Como Fazer Sessões Temáticas de RPG – Tudo Menos D&D #02

Como a maioria dos leitores deste artigo, também sou brasileiro. E brasileiro é conhecido mundialmente por seu amor à festividades. O Carnaval no Rio de Janeiro é uma das maiores festas do planeta. Sendo assim por que não incluir festividades na sua mesa, por isso vim aqui para te dizer como fazer sessões temáticas de RPG!

Elementos temáticos podem ser incorporados nos mais variados cenários e sistemas de RPG, do Horror Moderno ao Sci-fi e Fantasia Medieval – tanto de forma pontual quanto em longo prazo. Os benefícios dessas inclusões são variados: quebra de expectativa de jogadores mais experientes, trazer familiaridade para jogadores novatos, mais opções de eventos em cenários que de outra forma podem cair na monotonia, entre outros.

Pessoalmente gosto de incluir aventuras com temáticas diferentes e específicas de acordo com a época do ano, dentro do contexto de campanhas mais longas. Meu grupo presencial já esperava e sabia que nos últimos meses do ano haveria uma sessão com neve e presentes para seus personagens.

Neste artigo vou passar ideias de acordo com algumas festividades mais comuns tanto no Brasil quanto na gringa. Mas nada impede você de incorporar festividades do local onde você vive, a exemplo de importantes eventos regionais como Festival de Parintins no norte do Brasil.

Fevereiro – Carnaval

A grande festa pela qual o nosso país é reconhecido no mundo todo, o Carnaval, ainda que tenha elementos em comum nacionalmente, possui aspectos específicos em cada região/estado. Aqui vou me ater ao que conheço, o carnaval carioca.

Para facilitar a adaptação para RPG de mesa usaremos somente os aspectos principais das festividades. No Carnaval há o feriado em si, no qual muitos trabalhadores e estudantes ganham dias livres, a cidade se organiza em torno de desfiles carnavalescos, fantasias e passeatas festivas, os blocos, são acompanhados por música, boemia e clima de alegria.

Para o seu RPG pode ser que o Carnaval tenha tomado um tom diferenciado. Um Carnaval com horror: um serial killer atravessa o caminho dos seus personagens jogadores, os membros das atrações artísticas são monstros/alienígenas/vampiros/lobisomens disfarçados. O Carnaval tem algum intento secreto? Talvez o objetivo de reunir inocentes para um ritual maligno, ou recrutamento disfarçado para uma guerra que está indo mal para a nação.

Junho/Julho – Festa Junina

As festividades católicas em homenagem a São João e Santo Antônio tem importante lugar na cultura brasileira. Incluí-las, mesmo que adaptando elementos para encaixar apropriadamente no cenário do RPG, pode ser uma ótima oportunidade para engajar os jogadores.

A Festa Junina é conhecida nacionalmente pelas comidas e danças típicas, decoração colorida e caracterização da vida na zona rural. Comidas típicas podem ser servidas aos personagens jogadores (por que não alimentos mágicos em cenários de fantasia?), tanto ricos quanto pobres se vestirem caracterizados como bucólicos e inocentes camponeses (exploradores espaciais? Pagãos pastores de ovelhas? Inquisidores de bruxas?) do passado, danças rurais que desenrolam eventos sociais.

Outubro – Halloween

O típico feriado estadunidense, conhecido pelos brasileiros por causa dos filmes, séries e jogos. O Dia das Bruxas, inspirado em comemorações pré-cristãs europeias, ganha forte apelo comercial com as revoluções industriais. As tradições mais típicas continuam na forma de distribuição de doces para não receber travessuras das crianças fantasiadas de personagens de terror. Os “doces” podem ser qualquer tipo de objeto, como uma prenda. Enquanto as “travessuras” podem ser peças incômodas inofensivas ou armadilhas com violência e terror.

Esse feriado é facilmente adaptável aos mais diversos cenários. Qualquer ambiente urbano com sociedade organizada pode ser sua versão própria do Dia das Bruxas, da fantasia medieval a ópera espacial.
Filmes são excelentes fontes de inspiração para histórias de RPG com esse feriado. Dos clássicos das décadas de 1970 e 1980 com os monstros clássicos de Hollywood (lobisomens, múmias, bruxas e vampiros) a obras mais recentes de streamings.

Dezembro – Natal

Meu feriado preferido. A data pode ser utilizada como feriado religioso ou laico, sofrendo transformações semelhantes ao Dia das Bruxas, é um prato cheio com duendes, um “bom velhinho” que distribui presentes para crianças que se comportaram bem durante o ano e o krampus, sua contraparte, a qual pune crianças mal criadas. Papai Noel, krampus e duendes podem ser tanto aliados inusitados quanto oponentes improváveis. Uma fábrica de brinquedos amaldiçoada a ser explorada, uma tundra polar sinistra com uma velha mansão, uma caverna de abrigo para um monstro invernal.

O Natal é um tempo de compaixão, perdão e união familiar. Talvez uma oportunidade para personagens jogadores descansarem da ação frenética dos combates de pistola laser ou espadas. Interação social com entes queridos e amigos encontram lugar no Natal (ou a versão dele em seu cenário), com troca de presentes (que jogador não gosta de uma arma nova para seu personagem?) e reaproximação emocional com NPC’s importantes para a história.

Por Fim

Vou descrever uma experiência bem-sucedida do uso de feriados nas minhas sessões de RPG. Peço perdão por incluir um exemplo em D&D, mas é o exemplo que tenho: já mestrei uma aventura na qual o inverno havia chegado em Faêrun e o grupo de aventureiros viajava numa das estradas da Costa da Espada.
Uma tempestade de neve impediu o avanço do grupo, forçando-os a montar acampamento. No meio da noite se aproxima um duende (daqueles de aparência típica do Natal) e pede ajuda, dizendo que seu lar foi sequestrado pelo rival de seu chefe, o sr. Nicolau. Prometendo recompensas o duende guia o grupo pelas montanhas próximas até uma fábrica escondida, na qual os duendes foram ameaçados por krampus a fabricar bonecos autônomos malignos. Com estratégia o grupo elimina alguns bonecos, luta e expulsa krampus da fábrica e libertam sr. Nicolau. Gratos, sr. Nicolau e os duendes presenteiam os personagens jogadores com itens mágicos.


Por último, mas não menos importante, se você gosta do que apresentamos no MRPG, não se esqueça de apoiar pelo PicPay, PIX ou também no Catarse. E com isso, torne-se um Patrono do Movimento RPG e tenha benefícios exclusivos! Ou então, apoie nossa revista digital, a Aetherica através deste link!

Roubo em Vera Luiza – Uma Aventura Junina

Quem não ama uma Festa Junina não é mesmo? Pipoca, Quentão, Pinhão, Quadrilha, Pamonha, Pescaria, Brincadeiras, Casamento de Jeca, Trajes Remendados e muita Alegria. Mas pare um pouco para pensar…. E se toda essas brincadeiras, casamento, trajes, tudo que é levado pela interpretação pitoresca da festividade fosse real? Real mesmo, como se a cobra que passasse pela quadrilha tivesse só esperando p abocanhar um desavisado; como se a senhorita Rosinha realmente fosse se casar numa festa com comidas de quermesse feita pela comunidade de uma pequena vila de pessoas humildes que andam com roupas remendadas e monocelhas. A ideia que trago hoje é exatamente essa! uma trama desenvolvida na festa de uma pequena vila do interior que bom, podemos batiza-la de Vera Luiza quem sabe?

A ideia é simples, uma OneShot sem sistema definido, contudo eu gosto muito de usar para essa o sistema que cito muito por aqui chamado Laser e Sentimentos. Mecanicamente será um desafio para descobrirem que realizou o roubo e se vão entregar ou não a pessao ou “Coroné”. Este ladrão será sorteado aleatoriamente e só ele e o mestre saberão quem é.

Ó o Túnel

O grupo está a se divertir na festa junina da vila, então se passa em junho né. O Coroné Rubens chega com cinco capangas enquanto as pessoas estão finalizando a montagem de suas barracas, toma o palco e começa a discursar.

“Eu sô o sujeito mais poderozu dessas bandas, disso vós suncê já tão calejadu de sabe! Don Isaque disse que pra casa com sua sobrinha, Rosa, tinha que encontrar um crusifixo que foi de sua falecida mãe e trazer logo aqui para o casamento. Pois bem, encontrei e dei pra meu filho Afonso para que ele pudesse casa cum ela. No caminho pra cá, próximo ao açude de seu Timótio um energúmeno derrubou meu fio por trás e roubou o tal do crucifixo. A cada trinta minutos eu vou voltá aqui, se não entregari o jaguara que roubou de meu fio a chance de sê feliz eu vou tomar um favor de cada uma até aparecer. Se depois de 2 horas e meia não aparecê eu vou é manda passare fogo em todos us homi que tivé aqui e daí ninguém vai pude casa com dona Rosa. Esteji avisadus!”

Anavan Tur

A cada meia hora um dos capangas ficava para ver o que ia ficando, por último vinha o Coroné. O desafio é resolver o problema ou dar cabo dos capangas e do Rubens antes do fim do tempo. Como os capagangas ficam por ali, eles serão mecanicamente os olhos do Coroné e do Mestre. Eles vão saber o que fizeram, mas não os resultados que conseguiram ou as conclusões em que chegaram. É uma festa junina, então todos os elementos, estão presentes. Barracas, comidas, quadrilha e o próprio casamento. O Favor que Rubens irá  cobrar é que todos já fizeram um acordo por um favor com ele. Aleatoriamente ele cobrará o favor de cada um dos personagens dos jogadores que está descrito nas fichas que estarão em anexo.

Olha a Cobra

Como estão a abrir as barracas e a única informação do roubo é que foi próximo ao açude do seu Timótio é justo ir verificar com ele primeiro. Ele cuida da pescaria, levando um tanque com os lambaris de seu açude. Um dos lambaris que os personagens podem pescar possui preso em sua boca pois não conseguiu engolir por completo um pingente. Esse pingente é uma imagem de nossa senhora que atrás tem gravada o nome Juvenal Antah. Bom, aí já se passou a meia hora e o Coroné veio dar uma bizoiada.

Juvenal é o filho caçula de seu Edvaldo, ele está com sus dois filhos mais novos cuidando do tiro ao alvo. Cuidado! As espingardas são de chumbinho, logo podem ricochetear em alguém. Se querem que ele diga algo, convençam ele de alguma forma. Dizem que ele não recusa desafio, principalmente nos tiros. Vençam ele e descubram que ele estava no roubo. Dizer quem é ele não diz, apenas indica que a nova paquera do Jonas sabe quem pode ser. Seria muito risco dizer quem é. Juntamente com essa descoberta chega o Coroné Rubens e deixa mais um capanga.

É Mentira

Jonas está a cuidar da barraca com aquele tradicional pilha de latas a serem derrubadas com bolas de meias. Se estão coladas ou não depende da honestidade de Jonas e do Mestre hehe. Ele pode ser convencido pelo dinheiro, apostas ou ser levado na conversa. Por outro lado, isso ficará bem a cargo do narrador. Logo depois de convencerem ele a muito custo, já que o pai da dama não sabe, Jonas diz que sua paquera é a senhorita Ferônia, filha de dona Leidi.

A barraca da família de Leidi é a do jogo das argolas e venda de bolos de milho e cenoura. Afinal não podemos ter uma festa junina sem bolo de milho. De começo vocês já percebem que a barraca é meia lotada de rapazes, devido a exuberante beleza da filha única e da mãe viúva. Logo, serão mais de um desafios: Ser atendido com calma para conversar e convence-la a dar a informação desejada. É bem fácil convencer que ela conte. Senhorita Ferônia viu todo o roubo e não contou porque achou que era brincadeira e deixou pra lá. Ela banaliza e conta sem culpa ou remorso algum quem roubou o crucifixo.

Agora que já temos o culpado, cabe a decisão de deseixo aos jogadores. A raiva e indignação gerada pelos favores cobrados podem agravar a situação para todos os lados. Passaram por quase todos os artifícios da festa junina, ainda falta o casamento e aquadrilha para comemorar!

Sair da versão mobile