J.V. Teixeira – Torres de Wynlla – Entrevista

Escritor e professor carioca, J.V. Teixeira é o autor do romance Torres de Wynlla, um dos mais recentes contos no Universo de Tormenta, que fala sobre um grupo de personagens enfrentando a alta sociedade arcana de Wynlla, o reino da Magia, e vivendo altas aventuras por lá. O autor nos concedeu uma entrevista no finalzinho de 2024 e você pode conferir ela por aqui.

Cara, primeiramente tudo bem, como você tá?

Cara, tirando o calor, tudo certo!

Disclaimer

A entrevista abaixo contêm SPOILERS do livro As Torres de Wynlla, leia por sua conta em risco!

As Torres de Wynlla

Para começar a entrevista legal, mesmo que eu tenha lido o livro e esteja com as coisas frescas na cabeça para perguntar, queria que você o apresentasse. Fique à vontade!

Torres de Wynlla é um ótimo ponto de entrada para quem não conhece Tormenta, mas para quem é familiar ao cenário, acredito que vai servir para enxergar aquele reino de um modo diferente.

Até porque, por mais que Tormenta seja um cenário de fantasia medieval, tem espaço para muita coisa. Quem for introduzido no cenário pelo Torres vai conhecer um lado um pouco diferente da fantasia medieval mais “clássica”, e, de repente, pode acabar sendo levado a se interessar pela fantasia mais tradicional quando procurar os outros livros.

Uma história de aventura igual a um desenho animado

Quando a gente conversou na Taverna do Anão Tagarela, eu achei engraçado descobrir como os autores são convocados. Você escrevia desde livro sobre a sua vivência como professor até histórias de terror e então foi chamado para escrever um livro infanto-juvenil. Contudo, a minha impressão é que o Torres tá no meio termo de maturidade entre o Dado Selvagem e a Cidade da Raposa.

Considerando esses três como essa pegada dos novos autores de Tormenta, Dado Selvagem é o mais infantil, Cidade da Raposa é um pouco mais maduro (fala sobre drogas, vida adulta e etc), mas enquanto eu lia o Torres eu imaginava muito um desenho do fim dos anos 2000, ou início dos anos 2010, como Ben 10 ou Liga da Justiça Sem Limites. Algo voltado para adolescentes saindo da puberdade e entrando na vida adulta, que tem suas partes bobinhas, mas também tem assuntos mais sérios.

Eu queria saber se isso foi proposital, se você gosta de colocar isso nos seus livros ou se a sua inspiração foi outra e essa impressão foi errada.

Foi totalmente proposital. Eu quis fazer um livro que tivesse camadas de compreensão, mas não consigo nem afirmar se eu fui feliz nisso, pois não sei se o leitor vai reconhecer os subtextos dentro dele.

Por exemplo, se pegarmos os vilões Alcyanda e Vergil. Eu quis tornar os dois odiosos, só que não sei se um adolescente vai sentir tanto ódio deles, porque tem coisas que talvez um adulto consiga captar um pouco mais.

Tem toda uma leva de animações que seguem esse caminho de ter camadas. A criança assiste de boa, mas se você é um pouco mais velho, vai ver aquela aventura divertida como algo mais profundo.

Os desenhos do meio dos anos 2000. Inicio dos anos 2010 são muitos bons em retratar essas aventuras para adolescentes com lições de maturidade.

Fico feliz de ouvir isso porque foi o sentimento que tive. Eu estava lendo o livro, aí em um momento o Cidney perde o braço e eu tomei um susto. Não é algo que a gente espera em uma aventura para crianças e normalmente representa um momento de virada do personagem. Em Hora de Aventura algo do tipo acontece e é um choque.

Os Vilões do Torres

Você falou dos vilões, e uma coisa que eu fiquei curioso foi pela escolha deles. Quando li a sinopse, acreditei que seria um livro contra a Magocracia, de gente querendo derrubar essa “democracia”. Também é, mas tem muitas pessoas querendo levantar uma monarquia de novo (o que é mais real do que gostaríamos). E essas pessoas não tem escrúpulos para chegar aos seus objetivos, então eles se unem aos minotauros escravagistas e aos puristas.

Você disse que queria muito que a vilã fosse odiosa, mas tem muitos momentos em que a gente tá na cabeça dela. Quando você escolheu apresentar o ponto de vista da Alcyandra e dos vilões ao redor dela, qual foi o seu objetivo?

Vamos por partes. Você citou que tem um momento em que o leitor entra na cabeça da Alcyandra e tem um vislumbre do que passa na mente dela e do Vergil também. Eu acho importante esse tipo de coisa, porque tem algo que está caindo em desuso, que é o cara ser mau só porque ele é mau. Eu não queria colocar apenas duas pessoas que estão em uma posição elevada e por isso são maus, eu quis dar um porquê. Tanto é que talvez outras pessoas na situação deles se tornassem herois ao invés de vilões.

Principalmente o Vergil.

Ele vem muito da literatura e de filmes de guerra que eu consumo, principalmente os filmes de guerra revisionistas que colocam os soldados como herois de guerra que quando voltam não são ninguém. Juntei isso com as pessoas que fazem o bem, mas querendo algo em troca.

A Alcyranda, apesar de tudo, tem influência do meio em que foi criada. Ela é obrigada a repetir estereótipos para sobreviver naquele mundo, chegando a um ponto de odiar algo que ela é. Isso é bizarro demais, e eu quis passar esse paradoxo. Ela não escolheu isso, mas ódio não tem explicação.

Esses dois foram pensados desde o começo para serem vilões.

Quando comecei a preparar o livro eu não havia definido os dois, só que um deles viria do Conselho e o outro da Guerra Artoniana. Essa base estava certa, mas a quem estariam ligados não.

Só fui pensar nesse escopo quando me enviaram o capítulo do Atlas de Arton relacionado a Wynlla, então comecei a preencher as lacunas com informações que haviam lá.

Respondendo sua pergunta sobre os puristas e os minotauros: eu queria colocar uma escalonação de perigo e conforme lia o Atlas, percebia que havia alguns espacinhos que eu poderia usar.

O Tavikus é um personagem que tá no livro Vectora – Cidade nas Nuvens. Eu peguei ele, juntei com o histórico recente de Tapista e aí surgiu essa espécie de levante de Minotauros. Também fiz isso pensando naquela questão de quem perdeu algo que achava bom ficar revoltado. Os minotauros estavam em uma situação favorável até a escravidão acabar e não vão aceitar isso quietos. “Antigamente que era bom”, algo do tipo.

Os puristas, tirando a Tormenta, são o ponto máximo de perigo em Arton, com todo aquele radicalismo. Não havia porque usar a Tormenta no livro, então eu coloquei os puristas para serem o topo desse escalonamento de inimigos que o grupo se depara.

Tem muita coisa que surge conforme eu vou escrevendo. Por exemplo, o retorno do Alvar. Ele só apareceria no começo. Quem termina o livro acredita que ele é uma peça fundamental, mas a ideia de trazer ele de volta veio conforme eu escrevia. Eu o criei para ser um vilão pontual, mas ele ganhou uma vida que me encantou. Nem passado ele tinha, aquele histórico surgiu quando eu escrevi o capítulo.

Outro exemplo desse tipo é o Lamond ser irmão da fantasma que os protagonistas encontram. Essa ligação surgiu conforme eu escrevia e enriqueceu muito a história.

Vergil é um dos principais antagonistas do Torres, mas ele já havia aparecido nos livros como a representação da Distinção Mago de Combate.

Eu não havia pensado nisso, mas esses dois realmente pareciam que foram pensados dessa forma desde o início.

Valkaria vs Wynna

A gente conversou na CCXP sobre a subtrama que me fisgou e ao meu amigo Antônio (que terminou o livro antes de mim). Estou falando do prólogo, onde tem meio que uma guerra acontecendo entre Valkaria e Wynna, que me deixou muito curioso.

Wynna tem um nicho dentro dos alinhamentos e sempre foi muito Neutra. Ela não tem um lado, mas é boa, distribui magia para todo mundo. Valkaria normalmente é colocada como heroína, mas muitas vezes age como uma vilã. Da maneira que você colocou o embate delas, Wynna parece muito a vilã.

Não sei se você pensou alguma delas como vilã ou heroína, mas com vilã eu quero dizer a antagonista da história, porque Wynna não quer que o Cid encontre o que ele tá procurando e fica “irritada” por tudo dar certo.

Todo esse jogo de tabuleiro ao redor me lembrou muito as discussões entre Khalmyr, Nimb e os demais deuses no primeiro romance da Trilogia da Tormenta e em Holy Avenger: Paladina. Qual foi a ideia para ter o embate das duas?

São deusas que a gente nunca imaginou interagindo muito. Valkaria naturalmente tem ligação com todo o panteão, mas Wynna nunca pareceu ter algo contra alguém. O livro tem uma interação de irmandade muito legal com elas.

Enfim, o que você tem para falar sobre o relacionamento dessas duas deusas e dessas partes?

Eu coloquei as deusas por dois motivos.

Quando li Inimigo do Mundo eu surtei, porque, por mais que Tormenta tenha essa abertura, até o Inimigo do Mundo eu imaginava os 20 deuses do mesmo modo que as pessoas veem Deus no mundo real. Algo divino e acima de todos. Eu não os enxergava como algo falho, com desejos e tudo mais. Após a leitura, comecei a enxergá-los mais como deuses gregos e romanos.

Minha ideia inicial era apresentar as duas deusas só no final. Seria o plot twist: Valkaria manipulou toda a aventura vivida por Cidney e s outros.

Eu demonstraria isso do mesmo modo que os deuses aparecem naqueles filmes clássicos de mitologia grega dos anos 60 e 70, em que estão tomando um vinhozinho no meio de um lago, vendo os herois na água.

Mas aí em uma conversa com o meu editor, o Cassaro, ele sabiamente falou que como a gente estaria apresentando Tormenta para novos leitores, era interessante os deuses aparecerem antes, para o pessoal não chegar no fim da leitura e falar: “mas que diacho é esse de deuses conversando?”.

Quem conhece Tormenta ia entender de boa, mas quem tá entrando não. Então, o que seria o epílogo do livro foi particionado em quatro momentos: a introdução, o interlúdio, o epílogo e o fechamento do romance.

Sobre a mudança em relação a Wynna, foi proposital. O que eu tentei passar é que ela teme até onde os mortais conseguem ir sem a magia. Por isso ela baniu o Lawson, afinal, ele começou a ter avanços tecnológicos que não precisariam mais dela. Um exemplo é o Ferrugem, que é um golem teoricamente mágico, mas que de certa forma poderia funcionar sem magia.

Essa é uma visão que eu não tive. Eu havia entendido que ela estava incomodada com a tecnologia vindo para substituir a magia, mas não havia entendido que Wynna se sentia ameaçada por ela. E ai entra de novo naquelas questões que a gente não sabe se é proposital ou não, mas as Engenhocas no Tormenta20 simulam magias, então podem “substituir”. Tem dois inventores nos últimos dois livros que fazem coisas incríveis, mas que não são magias.

Até no momento em que o Cidney tá para baixo, se achando incapaz, a Dacila diz que ele consegue fazer coisas que nem ela que é maga conseguiria, usando apenas a Inteligência.

Sim! E ele simula um monte de magias. Pensando mecanicamente, usar “magia sem magia” deixaria Wynna pistola.

Eu não vi a questão mecânica em si, mas pensei dessa forma.

Desde sempre o embate era entre Khalmyr e Nimb. É interessante ver outros deuses com essa dinâmica!

Representatividade em Tormenta

O Cidney é o personagem principal. Muita coisa gira ao redor dele e por causa dele. A gente conversou sobre na CCXP, mas ele é um dos poucos protagonistas negros de Tormenta.

São poucos protagonistas negros, mas as coisas estão mudando, pois hoje em dia tem reflexões que não existiam antigamente. A cultura pop em geral está passando por isso e muita gente tá incomodada (o que mostra que estamos indo pelo caminho certo).

Mas realmente são tão poucos protagonistas negros que muita gente ao ver as primeiras imagens do Cid pensou que o Torres era um livro sobre o jovem Nargom.

A tendência é mudar, podemos ver que no próprio Torres tem entre os protagonistas o Cid, o Vergil e a Dacila, que são negros, além da Nasus, que não é preta, mas tem um tom de pele diferenciado.

Inclusive, ela era uma personagem que não existia no planejamento até eu escrever a parte que ela aparece.

O livro em si teve muita surpresa pra mim, porque muita coisa surgiu durante a escrita. O Cid não perderia o braço, eu decidi na hora que aconteceu. Como isso aconteceu, ele teria que ganhar um novo, e aí veio a tia dele com essa função.

Enquanto eu escrevo, as ideias surgem.

Por exemplo, o grupo de aventureiros que coloquei no prólogo do livro era pra ser um grupo aleatório, mas quando cheguei na parte em que a Nasus conta a história do grupo dela e do avô do Cidney, eu juntei com essa parte da introdução. Eu acho que enriqueceu ainda mais a trama, para mostrar como muitas vezes Valkaria é perversa. Ela tá mexendo todos os pauzinhos para Wynna aceitar o que ela quer, fazendo a irmã pensar que foi por acaso.

No fim, Wynna tá lá “pô, minha irmãzinha, perdi”, e Valkaria tá com a face plena aceitando a vitória.

Ferrugem e Data, sempre tentando entender a lógica dos feitos de carne.

Família Tradicional Artoniana

Você falando que a Nasus foi pensada no meio do livro me deixou surpreso, porque “não é necessariamente a família tradicional artoniana” parecia uma passagem pensada, com antecedência. É bem legal que a família do Cidney seja composta por um avô goblin, uma tia centaura e um golem deformado.

Falando no Ferrugem, você disse para mim no podcast que ele seria um personagem que o pessoal ia gostar bastante e isso se provou verdade. Ele tá ali para resolver muitos problemas, salva muita gente da morte certa e tem um dilema muito legal, de personagens como o Data do Star Trek, que leva tudo no literal e que estão montando um senso crítico.

Qual foi a sua maior inspiração para ele?

O Ferrugem é a junção da teimosia do Obelix com a curiosidade do Data de querer compreender o mundo. Ele fica indignado quando algo está acontecendo e aparentemente não tem sentido.

Além disso, tem o temperinho que surgiu no meio da escrita, graças a minha noiva que me perguntou se o livro teria piada. Até então não teria, mas por causa da pergunta dela eu coloquei.

A Dacila foi baseada na sua esposa então? Porque ela é a única que presta atenção nas piadas do Ferrugem e ri.

Pior que não foi, hahaha.

Os Novos Titãs, escritos por Mark Wolfman

O motivo dela ser a única que ri foi uma tática de escrita que eu aprendi com o Marv Wolfman, um roteirista de quadrinhos das antigas, que criou os Novos Titãs. Lendo uma entrevista há muito tempo fiquei fascinado em como ele criou a equipe, fazendo uma escala de proximidade entre os personagens.

No caso do Torres eu defini que o Cidney não ia achar nada engraçado, a Gnal uma coisa ou outra e a Dacila riria de tudo. Daí a relação fica mais fácil, porque se você coloca uma comédia, você já sabe como eles vão interagir.

Essa escala pode ser usada para qualquer aspecto, inclusive os combates. Por exemplo, o Cidney tem uma pistola, então ele ataca de longe. A Dacila tem os bastões e a magia, então ela pode combater de perto e longe. O Ferrugem só de perto pois usa os punhos. Por fim, a Gnal nunca ataca. Com isso consigo criar boas cenas de ação, além de poder subverter as coisas, colocando o Ferrugem para enfrentar alguém que bate de longe. Ele precisando pensar em como atacar o inimigo a distâcia, isso dá um destaque maior em cenas de ação.

Subvertendo a expectativa no combate

Isso até ajuda a subverter as coisas, porque quando o Ferrugem enfrenta o elfo de pedra ele resolve na conversa e o Cid quando ganha o braço novo dá uma porrada.

Aproveitando o gancho, como você escreve bem cena de luta!

Muito obrigado, hahaha.

Tem gente que não gosta de escrever essas cenas porque dá um trabalho danado, mas acho que é a parte que eu mais me divirto.

Você tem uma ótima visão espacial e tem saídas criativas para os combates. Mesmo com essas subversões que você falou, quando o Ferrugem começa a apanhar da pra saber que é porque tem alguma coisa errada.

Inclusive, nesse capítulo que você tá citando, eu me desafiei a escrever como se fosse um plano sequência de filme.

Eu costumo colocar muita quebra nos capítulos, então se tem uma luta, foco no Cid, ai ponho um quebra, vou pro Ferrugem, coloco outra quebra, volto o foco pro Cid e por aí vai. Isso é o normal da minha escrita, por que sou um leitor de ônibus e leitor de ônibus sabe que é uma merda você estar no meio do capítulo e ter que parar a leitura para descer no ponto.

Contudo, essa cena em específico que você citou (talvez a luta mais épica do livro) não tem quebra.

Acho que só no final, quando tem a “morte” do Ferrugem.

Que é algo que me deixou muito apreensivo, afinal, o Ferrugem era o ponto de segurança do grupo. Quando acontece, o leitor fica doido, pensando no que pode acontecer.

É muito importante que esse combate aconteça perto do fim, pois luta chama mais atenção do leitor, contudo, o desfecho do livro não poderia ser apenas uma pancadaria. É por isso que no final, o Cid vence um conflito na fala e com inteligência e não na força.

A magocracia de Wynlla é bem burocrática, mas não deixa de ter pessoas sábias.

Tem uma senhora nessa cena final, inclusive, que eu acho que nunca foi citada. Ela dá moral para o Cid, deixa ele falar e eu achei muito legal porque para o plano dele dar certo ele teria que ser ouvido.

Sim. Tanto que essa senhora chama ele de inocente por pensar que não poderia ser parado, mas ela apresenta diversas formas diferentes de fazer isso.

Ela já existia sim, eu tirei do Atlas. De personagens criados por mim tem os quatro principais, a Nasus, o avô do Cid, Alvar, os dois vilões e eu acho que só.

O Vergil apareceu antes na Dragão Brasil como a ilustração do Mago de Combate. Inclusive, só fui perceber que era ele depois de ler o livro. O Cid também apareceu antes no Ameaças de Arton na página de Golens despertos.

Sim! E o pior é que quando a imagem saiu eu não sabia se podia falar ou não, hehehe.

Continuando sobre o plano do Cid: muitas vezes para as pessoas ascenderem precisam de oportunidades para serem ouvidos e, a partir daí, elas conseguem.

Sim. No começo do livro já é visível que o Cidney tem muito potencial, afinal, ele venceu o torneio. Contudo, a fala preconceituosa é tão forte que ele não consegue ver a importância que é vencer um torneio tão disputado.

Esse começo do livro fica melhor ainda quando percebemos que é uma insciente falando para outro insciente de um crime que não existe. “Você tá lutando com um Golem que não é mágico” mas, na verdade, ele é! Tanto que quando a Dacila usa Visão Mística, ela vê isso, mas ninguém em Wynlla teve esse cuidado.

É o puro preconceito. Viram aquele “troço” diferente do padrão e começaram a rir na hora, a preocupação só surgiu conforme ele foi vencendo as lutas.

Existe um pequeno detalhe para evitar o furo. Quando a Alcyanda desce e o Cid pede pro Ferrugem descansar, ele tira a esfera do golem, que é o componente mágico dele.

Então, se alguém tentou usar o Visão Místico depois disso, não viu que ele era mágico, porque ali só estava a parte mecânica e mais nada.

O avô do Cid tava dentro da esfera o tempo inteiro? Ou foi adicionado no meio do livro também?

Não, ele estava o tempo inteiro.

Hoje em dia, ninguém duvida que Anões podem lançar magia!

Anões e Magia

O preconceito mais “fácil” de colocar no livro é o do Cid porque ele é insciente e a gente liga muito a nossa realidade, comparando com a questão racial, mas o que me pegou de surpresa foi a Dacila. Eu não esperava o preconceito dos magos com os anões. Tem a destruição da Escola de Semi-Humanos pelos vilões, a Dacila ser uma maga com apenas duas magias e etc. De onde vem isso?

A escola vem do antigo Reinado D20. Quando eu reli e depois li o Atlas, percebi que tinha coisa em um que não estavam no outro. Quando indaguei o Cassaro: “Tem algum motivo para a escola não estar mais aqui?”, ele falou que saiu porque não tinha espaço para colocar tudo no Atlas e que no antigo Tormenta existia esse preconceito dos magos com anões, achando que eles não podiam lançar magia, mas isso não existe mais atualmente. Daí perguntei se poderia colocar que esse problema ainda existe no pessoal mais velho e assim trouxe a escola de anões de volta, criando o motivo dela não tá no Atlas (já que foi destruída) e o preconceito contra a Dacila.

A Dacila foi um presente. Tem muita amiga minha que ficou feliz de vê-la na capa. Ela é tão interessante que às vezes rouba o protagonismo. Tem planos de trazer ela em uma conto a parte?

Se encomendarem e me pagarem, estou disponível pra bastante coisa, hehehe. Tanto que na Dragão Brasil 211 teve um conto sobre o adversário que tomou porrada do Ferrugem no início do livro.

Isso me lembra um nicho específico que são fan games de personagens aleatórios de jogos clássicos, como Abobo’s Big Adventure e Green Biker Dude, que são baseados em personagens secundários.

Alcynda voltará?

Vamos falar sobre o gancho que você colocou na história. A Alcynda tá engatilhada para voltar. Ela tá presa na masmorra de Valkaria e uma hora vai sair. É como a gente comentou, Valkaria tanto traz a solução como o problema.

Essa foi mais uma daquelas questões que eu queria acrescentar ao cenário. Tem até a chance dela voltar, mas pra mim foi mais interessante colocar a possibilidade do jogador trazer ela de volta do que pensar em outro livro. Ela tá lá, se alguém quiser pode fazer uma aventura com isso.

E se voltar, vai vir chutando bundas pra caramba, muito nervosa e mais forte.

Tem uma coisa que muitos autores de fantasia voltados para RPG fazem, e você fez muito bem, que é dar gancho de aventura.

Isso foi totalmente planejado, pois Tormenta, essencialmente, é RPG. Eu queria muito acrescentar não só para o lore, mas também para o jogo.

Só nesse livro, os jogadores podem usar em suas mesas o Conclave Vermelho, o final da Alcyndra, o Lawson, os escravagistas do submundo de Vectora.

O Submundo de Vectora

Esta questão de pessoas a venda coloca em pauta um dos personagens mais amados do cenário, que é o Vectorius. E isso é muito bom! Eu não gostaria que o Vectorius fosse um “Elon Musk” de Arton que o pessoal vê como alguém muito bonzinho.

Acredito que a escrotidão do Vectorius ficou clara.

Uma passagem que eu me orgulho é quando eles estão vendo a encenação da criação de Vectora. O que é mostrado é muito pomposo e a Alcyandra fica pensando que a encenação não mostra os acordos que ele fez e etc.

Eu gostei bastante dessa cena. Eu ouvi algumas pessoas comentando “Pô, Vectorius, um dos heróis que enfrentou a Tormenta, faz vista grossa para a venda de escravos?” Sim! Tem muitos amigos meus que gostam do Vectorius por ele ser esse cara que veio do nada e construiu Vectora com magia e suor do próprio trabalho.

Essa ideia já existia em livros antigos, eu só trouxe à tona no meu para fazer ligação à Deusa do Labirinto.

Por isso fiquei em dúvida. Não sabia se era algo já presente no cenário ou se foi criação sua. Mesmo sendo algo antigo, pouca gente fala.

O antigo livro do Reinado é muito rico! Na época que eu jogava 3D&T mais fervorosamente usava muito ele.

As Várias Faces do Fascismo

Algo que tivemos problema na comunidade foram pessoas querendo jogar de Puristas e fazendo falsa dicotomia da época que dava pra jogar de Minotauro, mesmo sendo uma raça de escravistas. Os três últimos romances falam sobre temas que me surpreenderam muito por terem sido abordados. Dado Selvagem entra na questão do preconceito com imigrantes, você aborda várias facetas diferentes do fascismo e de estruturas de poder opressoras, de uma maneira que eu não esperava.

Quando tu trás essa outra face do Vectorius e coloca que ele tem que se dobrar às burocracias “calado”, eu achei muito interessante.

A galera, às vezes, tem uma visão muito distorcida da realidade… Eu sou meio descrente com algumas coisas. Acredito que a pessoa, para atingir certos patamares, ou teve que se sujar em algum momento ou alguém teve que se sujar por ela.

E o Vectorius teve que se sujar para criar Vectora, isso mesmo é citado no Atlas. Muita gente não entende o peso disso até ler em um romance.

A relação dos dois foi muito abalada pelos eventos recentes…

Aproveitando, você respondeu outra pergunta no livro, que é onde raios tava o Talude! Enquanto o Vectorius tá de cabelo branco com saudade do namorado, você mostrou que ele tava de boa em Magika, hehehe.

Eu tinha que preencher o espaço naquela cena, e decidi colocar o Talude lá relaxando com a deusa dele, hehehe.

O Arquimago dentro da Máquina

Mudando de assunto, tem algo que eu queria falar. Para mim, o Karias Theuderulf aparecendo da estátua foi um deus ex machina. Eu pude imaginar o Cristo Redentor levantando e falando: Milícias do Rio! Vocês estão errados!

Não acho que foi ruim, mas quando eu li a parte dele saindo da estátua e resolvendo o problema entendi como um deus ex machina. Meio como Hermes entregando a Molly para Odisseu. Mas eu queria entender o por quê de usar esse artifício dessa maneira, qual foi o pensamento?

Tem alguns pontos ai. Ele foi usado assim porque no Atlas é falado que isso é algo que acontece com certa frequência (para fins de consulta, veja Atlas de Arton pág. 111). O segundo ponto é um detalhe que não é perceptível na primeira leitura, mas no capítulo 3 é citado que o Karias poderia aparecer.

A estátua dele já é mostrada lá.

A distância entre as citações pode causar esse estranhamento, então, se você sentiu isso, pode ser algo para eu me atentar no futuro, mas eu tive essa preocupação para não parecer um Deus Ex Machina.

Valkaria até fala depois que Se Wynna não quisesse que isso acontecesse, não teria dado para o espírito do Karias possibilidade de agir assim.

Aspectos dos Deuses

Algo curioso é que nos últimos lançamentos de Tormenta, inclusive o Deuses de Arton, tivemos um uso regular dos Aspectos dos Deuses, da diferença entre eles e os Avatares. No Torres aparece dois Aspectos de Valkaria apresentando uma maneira clara de como eles são usados.

Quando escolheu colocar eles na história, já sabia dessa cosmovisão dos Aspectos ou foi algo pedido para ser colocado?

Então, Aspecto e Avatar são diferentes, mas eu não tinha a mínima ideia, só fui descobrir estudando para escrever o livro.

Mas, de qualquer forma, teria a presença divina de forma física na história. Eu só decidi colocar essa diferenciação quando li o Atlas ou o Ameaças, não vou lembrar. De repente, foi até em conversas com o Cassaro.

Algo que eu acho interessante é que todos os Aspectos que aparecem morrem fora de cena e tu percebe que era ela quando nota o anagrama no nome.

Respondendo a dúvida anterior, sobre ordenarem que eu escrevesse sobre os aspectos, isso não existiu.

Na verdade, eu tinha muita liberdade, a única “imposição” era que a trama se passasse em Wynlla.

Isso me deixa feliz, eu tinha muito receio que vocês três (Lucas Borne, Kali e o J.V) tivessem pouca liberdade, mas pelo menos dois de vocês me falaram que tinham muita.

Valkaria é simplesmente incapaz de não dar pistas de seu envolvimento.

O Futuro de Torres

Dos três últimos livros que saíram, acho que o seu é o que mais mexe com o cenário em si, mesmo que seja naquele microcosmo de Wynlla. Eu queria saber, se Guilherme Dei Svaldi chegasse pra você e falasse: “J.V, esgotou todos os nossos estoques de Torres de Wynlla, o livro foi um sucesso, a gente precisa de um segundo, começa a escrever, pode pensar na trama e brincar a vontade, só precisa ter os mesmos personagens“.

Como você seguiria a história?

Antes de responder, só vou comentar uma coisa.

Eu enxergo os três livros para faixas etárias bem diferentes. Não acompanho tanto redes sociais e eu não sei se foi divulgado dessa forma, mas não acho que o livro da Kali e o meu são voltados para o mesmo público base.

Como eu comentei, o seu eu acredito ser mais parecido com um desenho dos anos 2010, o da Kali me tem algo que parece mais um desenho mais jovem, e o do Lucas parece uma historia mais madura.

Batendo papo com a Kali, eu comentei que acho que ela foi mais feliz em pegar um público mais abrangente. Assim como eu acredito que Joia da Alma é ótimo livro de entrada para Tormenta, por também abraçar um público maior do que os livros do Leonel até aquele momento.

Sobre a pergunta do convite: tudo depende do modo que vai ser feito hehe. Colocando um cenário como o primeiro, me dando liberdade para escrever o que eu quisesse, a única certeza que eu tenho é que o Cidney e o Ferrugem iriam continuar, porque eu enxergo eles como Asterix e Obelix, uma dupla que passa por diversas aventuras. Já os amigos podem voltar ou não em outras aventuras.

A outra certeza é que um segundo livro não teria um foco tão grande em preconceito como o primeiro, para não virar algo repetitivo. No final do livro, o Cidney tá bem resolvido com isso, mas pode ser que depois de muitos anos ele tenha que lidar com isso de novo. Como, por exemplo, se tiver um filho e precisar se preocupar com a criança passando pelo mesmo que ele.

Eu acho importante que um segundo livro, se existir, lide com outros assuntos, até para evitar comparação com o primeiro. No segundo, a galera já vai esperar algo, então eu tenho que ir por outro caminho, para gerar a surpresa.

Agora, onde se passaria o livro eu não tenho como falar, porque gosto de pensar na trama lendo o Atlas e o Reinado para saber o que a região que eu estou escrevendo tem para oferecer. Wynlla ainda tem muita área para explorar, mas o que não falta são regiões em Arton com potencial para histórias.

Quem sabe as Sanguinárias, ou o Império de Jade com seus Kaiju.

Imagina Ferrugem lutando contra um Kaiju como um robô gigante!

Conclusão

Cara, para finalizar, eu queria que você usasse o espaço para falar do teu trabalho e fazer teu marketing. Fica à vontade!

É sempre bom receber feedback da galera, porque na nossa cabeça tudo é muito claro no livro. A gente tenta ao máximo deixar tudo compreensível, mas uma coisa ou outra pode não ter funcionado tão bem quanto o esperado e com um bate-papo a gente absorve os feedbacks para não cair nas mesmas armadilhas.

Fico muito feliz de poder participar de podcasts, entrevistas e etc, até para deixar mais informações sobre o livro na internet. Já aconteceu várias vezes de eu ler uma obra e não achar nada sobre ela.

Estou sempre disponível no Instagram para conversar com quem quiser.

Sobre os projetos para Jambô, eu escrevi o conto na Dragão Brasil 211. Ele se passa em Wynlla e é sobre um personagem “quartiário” do Torres de Wynlla.

Na Amazon tem muito conto e livro meu para ler no Kindle. Tem fantasia medieval, investigação sobrenatural e ficção científica. Quem gostou das cenas de ação do Torres, leiam Satélite 616 e Planeta Odarus que são livros de ficção científica sobre mercenários espaciais que usam armadura estilo Halo e caem na porradaria franca.

Para o pessoal da fantasia medieval, tem o Desgarrados: A Caçada Prateada. Ele começa num velório e cai um raio onde a princesa está morta. Ela acorda com o corpo todo prateado, mergulha e nada em direção ao continente obrigando o imperador a enviar um Samurai para matá-la. Pelo caminho ele  encontra dois companheiros que o auxiliam nesta jornada. Esse trio do barulho vai arrumar altas confusões atrás dessa Yokai.

Muito obrigado pelo papo, J.V!

Eu que agradeço, obrigado pelo feedback.


Torres de Wynlla já está disponível para compra no site da Jambô Editora! Quando for lá adquirir, use o cupom mrpg10 para garantir 10% de desconto!

Por último, mas não menos importante, se você gosta do que apresentamos no MRPG, não se esqueça de apoiar pelo PadrimPicPayPIX ou também no Catarse!

Assim, seja um Patrono do Movimento RPG e tenha benefícios exclusivos como participar de mesas especiais em One Shots, de grupos ultrassecretos e da Vila de MRPG.

Além disso, o MRPG tem uma revista! Conheça e apoie pelo link: Revista Aetherica.

Entrevistador e Transcrição: Gustavo “AutoPeel” Estrela
Revisão: Raquel Naiane.

Fel Barros – Samba Estúdios – Entrevista

Designer dos jogos de tabuleiro de God of War e Narcos, Fel Barros é game designer e fundador da Samba Estúdios. Também foi anunciado, ano passado, que ele e seu estúdio vão ser os responsáveis pelos board games de Tormenta, anunciados durante o Financiamento Coletivo de Tormenta 25 Anos. A nossa especialista em jogos de tabuleiro, Karina Matheus, entrevistou o Fel ano passado para saber mais detalhes e também para falar sobre a trajetória e preferências dele.

Samba Estúdios e Tormenta

Fel, muito obrigado por conceder essa entrevista! Então, assim, a gente está aqui hoje para falar sobre os jogos que vão ser lançados para o cenário de Tormenta. Então a Jambô anunciou que vão ter jogos de Tabuleiro.

Deixa eu te contar um pouquinho só da minha história. Eu não sou jogador de Tormenta20, tá? Eu sou lá do 3D&T original, lá de trás. Quando tormenta surgiu, eu estava lá, a pequena Karina, jogando, e a minha história com os materiais de Tormenta é de muito de carinho e amor.

Então eu fiquei muito, muito feliz de a gente estar vendo esse crossover tão legal de RPG e jogos de Tabuleiro. E isso está acontecendo cada vez mais. Está fervilhando no nosso cenário. E aí eu queria começar te perguntando, o que já pode ser falado e o que que você já pode me contar?

Então, acho que é importante a gente começar com essa parte que eu. como jornalista, né? A gente quer novidade, que é informação e tal. Mas assim, oficialmente falando, a gente ainda não vai fazer nenhum anúncio oficial.

A gente não vai tá: Ó gente, vai sair na data tal, um jogo assim, assim e assado”, entendeu? Mas o que a gente, pode falar, é que são informações públicas, é que a gente criou uma parceria da Samba com a Jambô. Eu conheço o Svaldi (Guilherme Dei Svaldi) e a Karen (Karen Soarele) há bastante tempo também. O Caldela (Leonel Caldela) eu conheci recentemente. Mas assim, são pessoas que eu tenho muito carinho, que eu gosto bastante.

Eu já tenho muitos anos, né? E jogando Tormenta. Então, quando a Karen veio conversar comigo, foi um sim muito óbvio, né? “Não, vamos fazer, claro”. E uma coisa que eu acho que falando com você, a gente consiga ter um alcance maior, é que já existem dois frutos dessa parceria, né?

Tá disponível no site da Jambô dois jogos da minha autoria, que é o Catacumbas de Leverick e o Invasão a Doherimm. E os dois são todos 100% gratuitos e estão disponíveis para qualquer pessoa jogar gratuitamente.

É só ter um set de dados de RPG, né? O D20. E eles são no estilo que a gente chama de Roll & Write. Que você rola os dados e vai marcando em uma folhinha de papel e tal. Então, se você não quiser nem imprimir folha de papel, não tem impressora em casa, pode jogar marcando no PDF mesmo.

Mas assim, a parceria já começou, desde da época do apoio que a Jambô tinha sofrido com as enchentes da região. Os jogos entraram como metas da campanha, foi muito legal. E o que eu posso falar, respondendo a sua pergunta, né, mais objetivamente, eu posso falar que, é. Podem esperar coisas de alto calibre.

Eu estou a 10 anos trabalhando com Jogos de Tabuleiro oficialmente. Mas eu estou há 17 anos no hobby, né? Já tenho bastante jogo, bastante coisa que eu fiz. E é muito legal ver como a Jambô tem uma preocupação editorial parecida com a nossa. De fazer produtos com muito carinho, com muito cuidado. Com muito respeito à propriedade intelectual e pensando muito na comunidade, o que a galera quer, o que o pessoal espera e tal.

Então, respondendo objetivamente, a gente vai entregar: Jogos de alto padrão pro mercado nacional, com certeza.

Legal! Disso que tu me contou eu estou com umas dez perguntas aqui na cabeça. Mas eu queria começar por: como é que foi? Tu disse que quando vieram te convidar foi um “Sim! Sem dúvidas!”. Mas tu falou um pouco das tuas preocupações, o que vocês conversaram? A gente citou algumas coisas que são importantes pra ti: qualidade, como suporte a comunidade. Tiveram mais pontos que vocês alinharam? Como por exemplo: “Quero fazer esse projeto e quero atender isso aqui”.

É então, primeiro que não tem um jogo de tabuleiro de Tormenta. Isso é um ponto meio passivo da história. E eu penso assim: “Pô, o negócio tem 25 anos, é o maior RPG do Brasil.” O board game no Brasil ele vem em uma ascensão exponencial a cada ano, então pensar que não existia um jogo de tabuleiro de Tormenta era um lance meio… Como eu vou dizer… Meio surreal pra mim, até.

Então quando eu saí da empresa que eu trabalhava, eu tinha um contrato de exclusividade, não podia trabalhar para terceiros. Então quando eu sai da CoolMini em Abril, não deu nem um mês, a Karen Soarele, que já me conhecia, chegou em mim e falou: “Pô Fel, a gente tem a campanha do Tormenta25 vindo ai e tal. A gente queria começar a fazer jogo de tabuleiro, o que você acha?”. Foi dai que veio esse sim instantâneo.

Os jogos de tabuleiro de Tormenta foram uma das surpresas do financiamento coletivo de 25 anos do cenário.

Mas teve uma questão muito relevante para mim principalmente. Que eles querem um produto legal, assim como eu. Então a gente tem um tempo para conversar com calma, depois que a campanha passar para ver como a gente vai fazer.

Porque a minha preocupação inicial, como jogador e não mestre de Tormenta, que tem 72 livros decorados, mas eu sei que é muito grande e tem um monte de recorte temporal dos romances e tals. Então assim, tem uns 300 jogos que a gente pode fazer só com o que já existe de Tormenta.

Então essa questão de: Como é o recorte? Qual o foco? Como é que a gente vai fazer esse processo e limitar o escopo. Porque um board game tem muito mais limitações do que um RPG, em sentido do produto.

É uma caixa, o que você tem, tem muito mais regra. Ele é mais nichado. O RPG você pode chegar e contar uma amplitude de conteúdo, você pode contar 70.000 anos de historia nas linhas ali que eu tenho um mestre para preencher as lacunas. No board game a gente não tem isso, não tem as lacunas, tem que estar todas preenchidas e tem que estar fechado a vácuo. Então a gente ter esse recorte é muito importante.

Catacumbas de Leverick e Invasão a Doherimm

Os jogos que já saíram ambos foram por metas, né? Eu consegui testar rapidamente o primeiro, o segundo chegou pra mim, mas eu não consegui jogar (na data da entrevista, o segundo jogo Invasão a Doherimm tinha acabado de sair), mas eu acho muito gostoso esses jogos que dão a coisa do RPG, do jeito mais rápido, né. Eu tenho vários jogos aqui em casa que são jogos de masmorra, que são de rolar dado e de aleatoriedade. Que você tem a sensação de jogar varios dados na mão e ver o que acontece. Então eu achei eles bem inspirados. Então, os dois saíram por metade campanha, né?

Foram sim, eu gosto muito do gênero. Pelo Ray Watt e pelo Jordy Adan, que é um grande amigo meu. E que fez o Cartógrafo, que talvez seja o roll and write mais famoso do mundo. Eu já tinha jogado alguns, mas acho que o Cartógrafo é meio que um divisor de águas para mim. Não só pela minha relação pessoal, mas também pelo jogo ser muito bom.

Um fato curioso. Na Covil Con que é um evento que é organizado em Divinopolis em Abril. Cerca de 170 pessoas jogaram Cartógrafo ao mesmo tempo. Então é genial, quantos jogos você pode falar que tantas pessoas jogaram ao mesmo tempo. E o roll and write tem um fator que eu também acho muito maneiro, que é o fato democrático. No sentido que se você tem um conjunto de dados de RPG em casa, você não precisa nem imprimir, você já consegue jogar.

Então como um primeiro projeto, eu acho que a gente foi bem feliz em fazer esses print n’ plays, e foi uma forma bacana de eu interagir com a comunidade de uma forma mais… Na prática do que “esse cara aqui gosta de fazer jogo”. Não! Foi um “Olha, tem um jogo aqui, feito com carinho, pensado, não sei o que”. É muito simples, claro, não é um jogo que ficou anos debruçado fazendo. Foi um jogo bem mais rápido. A gente teve um apoio do pessoal do design gráfico, a gente teve um apoio da galera do negócio acontecer rápido.

Mas foi pra sentir na comunidade. A gente teve vários feedbacks positivos, foi legal ver como a galera engajou. A gente fez uma live do pessoal jogando. Teve outra ensinando o Invasão a Doherimm também. Então a gente tá bem animado com a propriedade intelectual e com os jogos que a gente consegue fazer.

Também foi falado no anúncio sobre jogos com diferentes custos, buscando diferentes públicos. Eu sei que tu me falou que você não pode contar quase nada, que não tem quase nada também definido ainda. Há essa preocupação de fazer jogos mais em conta (inclusive gratuitos como o print n’ play que foi lançado). Mas há algum planejamento do que vai ter ou ainda não tem nada definido?

Não tem nada escrito em pedra, mas é uma preocupação editorial nossa, tanto da Jambô quanto minha. A gente não quer que a única opção possível seja um jogo de R$ 1.500,00, porque limitaria muito o público.

Se a gente conseguir fazer tanto um jogo de carta, ou um roll and write, que é um bloco, uma caneta e um conjunto de dados. Ou jogos maiores de aventura com uma caixa grande e tals. Mas isso é eu falando como fã, a gente ainda não tem nada definido, sinceramente.

A gente tá no processo, e mesmo na linha editorial de Tormenta tem essa preocupação. Tem o livro mais deluxe, um livro mais simples, e a gente enquanto empresa também fez um jogo de R$ 100,00 e agora fez um kickstarter em dólar, e vamos anunciar um mais caro que um de R$ 120,00. É uma preocupação mais global de editora de não alienar o público e conseguir atingir faixas de preço diferentes.

Você prefere vencer dos seus amiguinhos ou chegar junto com eles em um mesmo objetivo?

Jogos Competitivos vs Jogos Cooperativos

E tem alguma ideia se vão ter jogos cooperativos ou se serão só competitivos, se vai ter modo solo?

Modo solo é given, não dá pra garantir que todos, mas 90%, 95% dos jogos vão ter modo solo. Porque é uma tendência do mercado. A gente vê que existe uma comunidade gigante de pessoas que jogam sozinhas.

As vezes é uma questão geográfica, que você tá em uma cidade que não tem muita gente para jogar, ou às vezes, até a vida adulta, né? Que às vezes tem que esperar juntar seis pessoas para jogar, e você tá na sua casa e aí decide abrir a parada para jogar.

Então o modo solo é uma praticidade que a gente não pretende abrir mão. Sobre competitivo e cooperativo, pessoalmente eu sou muito fã de jogo cooperativo, admito, eu amo cooperativo. Mas não vamos nos restringir a apenas um gênero, de maneira nenhuma. Até porque o cooperativo é um pouco mais próximo do RPG, já que tá todo mundo em um objetivo comum de escrever uma história legal.

Mas o mundo é tão rico que temos oportunidades de trabalhar os reinos, as guerras, os heróis e outras coisas específicas que podemos trabalhar de maneiras diferentes. O Board game tem uma gama de mecânicas que podemos usar e dada a riqueza do universo, não faz sentido a gente restringir a só um deles.

Eu trabalho com jogos de tabuleiro na parte mais profissional (além do trabalho com o Movimento RPG), e os cooperativos são excelentes para outros trabalhos que a gente faz, e eu tenho tido cada vez mais carinho pelos cooperativos. Porque existe uma fase na minha vida que só os competitivos importavam, porque eu queria ganhar. Mas aí, de repente, não sei se a minha bolha começou a gostar muito de jogar jogos cooperativos. Porque a gente pode pensar em conjunto também, mas o que a gente mais quer ver são jogos diferentes entre sí, que podemos competir, cooperar, jogar solo, tudo dentro do universo de Tormenta. Quanto mais mecânicas tiver, melhor.

Cangaço, jogo de Sanderson Virgolina, lançado pela Buró com arte de Dan Ramos

Artes dos Board Games

Bom, já tem definido quem vai fazer as artes. É muito diferentes pensar em jogos de tabuleiro e RPG. A equipe da Jambô, que faz as coisas de RPG, já estão mais envolvidos? Como é que é essa questão de equipe.

É muito cedo para dizer, mas eu conheço o Dan Ramos, que é o diretor de arte da Jambô, há muito anos, eu gosto muito do trabalho dele e ele tem um jogo incrível que é o Cangaço, que saiu pela Buró. Um trabalho lindo dele.

Eles tem artistas muito legais, e a parte gráfica vai ser mais internalizado. Mas o universo de Tormenta tem muitas artes e artistas incríveis e queríamos muito trabalhar com eles, mas a gente precisa ter o jogo primeiro para definir isso. Mas com certeza, independente de como vai ser feito, vamos trabalhar em quatro mãos. A gente vai trabalhar isso junto.

Já jogamos durante a Guerra Artoniana, imagina um jogo de tabuleiro no período?

Momentos de Arton

Tu já falou um pouco sobre. Mas existe alguma linha pensando em momentos icônicos? Há diversos períodos importantes, como a Guerra Artoniana, mas há jogos inspirados em momentos como esses.

Nesses 10 anos de autor eu trabalhei em uma boa quantidade de propriedades intelectuais, como Narcos, da Netflix, God of War, Marvel, DC, já trabalhamos com a Disney algumas vezes. Já trabalhamos com um RPG sueco chamado Trudvag, e uma das coisas que eu sempre falo com essa expertise de ter trabalhado com outras IP. É que muita gente vê como pejorativo, que é o fan service. Então você, fã de Tormenta, o que você gostaria de ver em um jogo de tabuleiro?

Tirando o chapéu de dono da Samba e diretor criativo, colocando o meu de fã. Tem muita coisa que eu acho muito legal do que eu acompanhei. Como a estátua da deusa de Valkaria que tinha uma masmorra gigante dentro. A questão da Flecha de Fogo, os próprios reinos, o universo expandido, além dos reinos, outra galera ao derredor, teve mestre Arsenal que matou Keen e se tornou deus da guerra. Tudo isso podem ser jogos por si só.

Então podemos explorar diversos cenários, o surgimento da Tormenta, a libertação de Valkaria, etc… O que eu posso dizer com certeza, é que vamos bem fundo do lore e dos momentos icônicos do cenário. Inclusive no nosso time, o desenvolvedor do jogo de Invasão de Doherimm, é mestre de Tormenta e tá marcando de voltar a nossa campanha que já jogamos com ele, o Tato (Um abraço pro Tato!), então temos um inhouse specialist no negócio. No final das contas, é um trabalho de conversa, porque não basta ser um momento icônico se quando você coloca em um tabuleiro você tá forçando a barra.

As mídias são muito diferentes e você tem que ver o que é melhor para o jogo de tabuleiro, mas tem coisa que não vai ficar legal, que é muito narrativo ou é muito sobre historia. Tem uma frase que eu gosto muito que as vezes falam que é:

“Eu preferia estar jogando RPG.”

E isso a gente não quer, a gente já tem um RPG incrível que todo mundo joga e é feliz. Então o que o jogo de tabuleiro tem a oferecer que talvez não ficaria tão bom em uma mesa. O que poderíamos fazer que seria mais acessível? Ou o que poderíamos fazer para levar a galera a conhecer Tormenta depois. A pessoa que não joga RPG ou a que não joga jogo de tabuleiro e vai começar por Tormenta.

Então a gente vai pela fan base, pela comunidade. “Ah não, tem um deus menor que ninguém lembra e é esquecido”, vai aparecer no negócio. Toda propriedade intelectual que a gente trabalha a gente vai bem fundo para pegar o que é o melhor, a opção mais legal.

Se você pegar os jogos que a gente fez, sempre tem um recorte. No jogo do God of War, nós pegamos o primeiro jogo do PS5, e o nosso recorte era aquele pedaço ali. E como Tormenta também aquela marcação dos romances, nós vamos definir em qual recorte vamos. E tem bastante para a gente pegar, e com certeza os momentos icônicos estarão envolvidos nisso.

Existe público para todos os jogos. Esses tempos a gente gravou jogando um daqueles jogos antigos de tabuleiro de D&D. Que nem chegou para eu jogar quando era criança, e eu fiquei pensando em quantas pessoas poderíamos apresentar o RPG para as pessoas usando o jogo de tabuleiro para isso. Vai ter o público que vai falar: “Ah eu prefiro jogar RPG”, mas vai ter outro público que vai ser apresentado ao RPG pelo jogo.

Os jogos tem potencial de serem divertidos mesmo para quem não conhece Tormenta e pode ser a introdução de quem não conhece Tormenta.

É uma via de mão dupla, né? Tanto do pessoal do board game que não conhece Tormenta e quanto o pessoal de Tormenta poder conhecer um pouco mais do board game. Mas uma coisa que a gente sempre vai fazer muito é evitar as liberdades poéticas. “Ah mas esses deus não podia ser…” Não, esse deus é assim, e vamos respeitar o canon, né.

Eu nunca precisei abandonar um canon, mas já precisamos abstrair um pouco mais das coisas. Porque o RPG tem uma amplitude que o board game precisa trazer essa abstração, porque não tem o GM para definir. O Paladino não pode ter 150 poderes diferentes.

Se formos fazer um jogo de guerra, não dá pra ter 150 páginas explicando o contexto a origem de cada reino. Mesmo um jogo mais simples, como um jogo de dado ou de carta, a gente precisa ter esse cuidado.

Dungeon Rummy, um dos últimos lançamentos da Samba Estúdios

Até porque o jogador médio de jogo de tabuleiro que não conhece Tormenta, ele vai olhar e o jogo precisa se sustentar por si É olhar e jogar. E o jogador que conhece vai olhar e pegar as referências, as historias por trás. E isso é sensacional! Porque é até bobo. Um jogo simples de Harry Potter (que é algo que eu gastei muitas horas) sempre rola uma conversa sobre o assunto. É isso, os jogos precisam se sustentar como jogo de tabuleiro, porque se vira um RPG perde o proposito.

Eu queria falar um pouco sobre a Samba, vocês passaram um Financiamento Coletivo do seu último jogo e você falou que tem coisa vindo aí, o que podemos esperar da Samba?

Nós vamos ter um financiamento coletivo em breve, quem nos acompanha a mais tempo deve imaginar. Tivemos uma recepção muito positiva no Misfits, que foi um universo meio satírico, meio Guia do Mochileiro das Galáxias, pro Dungeon Rummy, então com certeza temos mais jogos nesse universo vindo aí.

Mais carteados, que é um gênero que eu gosto bastante. E coisas que eu estou acostumado a fazer. Um dungeon crawler, um euro mais simpleszinho, com outras IPs que estamos querendo trabalhar (mas nada escrito em pedra ainda).

E nós fomos muito bem recebidos, fomos abordados por algumas editoras quando eu saí da outra empresa. Pela Jambô e por outras editoras, donos de IP. Então, nós começamos muito bem recebidos, até pelo meu tempo de casa, e tals.

Muitas das pessoas que eu já conhecia eu negava por ter contrato de fora, mas agora com essa proposta que temos de fazer jogos com excelência, temos um time dedicado, a gente tem uma galera trabalhando 100% do tempo para fazer jogos. Uma proposta bem única no Brasil, e eu acho que a gente vai fazer muito em breve o anúncio do nosso próximo FC.

Nota do escritor: O Financiamento Coletivo citado foi do jogo Dragon Cantina, outro jogo do universo do Misfits, que foi 100% financiado depois de 10 dias no MeepleStarter.

Como seria um jogo de tabuleiro da Turma da Mônica?

IPs Brasileiras e onde habitam

Uma das minhas perguntas é sobre IPs: Há alguma propriedade intelectual brasileira que você tem muita vontade de trabalhar, que você sonha em trabalhar?

O meu maior sonho com alguma folga é Turma da Mônica! Eu tenho as Graphics MSP que eu coleciono, tento pegar autografo na CCXP. Eu tenho 40 anos, né. Então eu acompanho desde pequeno. Tormenta era um sonho, eu tinha as Dragão Brasil, jogava 3D&T e era um enorme interesse.

Eu gosto muito dos trabalhos autorais da New Order, eles tem um livro de RPG que eu comprei (e nunca joguei), que é baseado na cultura nordestina e de cordel (no caso, Cordel do Reino do Sol Encantado), que é sensacional, uma das paradas mais legais que eu já vi em RPG.

Quero muito trabalhar com Ordem Paranormal, o que o Cellbit fez para o RPG é muito bacana.

O próprio Jovem Nerd que anunciou recentemente o jogo do Ozob. Que foi muito legal, com o Renato e o Jordy, eles tem propriedades intelectuais fantásticas, que é uma galera que eu acho muito bacana.

O próprio Um Sabado Qualquer que tá soltando jogo com a Galápagos, eu também acho gênio.

Quadrinistas, criador de conteúdo, pessoal do RPG nacional. Eu gosto muito de coisas que valorizam a nossa cultura, então tem muita coisa legal sendo feita no Brasil por brasileiros e com certeza, esses tão bem lá em cima pra mim. Só para não perder o gancho; Harry Potter também tá lá em cima pra mim.

O Vira-latismo Brasileiro

Eu acho isso muito legal. Porque estávamos fazendo um evento de jogos de tabuleiro e RPG. E tinha um autor que estava com o jogo de tabuleiro dele lá, a galera pegou e começou a jogar. E ai falaram: “Nossa, que legal! Nem parece que é brasileiro”. Ai eu respirei fundo… E falei: “Pois é, tem tanta coisa legal sendo produzido no Brasil”. Mas é dolorido quando a gente ouve isso.

É a síndrome de vira-lata, né. É um negócio muito antigo. Vou te contar um exemplo muito claro para mim. Eu fiquei sete anos fazendo coisa aqui no Brasil, aí em 2015 eu fui contratado pela CoolMini, e comecei a trabalhar fora. E a CoolMini lançou dois jogos meus que tinham sido lançados no Brasil, lá fora.

E ai, só porque foi lançado lá fora e porque o Tom Vessel falou bem e deu o selo de excel~Encia e não sei o que. “Ah, agora o jogo é bom”.

E era O MESMO jogo. Então existe sim a síndrome do vira-lata e eu comecei a ser muito mais reconhecido e respeitado quando comecei a trabalhar em uma empresa gringa. E não era tipo “Ah não, o cara tem 15 anos de trajetória e agora vou começar a respeitar o que ele faz”. Não, em 2014 eu trabalhava 100% nacional, 2015 fui trabalhar fora. .“Ah não, agora o Fel presta, porque ele trabalha com gringo”

O nome da minha empresa é Samba, Samba Estudios em Português, porque uma das coisas muito importantes para a gente como empresa é valorizar o produto nacional. Não pretendemos nos limitar a trabalhar só com brasileiro. Mas 80%~70% da nossa linha editorial é com autores, ilustradores, propriedade intelectual brasileira.

Eu estou torcendo muito pelo jogo da Turma da Mônica, porque eu vi o jogo do Castelo Rá-Tim-Bum! e eu já achei sensacional. Eu também fui criada com Turma da Mônica e vivia consumindo os almanaques e etc., então já estou pensando em várias coisas enlouquecida. Estou torcendo muito, porque isso é muito importante.

Estamos trabalhando em uma linha de alavancar as coisas nacionais porque produzimos coisas muito boas, tem muita gente produzindo coisa muito legal.

Acquire, desenvolvido por Sid Sackson, lançado pela Renegade Game Studios.

O Jogador Fel Barros

Bom, para fechar. Eu gostaria de ouvir um pouco mais de ti algumas coisas mais pessoais. Quais são as tuas maiores inspirações e quais jogos mais te marcaram?

Inspiração é algo mais subjetivo assim… Como autor, uma coisa que me marcou muito foi um cara chamado Sid Sackson que lançou um jogo chamado Acquire. Que é um jogo de 1962, desse cara, que fez o jogo olhando o bingo e pensando na cartela do bingo.

Esse cara para mim é uma grande inspiração, porque algo que eu faço muito é tentar traduzir mídias, né? O God of War a gente teve o desafio de traduzir a pancadaria e o real time do jogo, então a gente fez um sisteminha de cartas. O próprio Narcos também, que é algo pesado, com o Pablo Escobar, e é algo mais violento, envolve drogas, etc…

Essa coisa de olhar as “vertentes da matrix”, algo que o Sid Sackson fala muito.

Eu trabalhei muitos anos com o Eric M. Lang em Rising Sun e o Godfather. Ele também foi uma grande fonte para mim de aprendizado, de aprender com alguém mais experiente do que eu, foi muito bacana.

Mas hoje em dia as minhas grandes inspirações vem de séries, livros… O próprio universo de Tormenta me ensinou muita coisa, e eu acho que hoje o que eu tento fazer é consumir entretenimento e pensar como isso pode ser modificado para o universo do jogo. Então isso com certeza é muito importante para mim.

Sobre o que me marcou, você diz jogo meu ou qualquer jogo?

Qualquer jogo.

O que foi muito marcante para mim foi o meu primeiro jogo, o Warzoo, que eu fiz em 2014 que é baseado em Revolução dos Bichos. Porque eu fiz Letras na faculdade (que não tem nada haver com matemática hehe), e eu fiz um trabalho de literatura inglesa de “O que aconteceu depois da revolução dos bichos”, e eu fiz todo um universo baseado naquilo, então foi muito importante pra mim.

Eu sempre falo que dos meus jogos, o jogo que mais me marcou é último, então o Dungeon Rummy (que debutou o universo dos Misfits) me marcou bastante. E de maneira geral, eu acho que os jogos mais marcantes para mim foram os tradicionais. O Mahjong, que eu jogo bastante e fiz até o Feljong que saiu e começou a entregar. O Buraco que foi a inspiração para o Dungeon Rummy e a Tranca.

Para falar de um jogo moderno. o Hero Quest, que é de 90 da Estrela e que me introduziu ao mundo de Fantasia. Ai eu tive aquela caixa vermelha de D&D, joguei Dragon Quest, etc… Livros jogos também joguei bastante.

A minha infância foi muito jogando, eu nunca fui um cara de pista, nadador, um cara de tênis e tal. Eu lia muito e eu consumia muito livro e muito jogo. Naquela época principalmente RPG. Board game não tinha tanta difusão aqui.

Tagmar foi um que eu joguei naquela época, o próprio Defensores de Tokyo da Dragão Brasil, essa época foi muito relevante para mim e me moldou muito como autor de jogo com certeza.

Encantados, jogo de Shea Parkes e Fel Barros.

Bom, a última pergunta é sobre qual o jogo que você mais gostou de ter feito, mas antes eu queria dizer que, provavelmente, eu não joguei todos os teus jogos, mas o meu favorito é Encantados, porque eu acho ele muito leve e acontece algo com ele que eu acho impressionante. Pessoas aleatórias que chegam em eventos e veem o Encantados, não conhecem mais nada, mas conhecem Encantados. Chegam na loja de jogo de tabuleiro, olham a prateleira inteira, pode ter Dixit lá, mas eles olham Encantados e “Ah Encantados eu conheço”. Eu me pergunto como chegou lá.

A outra coisa é que é muito fácil introduzir pessoas. Dai vamos jogar com alguém que não tá acostumado, e vamos explicando e ai a pessoa fala “Ah é tipo uma Canastra?” e ai rapidinho elas pegam e se divertem. Mas é um jogo que me impressiona pela simplicidade, o quão simples ele é, quanta estratégia você consegue bolar pelas cartinhas com tipos e se combarem ou se atrapalharem, etc…

É, eu sou meio suspeito… Porque o Encantados fez uma coisa diferente. Ele é um objeto raro porque ele tá em print a nove anos. E é muito raro um jogo ficar em print por nove anos, o Encantados tem uma longevidade admirável e eu acho que o Dobro mais recente que eu fiz tá indo pro mesmo caminho.

Mas dos meus, eu gosto de falar muito do Feljong porque eu fiz por uma parada meio nobre. Ele foi 100% voluntário, tava tendo o negócio das enchentes, eu ia oferecer um print n’ play e as pessoas podiam fazer doação para baixar o print n’ play.

E ele tomou uma proporção que a comunidade do Mahjong abraçou. O Vitor que fez a arte falou “Ah, porque a gente não faz uma caixa, algo mais elaborado”. E a gente conseguiu pegar R$ 25.000,00 para doação.

Eu sei que não é 1 milhão que muita gente conseguiu, mas no meio do jogo de tabuleiro, um projeto pequeninho, foi muito significativo para mim.

Mas em um nível mais pessoal, eu gosto muito do Space Cantina, que é um dos meus primeiros jogos. E uma curiosidade: o Space Cantina, eu jogo hoje em 2024 tranquilo, porque todos os meus jogos eu joguei muitas vezes. Então alguns eu canso um pouco depois de jogar 100 vezes, eu amo o jogo, mas eu não puxo pra jogar depois de jogar 100 vezes, mesmo orgulhoso do trabalho.

Mas o Space Cantina eu puxo, porque eu tenho um restaurante favorito, as coisas que eu gosto de fazer, os personagens que eu gosto de pegar. E eu sou muito fã de dice placement, eu amo essa mecânica. E pretendo voltar no futuro.

Ai oh, pistas, rsrs.

Conclusão

Eram essas as perguntas, muito obrigado pelo papo. Eu já estava animada, mas agora estou dando pulos de ânimo sobre. Já sei que o meu planejamento financeiro vai ser afetado, mas eu estarei em tudo! Estarei lá como uma das primeiras, já estamos esperando, principalmente a comunidade também. Imagino que tenha muitas pessoas empolgadas.

Eu queria agradecer o convite, o carinho, mas principalmente a comunidade que foi muito simpática comigo. Tinha meia dúzia de pessoas que sabia quem eu era. Eu entrei no Discord para tirar dúvida e o pessoal foi muito simpático. Mas eu quero ter mais espaço para interagir com a comunidade para o pessoal conhecer mais de mim.

Pro pessoal saber que o Tormenta tá em boas mãos, eu tenho um carinho pessoal pela linha, mas como um profissional que já trabalhou com muitas propriedades intelectuais como Army of The Dead, um filme do Zack Snyder que eu nunca tinha visto na vida.

Daí eu vi o filme quatro, cinco vezes para poder fazer o jogo que tá super bem cotado lá fora. A gente trabalha com o que vem, mas com uma propriedade que conhecemos há tantos anos, então. E já vou deixar um recado que, independente do que nós fizermos, eu vou privilegiar a galera dos inventores, o time dos engenhoqueiros, eu jogo disso. E eu vou dar um jeito.

Não importa o tipo de jogo, o tamanho, o preço, como vai ser.

Se você é do time dos engenhoqueiros, fique avisado, que você vai ser feliz.

Vai ter pontos da mecânica propositais! Hehehe

Propositais! “Ah, mais é um jogo de três cartas”, não importa, uma das três a gente vai fazer.

Eu já estou te imaginando com pilhas e pilhares de romance, entrando no fórum, Discord, anotando coisa perguntando detalhe pra comunidade.

Quando o negócio começar a ter mais tração, eu vou estar direto, todos os dias lá no Discord. Inclusive a galera poder playtestar também. Nós temos um formzinho de não poder soltar informação, mas contarei com a comunidade para testar, para experimentar, sugerir, então com certeza a comunidade será bastante envolvida em todos os projetos de Tormenta que vierem por ai.


Nenhum dos jogos de tabuleiro ainda estão disponíveis para compra no site da Jambô Editora. Mas se quiser um descontinho bacana para comprar os RPGs e livros-jogos deles, use o cupom mrpg10 para garantir 10% de desconto!

Por último, mas não menos importante, se você gosta do que apresentamos no MRPG, não se esqueça de apoiar pelo PadrimPicPayPIX ou também no Catarse!

Assim, seja um Patrono do Movimento RPG e tenha benefícios exclusivos como participar de mesas especiais em One Shots, de grupos ultrassecretos e da Vila de MRPG.

Além disso, o MRPG tem uma revista! Conheça e apoie pelo link: Revista Aetherica.

Entrevistadora: Karina Cedryan.
Transcrição: Gustavo “AutoPeel” Estrela.
Revisão: Raquel Naiane.

Entrevista com Pedro Henrique – O Legado RPG

Olá, pessoal! Antes de conhecermos o jogo de O Legado RPG, conheceremos o autor desse cenário publicado pela Craftando Jogos.

Pedro Henrique, ou PH Autarquia, é formado em direito,  professor universitário, se arrisca a escrever alguns contos, é aprendiz de game design e desenvolvedor de RPG de mesa. Além disso, é streamer de RPG atualmente do canal 20contar RPG.

Movimento: Como foi o início de sua vida rpgística?

PH: Com 14 anos de idade fui convidado para jogar Vampiro, a Máscara. Foi paixão à primeira vista. Logo em seguida descobri 3D&T e Tormenta, nos quais desenvolvi inúmeras campanhas. Já nessa época tentava criar RPGs, mas nada muito legal… Não demorou muito para descobrir AD&D e GURPS também.

Inspirações

Movimento: O que lhe fez criar o mundo do Legado?

PH: Minha paixão por fantasia moderna! Amo histórias de fantasia futurista e moderna, influência direta da série Final Fantasy. Ao longo dos anos tentei desenvolver cenários nessa pegada (inclusive, cheguei a fazer uma versão futurista de Tormenta!). Porém, só lá por meados de 2016 comecei a ter ideias de um jogo de fantasia nos tempos atuais. Em 2017, joguei pela primeira vez o Devil May Cry 1 e fiquei maravilhado! Tinha que fazer um jogo naquela pegada. Depois assisti a série Shadowhunters e, apesar de não apreciar o enredo, amei toda aquela ambientação fantástica nos tempos atuais e baseada nas mitologias cristã e judaica. Tudo isso me inspirou bastante para criar O LEGADO.

Movimento: Não há como não olhar O Legado e não lembrar de Mundo das Trevas da White Wolf ou então o, também, mundo das Trevas do Daemon. O que difere o Legado destes cenários/sistemas mais antigos (ou clássicos)?

PH: Bem, o Mundo das Trevas é fantasia urbana puxada para o terror e drama, O LEGADO é fantasia urbana, mas heroica. Mas para não dizer que não aproveitei nada do Mundo das Trevas, adotei um sistema de Alma que lembra a Humanidade em Vampiro. Já Daemon foi uma influência para muitos rpgistas dos anos 2000 por conta de sua acessibilidade (era barato e vendia em bancas). Porém, ao fazer O LEGADO, fui direito na fonte de inspiração de Daemon: Call of Cthulhu e Basic System.  Ah sim, Pathfinder 2 também influenciou muito!

Futuro do Legado RPG

Movimento: Há previsão de novos produtos para O Legado? Pode nos adiantar alguma coisa?

PH: Além do LEGADO, também haverá outro livro básico: SOMBRAS E AMEAÇAS, que é o livro das ameaças e antagonistas. Teremos também um livro com uma campanha do nível 1 ao 10 desenvolvida e escrita pelo nosso querido Ximu (Casa Velha, Muito Abaixo do Oceano), na qual os personagens deverão evitar o próprio Apocalipse. E por fim temos o suplemento que traz elementos da cultura japonesa para o jogo: Discípulos da Virtude, escrita por Leandro Abraão (Cangaço Trevoso e Morte S/A) e O’Neil Deatsu (Flecha Mágica).

 Movimento: Você participou ou participa da produção de algum outro produto nerd?

PH: Sim. Tenho um conto (Um Herói em Ação) na coletânea Curtos e Fantásticos vol. 2 da Jambô. Também serei autor de uma aventura em Muito Abaixo do Oceano. Atualmente sou o gamedesigner de O Último Ancestral RPG.

 

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Marcus Baikal – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Entrevista realizada com o autor Marcos Baikal, que dividiu conosco partes importantes das sua história.

1. Conte-nos um pouco sobre você e sua trajetória como autor de RPG indie no Brasil.

 

Eu iniciei como autor de RPG sem publicar a maioria dos conteúdos que escrevia, embora não fosse tudo para o público interno. Eram esboços que acabaram desaparecendo em HDs de 2001-2016, com algumas publicações em fóruns e material compartilhado individualmente em mídia digital. Em Idos de 2018-2019 movendo de volta para a cidade natal de Colatina-ES, conversando com Wesley, que mantinha na cidade um grupo voltado ao hobby de RPGs e boardgames com outros conhecidos, voltamos a jogar presencialmente e falamos em publicar nosso próprio RPG, tendo alguns exemplos do RPG Indie nacional como exemplo, tal como Mighty Blade, do Tiago Junges, que inclusive havia apoiado com jogos um dos eventos de RPG que criamos.

Esse evento incluiu Jotuns na aventura, daí a editora do nosso primeiro RPG publicado, RG (Resistência Glórqui), também usando nosso próprio sistema, o Delta, ter se chamado Jotun Raivoso. Quando RG foi publicado nós já tínhamos esboçado dois outros jogos completamente diferentes, usando o mesmo sistema por referência. O sistema foi amadurecendo e hoje já existe um módulo básico de regras independente de cenário e vários outros jogos e publicações disponíveis para download em nosso site.

2. Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao desenvolver RPGs indies? Como os superou?

O primeiro desafio é o anonimato. É difícil publicar um RPG para que os outros joguem que não carrega o nome de um “RPG conhecido” junto. O mercado nacional, tal como o norte-americano, é bastante referenciado nos seus jogos conhecidos. Algo que não é D&D, nem Tormenta, nem Vampiro ou outro “clássico” internacional por vezes nem é entendido como a mesma coisa.

O espírito de exploração de novos jogos que era mais forte no tempo do 3d&t, na minha opinião, foi bastante deixado de lado nas novas abordagens, mais focadas num produto e em um d20, como se isso fosse universal.

Outra dificuldade é a de fazer algo diferente, como historiador e ciente de todo o potencial do contar de histórias, me pareceu sempre viável deixar o RPG ilimitado, além da caixinha de “fazer aventura”, com objetivos recorrentes.

Eu aprecio particularmente a chance de conhecer um mundo novo, tal como ocorre quando você vê um bom filme ou lê um bom livro de ficção.

Ao apresentar algo diferente, porém, você esbarra, para além da falta de credencial do nome, da imagem toda vinculada a um gênero, que faz com que o interesse potencial não seja acendido, a menos que você dê a volta nisso, divulgando intensamente. A divulgação é outro ponto. A mídia que cobre o gênero por vezes não vai atrás tanto quanto pode. Os blogueiros que cobrem RPG por vezes fazem muito mais sem anunciantes apoiando suas páginas do que aquelas realmente com recursos, voltadas no toma-lá-dá-cá esperado de publicações pagas. A diferença de alcance que isso faz é tremenda. Um outro desafio, agora menos externo, é a própria inexperiência. Escrever para o público, especialmente aquele que estará mais propenso a ler seu material é um desafio de forma tanto quanto de conteúdo.

Existem técnicas do meio editorial que sem um orçamento para empregar os profissionais, você só irá adquirir com a prática, se é que vai adquirir. Isso vai desde o planejamento financeiro até a parte gráfica. Vai além, portanto, do game design. Em termos de game design, o ideal seria ter mais playtests possíveis, mas com a abundância de jogos em uma pequena comunidade propensa aos testes – ao contrário da imensa comunidade disposta a jogar, mas sem contato conosco pelo tal do anonimato – várias melhorias dependentes de playtest não são viabilizadas. O ideal seria fazer o jogo, testar, refazer, testar e isso sucessivamente, até o jogo estar aprimorado a ponto de se fazer uma edição – especialmente quando se trata de sistema próprio.

3. Quais foram os momentos mais marcantes ou pontos altos da sua jornada como autor de RPG indie?

O lançamento do primeiro RPG passou meio sem mudar tanta coisa, antes mesmo de ser publicado, já fazíamos entrevistas e falávamos a respeito, mas não era o primeiro RPG que eu inventava. A diferença maior talvez fosse o fato de que tinha um co-criador comigo, isso fazia a coisa chegar mais longe, mais complexa também. Foi algum tempo depois do lançamento que acumulamos o retorno do público sobre o RG e vimos que criamos algo diferente mesmo.

Um jogo “como o Shrek e as cebolas”, em camadas. Uma parte tinha o nosso humor típico, satírico e leve. Outra parte tinha uma brincadeira pueril de montar dinossauros-mutantes-personagens, os calangos glórquis. Em outra parte tinha uma representação de épocas e culturas reais através do cenário, até convertida na arte do livro. E mais outra tinha a crítica social através desse texto – e as pessoas percebiam tudo isso, o que realmente tornou interessante ver os feedbacks.

Quando Jogos de Campinho ficou pronto, por outro lado, a criação parecia mais diferente do que eu estava familiarizado, não era só uma adaptação para simular um mundo imaginário, era uma produção independente de algo novo, que também fazia o mundo simulado, mas inovava. Essa inovação eu tentei trazer para novos jogos que estão em produção e temos testado, assim como para a edição atual das regras do Delta RPG. Assim, quando apresentamos nossas publicações todas no DOFF 2023, ao lado de vários autores independentes, pudemos ser reconhecidos como algo novo, próprio e positivo para a comunidade pelo feedback ali deixado.

4. Compartilhe conosco um ou dois sucessos que você alcançou no cenário de RPG indie.
Houve surpresas, ou foi tudo como planejado?

Resistência Glorqui saiu mais elaborado do que o esperado. Sementes de ideias que germinamos e acabaram saindo como poderosas críticas e relativamente únicas em estilo e profundidade, e notaram isso, quem viu, pelo menos. Jogos de Campinho ainda estamos esperando o feedback crítico, embora o livro tenha sido impressionante na sua forma , na primeira vista. Também é interessante ver como outros já nos conhecem, alguns, e sabem mais ou menos o que podemos oferecer de diferencial. Como se voluntariaram para escrever prefácios e notas sobre nossos livros é uma marca desse reconhecimento.

5. Quais os projetos você tem desenvolvido na área dos RPG Indies? Ou tem algum projeto que você gostaria de divulgar?
BANNER Jotun Glorquis

Resistência Glórqui ganhou um módulo adicional, o Modo Guerrilha, com as regras mais condensadas e simplificadas do Sistema Delta RPG. Com ele agora é mais fácil jogar solo, coop ou para um mestre menos experiente criar sua aventura na temática de operações de guerrilha contra os invasores zumanos, que é o tema central daquele RPG.

 

 

Atualmente estamos divulgando o Jogos de Campinho, que é RPG, mas também é livro-jogo interativo, com meios diferentes de se jogar, inclusive só como literatura e meio de comunicação das brincadeiras clássicas de rua.

Estamos com vários projetos de RPG, focado em rpg solo, disponíveis para teste e download em nosso site, como o mais recente Caminho do Rei Demônio, um RPG procedimental de sobrevivência e aprimoramento de poder de monstros, e o RPG ainda em produção Delta Mecha que tem metodologia para funcionar como wargame print and play.

6. Como você vê a ideia da comunidade RPGísta de realizar o mês do RPG Indie?

Eu penso no RPG Indie como algo de ano todo. Se mais esforços puderem ser feitos para divulgar os independentes em algum momento, eu sou favorável, sempre.

7. Para você, qual deveria ser o principal objetivo desse evento? E o que espera dele?

O objetivo deve ser expandir horizontes. Espero que mais jogadores que não conhecem muito RPG fora da  bolha d20 criada pela massificação da identidade de RPG com o jogo de D&D seja viabilizada. Mesmo quem adora o sistema pode contar com aventuras que tratam de temáticas diferentes, que simulam os mundos de forma mais diversa etc.

8. O que você diria que são RPGs INDIEs e qual a importância deles?

Algo indie, em geral, é o que é publicado fora das grandes empresas do mercado de entretenimento. No entanto, o sistema de licenças e inovações do RPG permite que existam INDIEs e independentes como conceitos quase a parte. Indie, como termo mercadológico, é a mesma coisa, incluindo diversos OSRs, publicações em OGL, retroclones e jogos análogos.

Existe “independente” disso tudo, jogos com proposições originais: Verdadeiramente independentes, ou que subvertem de fato tropes presentes no mainstream, como um Altaris, que tira a figura do Mestre e transforma o jogo numa experiência cooperativa simplificada, ou Infaernum, que é uma sucessão de jogadas de dados com ponderação sobre o resultado.

RG mesmo é um jogo que é inteiramente diferente como sistema, mas ainda guarda certos paralelos. Só na versão modo guerrilha que ele realmente explora novas potencialidades de alcance e se desprende de técnicas aprendidas com o RPG tradicionalmente vendido – focado no preparo do Mestre e na criação de personagem como o “ofício do jogador”.

Essa independência é algo bom de ver na cena INDIE, já que muito pouco se investe nesse escopo no mainstream, com a repetição de fórmulas com mínimos twists predominando naquele espaço.

9. Como você vê a relação: RPGs da industria de jogos X RPGs INDIEs no mercado brasileiro e
no mundo?

Como falei, no Brasil, em passado, o independente era equivalente ao nacional. Quando o sistema d20 e, depois, os subprodutos da OGL, vieram a consolidar uma via para os RPGs nacionais “industriais”, ladeados dos títulos estrangeiros que conversavam todos usando os mesmos elementos, isso gerou uma cortina significativa para que os jogos independentes tivessem a mesma procura.

Os financiamento coletivos permitiram que jogos “menos certos” de sucesso chegassem no mercado nacional e permitiu que mais editoras se integrassem à indústria, ainda no meio do caminho entre algo “main” e “indie”. Lá fora, a dominância de D&D é tal que mesmo outros títulos também vendidos em escala industrial são considerados independentes só por não serem D&D, até mesmo aqueles que são retroclones ou adaptações simplificadas.

Por aqui, praticamente tudo é independente porque a indústria é pequena, o que não sai por editora a, b ou c, é independente e é muita coisa que fazemos, comparando as proporções, logo por cá é mais do que o “homebrew que cresceu” e sim um espírito de correspondência com a criatividade dos jogadores que leva a um movimento autônomo criando jogos. Nesse sentido, penso que se a mesma centelha que chega aqui alcançasse outros mercados os jogos independentes pelo mundo explodiram ainda mais.

10. Qual mensagem pessoal sua você gostaria de mandar para a comunidade RPGista brasileira?

Gostaria de recomendar que olhassem os repositórios de RPG, gratuitos, que existem, tal como nosso próprio site, jotunraivoso.com.br, o bazar verde, do Tiago, a editora Runas, o site do itch.io e o drivethru rpg, se você pode ler em inglês, a comunidade de RPG Solo do Facebook, além de olhar pelo mundo sempre que ver a citação de um novo jogo, por vezes mesmo os gringos deixam essas coisas gratuitas. Por preços acessíveis ou doações você também pode ajudar os autores que gostou do conteúdo a continuarem criando. Para seu próprio jogo que quer moldar diferente, para jogar e encontrar jogos e jogadores, você pode encontrar sua pecinha ideal procurando por RPG independente, por vezes sem custo, está lá a seu dispor. Jogue. Crie. Compartilhe.


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Assim, seja um Patrono do Movimento RPG e tenha benefícios exclusivos como participar de mesas especiais em One Shots, de grupos ultrassecretos e da Vila de MRPG.

Além disso, o MRPG tem uma revista! Conheça e apoie pelo link: Revista Aetherica.


Marcus Baikal – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG é um evento idealizado e organizado por:

Douglas Quadros
Gustavo “AutoPeel” Estrela
Isabel Comarella
Iury.KT
O Escritor Ansioso
Ur Tiga Brado’k
Mandi

Tchelo Andrade – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Entrevista com o autor Tchelo Andrade, que nos contou como seu projeto transformou e transforma vidas.

1. Conte-nos um pouco sobre você e sua trajetória como autor de RPG Indie no Brasil.
Fundação Triunfo

Jogo RPG desde 2003, mas só vim me dedicar a criação de jogos desde 2016. Atualmente tenho dois projetos de jogos de RPG que estou engajado: O Desígnio RPG com uma pegada mais adulta de jogos de intriga política e o Fundação Triunfo que tem uma proposta mais ampla do que ser apenas um jogo. Devido a amplitude do tempo, tenho dedicado meus esforços para maximizar o Fundação Triunfo RPG e seu projeto de impacto social.

2. Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao desenvolver RPGs Indies? Como os superou?

Ainda não superei é uma barreira gigantesca! Falo da falta de imaginário e repertório para a nossa própria cultura. Fundação Triunfo é um RPG para falar sobre os patrimônios brasileiros, mas a falta de  informações e enredos de cultura pop para este segmento torna a criação de aventuras para este sistema bastante complicada. Uma vez que a fantasia medieval ainda é o gênero dominante.

3. Quais foram os momentos mais marcantes ou pontos altos da sua jornada como autor de RPG Indie?

Certamente foi ver os impactos positivos de um jogo criado para encorajar o futuro e tirar o melhor das pessoas.

4. Compartilhe conosco um ou dois sucessos que você alcançou no cenário de RPG Indie. Houve surpresas, ou foi tudo como planejado?

O projeto foi contemplado na lei de incentivo Aldir Blanc em 2021 o que garantiu a realização de diversas atividades nas comunidades em que estou inserindo para jogar RPG, desenvolver um livro e criar impactos. Criamos uma associação para impulsionar e propagar mais o RPG como instrumento de aprendizagem.

5. Quais os projetos você tem desenvolvido na área dos RPG Indies? Ou tem algum projeto que você gostaria de divulgar?

Um mundo oculto para ser explorado. Um mal ancestral para ser combatido. A Fundação Triunfo é uma organização criada para proteger o Brasil de uma força sombria que tem se mantido oculta há milênios. E para essa tarefa, seus membros, também conhecidos como voluntários, devem desvendar a “história secreta” de nossa nação. Cada bem cultural, cada patrimônio, cada ginga, cada cantiga pode conter uma pista para esse grande mistério. Lute, explore, desvende e conquiste. Junte-se à Fundação Triunfo e viva grandes emoções ao lado de incríveis companheiros!

6. Como você vê a ideia da comunidade RPGísta de realizar o mês do RPG Indie?

Necessário! Como autores precisamos fortalecer a cena, e a cena vai fortalecer nossas artes.

7. Para você, qual deveria ser o principal objetivo desse evento? E o que espera dele?

Networking, criação de vínculos e maximização de alcance.

8. O que você diria que são RPGs INDIEs e qual a importância deles?

O underground sempre foi um luxo por se virar contra os ideias do consumo e capitalista. RPG são produtos portanto são impulsionados a serem consumidos em grande escala, mas nem sempre o que todo mundo consome deve ser o ideal a ser buscado. Penso que numa cena, é muito importante uma diversidade de conteúdo e acima disso, produtos que estejam comprometidos com questões importantes para o prosperar da nossa sociedade.

9. Como você vê a relação: RPGs da indústria de jogos X RPGs INDIEs no mercado brasileiro e no mundo?

O discurso é bem diferente da prática. Eu também faço essa autocritica, consumir o mainstream ainda é mais fácil por diversos motivos. O principal deles é que muitos projetos Indies ainda tentam se aproximar do status quo para serem notados e/ou não possuem compromisso com a realidade/cultura que o cerca. Claro que poderia ser pior, os números e a crescente do mercado de RPG permite que a gente possa sim sonhar com futuros alegradores para este nicho.

10. Qual mensagem pessoal sua você gostaria de mandar para a comunidade RPGista
brasileira?

Continuem pensando no RPG como uma ferramenta positiva para a comunidade, essa é a melhor forma
do RPG se estabelecer definitivamente. Encoraje o futuro que ele sempre encoraja de volta!


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Tchelo Andrade – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG é um evento idealizado e organizado por:

Douglas Quadros
Gustavo “AutoPeel” Estrela
Isabel Comarella
Iury.KT
O Escritor Ansioso
Ur Tiga Brado’k
VellSant

Leandro Abrahão – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Entrevista realizada com o autor Leandro Abrahão, que trouxe para a gente sua caminhada na criação de jogos Indie.

1. Conte-nos um pouco sobre você e sua trajetória como autor de RPG indie no Brasil.

Olá eu sou o Leandro, sou Game Design e produtor de rpg independente desde 2003. A princípio produzia meus próprios jogos e sistemas porque viva em uma cidade no interior, onde o acesso a livros, revistas e outros conteúdos especializados era de difícil acesso. Escrevia e imprimia artesanalmente e fazia a distribuição para os amigos e participantes dos eventos de RPG e Anime que eu mesmo organizava. Em 2008 me envolvi com o movimento Software Livre, conheci as possibilidades de lançar jogos na internet com licenças livres e assim comecei a produzir e distribuir meus jogos como conteúdos open source. Hoje mantenho um site: Leandro Games – Editora Independente como repositório de alguns dos meus jogos mais conhecidos.

2. Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao desenvolver RPGs Indies? Como
os superou?

Acredito que o maior desafio foi obter espaço para a divulgação dos jogos. Por muito tempo a divulgação do rpg Indie se concentrou em autores dos grandes centros metropolitanos, sendo muito pouco espaço aberto para da divulgação de autores de pequenas cidades, sobretudo, das regiões norte e nordeste (meu caso) do país. Hoje esse panorama tem mudado bastante. Apesar de termos muitos autores Indies consolidados entre as grandes metrópoles, os produtores de contudo e canais de divulgação estão completamente abertos a divulgar o material de autores iniciantes de qualquer parte do país/mundo.

3. Quais foram os momentos mais marcantes ou pontos altos da sua jornada como autor de
RPG indie?
O Legado Rpg

Para mim os momentos mais marcantes como autor de RPG foram 3:
1. Receber um email de dúvidas de um grupo de jogadores completamente desconhecido de outra
parte do país.
2. A primeira resenha em blog de destaque nacional (escrita pelo Daniel Talude em 2013).

3. Ser convidado a escrever para uma editora. A Unza RPG do Thiago Edwardo Silva e um módulo de suplemento de um dos projetos da Craftando Jogos: O Legado RPG, do PH Autarquia.

4. Compartilhe conosco um ou dois sucessos que você alcançou no cenário de RPG Indie. Houve surpresas, ou foi tudo como planejado?

Meus jogos mais difundidos são o POI (Par ou Impar), o Capangas Cyberpunk e o Cangaço Trevoso. Sempre fiz meus lançamentos muito despretensiosos, de forma em que na maioria das vezes o planejamento falhou! kkkkk

5. Quais os projetos você tem desenvolvido na área dos RPG Indies? Ou tem algum projeto que você gostaria de divulgar?
Morte S/A

Atualmente estou reescrevendo a segunda edição do Morte S/A. Um jogo que lancei em 2009 e que ao reler na atualidade, achei que ele merecia uma revisão. Havia alguns aspectos no livro antigo no qual já não concordava mais, então em meio a pandemia, decidi começar a reescrevê-lo. Em 2009 eu acreditava que um bom sistema de RPG deveria de ter um número considerável de mecânicas para solucionar situações e isso acabou criando um monte de rolagens e estatísticas desnecessárias, as quais não eram o foco do jogo.

Isso me fez cansar um pouco, de forma que deixei ele de lado por um tempo. Mas o cenário nunca me cansou. Assim como a alguns dos meus amigos, que junto comigo tentaram fazer do Morte S/A, board game e cardgame também. Agora finalizei um sistema diferente, e também dei uma atualizada no cenário (tudo que eu faço está em constante processo de criação). Nesse momento o livro está em fase de diagramação, restando apenas 50 páginas para o término.

6. Como você vê a ideia da comunidade RPGísta de realizar o mês do RPG Indie?

Acho incrível. Quanto mais autores, trocas de experiências e espaços melhor. Acredito que o mês do RPG Indie não só ajuda na divulgação de autores e difunde materiais autorais (na qual muitos são gratuitos como os meus), bem como incentiva novos RPGístas a lançarem seus materiais como RPG Indie! É uma iniciativa e tanto! Parabéns!

7. Para você, qual deveria ser o principal objetivo desse evento? E o que espera dele?

Espaço para autores e iniciativas verdadeiramente Indie. Espaço para os novos ou ainda desconhecidos produtores de jogos de RPG. Divulgação de projetos e Donwload de materiais. Incentivo ao novatos!

8. O que você diria que são RPGs INDIEs e qual a importância deles?

Para mim, o RPG Indie foi o recurso fundamental para poder jogar os cenários fantásticos que imaginava, e suprir a falta de acesso a conteúdos que havia em minha região. Hoje, acho que o RPG Indie tem uma função de ir além do mercado. Apresentar novas propostas ao jogadores e dar acesso a gêneros, aventuras, temáticas, estéticas e estilos completamente descompromissados com o mercado.

9. Como você vê a relação: RPGs da industria de jogos X RPGs INDIEs no mercado brasileiro e no mundo?

Acredito muito que cada um tem o seu papel. O papel da indústria de jogos é bem claro: fazer um hit. Emplacar um jogo como um produto rentável de qualidade. Acho que o RPG Indie poder ter esse objetivo também, mas como já mencionado, ele vai além. No Indie o RPGísta (consumidor ou produtor) pode experimentar além das métricas financeiras, das mecânicas, dos recursos… são possibilidades ilimitadas. Portanto a experimentação é, para mim, o ponto forte do Indie. O Indie pode andar a favor do mercado, ir contra, ser gratuito, pago, premium, ser um rpg como serviço… o Indie escolhe estar atado ao mercado ou não.

10. Qual mensagem pessoal sua você gostaria de mandar para a comunidade RPGista brasileira?

Queridos amigos RPGístas, vocês são incríveis. Obrigado por me acolher e me fazer sentir parte disso por tantos anos! Espero poder contribuir e colaborar mais para tornar essa comunidade cada vez melhor, mais inclusiva, mais acolhedora. Somos a melhor comunidade do mundo! Vamos Jogar!!


E se você gosta do que apresentamos no MRPG, não se esqueça de apoiar pelo  PadrimPicPayPIX, e no Catarse!

Assim, seja um Patrono do Movimento RPG e tenha benefícios exclusivos como participar de mesas especiais em One Shots, de grupos ultrassecretos e da Vila de MRPG.

Além disso, o MRPG tem uma revista! Conheça e apoie pelo link: Revista Aetherica.


Leandro Abrahão – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG é um evento idealizado e organizado por:

Douglas Quadros
Gustavo “AutoPeel” Estrela
Isabel Comarella
Iury.KT
O Escritor Ansioso
Ur Tiga Brado’k
Mandi

Vitor Simões – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Entrevista realizada com o autor Vitor Simões, compartilhando conosco momentos da sua vida como criador de jogos de RPG Indie.

1. Conte-nos um pouco sobre você e sua trajetória como autor de RPG indie no Brasil.

Posso dizer que o começo da minha história com o RPG indie é quase que a mesmo que o começo da minha história como autor. Foi a partir do momento em que eu e meu grupo de amigos decidimos  desenvolver o nosso próprio sistema de regras que começamos a ter mais contato com esse mundo  Indie, pois passamos a olhar e a pesquisar diferentes fontes e sistemas.  Para ser sincero, nós nunca encaramos o desenvolvimento do Codex como algo “autoral”, no sentido de  escrita. Acho que por sermos todos engenheiros, nós sempre encaramos o desenvolvimento do sistema como um projeto de desenvolvimento  de produto e não como um livro que estava sendo escrito. Inclusive, foi só após 7 anos de desenvolvimento que definimos que o formato que o sistema seria  apresentado era o de um livro.

Assim soa até um pouco estranho a meus ouvidos ser chamado de  “autor” hahaha.  Agora, de forma bastante resumida, vou dar uma pequena linha do tempo que acho que ilustra bem aminha trajetória e a do Codex, pois é praticamente  impossível desvincular uma coisa da outra.

Em 2014, eu me reuni com mais 4 amigos para começar o desenvolvimento do nosso sistema de RPG  pois “quão difícil pode ser, não é mesmo?”.  No começo de 2015 já tínhamos uma versão para teste (ainda não tinha nome o sistema). Testamos e  estava horrível, não sei dizer se foi o pior sistema que já joguei, mas estava no top 5 hahaha nu. Depois disso passamos a aplicar uma metodologia de desenvolvimento de produto e recomeçamos do  0. A v0.00 do Codex saiu em meados de 2016.

Desse ponto…

…até 2020 fizemos 11 versões diferentes, algumas com mais mudanças outras com menos.
Nesse meio tempo tivemos a troca de dois integrantes da equipe, participamos de diversos eventos, conhecemos muita gente bacana dentro da comunidade do RPG e crescemos muito como pessoas e como conhecedores do hobby.

No final de 2020 lançamos a nossa campanha no catarse para o financiamento coletivo do livro, foi graças a todas as pessoas que conhecemos ao longo dos anos que conseguimos ter sucesso no financiamento para poder realizar o nosso sonho de lançar o nosso próprio sistema de RPG. Assim, 2021 era O ano dedicado a terminar tudo e entregar as recompensas.
Mas claro que as surpresas e dificuldades não acabam só porque você consegue ter sucesso em um financiamento. Agora é a hora da verdade e de formatar, diagramar e revisar e reescrever muitas coisas, assim a partir de meados de 2021 começamos a trabalhar em diferentes frentes, lidando com imprevistos desde ajustes inesperados no sistema até fornecedor que não entrega e a desistência de um dos membros da equipe. Mas isso tudo faz parte da aventura, afinal se fosse fácil não teria graça não é mesmo?

2. Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao desenvolver RPGs indies? Como os superou?

Ao longo dos anos de desenvolvimento tive de superar vários obstáculos, mas como sempre trabalhei em grupo nunca senti que nenhum deles era grande de mais. A nossa equipe funciona como num grupo de personagens de RPG, cada um tem seu ponto forte e a sua função, se complementando e ajudando uns aos outros nos desafios que não conseguem superar.
Para mim o desenvolvimento de um sistema de RPG sempre foi muito mais do que desenvolver um sistema, mas também uma jornada de crescimento e aprendizado. Acredito que quando você encara um desafio dessa forma, as coisas ficam mais leves e as consequências, menos drásticas. Afinal mesmo que tudo desse errado e o sistema virasse algo que ninguém jogasse, apoiasse ou gostasse, ainda assim eu teria aprendido muito só por fazer ele e isso pra mim era o mais importante dessa empreitada.

Agora, respondendo a pergunta de forma mais objetiva, eu sempre tive dois grandes desafios. O primeiro era manter toda a equipe motivada, mesmo quando as coisas estavam dando erradas ou estava todo mundo exausto e o segundo era garantir que as coisas estavam acontecendo e sendo feitas com a velocidade e qualidade desejada. Essa segunda parte é especialmente verdade quando tratamos de fornecedores e pessoas externas ao grupo.

3. Quais foram os momentos mais marcantes ou pontos altos da sua jornada como autor de RPG indie

Tiveram alguns, diria que o mais marcante de todos, sem sombra de dúvidas, foi o sucesso no financiamento do Codex.

Todo acolhimento pela comunidade foi algo que me surpreendeu e me impactou bastante (de forma positiva, é claro hehehe).

Outro momento bastante marcante foi a nossa primeira participação em um evento de RPG em São Paulo. Foi em um evento de halloween no CCJ (Centro Cultural da Juventude) organizado pelo pessoal do Covil do RPG. Foi a primeira vez que testamos o nosso sistema com pessoas do público Sinto que esse foi o nosso primeiro passo dentro da verdadeira comunidade do RPG. A partir daí começamos a participar de eventos a cada 3~4 meses, depois a cada 1 mês e no final estávamos participando de eventos quase que quinzenalmente. Foi um período bastante intenso mas muito gratificante.

4. Compartilhe conosco um ou dois sucessos que você alcançou no cenário de RPG Indie. Houve surpresas, ou foi tudo como planejado?

Bom, posso dizer que o maior sucesso foi o do financiamento do Codex. Em termos da parte prática/funcional do financiamento, tudo ocorreu como previsto antes e durante o financiamento. Conseguimos bater as metas e todas as compras estavam dentro do que tínhamos projetado, assim não tivemos surpresas com o orçamento nem nada parecido.
A única surpresa, foi a quantidade de trabalho que ainda tínhamos pendente. Acreditávamos que o sistema estava praticamente 100% finalizado, mas no momento da revisão percebemos que tínhamos muita coisa para escrever e reescrever, no final acabamos fazendo até uma nova versão do sistema, incluindo algumas regras novas e uma serie de novos conteúdos para afinar o balanceamento do jogo.
Infelizmente isso significou em um atraso imprevisto na data de entrega das recompensas para os apoiadores…

5. Quais os projetos você tem desenvolvido na área dos RPG Indies? Ou tem algum projeto que você gostaria de divulgar?

Bom, acho que já falei bastante do Codex até agora. Então só vou dizer que o nome completo do sistema é: Codex of Reality. Temos página no facebook, instagram, discord e whatsapp se alguém quiser conversar sobre desenvolvimento de RPG ou saber mais sobre o sistema é só mandar mensagem em alguma dessas plataformas acesse nosso Corerpg | Instagram, Facebook, Twitch | Linktree.

6. Como você vê a ideia da comunidade RPGísta de realizar o mês do RPG Indie?

Olha, eu super apoio qualquer tipo de movimento da comunidade do RPG para criação de qualquer tipo de evento que ajude a disseminar o hobby e alimente a interação entre aqueles que já fazem parte dele.

Acredito que o nosso hobby é aquilo que fazemos dele então quanto mais pudermos fazer a favor da comunidade, melhor 😀

7. Para você, qual deveria ser o principal objetivo desse evento? E o que espera dele?

Vejo o mês do RPG Indie como uma janela de oportunidade para pessoas que estão desenvolvendo seus projetos mostrar para o publico o que estão fazendo além de ter contato com pessoas que já estão mais consolidadas nesse meio. Dessa forma espero encontrar não só coisas sobre projetos e pessoas que estão sempre aparecendo por aí, mas também ver novos autores e desenvolvedores.

8. O que você diria que são RPGs INDIEs e qual a importância deles?

Para mim, RPG Indie é todo RPG que não é regido/controlado por nenhuma editora grande. Em outras palavras, um RPG desenvolvido por alguém que é livre para criar e desenvolver o que bem entende sem sofrer influências ou interferências de uma empresa ou entidade que tenha como o objetivo principal o lucro.

Esse tipo de liberdade da a oportunidade para o surgimento de coisas que antes seriam inimagináveis, pois o autor pode criar e experimentar sem ter o peso da necessidade de criar algo que seja sucesso comercial.

9. Como você vê a relação: RPGs da industria de jogos X RPGs INDIEs no mercado brasileiro e o mundo?

O mercado de RPG no Brasil ainda está crescendo e ainda tem muito a crescer.

O brasileiro é um povo que culturalmente é muito aberto a coisas novas e a experimentar o desconhecido, então eu vejo muito espaço para pequenos autores e novos sistemas no Brasil.

Afinal não é incomum ir em um evento e ter 15 sistemas diferentes sendo jogados em 15 mesas.

Não sou profundo conhecedor do mercado internacional de RPG, mas estou morando em Toronto já faz 10 meses e posso dizer que aqui não existe o conceito de “eventos de RPG”. O que acontece é de pessoas se reunirem para jogar em locais públicos e abrirem vagas na mesa para pessoas externas, mas estranham quando eu descrevo ou conto o conceito dos eventos que temos em São Paulo, por exemplo.

Por causa desse tipo de coisa que eu acredito que o Brasil possui um ambiente muito mais fértil para o crescimento de novos RPGs, indies ou não.

10. Qual mensagem pessoal sua você gostaria de mandar para a comunidade RPGista brasileira?

Não tenho nenhuma grande mensagem ou frase de efeito, apenas desejar que todos continuem jogando e se divertindo. Afinal o RPG é isso, algo para a gente usar para se divertir, e não tem nada de errado com isso!


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Vitor Simões – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG é um evento idealizado e organizado por:

Douglas Quadros
Gustavo “AutoPeel” Estrela
Isabel Comarella
Iury.KT
O Escritor Ansioso
Ur Tiga Brado’k
Mandi

Jorge Valpaços – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Entrevista com o autor Jorge Valpaços, contando para a gente suas experiências com RPG Indie.

1. Conte-nos um pouco sobre você e sua trajetória como autor de RPG Indie no Brasil.
Lampião Game Studio

Opa! Eu sempre curti muito os jogos independentes nacionais. Me aproximei da cena ao jogar os jogos do Marco Bym, Carlos Klimick, Eliane Bettochi desde os anos 90. Mas recentemente, Tiago Junges,Encho Chagas, Eduardo Caetanoe outros foram fontes de inspiração. Eu tocava projetos de educação lúdica em contextos socioeducativos e sempre levava jogos brasileiros para as oficinas. Daí não tardou para esbarrar com Jefferson Neves e Rafão Araújo, conhecer seus projetos e ser convidado a participar do Lampião Game Studio. Estou nessa desde os anos 2014, mais ou menos, e tenho uma boa gama de jogos lançados desde então. Eu comecei a me relacionar com design de jogos pelo viés acadêmico, e só depois comecei a colocar a mão na massa e criar meus desvios.

Acho que minha assinatura tem a ver com as vivências, com o que sinto, com o que desejo partilhar. E em cada projeto deixo um tanto demim aberto pra jogo.

E acho que assinar “no jogo, a gente se encontra” é o que realiza a minha potência de viver. Só consigo me encontrar na contingência que é existir enquanto estou em jogo, e jogado, no mundo.

2. Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao desenvolver RPGs indies? Como os superou?

Cada projeto tem suas demandas específicas. Muito do que faço fica anos na gaveta, precisando do tempo certo pra acontecer. Acho que os principais desafios vêm da materialidade. Eu, como qualquer criador cultural independente, não temos segurança financeira, e trabalhamos em tempo disponível. Escrever tendo de lidar com preocupações como tiroteio no complexo do alemão, tratar da saúde mental e tantas questões que me atravessam são mais complexas que buscar uma solução mecânica. Mas, quanto às restrições do processo criativo, penso que o sangramento voluntário e o design material sejam os meus principais desafios. Eu “me coloco em jogo”, num processo de entrega em cada projeto.
Então há aspectos de gozo e sofrimento em cada jogo que “nasce”. Já em relação ao design material, eu abandono convenções de jogos (como um manual é escrito, como o jogo é jogado) e parto da dinâmica “acontecendo na mesa” para pensar na criação do jogo. Se eu pensasse de outra forma, Ceifadores, com a ficha-biombo e a mecânica de pegar o dado, não aconteceriam, por exemplo. Mas isso gera algo muito complicado, que é buscar repertórios de outras práticas lúdicas para solucionar questões abertas durante a criação dos jogos. É algo um tanto difícil, mas muito recompensador. Só não concordo muito com a necessidade de superar desafios. Digo porque desisti, abandonei muitos projetos, muitos jogos. Saber que não vai dar é tão ou mais significativo que fazer. Você compreende seus limites, o que deve investir em melhorar, o que te faz mal.

É importante ter isso em mente, e deixarde lado um tanto aquela coisa de sempre vencer, superar, avançar.

3. Quais foram os momentos mais marcantes ou pontos altos da sua jornada como autor de RPG indie?
Ceifadores
Lições

Ganhar os Goblins de Ouro de 2022 e 2023 com Ceifadores e Lições seria a resposta fácil. Mas quando levo um jogo meu a uma periferia, ele é jogado por uma menina que diz que foi muito divertido e é seu primeiro jogo narrativo, ali está meu ponto alto. E é por isso que hoje me dedico a jogos ensaios, impressos artesanalmente e em zines baratinhas e me volto a comunicar mais na ponta que no centro.

Agora, se dá pra listar outro ponto alto, outro aspecto que realmente se destaca em minha jornada, é poder dividir convites de jogar histórias tão únicas, como as de Amores da Vila do Caju, Asas da Vizinhança, Cruzos e Herdeiros dos Antigos. Apenas saber que estes desvios interessam a outrem já me faz viver

4. Compartilhe conosco um ou dois sucessos que você alcançou no cenário de RPG indie. Houve surpresas, ou foi tudo como planejado?

Lições RPG é um jogo com quase 8 anos de desenvolvimento. Lançá-lo após um fracasso na primeira campanha de financiamento coletivo já foi um sucesso incrível. Me dediquei muito a ele, mas jamais pensei que ganharia 2 prêmios (design de regras e livro básico no Goblin de Ouro de 2023). Tudo foi planejado para ser meu jogo definitivo no sistema L’Aventure, mas foi una grande surpresa ter tido este reconhecimento, dada a qualidade das obras de quem concorria comigo.

5. Quais os projetos você tem desenvolvido na área dos RPG Indies? Ou tem algum projeto que você gostaria de divulgar?
Gavaret

Sigo na deriva e no desvio lúdico. Agora meu enfoque é em lidar com o repertório do jogar que nós temos ao criar jogos. Então esperem ver jogos meus que lidam com adedanha/stop, amarelinha, batalha naval e tantos outros jogos que a gente já conhece para estar no centro do desenvolvimento da prática lúdica. E meu primeiro projeto neste (des)caminho é Gavaret, fantasia e aventura em suas mãos. É um jogo narrativo competitivo (isso mesmo, teremos vitória em rpg) jogado com pega-varetas. O seu lançamento será no início de agosto em catarse.me/gavaret

6. Como você vê a ideia da comunidade RPGísta de realizar o mês do RPG Indie?

Gosto muito da proposta. Me inspiro e admiro muito as pessoas autoras que estão na cena e me
orgulho de dividir o presente com eles.

7. Para você, qual deveria ser o principal objetivo desse evento? E o que espera dele?

Eu espero que haja mais visibilidade destas pessoas fantásticas que inventam mentiras incompletas jogáveis, verdadeiras como a vida, e as partilham. Penso que o principal objetivo do evento possa ser repensar o jogo e o jogar. E nisso, já lançamos os dados.

8. O que você diria que são RPGs INDIEs e qual a importância deles?

Eu não sei o que são rpgs indies, rs. Dá pra pensar em produção independente, mas não tenho segurança em determinar que um tipo de jogo é indie e outro não. Acho que o independente por aqui s relaciona com o jogar e criar e não exatamente com o jogo. Pensando sobre este jogar e criar independente, penso que ele pode saltar por caminhos mais brincantes e esquivos que a estrada de tijolos amarelos. Mais, ainda em amarelo, somos, em submarinos, ou não.

9. Como você vê a relação: RPGs da industria de jogos X RPGs INDIEs no mercado brasileiro e no mundo?

Sem óculos, vejo meio embaçado. Com óculos, talvez seja mais embaçado.

Não observo uma necessária oposição, mas assimetria e exploração. Criadores independentes fazem parte de um mundo atravessado por monopólios, concentrações hegemônicas e contradições. Grande parte (e eu me insiro) são precarizados numa indústria que se orgulha em falar de lucro e receita enquanto coleciona escândalos trabalhistas e práticas de apoio a supremacistas, por exemplo. Ali, debaixo da ponte, com a tenda aberta, há quem mostra sua arte, ao lado do shopping center. Acontece que a fome bate, a conta vem e você vende sua força de trabalho pra reproduzir sua existência. E este é o jogo mais difícil de jogar.

10. Qual mensagem pessoal sua você gostaria de mandar para a comunidade RPGista brasileira?

Permita colocar-se em jogo. Venha comigo pra se perder um tanto. A gente inventa uma história sobre como foi depois. Basta escolher um lanche de histórias e comer com gosto em Lampião Game Studio


E se você gosta do que apresentamos no MRPG, não se esqueça de apoiar pelo  PadrimPicPayPIX, e no Catarse!

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Além disso, o MRPG tem uma revista! Conheça e apoie pelo link: Revista Aetherica.


Jorge Valpaços – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG é um evento idealizado e organizado por:

Douglas Quadros
Gustavo “AutoPeel” Estrela
Isabel Comarella
Iury.KT
O Escritor Ansioso
Ur Tiga Brado’k
VellSant

José Noce – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Entrevista realizada com o autor José Noce, que nós contou um pouco da sua historia com o universo Indie.

1. Conte-nos um pouco sobre você e sua trajetória como autor de RPG Indie no Brasil.
Studio
Macunaíma Games

Meu nome é José Noce, sou de Belo Horizonte – MG e também sou a mente insana por trás do Studio Macunaíma Games. Tenho alguns jogos de RPG e tabuleiro publicados no blog do meu studio, além de
dois livros publicados pelo Catarse. O primeiro é um livro com dicas para narradores de RPG, chamado
Vamos Pôr Ordem Nesta Bodega! E o segundo é um RPG infanto-juvenil chamado Pequenos Aventureiros, que serve como porta de entrada para o nosso hobby.

Pequenos Aventureiros

Eu sempre curti fazer jogos né. Quando criança, me amarrava numa seção dedicada a todo tipo de jogos analógicos que havia na Super Interessante. Eu vivia tentando fazer hacks daqueles jogos, ou até criar jogos originais usando eles como referência. Então, quando eu descobri o RPG na minha adolescência, foi paixão à primeira vista! Mais a vez, lá estava eu na piração de fazer joguinhos hehehe. Mas como eu ainda não tinha assim tantas referências e noções de game design, ainda não era capaz de criar algo funcional. Com o tempo, fui jogando, mestrando e estudando muitos jogos. Ae sim eu comecei a ter uma base. Além disso, também passei a estudar alguma coisinha de game design. No começo preferia desenvolver jogos de tabuleiro, por serem mecanicamente mais simples que jogos de RPG. Mas logo descobri que a produção é aonde o bicho pega kkkkkkkk. Trabalho e custos demais fazendo caixas, tabuleiros, cartas, dados, marcadores, etc. Então resolvi focar no RPG, que apesar da complexidade de criar regras que emulassem toda uma “realidade fictícia”, a execução desses jogos era quase semprepublicar um livro.

2. Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao desenvolver RPGs indies? Como os superou?

Lá no começo da minha jornada RPGística, além de ser muito cru como descrevi anteriormente, era muito mais difícil publicar as coisas. A internet ainda engatinhava, e não haviam ferramentas de venda como financiamentos coletivos. E ainda por cima era super difícil conseguir fornecedores gráficos com familiaridade na produção de acessórios para jogos. Tanto que houve uma época em que eu me resignei que só iria conseguir desenvolver e publicar jogos depois da minha aposentadoria kkkkkkkkk. Mas felizmente muita coisa mudou de lá pra cá. Hoje em dia é muito mais fácil publicar jogos, tanto que muitas vezes nem é preciso recorrer a uma editora pra isso. Tem muita gente que se refere aos anos 90 como a Era de Ouro do RPG no Brasil. SABE NADA INOCENTE KKKKKKK! A Era de Ouro é agora, sem sombra de dúvidas!

3. Quais foram os momentos mais marcantes ou pontos altos da sua jornada como autor do RPG indie?
Jogatina

Foi ver toda a minha jornada e todo o meu aprendizado começando a gerar frutos. Vendo que as pessoas começavam a prestar atenção nos meus jogos pra muito além do meu “quintal”, dos rolês que eu já era acostumado a frequentar. Que muitos clubes de jogos, streamers, divulgadores RPGísticos, começavam a me convidar pra falar dos meus trabalhos ou até demonstrar eles na prática fazendo alguns gameplays. Sou muito grato por tudo isso. Só que o mais bacana foi perceber que além dessa visibilidade, eu estava deixando uma marca positiva na vida dessas e muitas outras pessoas. E isso é bem recente, de quando lancei o financiamento coletivo do Pequenos Aventureiros.

4. Compartilhe conosco um ou dois sucessos que você alcançou no cenário de RPG indie. Houve surpresas, ou foi tudo como planejado?

O sucesso veio aos poucos, mas se eu falar que foi planejado eu tô mentindo kkkkkkkkk. Fui aprendendo com o erros, quebrando a cara mesmo. Até que uma hora eu comecei a acertar, apesar de ainda cometer muitos erros que eu gostaria de evitar rsrsrs. Um dos momentos mais memoráveis e bem sucedidos pra mim foi numa live do canal Flecha Mágica no YouTube. O Pequenos Aventureiros estava em campanha de financiamento coletivo, e começamos a live já batendo uma meta e terminamos ela batendo outra. Achei aquilo incrível Mas o sucesso de outros autores à minha volta é tão importante quanto os meus.

Somos todos parte de um ecossistema, então o sucesso dos meus pares pra mim é um sinal de que a cena está estruturada e saudável.

Pois sem isso, por mais que eu seja bem sucedido, não há estrutura pra ninguém. É como se, na falta de um porto seguro, todo mundo estivesse se afogando em alto mar. Com a diferença apenas que aqueles que têm algum reconhecimento ou relevância – o que não é o meu caso – são erguidos pra tomar um fôlego e depois são soltos na água pra se afogar igualzinho ao resto.

5. Quais os projetos você tem desenvolvido na área dos RPG Indies? Ou tem algum projeto que você gostaria de divulgar?
Vamos por Ordem nessa Bodega

Bom, pra começar, tem meu livro “Vamos Pôr Ordem Nesta Bodega!” Ao invés de partir da premissa “O que o mestre pode fazer pelos jogadores?”, presente na esmagadora maioria de materiais a esse respeito, ele parte de uma outra premissa que parece contrária, mas que na verdade completa a primeira: “O que o mestre tem direito de exigir dos jogadores?” É portanto um livro que busca valorizar o trabalho dos mestres, que muitas vezes torram seus neurônios por grupos que não estão nem “ae” pro seu esforço. Este livro foi publicado em 2017 pelo Catarse. Tem também meu RPG infanto-juvenil Pequenos Aventureiros. Ele tem um sistema de associação de cores e símbolos com as características dos personagens, de modo que até crianças ainda não alfabetizadas consigam jogar sem dificuldades. E o outro diferencial é um sistema gerador de aventuras “calibrado” para crianças recém alfabetizadas ou outros narradores iniciantes.

Ele foi bem sucedido em dois financiamentos no Catarse, a campanha original e o late pledge, este último que eu tive que fazer atendendo aos pedidos da galera hehehe. E eu ainda tenho outros 2 RPGs publicados no meu segundo blog, o Macunaíma Lado B, pra conteúdos adultos. Um deles é o Meus Colegas da Quinta Série, um jogo sobre rir de você e ao mesmo tempo com você. Você joga com um alter-ego seu, só que construído através da zoera dos outros jogadores, passando por todo tipo de situações ridículas kkkkkkkkk. Um jogo que eu costumo indicar pra maiores de 30 rs, ou pessoas que saibam rir de si mesmas rsrs. O outro jogo é o Rock no Cu & Gritaria, um RPG Cringepunk sobre sexo, drogas, rock n’ roll e vergonha alheia, aonde todo mundo parece com o Supla e a Ana Maria Braga kkkkkk. Esse por enquanto só tem alguns rascunhos publicados.

6. Como você vê a ideia da comunidade RPGísta de realizar o mês do RPG Indie?

Acho incrível! Quanto mais datas a gente tiver pra celebrar o RPG Independente, melhor!

7. Para você, qual deveria ser o principal objetivo desse evento? E o que espera dele?

A divulgação de RPGs Independentes, especialmente feitos por autores iniciantes. Além, é claro, de convidar o público em geral para conhecer jogos fora da caixa, da mesmice do mainstream .

8. O que você diria que são RPGs INDIEs e qual a importância deles?

Jogos indie, ao contrário do que se pensa, não têm a ver com conceitos inovadores, mas sim com forma de produção e distribuição, geralmente no formato de auto-publicação. Porém, o autor independente tem mais liberdade criativa, não tendo que se prender às formas mercadológicas do mainstream, e por isso que geralmente jogos indie são beeem fora da caixa. A importância do RPG Independente tem a ver com 2 fatos. O primeiro, como já foi dito antes, é convidar o publico RPGista a sair da caixa, embarcar em novas experiências. E o segundo é mostrar pra jovens autores que é possível sim publicar o seu RPG, mantendo assim a chama do RPG acesa também nas novas gerações.

9. Como você vê a relação: RPGs da industria de jogos X RPGs INDIEs no mercado brasileiro e  no mundo?

Eu creio que exista uma simbiose entre os mercados mainstream e indie. Por um lado, de tempos em tempos o mainstream precisa se reinventar, já que suas fórmulas mercadológicas ao extremo começam  a ficar batidas. E nessa hora eles recorrem quase sempre aos autores indie pra se repaginarem. Por outro lado, o indie é muito pequeno e nichado pra conseguir visibilidade por si mesmo. Então ele se aproveita da visibilidade do mainstream pra se fazer visto, especialmente atendendo nichos menores que o mainstream não consegue atender por conta de suas especificidades.

10. Qual mensagem pessoal sua você gostaria de mandar para a comunidade RPGista brasileira?

Saiam do “arroz com feijão” do D&D, Vampiro e companhia e venham jogar com a gente! Venham
conhecer jogos com poucas páginas, mas com muita inovação conceitual- e claro, muita diversão!


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O Que é RPG Indie? – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Apesar de sua aparente simplicidade, um RPG Indie é um RPG independente. Ele é desenvolvido e lançado sem o apoio de editoras, frequentemente envolvendo pequenos estúdios. Quando mencionamos a ausência de uma editora, queremos dizer que os autores têm total liberdade criativa e são os proprietários dos direitos autorais de suas obras. Eles não estão restritos aos métodos de trabalho ou às ideologias das grandes editoras, o que lhes confere pleno controle sobre o conteúdo de suas criações.

Características do RPG Indie

Em geral, embora não seja uma regra rígida, o RPG Indie tende a ser mais compacto, com menos páginas em comparação às obras já consagradas, e possuem menos suplementos. No entanto, mesmo com essa característica, eles oferecem aventuras ricas, concentrando-se na facilitação da narrativa ou adotando formatos distintos do convencional. Podemos afirmar que esses jogos se especializam em criar uma experiência única a cada sessão de jogo.

Além disso, os jogos independentes desempenham um papel fundamental no mercado, pois são uma resposta dos jogadores às empresas ou editoras que tomam decisões ou direcionamentos em jogos aclamados que desagradam aos fãs. Isso resulta na criação de novos jogos de nicho, substituindo os mais famosos, e contribui para o crescimento e a diversificação do mercado de jogos.

Por que o RPG Indie merece reconhecimento?

O Movimento RPG, está dando inicio a sua 1ª Semana do RPG Indie. E dedicar um dia para o RPG Indie é importante por várias razões.

Primeiramente, os jogos independentes oferecem uma perspectiva única e uma abordagem criativa que muitas vezes não são encontradas nos jogos mainstream, e clássicos. Eles proporcionam experiências de jogo diferentes, explorando narrativas originais, mecânicas inovadoras e formatos não convencionais. Ao se dedicar para explorar esses jogos, os jogadores têm a oportunidade de vivenciar aventuras únicas e descobrir novas formas de jogar.

Além disso, apoiar os RPGs Indie é uma forma de valorizar a independência criativa e a diversidade no mundo dos jogos. Ao dedicar um período específico para esses jogos, estamos reconhecendo e promovendo a importância da liberdade artística, da autonomia dos desenvolvedores e da pluralidade de ideias. Isso incentiva o crescimento e a inovação no cenário dos jogos, proporcionando mais opções e alternativas aos jogadores.

A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Por fim, dedicar um dia ao RPG Indie também é uma maneira de mostrar apoio e reconhecimento aos desenvolvedores independentes e aos pequenos estúdios. Eles muitas vezes enfrentam desafios significativos para criar e lançar seus jogos sem o respaldo das grandes editoras. Ao dedicar tempo e recursos para jogar e promover esses jogos, estamos contribuindo para sua visibilidade e sucesso, incentivando o florescimento de uma comunidade de criadores independentes.

Em resumo, dedicar essa semana para o RPG Indie é importante para nós porque permite explorar novas experiências de jogo, apoiar a independência criativa e diversidade, e promover a visibilidade e o sucesso dos desenvolvedores independentes.

É uma forma de celebrar a criatividade e o espírito inovador que impulsiona a indústria do RPG.

Portanto nessa semana, traremos vários conteúdos que enaltecem o RPG Indie Nacional! Fique por dentro das nossa mídias, e acompanhe aqui pelo site também!


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