: Thull Zandull 
Revisão de: Isabel Comarella 
Artista da capa: Douglas Quadros 

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Sangue e Glória #5 – Contos de Thul Zandull

Sangue e Glória – Parte 5

O encontro misterioso da noite anterior ainda reverberava na mente de Gorac. Contudo os perigos inerentes de se fazer um acordo com um dominador de magia antiga seria algo impossível de se ignorar. Até mesmo para o mais ávido e ganancioso. Porém só o fato dele ter um meio de estender o conflito. Ou seja, levando a guerra ao coração do poder Autarca já valia o risco.

A crença odiosa que subjugou por séculos diversos povos. Dessa forma quase aniquilou variadas raças, e ainda trata com o açoite qualquer questionamento a Fé Diáfana devia ser derrubado de uma vez. Além dessa possibilidade, Gorac também pensava que seu nome e dos seus seria gravado para sempre em Karzas. Porém  eram muitas informações atormentando sua mente naquele momento. 

Mira se aproximou notando os olhos distantes de seu líder enquanto os outros organizavam tudo para prosseguir viagem. Todavia Orog e Xalax já haviam sido liberados por ela para fazerem a varredura dos perigos e das informações necessárias do caminho a frente. 

Mira se aproximou de Gorac e questionou o que havia. O líder de guerra, virou-se e olhando para sua velha parceira de lutas, e assim contou tudo que ocorria em seus pensamentos. Mira ouviu atentamente, sempre esteve ali, lealmente para ajudá-lo. 

Uma parceria mais profunda

Foi então que ela disse “São muitas coisas, muitas chances para dar errado. Mas enquanto não escolhermos um caminho eles apenas vão ser fantasmas que vão nos atormentar. Sendo assim, em vez de pensar em andar, o certo é andarmos e lidarmos com os perigos dessa viagem. Ainda não tem inimigos aqui, só vão ter quando seguirmos. Lutar com fantasmas vai tirar suas forças, vamos escolher os inimigos e centrar neles. Viajamos muito, lutamos muito para conseguirmos o pouco que trouxemos para essa terra que nos odeia. Agora, os problemas viraram chances, de verdade uma chance de mudar as coisas. Você é bom líder, preocupado com o clã, com o grupo de guerra, nós vamos seguir você onde for…”

Gorac ouviu atentamente e percebeu que Mira sempre estaria ali. Não se importando se suas escolhas custassem a vida dela. Se aproximou e tocou seu rosto. Encostou sua testa na dela e complementou “Você sempre esteve comigo. É mais que minha parceira nas lutas. Que nosso vínculo dê frutos nessa terra que conquistaremos juntos”.

Um rápido beijo cortou o momento de incertezas. Kagror riu alto, apontando para Anáxalas, “Ahhhh mulher, eu ganhei a aposta, ainda está dentro do meu tempo, falei que ia acontecer, pode pagar sua dívida!”. A Orc bufou, mas se aproximou entregando as moedas que provavelmente haviam sido reunidas após aquele grupo discutir sobre a situação de Mira e Gorac. Era muito perceptível que esse vínculo estava mais que selado em tantas campanhas e situações que ambos venceram juntos.

Ao encontro de perigos 

Colocaram-se em marcha. Ainda que os animais de carga sofressem com o terreno irregular. Mas venciam lentamente as dificuldades da Mata Velha com apoio dos Orcs. 

Contudo os batedores Orog e Xalax haviam retornado apontando um caminho mais fácil para prosseguirem. Após horas de viagem, já a noitinha, chegaram a um pequeno monte que permitia visão da área que atacariam. Perceberam a frente, o círculo rochoso e a maneira como os kobolds haviam construído uma muralha de madeira fechando brechas. Portanto, permitindo assim uma defesa fabulosa do local. Porém um ataque vindo de cima seria muito inesperado para os pequenos estarem preparados. 

O velho Shivar explicou que havia ali dois portões, o local mais afetado pelo ataque estava do lado oposto do ponto em que chegaram. Muitas pesadas criaturas se chocaram na área que ainda estava em expansão. Sendo reforçada, o que por sinal facilitaria a invasão naquele momento, no ponto indicado pelo kobold. Mesmo as aranhas gigantes menores, já eram maiores que ele mesmo. 

Anáxalas explicou ao grupo que aquele ataque estava ligado ao mistério que iniciaram na noite anterior. Analisou os padrões de violência sobre as estruturas e citou que havia traços de estratégias. E que na opinião dela estariam ligados ao açoite mágico muito comuns em outrora, magias que motivavam e direcionavam a mente de criaturas de vontade fraca.

Enfim o confronto 

Apesar da informação, não havia mais tempo para dúvidas. Todos tiraram pesos extras dos materiais carregados e começaram a descansar e se preparar para a luta que estava próxima deles. Xalax espalhou unguentos e pediu a todos para mastigarem algumas ervas e raízes. Essa ajudariam a manter o foco na luta e amenizariam qualquer dor que tivessem devido ferimentos. 

Gorac preparou seu elmo de chifres, afiou sua lâmina e organizou todos para uma carga ao portão frontal. Apenas Anáxalas ficaria um pouco recuada dando suporte com o arco. O grupo avançaria e Gorac manteria o arco frontal com a lâmina de grande porte. No entanto, os demais manteriam o escudo em pé assegurando o avanço da formação em “V”. Com o término da carga, todos formariam um círculo. Em seguida a arqueira se colocaria na posição central cedendo cobertura enquanto todos estariam firmes combatendo as hostes de aranhas. Concordaram e enfim, já com o manto da noite, puseram-se a avançar.

A carga inicial trazia consigo toda violência da raça Orc. As ervas e raízes dadas pelo mateiro, entorpeceu a mente para qualquer agressão externa ao mesmo tempo em que abriram facilmente os portões da fúria de guerra. Os urros rapidamente alertaram as aranhas que avançaram sobre os inimigos tentando evitar que entrassem naquela morada aracnídea. Mas nada puderam fazer contra lâminas afiadas que eram habilmente e brutalmente manuseadas pelo povo guerreiro. O líquido vital das criaturas manchava a terra e a grama alta. Enquanto o grupo mantinha um percurso de morte pelo terreno. O som de rasgos violentos, os sons das feras sendo partidas e rechaçadas com facilidade alimentavam as chamas da fúria daquele grupo. Agora quanto mais inimigos, maior era o clamor colérico e os urros.

As vezes é preciso improvisar na batalha

A frente deles havia os restos da muralha de madeira que rapidamente vieram abaixo com a força descomunal do choque daqueles frenéticos Orcs. Anáxalas rapidamente subiu em uma rocha próxima. Mantendo uma posição alta enquanto a tática de avanço foi trocada por um semicírculo protetivo. Os combinados de antes do ataque foram levemente alterados devido ao local vantajoso encontrado. 

As aranhas se acumulavam, flechas zumbiam e acertavam perfeitamente o centro dos vários olhos daquelas criaturas. Gorac não deixava as criaturas se aproximarem fazendo da lâmina de grande tamanho um arco ceifador de carne.

Os demais com seus escudos mantinham posições, estocando e rasgando. O número continuava a crescer, mas os Orcs ficaram firmes. Houve tentativas de ataque vindas de cima, com saltos e quedas das árvores provenientes das defensoras. Mas as flechas precisas davam a cobertura necessária para a manutenção da formação. As pinças afiadas das aranhas  começaram a perfurar as grossas peles dos Orcs, mas mesmo com sangue jorrando a fúria permanecia.

Uma a uma as criaturas se lançavam sobre os atacantes, sem hesitação. Era nítido como todas também estavam envolvidas por uma força sinistra que as colocavam como uma muralha viva diante dos invasores. Os corpos iam se acumulando, o movimento dificultado, e ainda assim a luta persistia. Aranhas surgiam de frestas na rocha, de dentro da mata, de construções no interior da vila Kobold. Mesmo com a opressão da vantagem numérica das criaturas, Gorac gritava para não se movimentarem e manterem a formação.

É o esperado, mas ainda não acabou

Anáxalas já havia trocado seu arco pela espada curta e escudo, gritando que não poderia mais dar suporte a ataques vindo de cima. Foi então que Mira berrou que a melhor opção seria manter a defesa de uma estrutura. Assim mantendo um gargalo de segurança entre eles e as aranhas. Gorac imediatamente concordou e fez um grande esforço para varrer criaturas à sua frente abrindo uma brecha para o movimento. 

Deslocar-se em meio ao emaranhado de feras, era desesperador, mas os Orcs eram treinados e forjados para lutas sangrentas. Kagror estava ensanguentado com tantas marcas de perfurações. Já Xalax temia por sua vida, mas ele também sentia o corpo vacilar devido aos números de cortes em suas pernas. Mira sentia os músculos gritarem devido a manutenção de tanto tempo de esforço e Orog já começa a vacilar devido às feridas abertas que jorravam sangue.

Conseguiram acessar uma construção com muita dificuldade. Ao passo que Gorac ordenou que dois mantivessem a posição de defesa da entrada enquanto os demais recuperavam o fôlego. Aranhas maiores surgiram e o embate durava. Revezavam-se enquanto mantinham a posição, até que o número de inimigos e a pressão começou a diminuir. As aranhas começaram a dispensar quando todos ouviram um movimento proveniente de algo grande e avassalador. 

Um impacto violento balançou toda a estrutura e parte do teto rachou revelando do lado de fora uma aranha de tamanho descomunal. Ela tinha mais de três metros de altura, cerdas afiadas brotando do corpo como uma proteção proveniente das profundezas do mal. Os olhos gigantes e avermelhados, patas com placas quitinosas afiadas, além de esporões mortais que percorriam todo corpo evitando qualquer agressão.

Mira e a bênção dos Líderes 

Os Orcs mantiveram os escudos levantados, sacaram adagas e machadinhas que percorreram o ar ao ser arremessados em direção a fera gigante. Gorac puxou seu último fôlego e avançou para retalhar as patas próximas, mas sofreu um impacto direto que o arremessou metros para trás. Caiu desacordado com a violência do golpe. Mais um encontrão da criatura contra a estrutura e mais a entrada ruiu. 

Mira, vendo o que ocorreu a seu companheiro, gritou ameaçadoramente, ela correu até a espada de lâmina longa e a segurou firme. Abandonou qualquer hesitação defensiva e partiu para o ataque. Esperou o momento certo do novo encontrão e de novos arremessos de armas de seus parceiros de luta. Quando teve uma brecha, saltou em direção a gigante, agarrando-se em uma pinça. O movimento de recuo da fera, fez com que o Mira tivesse seu salto alavancado pelo agarrão que fizera com um de seus braços àquela pinça mortal. Isso fez com que Mira caísse por cima do corpo da criatura. 

Equilibrando-se devido aos movimentos bruscos, não hesitou e começou a golpear a parte superior. Isto fez com que a aranha ficasse totalmente atordoada, sem ter como reagir a agressão. O grupo então aproveitou o momento para também sair das posições de defesa e cercar a aranha gigante golpeando-a de todos os lados.

Mira teve finalmente a chance e selou a vitória cravando a lâmina dos líderes Orcs profundamente na base superior daqueles múltiplos olhos. Mais algumas aranhas tentaram vingança, mas agora com número reduzido não foram páreo para os ataques Orcs.

Adentrando as minas

A vitória foi alcançada, mas primeiro havia a preocupação pelo líder caído. Todos correram para o que restou da estrutura onde estavam. Mira se adiantou segurou a cabeça de Gorac encostando sua testa na dele, lágrimas surgiram de seus olhos. Mas antes que pudesse expressar mais um sentimento conseguiu ouvir a respiração do líder e sua voz rouca dizendo que seu momento não havia chegado.

Em suma todos que ali demonstraram sua felicidade, diante da vitória e de nenhuma perda. Porém todos vacilaram e buscaram locais de descanso. Os ferimentos e efeitos do veneno, poderiam não matá-los, mas agora estavam obviamente vulneráveis e precisavam recuperar-se urgentemente.

Com a possibilidade de aproximação, Shivar pôs-se a trazer os animais e recursos. Em seguida todos seguiram até uma estrutura ainda intacta e tomada de teias e ali organizaram tudo para poderem se recuperar. Enquanto um apoiava o outro, o velho Kobold correu para analisar o elevador de roldanas que haviam feito. Todavia disse que poderia consertar, mas demandaria alguns dias. Gorac então falou, “…não se preocupe, no estado em que estamos, ninguém irá a lugar algum…”. Pesados risos sucederam a fala rouca e cansada. 

Continua…


Sangue e Glória – Parte 4 – Contos de Thul Zandull

Autor: Thul Zandull;
Revisor: Isabel Comarella;
Artista da Capa: Douglas Quadros.

 

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Sangue e Glória #2 – Contos de Thul Zandull

Sangue e Glória – Parte 2

Aquele dia começou com uma pesada chuva, os Orcs já estavam nas redondezas da comunidade de Harlam há três dias. Tinham organizado todo plano de ir até o antigo assentamento Kobold graças ao sábio Shivar que passou orientações de como chegar lá. Os mercenários já tinham deslocado seus saques, levando-os até seu barco. Porém os homens do contratante deveriam chegar logo, pois sua empreitada dependia disso, permitindo que eles se deslocassem. Sendo assim Mira, seu braço direito, também orientou Gorac que a busca fosse revelada aos responsáveis dos Virag.

Pois depois de tantos esforços tudo que eles não gostariam, seria levar uma saraivada de flechas pelas costas. Assim o líder do grupo aguardava, organizando o percurso que fariam e também preparando um novo contrato no qual abririam essa rota. Portanto limpariam os perigos no percurso enquanto retirariam sua pequena parcela, digna dos desafios que derrubassem. 

Enquanto os batedores eram aguradados, mantinham olhares constantes avisando sobre os movimentos. Mensageiros dos outros mercenários também chegaram avisando que os demais Orcs tiveram pleno sucesso nos outros ataques. 

Reforço a vista

Ao fim do terceiro dia, uma pequena embarcação se aproximou da comunidade costeira. Todavia era perceptível que sofrera com o mau tempo. Seu capitão, um Virag de pele negra e com adornos típicos de sua cultura, de nome Kembab se aproximou. Explicando aos guerreiros que das cinco embarcações, a única a chegar fora aquela. Uma tempestade terrível se abateu sobre eles e demoraria quase um mês para receberem reforços, fato que estenderia o contrato de todos e também os valores pagos.

Foram dois dias tensos em que os líderes Orcs foram até Harlam debater os detalhes do novo contrato. Nesta reunião Gorac dividiu as informações, fato que animou todos os presentes. Afinal era nítido que o compartilhamento do fato realçava o apreço e respeito que os demais tinham por ele. No entanto o problema residia nos valores que seriam pagos pelo contratante e as funções exercidas durante o período longo. Todos concordaram que fortificar pontos estratégicos para manutenção da posição e ampliação do número de batedores seria fundamental. Deveria haver troca constante de informações. Pois o número de invasores era pequeno para cobrir uma grande área durante tanto tempo.

Assim, o trabalho de abertura de rota para a mina não contaria com a força total esperada por Gorac. Teria a sua disposição apenas quatro dos seus, além de seu braço direito Mira. Dessa forma os demais manteriam funções de ocupação, vigília e comunicação.

As forças Humanas também seriam divididas, porém a pequena embarcação que sobreviveu não contava com mais que 40 almas, responsáveis por guardar Harlam. Conforme ficou acordado, as riquezas encontradas seriam divididas igualmente. Cabendo para aqueles que abrissem a trilha uma parcela maior.

Traçando estratégias

Com os detalhes acertados e todos satisfeitos, puseram-se a trabalhar. Mira então foi escolhida para selecionar os quatro que acompanhariam a empreitada. Contudo seria um percurso duro, pois o local que explorariam ficava na Mata Velha.

Para alcançá-la teriam que pegar trilhas nas montanhas Dol-Agurad. Estas se estendiam até o mar, cortando a área verde que circundava as aldeias costeiras, daquela porção mais antiga de vegetação milenar. Shivar iria acompanhá-los e disse que havia um clã confiável de goblins na região, o clã Três Cortes. Eles poderiam ser bons guias para a jornada, porém Gorac achou melhor, devido a situação, que tentassem evitar mais olhos sobre eles até que houvesse mais reforços em Harlam. Principalmente com o atual número de invasores, caso houvesse retaliação vinda de Basil, seria complicado manter as posições obtidas.

A Mata Velha era um local que preocupava muito. Mira sabia das histórias daquele local, havia magia antiga lá e as criaturas eram muito maiores e mais fortes, teria que agir com cuidado em sua escolha.

Após muito refletir, Mira escolheu o rastreador Orog, o brutamontes de mente lenta Kagror. O mateiro Xalax e a caçadora e exímia arqueira Anáxalas. A experiência do grupo estava garantida, pois todos os escolhidos já haviam participado de uma dúzia de campanhas sob a liderança de Gorac. Além disso, apenas o Kobold Shivar iria com eles, os demais sobreviventes manteriam o acampamento Orc perto do barco ali em Harlam. Aquela era a única garantia de fuga com alguns espólios caso tudo desse errado. 

Em rumo à busca de grandes tesouros

Assim, deixando o comando do restante de sua companhia e a pequena Harlam para Kembab, partiram para abrir uma rota até as riquezas descobertas pelo povo Kobold. Se tudo desse certo seriam três dias até lá e mais três para retornar. 

A marcha deveria ser constante e aquele grupo tentaria ao máximo manter-se oculto. Apenas levavam consigo provisões suficientes para evitar perder tempo na busca por comida. De forma alguma poderiam se dar ao luxo de extravagâncias. Mas com sorte e habilidade talvez pudessem ter refeições melhores se houvessem animais que cruzassem seu caminho. Consequentemente Orog e Anáxalas traçaram o melhor caminho e escolhiam com cuidado as rotas traçadas à medida que a paisagem se revelava.

Adentrando Mata velha

O primeiro trecho até as montanhas estava tranquilo, encontram cabanas de caça e de lenhadores, porém sem habitantes. Sempre havia o temor que alguém houvesse escapado aos olhos dos atacantes e que pudesse estar nesse momento viajando para avisar Basil sobre o ocorrido.

Porém os locais encontrados não tinham marcas de utilização constante, o que seria positivo, já que poderiam usar um destes para prepararem acampamento. Por sorte foi exatamente o que ocorreu, já ao anoitecer encontraram mais uma choupana simples de caçadores, suficiente para dar-lhes um abrigo. Conforme o bom presságio, Anáxalas também conseguiu abater um porco do mato de bom tamanho, algo que enriqueceu a alimentação. Prepararam o fogo e logo estavam assando a carne e pensando nos desafios que viriam. Gorac mantinha preocupação com a luz durante a noite, porém para outros que vivessem por perto aquilo significaria apenas que caçadores da vila estavam em ação.

Não houve nenhum evento estranho durante a noite. O mateiro Xalax aproveitou a tranquilidade para buscar ervas. E iniciou o preparo de unguentos e algo que pudesse ser útil contra os inimigos que em breve seria enfrentado. Ele sabia da letalidade dos venenos de aranhas gigantes, mas com as plantas certas o veneno poderia ser apenas um incômodo para os corpos mais resistentes dos Orcs. Por isso seus esforços foram necessários e o líder daquele grupo achou por bem esperar até que o mateiro terminasse seu trabalho. 

Com tudo organizado puseram-se em marcha novamente. E tal qual a paisagem serena da floresta que cercava Harlam transformava-se em terreno pedregoso com carência de vegetação, a subida pelas trilhas serpenteantes de Dol-Agurad começava. As subidas e descidas seriam mantidas por algumas horas e à medida que avançavam sempre estavam atentos a sinais de perigo, porém tudo estava estranhamente calmo.    

Não estamos sozinhos

Orog chegou a comunicar sinais de criaturas das montanhas quando se aproximaram de fontes de água e também em restos de presas abatidas e fezes de animais, mas nada que indicasse proximidade de ameaças. Afinal era um rastreador bem treinado e sempre seguindo um pouco a frente, escalando pontos fáceis para ampliar sua visão. Então foi o primeiro a notar algo na paisagem pedregosa. No ponto mais alto que estavam da trilha perceberam que havia outro caminho. Mais abaixo e neste caminho um espaço côncavo formado pela erosão natural no qual  o acampamento foi preparado. Havia montarias com alforjes carregados, dois homens de mais idade e um jovem que cuidava da fogueira e preparava o alimento.

Estavam a uma distância razoável e havia muitos pontos para uma descida segura e capaz de permitir um ataque surpresa. Inicialmente Mira disse que atacar velhos não seria honrado, porém foi rebatida por Anáxalas que explicou que preparados daquela maneira, perceberiam os problemas em Harlam. Eles poderiam retornar buscando ajuda, portanto todo sucesso da empreitada dependeria da aniquilação de olhos curiosos. Sejam eles quais fossem. Ainda assim Kagror e Xalax permaneceram em silêncio. Gorac ponderou sobre tudo, analisou com cuidado os sinais que traziam e logo expressou sua decisão explicando que definitivamente aquelas pessoas não eram figuras indefesas e frágeis.

Haviam escolhido um caminho perigoso e traziam nas roupas e demais itens adornos que significavam apenas uma coisa, membros da Autarquia. Gorac quase sentia o cheiro de magia, fato que levou a ordem de ataque.

Sem questionar, todos os integrantes do grupo começaram a fazer o percurso de descida, de maneira cuidadosa para obter o efeito máximo de surpresa.

Gorac não arriscaria sua Glória para servidores daquela fé maldita!

Continua…


Sangue e Glória – Parte 2 – Contos de Thul Zandull

Autor: Thul Zandull;
Revisor: Isabel Comarella;
Artista da Capa: Douglas Quadros.

 

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Sangue e Glória #1 – Contos de Thul Zandull

Sangue e Glória – Parte 1

O mar estava bravio, mas todos a bordo já estavam acostumados com aquele cotidiano difícil. Os momentos de preparação de suprimentos, a organização das armas e a escolha dos mais aptos ao trabalho. Os contratos firmados em sua terra, Karzas, sempre eram os mais perigosos e os contratantes sempre buscavam os mais habilidosos mercenários para resolver situações que os exércitos ou forças regulares não podiam se envolver. Em outros momentos apenas um meio de evitar baixas significativas ou ainda para missões suicidas nos quais nenhum Humano poderia voltar.

Para todas as situações apenas Orcs poderiam resolver o problema, em troca é claro de quantidade suficiente de moedas de ouro.

A viagem até aquele continente maldito regido pelo Deus vigilante era rápida. Vinte dias entre sua terra a nordeste e o porto aberto pelos Virag, um protetorado descontente com as políticas do Império Argênteo, regido pelo Pontífice Autarca.

Muitos foram os inimigos criados nos últimos vinte anos e a guerra era custosa em vida e moedas. Os territórios suseranos não podiam mais arcar com taxas, impostos e as ações destrutivas regidas pela crença cega. Dorac não havia estudado formalmente, mas era astuto e entendia como as coisas funcionavam, como as pessoas governavam e como os acordos eram necessários. Seu povo tinha consigo a força da tradição, a fúria selvagem liberada em batalha. Mas após séculos de massacres, aprenderam a duras penas que negociar e barganhar eram armas mais poderosas que magia ou golpes de machado. Assim seu povo assentou-se aos pés de um vulcão adormecido, uma terra sem muitos atrativos para invasores, mas rica em terra fértil e de acesso tão difícil que grandes embarcações evitavam a mera aproximação.

Os Orcs de Karzas adquiriram habilidade marítima, sem negar seu treinamento físico e suas habilidades marciais, algo que naturalmente guiou-os ao trabalho como mercenários.

Virag, assim como outros protetorados se organizavam para rechaçar cidades portuárias imperiais, aquelas mais distantes e desprotegidas de forças regulares. Precisavam ser rápidos para aniquilar tal resistência, normalmente fanática, abrindo caminho para desembarques pesados e a construção de uma cabeça de praia para de fato flagelar o Império e forçar uma negociação, tendo em vista que não haveria forças para abertura de várias frentes de batalha.

Aos invasores não havia recursos para adentrar o continente, mas teriam o suficiente para forçar um acordo lucrativo. Era sempre um risco, mas a companhia de Dorac apenas queria fazer o serviço, saquear o que pudesse e retornar para casa. Tinha à disposição vinte valorosos guerreiros, dentre os quais, machos e fêmeas, ambos lutavam igualmente bem. Seu barco, construído com calado baixo poderia facilmente adentrar os rios com leito mais baixo e pegar a comunidade de Harlam de surpresa, com sorte, não haveria mensageiros para a viagem mais longa contornando as montanhas Dol-Agurad até a cidade de Basil, assim tomar a cidade seria facilitada com um ataque surpresa avassalador. 

Ao se aproximarem da costa seguindo o trajeto feito por Mira, sua imediata, sua parceira em combates já alguns anos, o capitão mantém-se atento aos pescadores ou viajantes, certo de que a noite trará o manto necessário para evitar o efeito planejado por todos que o acompanhavam.

Era sabido que os Orcs preferiam peles de animais e armaduras de couro, pois precisavam de sua mobilidade para garantir-lhes vantagem em combate, investiam seu bom minério em grandes escudos e armas de altíssima qualidade. As fêmeas de seu povo eram bem treinadas em combate corpo a corpo, mas somente a elas era dada a função de arqueiras, uma tradição difícil de ser quebrada, ainda mais por demandar desonra ao macho, por demonstrar covardia. A companhia de Dorac não acreditava nisso e várias vezes foram alvo de escaramuças em sua terra devido a desconfiança gerada por um grupo questionar as tradições. Isso pouco importava agora, machos e fêmeas estavam munidos de arcos longos e flechas de pontas afiadas de metal para garantir vantagem inicial e decisiva na invasão. 

Adentraram o sinuoso rio de leito baixo por dois quilômetros. Se aproximaram da margem, todos desembarcaram. Gorac ordenou aos Orcs que organizassem o acampamento e destacou dois batedores para observar as redondezas.

Dos vinte que estavam consigo, destacou três para cuidarem do acampamento que levantariam, afinal aquele não seria um ataque único, outros cinco barcos com grupos como o dele atacariam pequenas comunidades e depois se juntariam para o ataque na cidade de Basil. 

Após três horas, já em alta noite, Gorac aguardou as informações dos batedores antes de agir. Eles indicaram perímetro seguro e posição que sugeria uma viagem curta até a comunidade de Harlam, que não contava com mais de duzentos habitantes, algo que significava uma força regular de dois soldados treinados e uma milícia local composta por voluntários. Um alvo fácil para aquele grupo bem treinado. Assim, puseram-se em marcha protegidos pela escuridão, eram dezessete Orcs de pele esverdeada, machos e fêmeas com igual perícia mortal em armas. Gorac, como de costume, colocou seu elmo de chifres curvados, feito em metal enegrecido e ricamente adornado para os padrões de seu povo, um utensílio comum a capitães e líderes de ataque.

Ele também afiou sua grande espada de duas mãos, arma que manipulava com maestria e usada para abrir brechas nas defesas inimigas e segurar posições. O mercenário pensava consigo nas possibilidades de saques da cidade grande, a pequena Harlam seria apenas um aquecimento para a verdadeira glória que obteriam da grande cidade.

O ataque, como era de se esperar, foi um sucesso. Nenhuma baixa em seu grupo. Os Humanos foram pegos de surpresa e os dois vigias foram rapidamente abatidos a distância garantindo que o ataque principal a guarnição fosse massacrada. Os milicianos foram mortos ainda em suas camas e os dois soldados que despertaram tentaram em vão resistir, estavam despreparados, sem armadura e aturdidos pelo despertar inesperado. Após derrotar as defesas principais, começaram as invasões às casas e depois a pequenos comércios e o pequeno templo construído em um salão amplo. Homens adultos ainda tentaram resistir, mas após mortes trágicas de alguns corajosos, logo todos se renderam.

Os invasores ganharam pequenos cortes, arranhões e luxações, nada incomum dentro da carreira que seguiam. Para surpresa de todos, a comunidade, devido ao fluxo mais intenso de comércio dos últimos meses, tinha mais moedas e riquezas que o normal, infelizmente nenhum grande navio atracado, mas as barcaças que ali estavam tinham bons materiais. Tomaram cavalos e encheram todos com os espólios. Como houve rendição, todos os Orcs seguiram as normas passadas pelo capitão, não molestando mulheres, crianças e anciões. Já os homens adultos que se renderam, acabaram sendo decapitados. O misto de medo e respeito era algo necessário. 

Enquanto todos reuniam as riquezas obtidas, Mira veio até seu líder e explicou que haviam achado algo intrigante. Cerca de vinte Kobolds chegaram à cidade e foram presos, seus bens tomados pelos Humanos e metade executada nos últimos dias, em uma cerimônia solene de expurgo praticada pela Fé daquele povo. O ancião entre eles disse que tentavam buscar ajuda para uma invasão de criaturas terríveis que ceifou sua cidade, matando vários de sua raça. Segundo o relato, eles tinham aberto uma grande mina, mas antes que pudessem aproveitar as riquezas, aranhas gigantes se abateram sobre eles. Poucos fugiram. Desesperados tentaram comprar apoio, mas foram subjugados e presos. 

Ouvindo aquilo, Gorac percebeu a riqueza de detalhes, libertou os pequenos, mas em troca pediu que um mapa fosse feito. Indagou como eles escoavam o que obtinham e como conseguiram se organizar. O ancião deles então explicou que de tempos em tempos, encontravam-se com mercadores Virag, em uma praia deserta, fazendo acordos. Evitavam os imperiais, mas devido a situação desesperadora pensaram que talvez tivessem ajuda. 

Aquela história despertava no capitão e nos mais próximos uma sensação que os Virag não tinham como meta principal a cidade de Basil, mas sim as riquezas dessa tal mina dos pequenos, ou melhor, ambos. Se a história fosse verdadeira eles teriam controle de uma região com grandes riquezas, podendo manter hostes de mercenários que garantiriam o tempo necessário a qualquer negociação, que por sinal poderia ser bem arrastada. Em posse dessa informação os Orcs se reuniram e discutiram brevemente, os Kobolds deveriam ficar sob guarda daquele grupo, eram poucos e poderiam trabalhar, o ancião de nome Shivar, seria útil, para revelar segredos e guiá-los e finalmente, nem precisariam se esforçar no ataque a cidade, garantindo mais riquezas por esforços menores.

Havia muitas possibilidades, mas Gorac sabia que não poderiam ser gananciosos, tinham uma força pequena e quebrar acordos com os Virag não estava nos planos, era necessário ter aliados futuros e oferecer uma mina como aquela a seus contratadores daria aquele grupo grande prestígio e renome, além é claro de sua parcela obtida de maneira justa pelos serviços.

Mira se encarregou de desenrolar a situação com os Kobolds, que por sinal se mostraram bem receptivos diante de seus libertadores, não tinham mais nada, sem família, sem oportunidades. Aqueles Orcs ofereciam trabalho, comida e proteção. O ancião Shivar concordou em revelar os segredos com a promessa feita pelos presentes que seus irmãos seriam vingados com as entranhas das aranhas malditas. 

Gorac via a sua frente bons ventos e seu nome logo seria conhecido e temido.

Continua…

 


Sangue e Glória – Parte 1 – Contos de Thul Zandull

Autor: Thul Zandull;
Revisor: Isabel Comarella;
Artista da Capa: Douglas Quadros.

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