Pesadelos Terríveis – Momento Indie

Olá querido leitor, esse é o Momento Indie, aquele tempinho que a gente conversa sobre grandes RPG’s em pequenos frasquinhos. Em resumo vamos aqui tentar descobrir ou revisitar muitos cenários e sistemas que são feitos por pequenos autores e editoras ou então que não estejam atualmente no mainstream dos principais jogadores.

Para estrear esse quadro, escolhi um RPG que a tempos me cativava a curiosidade da leitura por eu conhecer a HQ de onde o cenário foi desenvolvido. Estamos falando da HQ Beladona e do RPG de Jorge Valpaços, Pesadelos Terríveis.

 

Sobre Pesadelos Terríveis

Esse livro incrível tem a medida de 21x28cm, 144 páginas aterrorizantes, com a diagramação de Vitor Coelho e edição de Artur Vecchi, lançado pela editora AVEC.

Como eu disse antes esse livro vem para expandir o universo sombrio e melancólico de Beladona, flertando diretamente com o terror, a loucura e muito mistério.

Pesadelos Terríveis é jogo de fácil aprendizagem e destinado a muito role play, situações angustiantes e amedrontadoras tanto no mundo real quanto no mundo dos pesadelos aguardam os protagonistas dessa aventura que aqui são denominados sonhadores.

 

O Sistema

Os sonhadores deverão durante as sessões de jogo entender, enfrentar e sobrepujar seus medos mais superficiais, e mais enraizados através de poderes, que eles podem adquirir no mundo dos pesadelos. Estes geralmente vinculados a algum trauma que seu personagem possui, ou seja: “Sem traumas, sem poderes jovem gafanhoto”. Assim os poderes são forças extraordinárias que o sonhador consegue extrair de seus medos para conseguir superá-los.

Saber quando se está no mundo real e no mundo dos pesadelos é outro desafio da proposta do jogo.

O antagonismo desse universo fica inicialmente a encargo dos Pesadelos, criaturas que se alimentam dos medos humanos e isso aumenta e carrega seus próprios poderes. Mas eu digo inicialmente por que é muito superficial dizer que os pesadelos são vilões e os sonhadores mocinhos. Portanto estamos falando de uma proposta de jogo adulta, onde os medos e traumas geram as mecânicas principais do jogo. É claro que a faceta humana não se reduz a luz e sombra, bom e mal, sonho e pesadelo. Por consequência existem sonhadores que se entregam a corrupção, humanos não despertos que alimentam inconscientemente os pesadelos, e acordos entre sonhadores e pesadelos para solucionar outras problemáticas. Então fica a encargo do narrador o quanto ele vai querer se aprofundar nessa psique do jogo.

 

Em Resumo

O livro possui uma construção literária muito boa e facilita a leitura de um conteúdo bem vasto pelas 144 páginas. Sobretudo os textos contam com advertências e dicas de como lidar com gatilhos e temas sensíveis, sempre ressaltando que o jogo é uma proposta de terror adulto. Possui muitas dicas para narrador na forma como abordar, tratar e conduzir os medos para gerar uma mesa aterrorizante e inesquecível para seus jogadores. Contudo estas serão dicas úteis e somatórias para todos outros sistemas e cenários de terror que você possa vir a narrar.

Com belíssimas ilustrações de Denis Mello, mesmo ilustrador da própria HQ Beladona. Em conclusão, Pesadelos Terríveis é uma compra indicadíssima para você que gosta de colecionar RPG’s e que gosta de uma mesa de terror.

 

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Obrigado por enquanto, e tenha bons sonhos. Se possível.

 

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Desvendando os Vilões

E ai galera tudo bem?

Antes de tudo eu preciso me desculpar com vocês meus caros amigos e leitores… Eu fiquei afastado durante muito tempo devido a essa maldita pandemia… O importante é que eu estou bem, e pronto para retornar.

Eu também admito que estive sem assunto pra falar, mas após pensar muito bem, eu decidi falar sobre uma coisa que eu gosto muito. Vilões!

Vocês já tiveram vilões marcantes? Aqueles que no fim das contas, você não sabia se ficava ao lado dele, ou dos seus companheiros, eu pessoalmente adoro vilões, e nas aventuras que eu estou mestrando, existem dezenas deles.

Alguns vilões não precisam de absolutamente nada pra causar pânico nos jogadores, só a presença dele.

Ah, os vilões…

Alguns inspiram calafrios nos jogadores quando são mencionados. Mas você alguma vez já se perguntou o que faz um vilão ser interessante? Seria sua maldade? Seus objetivos macabros de dominação mundial? Ou sua crueldade sem limites? Pois é meus caros leitores, infelizmente, um vilão é muito mais que maldades. O que faz um bom vilão na verdade é a complexidade, a profundidade que eles possuem, então, vamos nas próximas postagens desvendar o segredo de um bom vilão, e mais uma vez fazer uma coisa que eu amo, criar personagens.

 

1° Passo – O A maioria dos Vilões não nascem maus.

Sim gente, amem ou odeiem, a maioria dos grandes vilões não nascem com a essência maligna, os fatores que levam os vilões a se tornarem figuras detestáveis não é posta na sua concepção. Quer um exemplo? O Vilão da Moda, Coringa! Arthur Fleck do filme Joker é sem dúvida uma Obra-Prima do cinema, mas o que o faz ser um personagem o Coringa ser um personagem tão incrível é justamente a profundidade e a imersão que o roteiro proporciona ao expectador.

O mundo em que Arthur Fleck vivia, era distópico, sem alma, onde todos estão loucos fingindo estarem sãos.

Então na hora de criar um vilão, abuse das mazelas e das tragédias, é como na Gastronomia onde diz “Sal a Gosto”, isso significa que você deve usar o sal pra temperar, e NÃO torna-la incomível.

Fillenor nasceu em uma província élfica afastada da autoridade da coroa. No passado, as relações entre os reinos humanos e élficos, era no mínimo conturbada. O antigo e ancestral reino élfico havia sucumbido por guerras, conflitos, e má administração. Não demorou para que o reino vizinho liderado por um rei extremamente ambicioso, virasse seus olhos gananciosos para a região que ficava ao (Nome do Local, Aqui usaremos) Oeste no delta do rio Lírio, próximo a floresta dos Três Sonhos.

Com a derrota na Guerra, várias regiões do antigo reino élfico foi anexada aos territórios dos seus inimigos, a população nativa élfica, antes nobre e orgulhosa, agora rebaixados a servos, plebeus, e na grande maioria das vezes escravos.

Apesar da vida de servo ser considerada melhor que a vida de escravo, era fácil ver nos anciãos élficos um forte sentimento de revolta pela escravização, para o pai de Fillenor aquela situação era aceitável, já que ele era responsável pelos serviços administrativos dos domínios de um Conde, gerindo a mansão da família, enquanto a mãe era uma dama de companhia, responsável pelo cuidado das crianças, vestimentas e intimidade de sua senhora, nesse momento, a longevidade élfica era uma benção, pois toda a família servia seus senhores a mais de duas gerações.

A vida dentro da mansão não era ruim, às vezes Fillenor tentava entender a revolta dos anciãos contra os humanos, o que para ele não fazia nenhum sentido, o jovem elfo se via como um humano, falava a língua humana, comia a comida humana, adorava os deuses humanos, adotou a cultura dos humanos. Ele se via mais como um humano do que como elfo. E apesar de toda a dificuldade de lidar com o preconceito de seus semelhantes, e dos seus senhores, isso tornou Fillenor um homem de poucas palavras.

Ainda quando garoto, o elfo trabalhava nos estábulos ajudando com os animais, depois, começou a trabalhar nas fazendas de porcos, cuidando, abatendo, limpando, e preparando a carne para seus senhores, o cheiro do sangue para ele era algo natural, e os gritos dos animais era tão rotineiro quanto beber água do poço.

 

2° Passo – Tragédias, Desgraças e Infortúnios.

Seu vilão precisa experimentar as mazelas para engatilhar nele o objetivo desejado, nosso vilão Fillenor passará por situações onde ele fará as escolhas que o levarão a vilania, essas situações podem ser as mais variadas possíveis, experimente os Plot Twists que deixam os jogadores atordoados com as informações, eu admito que amo ver as reações deles nessas situações embaraçosas.

Certa vez, Fillenor precisou ir até o ferreiro local para fazer a manutenção de suas facas e cutelos, quando o um nobre de uma outra região, acabou agredindo o pobre ancião élfico que trabalhava na forja por causa de uma falha em uma encomenda. O homem esbofeteou o rosto do frágil ancião com uma luva com cravos, fazendo com que escorresse sangue pelas suas têmporas e sobrancelhas.

Quando o estrangeiro se afastou, partindo com sua comitiva, o ancião proferiu algum resmungo em seu idioma nativo, provavelmente um xingamento ou maldição sobre o homem que o agredira. Curioso, Fillenor perguntou.

– Por que o homem o Agrediu?

– Eu acabei por confundir o pedido do homem, ele me pediu uma espada larga, e eu acabei por fazer uma bastarda, que sequer ficou pronta. Irritado ele me bateu como punição, e ainda não pagou pelo serviço, mas também, não lhe entreguei a arma.

– Pelos divinos, espero que tenha misericórdia de uma alma cruel.

– Divinos? Abandonou os velhos costumes Fillenor?

– Não posso abandonar costumes que eu nunca tive, velho.

– Nossos antepassados cultuavam os Ancestrais, não essa abominação.

– Eu não falo nem a língua do nosso povo, o que te faz pensar que eu adotaria sua fé?

– E o que te faz pensar que poderia adotar a fé deles em vez da nossa?

O jovem elfo congelou por um momento, a indagação do ancião havia entrado em suas orelhas élficas como um punhal. Os pensamentos sobre abandonar tudo que lhe era natural, e adotar uma nova cultura fazia sentido em sua cabeça. Porém seus pensamentos foram interrompidos pela voz do ancião élfico que o chamava para entregar seus equipamentos recém afiados, e amolados.

– Fillenor, não se esqueça de me trazer uns pés de porco para o jantar de hoje.

– Não se preocupe velho! Eu os trarei ainda frescos!

Naquele mesmo dia, no fim da tarde um acidente no abatedouro fez com que vários dos animais que seriam servidos no jantar escapassem do cativeiro obrigando o jovem elfo a procura-los na floresta até faltar poucas horas para o jantar. Mal sabia ele que esse pequeno infortúnio salvou sua vida.

Ao retornar com os animais, a mansão estava em chamas, vários de seus irmãos mortos a golpes de espada, outros enforcados, outros empalados e queimando em espetos servindo como lanternas de carne élfica.

Os homens que chegaram mais cedo na lembrança que tinha, junto com o ancião eram na verdade membros do Círculo da Serpente de Obsidiana, uma ordem militar-religiosa de fanáticos que tinha como objetivo expurgar todas as raças não-humanas.

 

3° Passo – Conflito

O conflito não necessariamente precisa ser um combate, pode ser também um dilema moral, algo que vai totalmente de encontro contra os princípios do personagem, antagonizando com as características mais nobres do seu personagem. O dilema moral é útil em vilões mais manipuladores, que trabalham sempre nas sombras. Enquanto o conflito físico pode ser útil em vilões que apreciam crueldade, violência e carnificina, no caso de Fillenor, usaremos ambos.

A entrada para o domínio de seus antigos senhores passava pela oficina do velho elfo que estava com Fillenor mais cedo, lá ele encontrou o velho segurando a espada bastarda que ele mesmo havia terminado de confeccionar, porém sem os detalhes mais finos. A espada havia sido cravada no peito de seu artesão, e o golpe havia sido tão violenta que a espada ficara atravessada nele e presa a uma coluna de madeira que logo seria consumida pelo fogo. Apesar de o ferimento ser de morte, o velho ainda estava vivo, e ao chegar perto do ancião, ele lhe disse:

– Pegue essa chave, esconda-a, e quando tiver oportunidade, vá até a Clareira dos Pêssegos, lá existe uma ruína, pegue todo o tesouro que existe lá, e liberte nosso povo desse extermínio. Eu nomeio você o novo Espírito Carmesim. Tome essa espada, e use-a como flagelo de nossos inimigos.

Gente só pra explicar e contextualizar, eu estou IMPROVISANDO, criando tudo isso agora. Os nomes títulos, tudo isso (Claro que eu peço ajuda ao Google, pra me ajudar nos nomes, mas pode procurar aí que esses nomes são totalmente originais).

Ao pegar a espada e deixar o corpo do ancião ser consumido pelas chamas, alguns fanáticos atacaram de maneira imprudente o jovem elfo que não teve dificuldade em elimina-los. Fugindo dali ele viu seus senhores escaparem por uma passagem secreta, no caso apenas a senhora, com suas duas crianças.

Ao se aproximar, Fillenor se ofereceu para guia-los pela floresta para a segurança, porém a mulher ainda aturdida pelo ataque surpresa não conseguia reagir ao ocorrido. Naquele momento uma das crianças apresentava alguns ferimentos graves e outra parecia estar sofrendo com uma espécie de envenenamento devido a um ferimento por dardo ou flecha. Ali na floresta enquanto o elfo tratava a criança com ferimentos mais graves, a mãe acordara de seu estado de choque, e viu apenas a silhueta meio trêmula e distorcida de Fillenor, a qual ela pensava que fazia mal a sua cria. No instinto a mulher puxou uma adaga de seu vestido e cravou fundo no ombro do elfo que fazia um curativo.

O elfo gritou de dor, com o golpe assustando a criança, e mulher então puxou a adaga pra desferir outro golpe, que foi evitado com Fillenor rolando para o lado oposto afim de evitar um segundo golpe. Sacando a espada na intenção de se defender, o elfo tentou gritar para trazer a mãe de volta de seu delírio. A mulher desesperada agiu apenas no instinto avançando sobre o elfo mais uma vez, porém, dessa vez a espada bastarda havia penetrado seu abdômen até a guarda da espada, enquanto o elfo apenas observava a mulher perder as forças e morrer lentamente.

A criança que estava sendo tratada morreu logo em seguida provavelmente pela perda de sangue, enquanto a segunda, gemia de dor, se contorcendo. A criança já sangrava pelos olhos, ouvidos e boca. Fillenor então, sabia exatamente que veneno era aquele, cicuta. Esperando o inevitável, o elfo retirou a espada do corpo de sua senhora, e recolheu sua adaga, mesmo ferido, ele caminhou até a criança envenenada, e com lágrimas nos olhos, tudo que ele conseguiu dizer foi:

-Me perdoe criança.

E encravou a adaga no coração da criança com toda sua força, dando o golpe final para encerrar o sofrimento, devido ao Intenso Sangramento, Fillenor começou a perder a consciência. Ele então correu caminhou com muita dificuldade carregando sua espada e sua chave, levando até um local onde seus pais escondiam algumas centenas de quilos de suprimentos, como barris de óleo e vinho.

Lá, ele colocou a espada e a chave dentro de um barril, e os completou com óleo. Selando sua entrada com uma enorme pedra. Caminhando mais um pouco até a margem do rio, onde desmaiou e perdeu a consciência.

 

O post acabou ficando meio longo né?
Mas na Semana que vem a gente continua desvendando os Vilões, enquanto isso se precisar de ajuda para criar uma história legal, dê uma olhada no post que falo sobre Criação de Histórias.

Tendências não são escolhas

Vejo muitas discussões sobre tendências em D&D, principalmente sobre como elas seriam difíceis de se interpretar ou entender. Eu imagino que a origem dessa confusão venha do modo como as pessoas encaram tendências, dentro do jogo em D&D, da mesma maneira como encaramos a conduta das pessoas no mundo real.

Em nosso mundo, as pessoas não nascem ‘más’, ‘caóticas’, ‘ordeiras’, ‘neutras’ – a não ser, talvez, em casos extremos de problemas genético-psicológicos. Tais maneiras de se comportar advém da forma como a pessoa é criada, do meio em que ela vive, das tristezas e alegrias que ela experimenta ao longo da vida. Portanto, em nosso mundo, a índole de alguém é normalmente fruto de sua criação e de suas escolhas na vida.

Tendências estariam ligadas às cores da alma, às energias do corpo

Tendências em D&D e Suas Origens

Contudo, seria esta a mesma realidade em D&D? Talvez para melhor compreendermos, devêssemos abstrair um pouco e nos lembrar das origens de D&D, bastante inspirada pela literatura fantástica clássica onde existem forças categóricas de ‘Bem’ e ‘Mal’, ‘Justiça’ e ‘Caos’. A própria obra de Tolkien, O Senhor dos Anéis, foi grande base para D&D e ela é pautada no combate contra as forças do Mal, encabeçadas por Sauron. É uma visão bastante maniqueísta, onde quem é ‘mau’ é assim por sua própria natureza, é mau na própria alma.

E vemos coisa semelhante também D&D, tanto que existem planos onde as Tendências são mais fortes. Existem planos da ‘Ordem’, do ‘Caos’, do ‘Bem’ e do ‘Mal’, lugares em que estas ‘ideias’ se manifestam de forma concreta, tangível. Portanto, podemos concluir que, em D&D, as tendências são Energias Cósmicas, componentes da própria matéria do multiverso.

E tanto é assim que mesmo objetos inanimados, que não teriam como ter crenças ou comportamento, podem ter ‘tendências’. Por exemplo, existem muitos itens mágicos malignos que surgem após serem usados para matar e torturar muitas vítimas. Um lugar que testemunha diversas mortes, como o cadafalso de uma forca, fica com uma aura ‘maligna’. Isso apenas reforça, na minha opinião, a ideia de que em D&D – pelo menos no D&D antigo – as tendências são elementos que compõe o universo e, da mesma forma, compõe as pessoas, o que as direciona para certos tipos de conduta.

Concluindo

As energias do mundo de D&D compõe a matéria do espírito do personagem

Acho que é por enxergar as tendências dessa forma, como energias, que nunca tive problemas com elas em D&D. Para mim, as tendências não são questão de escolha. Assim como, no mundo real, não escolhemos nascer bonitos ou feios, pobres ou ricos, sendo atraídos por X, Y ou Z; igualmente, em D&D, pelo menos no D&D antigo, as pessoas nascem com uma tendência. É por isso que a mudança de tendência é tão traumática, difícil ou, muitas vezes, impossível para um personagem. As tendências representam os tipos de energias cósmicas que estão em você – ordeiras, neutras, malignas, boas etc. Somente num caso extremo (grande sofrimento, extremo esforço ao longo de anos, intervenção divina ou mágica) alguém seria capaz de mudar de tendência – da mesma forma como, em nosso mundo, se uma pessoa tem medo de barata, ela não vai ‘deixar’ de ter medo sem um grande esforço, por mais idiota ou irracional que esse medo seja.

 

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O Bom, O Mal e o Bleeding – Off-Topic #5

Saudações rpgísticas à você que está aqui lendo esse textinho!

Qual tipo de personagem mais te marca? Quais nomes te vem de imediato na cabeça? Ao lembrar de alguma aventura passada, qual personagem assume a primeira posição na lista de lembranças? Um personagem comum, padrão, puro estereótipo, ou aquele personagem peculiar, único? Que tal falarmos hoje sobre esses personagens?

 

SOU O MELHOR (NO QUE EU FAÇO)…

Muitos personagens marcam sua presença graças a seu talento, poder, genialidade ou outro grande traço positivo. São aqueles personagens que serão sempre lembrados por serem “o melhor naquilo o que fazem”, ou por serem “um gênio, bilionário, playboy, filantropo (em uma armadura)”. Talvez sejam “a maior ladra do mundo”, “a maga mais poderosa do mundo”, o maior detetive do mundo”. O ponto em comum de todos esses personagens é o título de estarem no topo da categoria ou dos feitos, por assim dizer.
São personagens que marcam por feitos ou méritos verdadeiros ou não. Isso mesmo! Seus feitos ou méritos podem ser falsos, inventados, supervalorizados ou mesmo boatos.

Ter reconhecimento por ser acima do normal em algum fator pode ser benéfico ou trazer muitos problemas para os personagens, afinal, tal fama pode atrair caçadores, oportunistas, desafiantes ou pessoas necessitadas de ajuda. Uma boa história se vale muitas vezes de clichês básicos para movimentos simples, como um pedido de auxílio, um desafio para ocupar o título, uma oportunidade de alguém fazer um nome e vários outros ganchos, o que é muito facilitado pela fama do personagem. Nas mãos de narradores ou narradoras com mais malícia, tal fama pode ser usada como sendo uma grande desvantagem ou defeito do personagem, afinal, muitas vezes, “a fama precede a personagem”.

Outra característica marcante também pode ser a bondade enquanto comportamento e carisma. Não raras vezes aqueles personagens carismáticos, gentis e de bom coração também são marcados e reconhecidos por isso. Em mundos e histórias onde a violência é comum e a vida é muito desvalorizada (e sim, isso rende um textão depois), ser “gentil, benevolente, caridoso” são conceitos anormais. O cenário de Tormenta prova o quanto é difícil ser um clérigo da paz, por exemplo. Os cenários dos sistemas Storyteller e Storytelling também não ficam muito atrás: com seus mundos cheios de terror e horror pessoais, violência selvagem e moralidade dúbia, os personagens e feitos que muitas vezes mais se destacam são daqueles que conseguem ser os mais humanos possíveis.

 

MAS (O QUE FAÇO) NÃO É NADA AGRADÁVEL

Mas nem só de positividade temos a lista de personagens marcantes. Muitas vezes é a maldade, a incapacidade, o demérito e a má fama que marcam personagens. Não é incomum jogadores e jogadoras optarem por criar personagens de moralidade dúbia, tendências caóticas ou vilanescas, agirem de forma egoísta ou maliciosa… faz parte de se contar uma boa história e de se divertir (claro, usando sempre o bom senso enquanto off para não passar dos limites de quem mais estiver jogando, né gente?).

Personagens marcados por seus feitos malignos muitas vezes recebem mais crédito do que merecem por tais feitos, outras vezes a história é contada de forma enganosa para que o verdadeiro vilão fuja e coloque seus planos em prática. Muitas vezes um boato ganha mais pontos que do deveria e assim uma má fama se torna a alcunha. Nas mãos de narradores e narradoras que gostem de um draminha ou uma história mais heroica de redenção e vingança, essas marcas e traços podem levar a grande sagas e jornadas em busca de conhecimento pessoal, poder, superação, aprendizado e mudanças. Seriam aquelas histórias em que personagens mudam e se desenvolvem de acordo com a narrativa, o que pode ganhar uma carga emocional e afetiva bem mais interessante e divertida para quem estiver participando.

Claro, não apenas a maldade marca, como também ser “ruim” em algo, ou ter problemas pra fazer algo, é uma marca, e muitas vezes muito lembrada. Claro que em narrativas mais sérias, essa marca se daria um problema mais sério, de peso mais dramático e emocional, e que deve ser bem planejado e pensado para que não seja um gatilho a ninguém, e que não cause também nenhum desconforto ou mal-estar às pessoas presentes. Em uma trama ou narrativa mais leve, pode ser um ótimo alívio cômico! Um ótimo exemplo seria o personagem Presto, que simplesmente é um péssimo mago, mas que rende alguns ótimos momentos de alívio cômico.

 

O ENCONTRO DE DOIS MUNDOS

Claro que o positivo e o negativo, sozinhos, já podem render personagens marcantes ou momentos inesquecíveis, mas imagina a junção da dupla! Muitas histórias e narrativas já fazem a junção dos melhores com os piores, do talento com a falta de talento, da sombra com a luz, do certo com o errado.

Seja na cultura pop, seja nas mesas de jogos, histórias de personagens que marcaram por serem uma dupla oposta em todos os pontos são mais comuns que casos isolados. Sempre pensamos em “Batman e Superman”, “Sub-Zero e Scorpion”, “Anjo e Demônio” e por assim vai. Criar essa dualidade na narrativa é algo muito interessante de se fazer, e pode se mostrar também muito divertido. Gerar essa dualidade ou conflito pode fazer com que alguns pontos, problemas ou questões possam ser abordados e dialogados entre participantes da mesa.

De forma prática, é possível por exemplo utilizar dois personagens opostos em uma determinada questão, para que participantes dialoguem o peso de suas ações e decisões, para que sejam analisadas as consequências de vários atos e assim por diante. É importante que tanto o positivo quanto o negativo sejam levados sempre em consideração em todos os pontos e medidas, para que reflexões sejam geradas. Essa é uma ótima ferramenta para levantar um bleeding, por exemplo!

Fazer uso das marcas e famas, dos traços e peculiaridades, é uma forma não apenas de enriquecer a narrativa, quanto também de levantar debates e reflexões, gerar um bleeding e trazer à tona algum ponto ou questão que precise ser trabalhado entre participantes da mesa, claro que tudo com muito cuidado e planejamento!

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