Nos capítulos anteriores: Icabode, Drake e Caveira partiram para o México, atrás do caçador de vampiros, Maxiocán Allende. Ao chegarem no suposto vilarejo onde ele se escondia, os moradores revelaram ser lobisomens, e Maxiocán, seu líder.
Icabode, Drake e Caveira estavam cercados por lobisomens no meio do vilarejo. Maxiocán Allende estava diante deles, com suas roupas surradas e bigode frondoso. Icabode estendeu a mão rapidamente para arremessar Maxiocán com sua telecinésia, mas uma garra peluda agarrou seu pescoço e o girou até pressionar sua cabeça contra o chão. Caveira se transformou em um morcego, mas no instante seguinte, seu pequeno corpo estava dentro de uma boca quente e úmida. Drake Sobogo fez menção de atacar Maxiocán, mas várias mãos o seguraram, colocando-o de joelhos.
Icabode estava com a bochecha colada na terra vermelha, com um lobisomem em cima de seu corpo. Ele via
– Capitão? – Maxiocán perguntou, aturdido.
– Peppers? – Drake respondeu, igualmente espantado. – Vo-você morreu!
– Não se mata um feiticeiro tão fácil – Maxiocán respondeu, cauteloso. – Eu fui o único sobrevivente da explosão no cais. Quando eu saí dos escombros e vi que todos os Balas de Prata haviam morrido, decidi voltar para casa.
– Você desertou – Drake o acusou, ainda surpreso. – Eu pensei que você tinha morrido! Mas você fugiu!
– Eu decidi entrar para o seu pelotão porque achei que pudesse fazer a diferença – Maxiocán respondeu, culpado. – Por causa de todo o conhecimento que eu recebi da minha família… mas os Balas de Prata não duraram nem um ano. Todos morreram.
– Eu não morri – Drake o lembrou. – Nós enfrentamos demônios juntos! Nosso pelotão fez a diferença enquanto existiu.
– É, mas tirando nós dois, todos morreram – Maxiocán repetiu, amargo. – Nosso pelotão era feito de soldados que tinham experiência com criaturas místicas e malignas. Se todos nós morrêssemos na guerra, quem as caçaria depois? Se eu tivesse morrido naquela explosão, capitão, a linhagem da família Allende morreria comigo, assim como muitos segredos antigos que só eu conheço.
Drake olhou para baixo, sem acreditar em seus olhos e ouvidos. Suas presas pressionavam os lábios inferiores. Os lobisomens ainda o mantinha de joelhos. Maxiocán olhou para os dentes vampíricos do seu capitão.
– Diga-me, o que veio fazer em Vilallende? Matar o famoso caçador de vampiros? – ele fez um gesto sensacionalista em direção ao próprio peito.
– Não, Peppers – Drake ergueu os olhos para ele. – Vim pedir sua ajuda para eliminar um vampiro maligno.
– Mas você é um deles agora – Maxiocán disse, decepcionado. – E nós somos inimigos. Por que me pediria ajuda para matar um dos seus?
– Eu os estava caçando. Nós dois estávamos – ele olhou para Icabode a alguns passos de distância. – E para me punir, me transformaram em um deles. Apesar da sede de sangue e do ódio em meu coração, eu ainda sou o mesmo. E por isso você precisa nos ajudar.
– Solomon Saks! – Icabode gritou, imóvel. – Solomon Saks está aterrorizando Nova York. Ele está consumindo a alma de todos os vampiros da cidade, e se tornando uma criatura indestrutível!
Maxiocán olhou para os lobisomens, preocupado. Ele fez um gesto, e as criaturas soltaram os prisioneiros. Caveira saiu das presas do lobisomem, voltou à forma humana e ficou ao lado de Drake. Icabode se levantou e foi para o outro lado do militar.
– Deem um olhar suspeito e vocês estarão mortos – Maxiocán os alertou, cruzando os braços. Ele suspirou. – Não é a primeira vez que ouço falar sobre esse Solomon Saks. Aparentemente um vampiro conhecido como Sombra esteve no México, fazendo perguntas sobre mim. Gabriel Angelo me disse que um mafioso polonês contratou esse Sombra.
– Sim! – Icabode respondeu. – Eu conheci o Sombra. Ele pretendia revelar o seu esconderijo a Solomon, mas nós o matamos antes.
– E por que diabos esse maldito quer me encontrar? – Maxiocán perguntou, irritado.
– Ele quer mata-lo – Icabode revelou. – Você é o único que conhece a magia necessária para destruí-lo.
– Solomon se move com rapidez – Caveira informou. – E seu corpo é duro como pedra. Seu séquito é formado por bruxos e controladores de mentes. A única forma de os vampiros de Nova York o vencerem é unindo os clãs da cidade, mas seria mais fácil convencer o Papa aceitar o casamento gay do que isso acontecer.
– Solomon Saks está atacando os vampiros isoladamente – Drake acrescentou. – E os sobreviventes estão em guerra entre si. A única forma de vencermos o polonês é com a sua ajuda.
– Deixe que os vampiros se matem! – um lobisomem disse com sua voz de trovão e sotaque latino. – E se ele vir atrás de você, nós o matamos.
– Se vocês deixarem Solomon crescer – Icabode disse, dando um passo à frente -, daqui a pouco ele será tão forte que nem vocês conseguirão detê-lo!
Os lobisomens rosnaram e grunhiram, achando a hipótese impossível. Maxiocán pediu silêncio.
– Dificilmente esse polonês conseguiria me tocar – disse, convicto. – Mas quem sabe o que um louco tirano pode fazer? A sociedade vampírica pelo menos segue regras e impõem limites. Um megalomaníaco como esse Solomon poderia causar grandes estragos.
– Muitos vampiros estão apenas esperando um líder como ele para poderem exteriorizar suas bestas – Caveira disse. – Centenas de cainitas são revoltados por termos que nos esconder dos mortais. Para muitos, a humanidade não passa de um grande rebanho, e é humilhante termos que viver escondidos. Céus, esse Solomon Saks é o messias das trevas!
– Apenas nos diga como fazê-lo – Drake disse. – Você não precisa sair do seu esconderijo recôndito. Não precisa colocar sua vida em risco.
– Solomon Saks removeu seu coração do próprio corpo – Icabode disse -, e o escondeu em algum lugar. Você é o único que sabe o ritual para encontra-lo. Se encontrarmos o coração de Solomon, nós conseguimos mata-lo.
Maxiocán ergueu as sobrancelhas e então suspirou.
– Eu sei exatamente como encontra-lo. Mas vocês precisarão ter um pertence pessoal desse maldito – ele se aproximou de Drake, e olhou profundamente em seus olhos antes de falar. – Assim que destruir esse polonês, nossa trégua estará encerrada, e nós dois seremos inimigos. Se você voltar aqui, irei mata-lo sem pensar duas vezes.
– Eu fico triste que pense assim, Peppers – Drake respondeu, encarando o amigo. – Eu considerava cada Bala de Prata como um irmão.
– Eu também, capitão – Maxiocán lhe mostrou um sorriso terrivelmente triste.
Poucas horas antes do nascer do sol, na mansão da Nova Inglaterra, Fermín conversava com seus aliados. Lorena e Leo olhavam para o mais novo integrante da aliança, Savage, primogênito do clã dos Filhos de Pã. Ele era um velho de longos cabelos grisalhos e sujos, com roupas cobertas de folhas e um bastão maciço.
– Não entenda errado, Fermín – Savage alertou –, eu não estou me unindo a vocês porque eu concordo com algum lado. Os Filhos de Pã não se envolvem com guerras e nem escolhem lados.
– E por que você está aqui então? – Leo perguntou, irritado. Ele apertava seu novo bastão de baseball com força, prestes a quebra-lo.
– Porque eu quero que essa guerra acabe antes mesmo de começar – o velho respondeu, lançando um longo olhar a Leo. – E vocês são os mais fortes, então estou me unindo a vocês para acabarmos logo com isso, esperando que os ratos e o clã da Sombra desistam do conflito.
– O clã da Sombra é terrivelmente perigoso – Lorena disse. – Mas os ratos estão desfalcado. Um clã com poucos membros é fraco, e não deve ser levado a sério.
– O meu clã também está desfalcado! Só tem o Capitão Sangrento e eu – Leo a lembrou, ofendido.
– Exatamente – ela se limitou a dizer.
– Eles não tem nenhuma chance – Fermín declarou, seguro. – E fico feliz que você tenha decidido se unir a nós, primogênito Savage.
– Prometa tentar acabar com essa guerra de forma diplomática antes de partir para a sanguinolência, e terá meu total apoio – Savage disse, soturno.
– É o que todos nós queremos – Fermín garantiu.
– E tem o Leo – Lorena indicou o vampiro ao lado com a cabeça. – Mas ele é inofensivo.
– Continue me provocando, ruiva – Leo mostrou os dentes como um cachorro raivoso. – Não seja tão confiante de que os números superam a força.
– Não é com isso que estou contando – Lorena respondeu, bebericando o sangue do cristal. – Mas que a inteligência vença a burrice.
– O que disse? – Leo saltou da cadeira, fazendo-a voar pela sala. Ele arrumou sua jaqueta de couro e segurou o bastão com firmeza. – Então torça para que esse seu cérebro inteligente seja mais forte que o meu bastão.
Lorena virou a cabeça lentamente para ele e deu um sorriso brincalhão. Para Leo era como se a pele da vampira fosse feita de glitter. Seus cabelos ruivos tinham uma aura reluzente, e seus lábios vermelhos pareciam pintados de sangue. Os olhos eram duas pedras preciosas. As bochechas eram sarapintadas em tons de laranja sobre a pele pálida. A primogênita do clã da Rosa era a criatura mais majestosa do universo.
– Leo! Leo! – a voz de Fermín o chamava, distante.
Leo despertou do transe, percebendo que estava parado há vários segundos, hipnotizado pela beleza de Lorena. Ele olhou ao redor, constrangido, e buscou sua cadeira para sentar novamente. Fermín olhava para ele, desgostoso.
– Se vocês dois permitirem, gostaria de continuar.
– Mas é claro, meu príncipe – Lorena disse, sorrindo.
– Precisamos falar sobre Lancelot e o clã da Sabedoria – Fermín disse.
– Eu gosto de Lancelot – Savage comentou. – Ele é um homem cauteloso.
– Todos nós gostamos de Lancelot – Fermín disse. – E ele ainda não escolheu um lado.
– Caveira pertence ao clã da Sabedoria – Lorena os lembrou. – E ele está realizando uma missão para nós. Isso deve significar alguma coisa, não?
– Nós achávamos que os Filhos de Pã se uniriam ao Clã do Rato – Leo disse, olhando para Savage. – Em tempos de guerra, não podemos contar com nada.
– Leo está certo – Fermín disse. – Mas também não podemos deixar as coisas ao acaso. Precisamos convencer Lancelot a se unir a nós.
– Para acabarmos com essa guerra imediatamente – Savage enfatizou.
A porta da biblioteca se abriu e Coruja entrou mais uma vez, interrompendo a reunião.
– Majestade, telefone para você.
Fermín lançou um olhar preocupado a cada um dos primogênitos, e pediu licença antes de sair. Cinco minutos depois ele estava de volta. Seu rosto trazia uma expressão de satisfação.
– Era Caveira – ele disse, sentando-se à grande mesa. – Ele disse que encontraram Maxiocán, e sabem como destruir Solomon Saks à distância.
– Com o polonês fora do cenário, poderemos focar na guerra sem medo – Lorena disse, feliz. – Agora todas as cartas estão a nosso favor.
– O sol está prestes a nascer – Fermín olhou para o relógio de bolso. – Eu arranjarei aposentos para vocês. Durmam aqui esta noite. Amanhã conversaremos mais. E logo em seguida voltem para suas casas. Preciso que vocês espalhem a notícia. Quero ver todos os Vampiros de Nova York falando sobre o nosso trunfo sobre Solomon Saks.
– Por que você quer deixa-lo avisado? – Leo perguntou, curioso.
– Eu quero aquele maldito com medo. Quero que ele comece a cagar nas calças. Quero que ele recue, assustado. Que sua cabeça esteja ocupada. Talvez assim ele encerre os ataques aos nosso aliados. Precisamos ganhar tempo para poder guerrear em paz.
Lorena riu. Leo bebeu mais sangue. Savage assentiu com a cabeça, satisfeito.
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