Égide da Tempestade – Parte 8 – Contos de Thull Zandull

Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 7, Dargon descobriu que todo O poder do Exarca não vem apenas da Fé que ele prega mas da magia que ele luta contra. E o embate entre a tropa de Mira e os legionários se aproxima cada vez mais. Fique agora com Égide da Tempestade – Parte 8.

Égide da Tempestade – Parte 8 

Um sopro de esperança

O amanhecer daquele dia era um misto de prantos e ansiedade. Podiam todos observar no horizonte as forças com as quais o confronto ocorreria em breve. Orcs, Goblins, Humanos e criaturas oriundas de animais selvagens, possivelmente fortificadas e alteradas por magias, encantos antigos. Havia a temível bombarda montada sobre uma estrutura móvel e uma organização invejável.

Os batedores relatavam que as forças que se colocavam no campo eram menores do que as observadas, devido a organização elaborada para proteção das linhas de suprimento. Era nítido que o comando estava nas mãos firmes dos Orcs. Eles estavam acostumados a doutrina militar e combatentes ferozes. 

Provavelmente os Humanos, faziam parte dos incontáveis inimigos adquiridos pelo Império. Apesar das buscas por respostas, o que realmente importava a todos dentro do torrilhão, era a sobrevivência. 

Os olhares de legionários e aldeãos se encontravam na mesma angústia de saberem que uma vitória naquela batalha era impossível, mesmo para um Exarca, servidor divino do Diáfano.

Soren se esforçava em manter o ânimo das tropas e por isso convocou Dargon para uma conversa em seus aposentos. O minotauro ainda estava relutante, mas mantinha a disciplina mesmo discordando profundamente das estratégias e artimanhas que alegava terem sido usadas pelo líder da companhia.

Ao entrar, o centurião fez seu cumprimento formal e aguardou ordens.

-Dargon, preciso que envie um mensageiro até as forças que se colocaram contra nós neste campo. Desejo conversar com a líder deles e encontrar um acordo que possa ser a chave para salvação dos aldeões que estão conosco.

-Me perdoe, comandante, mas se sua intenção era salvar vidas, porque fez uma bravata ontem para aquele que trouxe uma possibilidade de acordo?

-Simples, ele precisava levar para sua líder a impressão que mantemos a unidade e coragem, mesmo diante das dificuldades impostas por falta de suprimentos, equipamentos e legionários. Uma cortina de fumaça e teatralidade para garantir que em uma segunda oportunidade tenhamos moeda de barganha. Lembre-se Dargon, levar o inimigo a repensar seu desejo pelo combate é igualmente importante para nós.

O centurião refletiu sobre as palavras e percebeu que havia sentido em tudo que havia sido dito. Lidavam com Orcs, guerreiros ferozes, mas que respeitavam as tradições antigas e acima de tudo a honra no campo de batalha. Seria provável que a comandante Mira trouxesse consigo alguns destes valores e como guerreiro experiente Soren tentava usar isso em favor de todos que ali estavam. 

Diante dos argumentos Dargon retirou-se e agilmente se pôs a executar a ordem 

Uma líder de honra

O mensageiro enviado por Dargon havia retornado e ficou acordado que na manhã do próximo dia deveriam se encontrar em um pequeno monte próximo. Deveriam comparecer apenas os líderes e um guardião a fim de evitar animosidades maiores do que as que já existiam.

Assim Soren solicitou a Dargon que o acompanhasse. O Exarca solicitou que o centurião limpasse sua armadura e mantivesse os equipamentos com aparência de melhor zelo possível. Havia nisso a mesma intenção de antes, manter a imagem de resiliência das tropas inalterada.

O Exarca caminhou pelo torrilhão todo paramentado para a guerra, de maneira que os ânimos foram aplacados até o momento em que ambos partiram para o ponto de encontro.

Ao chegarem perceberam que os Orcs já os aguardavam. Mira era uma fêmea de grande porte. Tinha cabelos curtos, porém bem cuidados para os padrões de seu povo. Tinha adornos cerimoniais amarrados em mechas curtinhas próximas a seu rosto. Vestia um peitoral de aço bem ajustado ao corpo, feito em bom material, mas sem detalhes, portava manoplas e grevas e proteções bem posicionadas, mas aquilo que mais causava espanto era um dos braços, feito inteiramente em algum metal enegrecido, dos quais era possível ver sulcos, por onde um brilho esverdeado era emitido. 

Seu guardião era um Orc brutamontes caolho, bem alto e musculoso que portava um machado grande de duas faces. Seu corpo era inteiramente protegido com uma armadura pesada de placas sobrepostas, uma versão aprimorada da loriga usada pelas legiões. Ao se apresentarem descobriu que o nome dele era Kagror.

Mira contemplava a visão do alto do monte quando chegaram. Foi a primeira a falar:

-Então você é portador de ira e relâmpagos. Aquele que desafiou e venceu minhas forças avançadas?

-Sim, servidor da Fé e dos dogmas do Diáfano. Exarca Soren Larsen, a quem chamam de Égide da Tempestade. Fico lisonjeada por conhecê-lo pessoalmente, mas você já sabia sua história assim que escolheu voltar a esta terra. Nunca imaginei que você voltaria para proteger a Autarquia. Pelo que soube seu título foi ganho décadas atrás, na batalha do Estreito da Tempestade, dentro do reino Taurino, quando sua resistência se demonstrou tão ferrenha que ganhou o respeito do próprio rei. Ser banido depois de ter construído um legado tão impressionante demonstra o respeito dado por seus superiores aqueles que dedicaram a vida a proteger sua Fé.

Dargon se espantou com aquela revelação, mas manteve-se sob controle.

-Eu agradeço Mira. Imaginei que espiões já estivessem em pontos estratégicos para lhe trazer informações sobre a chegada de reforços. Aliás, este é o centurião Dargon, meu guarda-costa. Venho aqui para conversarmos sobre os termos que desejo apresentar, afinal de contas eu ainda desejo ter meu momento na grande cidade de Basil e acredito que você também.

Mira o olhou com estranheza e Kagror não conteve seu riso.

-Me perdoe Soren, mas Basil caiu há uma semana atrás. Nossa posição apenas garantia que o cerco não seria quebrado por quaisquer forças que tentassem tal feito.

O Exarca não conseguiu esconder sua decepção e então disse:

-Eu ainda terei minha última batalha. Que seja neste campo, porém peço para que possamos conversar a sós enquanto contemplamos a bela visão deste monte. 

Dargon e Kagror se afastaram apenas observando os dois líderes conversando lado a lado. Mantiveram o silêncio e seriedade por todo período em que aquele importante diálogo ocorria. Eles ficaram lá por muito tempo, ao passo que Dargon viu seu líder entregando um livro e papéis a Mira, após um cumprimento respeitoso. Soren veio em sua direção.

-Terminamos aqui, precisamos retornar e preparar tudo para amanhã.

O acordo

Durante o retorno, Dargon precisava saber o que ocorrera naquela conversa.

-Soren, lutaremos amanhã?

-Sim, lutaremos, porém apenas nós dois. Consegui convencê-la a nos dar uma morte honrada no campo de batalha, mas solicitei clemência aos aldeões e últimos legionários que irão recuar para a cidade costeira. Creio que em breve a cidade vai capitular também, já que a notícia da queda de Basil ainda é recente. Entenda Dargon, não há outra opção para nós. Um Exarca e um centurião seriam julgados após tudo isso e depois de uma longa espera seríamos condenados a execução por crimes contra o Império, então para nós não faz sentido retornarmos.

Dargon ouvia atentamente as palavras. Estava irritado, mas não demonstrava nada, aprendeu ao longo dos anos a suplantar decepções e sentimentos. Se irritava, pois infelizmente Soren estava certo. Se recuassem, haveria questionamentos sobre a luta em nome da Fé e tudo acabaria com a prisão e julgamento. Eles não fugiriam das responsabilidades e não viveriam como párias. Talvez ele pudesse aguentar o peso de uma fuga, mas Soren, jamais faria isso. Ele mesmo repetia que seguia um código de honra e um juramento. Dessa maneira cabia a ele, exercer sua última função como guardião leal.

-Soren, acredito que alguns legionários desejarão ficar ao nosso lado. 

-Negativo, pode ficar tranquilo que irei me encarregar de assumir essa responsabilidade, ainda hoje todos terão partido e amanhã teremos nosso último dia nesta terra. Me entristeço que não tenha vivido o suficiente centurião. Eu já estou velho e tive minhas parcelas de vivências. Algumas dignas e outras nem tanto…

Dargon respirou fundo. Limpou sua mente de dúvidas e retomou a postura de centurião, aceitando seu destino.

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 8 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Douglas Quadros

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Édige da Tempestade – Parte 4 – Contos de Thull Zandull 

Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 3, após navegarem para chegar em Luxia, o grupo precisou recrutar homens para poder seguir viagem. E agora Égide da Tempestade – Parte 4

Égide da tempestade – Parte 4

Reforços a caminho

A marcha até a principal cidade do Norte, Basil, começara. As forças de Soren Larsen e Dargon reforçariam as defesas. As grandes muralhas que protegiam a pérola do Império naquele ponto distante do continente de Luxia. Mas antes precisariam chegar intactos para prestarem apoio adequado, e isto significava passar por duas vilas na jornada de dez dias até o local. 

As vilas de Zimosh e Madras ofereciam boa carne de ovelha. Além de lã e plantações de tubérculos que devido intervenções místicas tornaram-se naturalmente resistentes ao frio. Eram locais estratégicos para manutenção das forças e se não tivessem sido atacadas, era nítido para ambos líderes que as pessoas e recursos deveriam ser deslocados, pois o conflito chegaria aos aldeões em breve. 

Eram conjecturas otimistas, mas no fundo sabiam que provavelmente não encontrariam muito o que resgatar se as forças invasoras fossem minimamente organizadas e conhecessem um pouco da geografia imperial.

Durante quatro dias marcharam incansavelmente acompanhando a estrada régia pavimentada e larga o suficiente para que dois carroções andassem lado a lado. Havia construções comunais de pedra, onde há tempos atrás sempre guarnições eram mantidas para assegurar que viajantes não fossem molestados por ladrões. Porém devido falta de manutenção, o que sobrava destes locais já servia para organização de uma defesa razoável para  que os legionários pudessem repousar. 

Breves encontros com pequenas comunidades familiares de subsistência demonstravam que até o momento, aqueles locais não haviam encontrado os horrores da guerra, porém durante a noite do quarto dia, foi possível observar sinais de chamas em larga escala cortando o horizonte.

Os homens estavam cansados e inquietos e Dargon foi até seu superior:

-Exarca, venho solicitar que atenda meu pedido de continuidade da marcha. O inimigo se aproxima e os aldeões necessitam de nós.

Soren Larsen acabara de sentar-se e estava retirando suas botas, quando o Minotauro veio a seu encontro.

-Pedido negado centurião. Apesar de vermos os sinais no horizonte, a marcha demandaria muitos quilômetros durante a noite. Se já estamos em território hostil, seria a condição perfeita para emboscada. Além disso, se vemos as chamas dessa distância, devem ter espalhado destruição em grande parcela da vila, tentando causar desespero e também evitar que qualquer suprimento seja obtido. Seria o que eu faria para preparar um cerco. Minando gradativamente os recursos até a longa espera diante de uma grande cidade murada. Penso que talvez tenhamos problemas para entrar na cidade! Então se me permite, acho melhor mantermos a posição e estarmos preparados e descansados a partir de amanhã.

Experiência de campo

Dargon concordou com as ordens, mas não conseguiu esconder a surpresa diante da calma demonstrada pelo Exarca.

-Como consegue senhor? Entendo que a determinação e autocontrole são fundamentais, mas mesmo para mim, fica difícil conter a ansiedade de um combate que em breve cairá sobre nós. 

-Dargon, entenda que nestes longos anos em que vivi, já presenciei tantas cenas e situações trágicas que simplesmente tento manter o foco nos objetivos traçados e principalmente tomar cuidado com expectativas. Peça a seus homens que redobrem a vigilância, pois há grandes chances de termos visitas esta noite.

O centurião seguiu as ordens. Ele manteve fogueiras no perímetro e homens em posições de vantagem para observação atenta. Organizou barricadas para evitar carga de cavalaria ou qualquer força em investida com intuito similar e manteve arqueiros extras para apoiar os legionários equipados para combate corpo-a-corpo. 

Não demorou, para que esta atitude preventiva fosse recompensada, pois no início da madrugada, sinais de ataque foram dados. Os corneteiros despertavam as tropas com um soar estridente e constante, gritos de ordem alinhavam os homens para o combate. 

Dargon rapidamente levantou-se e diante da urgência não vestiu sua armadura. Apenas puxou seu escudo de corpo e armas para posicionar-se e assim liderar as tropas. Ao chegar ao campo deparou-se com Soren Larsen em pé diante da tropa, uma figura heróica e inspiradora, vestindo uma pesada armadura de placas com tons douradas e prateados. Os movimentos eram tão naturais que o centurião não acreditava que o Exarca ainda tivesse forças para aguentar tanto peso das placas. Era comum que cavaleiros usassem tal equipamento, justamente pela mobilidade, mas isto não ocorria a Soren. Ele estava ali, em pé no campo e movia-se naturalmente, em sua mão esquerda um opulento escudo de corpo com o brasão da Fé Diáfana, o Olho Coroado que tudo vê, em sua mão direita um pesado martelo de batalha com cravos aparentes. Em sua cabeça um elmo selado com viseira aberta, com detalhes que lembravam asas resplandecentes. 

Quando a figura levantou o martelo, uma aura luminosa o envolveu e todos ali sentiram-se revigorados, pois havia luz diante das trevas que ali repousava. A frente da legião argêntea surgia uma massa de aranhas gigantes, com corpos recobertos de camada cristalinas. Mas não eram só estes seres que traziam temor às tropas, mas sim, os Orcs que as montavam. As criaturas traziam em suas costas, três a quatro Orcs com arcos e azagaias, eram pelos menos vinte aracnídeos com uma força assustadora de seres vorazes chovendo flechas e setas sobre as tropas. 

O punho de Deus

Na primeira saraivada, Dargon usou o apito que sempre trazia consigo para sinalizar momentos antes à tropa que se pusesse em formação defensiva, som propagado rapidamente por todos os experientes legionários que aderiam a formação.

Infelizmente, os aldeões recrutados começaram a dispersar e o centurião pensou que se sobrevivessem aquela luta já seriam abençoados. Gritos de comando também eram ouvidos, mas diante de todos, Soren foi o único a baixar o visor e ficar ali parado a frente e levemente distante da tropa. Ele cravou seu escudo a frente e se ajoelhou com uma das pernas tocando o chão, manteve o martelo firme em sua mão enquanto todos ouviam sua oração.

Por um momento Dargon pensou que o Exarca estivesse louco, mesmo com tamanha proteção não seria possível resistir a tantos inimigos, mesmo assim ele prosseguia.

-Ó senhor do amanhecer. Rei dos reis no firmamento infinito, rogo a ti pelas forças primordiais. Traga-as a mim neste momento de desespero e aflição. Livre seus filhos do mal que avança e a tudo deseja consumir. MIRE SEUS OLHOS EM SEU FILHO, A ÉGIDE DA TEMPESTADE QUE RETORNOU A ESTA TERRA DE PECADORES. PURIFIQUE-OS SENHOR COM O PODER QUE OPERA EM MINHAS MÃOS!

Ao terminar sua oração, todos assustaram-se ao ver que eletricidade se espalhava pela armadura e todo corpo do Exarca. Uma concentração que mataria qualquer ser vivo. Soren levantou sua arma e um relâmpago cortou os céus. A figura heróica estendeu sua arma em direção aos inimigos e toda a torrente mortal se espalhou pelo campo de batalha, rajadas de eletricidade que atingiam pesadamente todos os inimigos que ousassem se aproximar. 

A descarga fora tão grande que a escuridão desapareceu diante de todos. Assim que o milagre cessou, metade das forças invasoras estavam no chão. Um cheiro de carne queimada espalhou-se pelo campo, ao mesmo tempo em que Dargon urrou.

-Para a vitória legião!

Um brado em uníssono irrompeu e todos avançaram inspirados pelo poderoso Exarca que finalmente demonstrava o poder encarnado!

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 4 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Douglas Quadros

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Égide da Tempestade – Parte 3 – Contos de Thull Zandull 

Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 2, o minotauro Dargon, foi chamado a realidade pelo experiente Soren Larsen. Porém Dargon se nega a reconhecer as falhas de seu dogma. Fique agora com Égide da Tempestade – Parte 3

Égide da tempestade – Parte 3

A partida de Dalmacia

Toda a guarnição do forte já havia embarcado quando avistaram no horizonte os estandartes das forças de Dalmacia se organizando para um possível cerco que deveria ocorrer, não fosse a fortuita visita Soren Larsen. Tudo que restava aos batedores, cavaleiros e soldados seria a investidura contra um forte fantasma, já abandonado de qualquer tipo de resistência.

Dargon olhava o forte ficar distante de sua posição na Nau de primeira linha nomeada Vanglória. Ele rapidamente percebeu que havia mais suprimentos a bordo do que de fato homens para utilizar todos os recursos disponíveis.

Seus pensamentos sobre o primeiro dia em que pisou em Dalmacia, o primeiro dia de luta e a provação contra inimigos tão destemidos, bem como a glória de vitórias obtidas naquela terra, ficavam para trás. Voltou lentamente a si e retomou os afazeres, mantendo soldados ocupados com atribuições variadas. Sempre havia algo a fazer, desde funções inerentes ao serviço de carpintaria; passando pela contagem, registo e verificação da carga e também funções de captura, manipulação, estiva e acondicionamento de pescado em contextos que fosse possível complementar o alimento a bordo.

Os grumetes a bordo sempre precisavam de mãos hábeis e conhecimentos extras para atribuir algum sabor diferente ao alimento, que nem sempre estava em boas condições. Fato era que a limpeza e manutenção exigiam esforço contínuo de todos, sempre havia pequenos reparos em andamento já que era visível o tempo de atividade da Vanglória.

Dargon gostava de navegar, não era especialmente hábil para desempenhar o papel de marinheiro, mas tivera ensinamentos que o deixavam em situação vantajosa nas atribuições marítimas, preferia obviamente a ação do campo de batalha e se empenhava nos ofícios de sua posição, alcançada a muito esforço. Já, Soren Larsen, apesar de receber o título de capitão, mantinha seu foco em outros assuntos, deixando toda organização para seus oficiais e o piloto da embarcação. Larsen sempre analisa mapas e organiza planos, mantinha suas atribuições como era de se esperar para alguém em sua posição. Em toda embarcação o ânimo não era dos melhores, haviam variadas conversas sobre a possibilidade de deserção e por isso Dargon mantinha seus ouvidos e olhos atentos para qualquer pequena aglomeração que surgisse. Com o passar dos dias os movimentos ganharam força ao passo que foi impossível manter a ordem sem castigos físicos. Dargon e Soren sabiam manter os soldados na linha e apesar das desconfianças havia homens que confiavam mais neles como indivíduos do que de fato a nação e ideal que protegiam.

A chegada a Luxia

Apesar das dificuldades, após quinze dias de viagem finalmente avistavam o continente de Luxia, morada do Império. Atracaram no porto de Guentia a Noroeste de Basil, vilarejo pequeno que demonstrou grande alvoroço e esperança com a chegada dos legionários. 

Assim que começaram a descarregar a carga, Dargon percebeu que havia carência de suprimentos entre a população. Soren Larsen imediatamente chamou-o para passar orientações sobre a situação em que estavam.

-Centurião, preciso que organize um alistamento nesse momento. Há homens jovens com idade suficiente ou nem tanto, carentes, mas que se bem alimentados e treinados podem ser úteis na longa campanha que teremos. Há armaduras, armas e recursos, porém poucos homens para usar tudo que temos. Se nesse local obtivermos mais trinta ou quarenta homens, principalmente para manutenção de acampamentos e serviços gerais, conseguiremos poupar soldados veteranos, mantendo nossas forças descansadas para série de lutas de travaremos. 

Dargon respondeu:

-Concordo, mas ao analisar com calma a condição dos homens que temos aqui, vejo muitos famintos que precisarão de dias até terem forças para executar as funções. Aproveito aqui para solicitar a distribuição de parcela de nossos recursos, há crianças, mulheres e idosos que necessitam que toda ajuda possível. 

O Exarca analisou o pedido e concordou com a distribuição de alimentos, com parcela extra para famílias que cedessem homens ao Império.

Esperanças renovadas

Após algumas horas, a ação surtiu efeito e obtiveram a ampliação das forças recrutando jovens de 12 a 16 anos, e idosos com mais de 50 anos, já que muitos adultos que deveriam ter a idade esperada para o serviço já terem partido para Basil, seja por vontade própria ou por obrigações ao Império. Independente da situação, eram muito jovens ou muito velhos, mesmo assim, Dargon não poderia simplesmente ignorar aquelas presenças. Necessitaria delas para variados fins…

A população da pequena Guentia agradeceu e abençoou todos assim que partiram, era nítido que havia no olhar das pessoas chamas de esperança com os legionários que retornavam ao continente. A atitude de preocupação com os humildes também era algo com qual não estavam acostumados.

Soren Larsen permitiu-se falar ao centurião.

-É por isso que fui afastado desta terra meu caro Dargon, eu explicitava a meus superiores que não há meios de construir estruturas sem que haja resistências na base que a sustenta. Como é possível termos sucesso com a população que tanto louvamos vaziamente? Como pudemos deixá-los nessas condições? Vê como eles nos veneram e acreditam em nós? Não somos imortais, não somos nada… Temos as mesmas necessidades e fragilidades deles e enquanto não aprendermos com os erros, será que teremos chances de vitória?

Dargon manteve-se calado, não havia o que dizer e nem desejava se esforçar em ampliar argumentos ou dizer algo inspirador. Pensava apenas que nos dias de marcha se esforçaria sem ensinar algo aqueles jovens. Haveria oportunidade de forjá-los, pois aquela campanha de resistência e expurgo de invasores seria longa. Havia muito território e poucos soldados, isso daria a eles dias para poderem transformar os jovens em uma força minimamente digna. 

O Exarca e o centurião sabiam que independente de seus pensamentos, aquela força que lideravam teria que ser o escudo que manteria o Império no Norte.

Continua…


Égide da Tempestade – Parte 3 – Contos de Thull Zandull

Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
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