O RPG e o Design: Personas

Personas

Me considero um bom criador de personagens e, para mim, esta é uma pratica que vem desde a infância. Quando criança, na saudosa época de brincar com bonequinhos (Sim, bonequinhos e não action figures), já criava histórias para cada um dos bonecos que eu tinha. Cada personagem tinha sua família, fraquezas, poderes especiais, classes, personalidade e até mesmo idades diferentes. Os “Homens-aranhas” (Personagem favorito da infância) eram da família real, e uma regra que se aplicava a outras “famílias” (Batmans, Super-homens, Wolverines, etc) era a que, sempre o boneco que tinha a melhor roupa/armadura era o chefe da família. Até ai nada diferente de uma criança comum.

Na adolescência conheci o famoso RPG de livro/mesa ou jogo de interpretação de papeis. Onde você cria um personagem e, como no teatro, interpreta-o, enquanto seus amigos fazem o mesmo com os personagens deles.

Porém, diferente dos meus amigos, sempre foquei mais na história do personagem, seus hábitos, manias, hobbies e personalidade do que nas características de ficha, como atributos, força, etc. Lógico que batalhar com o personagem sempre é legal, mas é na parte de interpretação que eu realmente me divirto. As batalhas nada mais são que mais histórias para meu personagem contar nas tabernas.

Como falei anteriormente, sou estudante de Design, e na faculdade aprendi diversas ferramentas de criação que visam o usuário, porque afinal de contas, o que diferencia o designer de um engenheiro é a capacidade, ou obrigatoriedade, de pensar no usuário do produto. O designer trabalha para o usuário, e colocar-se na pele do usuário é uma característica importante para um bom designer. Uma das ferramentas que aprendi ao longo do curso é a chamada Persona, que serve para definir o “cliente ideal”, de modo que, em uma rápida análise, seja possível identificar características comuns entre os seus potenciais usuários. O interessante é que o processo de criação desse proto-usuário acaba sendo muito similar à construção de uma ficha de personagem para seu cliente fictício. Ahá!

A dúvida que surge é: “Douglas, mas então esta persona é inventada? E se o seu publico não for aquele?” – A resposta é simples, é inventada, mas não aleatoriamente, e sim, com base em uma pesquisa anterior. Abaixo um exemplo:

Empresa: Padaria do Café Maneiro.
Produto: Pães, tortas, doces e salgados Gourmet.
Problema: Quero começar a fazer entregas de tortas, sem que elas sejam destruídas, e levar um pouco da experiência do local (gourmet ou premium) para o consumidor na sua casa.
Publico baseado em pesquisa: Jovens que estão sempre na correria do dia-a-dia e de classe média alta.

Persona 1:

  • Nome: Jonas Maciel;
  • Idade: 25 anos;
  • Profissão: Arquiteto;
  • Bio: Começou a faculdade cedo, já esta formado, abriu um escritório, tem muitos clientes, classe média alta, carro do ano e pouco tempo;
  • Gostos: Gosta de rock brasileiro, não assiste televisão, vive com o celular, utiliza Netflix e gosta de Coca-Cola;

Persona 2:

  • Nome: Laura Ferreira;
  • Idade: 26 anos;
  • Profissão: Médica;
  • Bio: Começou a faculdade cedo, já esta formada, trabalha em 2 hospitais, classe média alta, bicicleta por saúde;
  • Gostos: Gosta de axé, Assiste televisão por assinatura, vive com o celular, toma apenas sucos naturais;

 

Estes são exemplos simples, é claro. Existem diversos modelos de fichas de personagem pela internet a fora. Mas acho que deu para entender a ideia.

Com estas informações de proto-usuário, juntamente com uma pesquisa imagética e de tendência, já é possível pensar em possíveis soluções para o problema do cliente (empresa que busca o serviço do designer). As personas são uma das principais ferramentas para desenvolver uma boa solução para o cliente. Afinal o que ele quer é: Melhorar o seu atendimento ao consumidor, ter ganhos melhores, entregas melhores, etc, mas tudo isto tem como base o bom recebimento por parte do consumidor/usuário. E para pontuar… Entendê-lo não é apensa útil, é OBRIGATÓRIO.

O que quero dizer é o seguinte: A construção de personagens, que era tratada como brincadeira na infância e foi tratada como elemento secundário nesse hobbie que é o RPG, se mostra, agora na minha vida adulta-profissional, se mostra, não apenas útil, mas obrigatória, mostrando, mais uma vez, que o que surge no campo do lúdico pode muito bem ser usado de forma pragmática.

Então, se você é uma pessoa que acha que o RPG é apenas um Hobbie, saiba que a criatividade não é um dom, e sim uma habilidade, que pode ser estimulada e melhorada.

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