Nos cantos escuros do meu quarto – Contos da Lady Axe

Em mais um dos seus contos Lady Axe  nos contou como Felipe é obsidiado por um fantasma do passado. No escuro do quarto ele algo maligno que corrói muitos de nós!

Nos Cantos Escuros do Meu Quarto

Felipe deitou na cama desejando que amanhã não fosse segunda. O corpo enervecido de ansiedade trazia o pior para os pensamentos quando repousava a cabeça no travesseiro no domingo de noite.

Tudo o que passava na sua cabeça era que as coisas dariam errado, um sentimento de tristeza cortava seus olhos na escuridão. Memórias ruins do passado surgiam.

Na ansiedade, a escuridão se tornava agitada, o pensamento se voltava para cada objeto, que de forma confusa, ganhavam vida.

A calça no sofá lançava sombras que moldavam um rosto enraivecido. A cômoda e as gavetas abertas eram um tórax com as costelas arregaçadas, cheias de cicatrizes longas e protuberantes nas ranhuras da madeira. Os calçados no chão eram duas bocas abertas em sofrimento. Felipe foi alguém marcado por um medo atroz desde a infância, medo de qualquer coisa. Achava que ao se tornar adulto tudo iria parar.

Mas o pânico só ficou mais intenso.

As coisas na escuridão lhe assustavam ao ponto de cobrir a cabeça e a salvação era a luz do corredor refletida no velho espelho de família.

Um farol, um alento… A luz no espelho trazia algum alívio e a esperança de que a verdade estava do outro lado da parede, com isso, Felipe se sentia minimamente seguro.

Naquele domingo ele ficou observando a luz esperando pegar no sono. Mas o sono não veio.

O espelho atravessara gerações, as mesmas que o antecederam e viveram sob aquele teto, a casa imensa, antiga, de centenas de camadas de tintas na parede.

Vértebra por vértebra a coluna de Felipe congelou, embora o medo imobilizasse seu corpo, incrédulo diante da visão aterradora, acreditou ser impossível o sobrenatural diante de si, ele apertou os olhos e procurou qualquer sinal de lucidez e coragem.

A sombra cujo sorriso malévolo ainda estava estampado no rosto, moveu-se na direção da cama, tão rápido que os segundos se jogaram fora do relógio. “Felipe, quantas vezes eu disse que chorar é coisa de fracote?“.

Ouvindo a voz retorcida provocá-lo, uma súbita coragem acendeu dentro de si. Prometi a mim mesmo que jamais deixaria que me ofendesse novamente… vovô

Os olhos de Felipe encheram-se de lágrimas, aquelas palavras doíam mais que tudo, pois muitas vezes ouvira aquilo, seguido da porta batendo, enquanto o avô tirava o chapéu calmamente, colocava sobre a cômoda e abria a cinta, deslizando o couro grosso ao pelas encilhas na calça, surra era o que vinha.

E assim aconteceu.

Felipe lembrou da dor e dos soluços no canto do quarto, recordou-se do quanto doía… e das promessas que fazia a si mesmo “na próxima não vou deixar que me bata”.

E pela primeira vez conseguiu levantar a voz embargada: “nunca mais!”, ele disse, enquanto atravessava a aparição, jogando o corpo contra o espelho, as madeiras velhas quebraram e o vidro esmigalhou-se por todo o quarto. Cacos entranharam fundo na pele de Felipe e as luzes tremeram. Acenderam e apagaram uma vez mais revelando os dedos ensanguentados de Felipe. Seguiu-se o silêncio e o vazio como nunca havia sentido.

Embora machucado e com o piso tomado de minúsculos pedaços de espelho, Felipe voltou para a cama com o peito descomprimido, finalmente sentiu-se tranquilo naquele lugar, tão calmo que pôde dormir em paz.


Papo da Lady Axe:

Este conto pode ser usado como uma cutscene para sua sessão de RPG onde aparecerão seres sobrenaturais, fantasmas, traumas de infância ou espíritos malignos. Cenas introdutórias servem para antecipar a tensão logo no início e deixar suspenso o medo a cada nova informação a que o jogador tem acesso.

Uma ótima cutscene para vampiro a máscara está nesse link.

Não esqueça de conferir o post da minha sessão favorita Quimera de Aventuras

Rpg terror

Revisão de: Isabel Comarella

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