Icabode St. John [10]

Nos capítulos anteriores: Após o infrutífero ataque à propriedade de Solomon Saks, Icabode foi separado de Sunday e Drake, sendo capturado pelo vampiro responsável por aquele setor do Brooklyn. O vampiro Anthony Ritzo o levou até o Conselho, onde estavam os cainitas governantes de Nova York. Icabode revelou que Solomon Saks pretendia criar um exército de vampiros, e em seguida, um dos membros do conselho, Ivanovitch, o levou para matarem o mafioso pessoalmente. Ocorre que ao chegarem lá, foram surpreendidos por Solomon, que já era um vampiro. Ele empalara a Ivanovitch e consumira sua alma, se tornando incrivelmente forte. Icabode foi resgatado por Leon, o prisioneiro de Saks, e ambos foram para o apartamento de Sunday, esperando que encontrassem o detetive desaparecido por lá, coisa que não aconteceu. 

 

Icabode abriu os olhos sem saber se era o dia seguinte. Ele não sonhara. Não se sentia descansado. Ligou o rádio ao lado da cama, e descobriu que se passara mais de doze horas desde que fechara os olhos. A sensação que tinha era de que apenas dera uma longa piscada. Como se seu corpo estivesse…. morto… esse tempo todo.

Seu estômago doía e, e suas mãos tremiam. A fome estava pior do que na noite passada. Ele precisava sair imediatamente para se alimentar, caso contrário, a besta tomaria conta. Olhou para baixo e viu que vestia apenas um par de calças rasgadas. Abriu o guarda roupa de Sunday, e escolheu uma jaqueta de couro, camiseta branca e calças jeans.

Enquanto se vestia, ouviu um barulho de porta vindo da sala. Ele aguçou o seu ouvido e descobriu que Leon conversava com uma mulher, não, eram duas.

Esse relógio é de ouro mesmo? – uma delas perguntou. – Se não for…

Eu não mentiria pra vocês, garotas – Leon prometeu. – E vocês sabem onde moro. Eu não daria um relógio falso a vocês. 

Icabode abriu a porta do quarto e viu o vampiro sentado no sofá, entre duas mulheres de roupas coloridas, com maquiagens fortes, plumas no pescoço e lantejoulas nos ombros. Leon vestia calças largas e uma bata branca.

– Olhe só, Matilda – uma delas disse, olhando para Icabode. – O amigo dele é realmente uma gracinha!

– Ele parece aquele ator que conhecemos na Broadway. Como era mesmo o nome?

– Dean Martin? Sim, a roupa pelo menos é igualzinha à da peça!

– Icabode, está com fome? – Leon perguntou. Em seu olhar, havia um alerta, como se pedisse para ele colaborar.

Icabode viu que Matilda tinha um relógio de ouro na mão. Provavelmente Leon havia encontrado nas coisas de Sunday. Aquilo era furto. Mas a fome não o deixava pensar muito sobre o caso. Ele precisava comer imediatamente, contando que não matassem as prostituas.

– Como vamos fazer isso? – Icabode perguntou, engolindo seco.

Antes que alguém respondesse, a porta de entrada tombou no carpete. Várias pessoas começaram a invadir a sala, todas encapuzadas, com espadas presas às cinturas. Depois, um homem magrelo, de chapéu coco, e pince-nez pendurado no nariz, adentrou o ambiente, olhando ao redor com nojo. Em seguida, uma dama com véu negro escondendo o rosto se pôs ao seu lado. Por último, uma criatura grotesca se enfiou no meio deles. Ela tinha dentes deformados, que atravessavam suas próprias bochechas.

Essa última, que Icabode conhecia como “Juíza”, olhou para as garotas no sofá e apontou seu dedo escamoso para elas.

– São cainitas ou mortais?

– São mortais, excelência – a dama de véu respondeu.

– Matem-nas – a Juíza disse, olhando para o lado.

Um dos homens encapuzados desembainhou a espada e avançou.

– O que é isso? Vocês sabem pra quem nós trabalhamos? – uma prostituta começou a gritar.

– Vocês não vão matar ninguém aqui! – Icabode se pôs entre eles, mas de repente, a dama de véu ergueu a mão em sua direção, e ele começou a flutuar, ficando preso no teto. – Me solte! Parem já com isso! Deixem as garotas em paz!

As prostitutas se agarravam em Leon que estava de olhos fechados, resignado. Elas gritavam ao aproximar do encapuzado. O homem enfiou a espada na barriga de uma e girou o punho vários vezes, perfurando vários órgãos internos. Depois ele foi até a outra e fez o mesmo. Icabode gritava sem conseguir se soltar do teto. Leon abraçou as duas mulheres, olhando para o encapuzado com ódio.

– Por que você não fez o serviço direito? Precisava dar uma morte lenta e cruel a elas? – ele as puxou para si e fechou os olhos.

Elas choravam com desespero. Leon fez suas presas surgirem e mordeu a Matilda, bebendo seu sangue até que ela desmaiasse. Depois, ele fez o mesmo com a outra que olhava para ele, como uma garotinha espantada.

A dama de véu pousou Icabode no sofá, e os encapuzados ao redor sacaram suas espadas, ameaçadoramente.

– Onde está Ivanovitch? – a Juíza perguntou a Icabode. – Ele não nos deu notícias desde ontem.

Ao ver que Icabode tentava controlar sua raiva, Leon interferiu.

– Ivanovitch está morto. Solomon Saks o empalou e consumiu sua alma.

– Mas que loucura está dizendo? – Fermín Pedralbes perguntou, exasperado. – Saks é um vampiro?

– Sim! – Icabode ficou de pé. – O seu amigo Ivanovitch foi um tolo! Ele estava todo confiante, partindo pra cima de tudo e de todos, como se fosse intocável! Mas Solomon nos fez de bobos, a mim e a vocês!

– Você disse que Solomon era mortal! – Fermín o lembrou. Os olhos estavam arregalados. – Isso tudo fazia parte do seu plano! Se livrar de Ivanovitch e fugir do julgamento do Conselho! Acha que iria nos enganar, não é? Mas você não contava com meus poderes telepáticos. Graças ao seu amigo negrinho, nosso prisioneiro, eu descobri onde era o seu refúgio! E agora, para onde irão fugir?

– Se você realmente tem poderes telepáticos – Icabode se aproximou dele. – Então entre na porra da minha cabeça e veja o que aconteceu de verdade! Caso contrário, pare de achar culpados pela sua derrota!

– Minha derrota? – Fermín olhou para a Juíza. – Vai permitir que ele fale assim com um membro do Conselho, excelência? Estripe-o, agora! Eu exijo!

– Não faça isso – a dama do véu negro disse. – Conforme o extraído do nosso prisioneiro, foram eles três quem fizeram com que Solomon se tornasse o que é. Eu sugiro que eles resolvam o problema. Assim que os membros cainitas de Nova York descobrirem o que aconteceu com Ivanovitch, eles procuração culpados. Se nós interferirmos agora, eles pensarão que poderíamos ter feito isso a qualquer momento. Mas se essa responsabilidade não for nossa, não há motivos para levarmos a culpa.

–  Isso – Fermín olhou para ela com admiração. – E também que culpem a Anthony Ritzo. De Green Point a Brooklyn Heights, todo aquele território é dele! Se ele tivesse nos avisado a tempo, isso não teria acontecido. Que eles culpem a Ritzo também! Aquele maldito permitiu que tudo acontecesse bem debaixo de seu nariz. E por sua causa, Ivanovitch está morto!

A dama de véu negro e Fermín olharam para a Juíza. Esta assentiu:

– Eu condeno os réus a uma ordália, cuja missão seja destruir Solomon Saks e cada vampiro ou testemunha mortal criada pelo mesmo. Caso os réus fracassem, sua pena é a morte final, assim como a morte do prisioneiro que vocês conhecem como Capitão Sangrento. E agora vamos até Ritzo. Sabem onde é o bar dele?

– Fica na Quarta com a rua Keap, em frente a um parque – Fermín disse, e se virou para Icabode. – Vocês precisarão se aliar. Ritzo tem muitas armas. O nome do bar é Portão do Inferno – ele se virou e saiu, junto com a Dama do Véu Negro e a Juíza.

O séquito do Conselho de Nova York deixou o apartamento tão subitamente quanto chegaram.

– O que é uma ordália? – Icabode perguntou, ainda exasperado com a visita.

– É uma prova judiciária para provar se alguém é culpado ou inocente. Caso o réu fracasse, ele é considerado culpado – Leon virou o rosto, como se ouvisse algo. – Rápido, precisamos sair daqui. Estou ouvindo sirenes. Certamente alguém ligou para a polícia depois dos gritos – ele olhou para as prostitutas. – Beba tudo o que conseguir. Depois vou levar os corpos pela janela para não acharem que Sunday fez isso.

Icabode se alimentou de Mtailda, plenamente consciente de que estava ingerindo sangue de uma pessoa morta. As tripas da mulher caíram em seu próprio colo, pelo buraco feito com a espada. O sangue ainda vertia pelo vestido e fazia uma poça sobre o vestido.

– Precisamos levar esse tapete sujo de sangue, sofá e os cadáveres para fora daqui – Leon apontou para a sacada. – Eu consigo fazê-los levitar, mas você terá que voar por conta própria. Você tem esse poder, Icabode, e precisa usá-lo agora! Não posso erguer tudo sozinho.

– Certo, leve-as. Eu darei um jeito – Icabode disse, pegando o relógio de Sunday de volta. Leon ergueu as mãos e fez o sofá sair do chão, seguido pelo tapete. Os cadáveres estavam deitados para não caírem. Com muito cuidado, Leon passou tudo pela varanda, e voou atrás das coisas.

Icabode se inclinou sobre o parapeito e viu as viaturas parando em frente ao prédio. Ele fechou os olhos e esperou que seus pés saíssem do chão, mas nada aconteceu. Ele ativou os sentidos aguçados, e ouviu os policiais subindo as escadas do prédio. Vamos, garoto, saia daí! Sunday disse em sua mente. Onde está você? Icabode perguntou, surpreso. Por que não está em casa?

Agora não é hora pra falarmos sobre isso! Sunday ripostou. Saia daí! E Icabode tentou mais uma vez. Ele sentiu uma pressão no centro de seu corpo. Em seguida, sentiu-se sendo puxado para cima. Oscilou sem sair do lugar por mais um tempo, quando ouviu os policiais adentrando o apartamento. Você precisa agir agora! Sunday gritou.

– Foda-se – Icabode não conseguira sair mais que dez centímetros do chão. Então subiu no parapeito e saltou. A queda era alta, e os dados foram rolados. Para sua infelicidade, ele não conseguiu voar. O chão vinha em sua direção quando a queda foi interrompida dois metros acima da avenida, só pra continuar em seguida.

Icabode caiu de peito no asfalto, e alguns carros buzinaram, desviando do caminho. Ele olhou ao redor e se enfiou no primeiro beco que viu. Não conseguira voar, mas amortecera a queda em pleno ar. Isso era um avanço. Parou o primeiro táxi que viu e mandou que fosse para o Brooklyn, na Quarta com a Keap.

Levou quinze minutos para chegar no local. O bar Portão do Inferno tinha janelas temperadas coloridas. Em frente, uma fila de motos ladeavam a calçada, a maioria, Harleys. Nada japonês ou alemão, obviamente. Ele deu o relógio de Sunday ao taxista incrédulo e entrou no bar.

O estabelecimento estava cheio de clientes, tomado por fumaça de cigarro, jukebox alta e luzes coloridas. No balcão, Leon conversava com um homem que Icabode reconhecia da noite anterior, musculoso, vestindo suspensórios e quepe. Era Anthony Ritzo. Eles trocaram olhar, e Ritzo indicou uma porta com a cabeça. Leon reparou que Icabode chegara, e os três foram em direção à porta. Ritzo olhou para um sujeito mal encarado e mandou que cuidasse do balcão.

A cozinha estava cheia de sacos e barris, com legumes, bebidas e cigarros. Um rato fugiu ao vê-los. Ritzo enrolou o tapete do chão, revelando um alçapão escondido. Ele o abriu e mandou que os dois descessem.

Icabode e Leon olharam ao redor, surpresos. O subsolo do Portão do Inferno era um armazém de armas. Ritzo começou abrir caixas e mostrar seus brinquedinhos.

– O Conselho saiu de seu esconderijo no Upper East Side e veio pessoalmente até o meu bar – ele disse, com deboche. – Acho que estão mesmo com medo do polonês.

– Se eles tivessem levado a sério o meu aviso, Solomon Saks poderia estar morto agora. Mas Ivanovitch agiu como se a ameaça não fosse real – Icabode disse, amargo.

– Quem diria que aquele filho da mãe fosse derrubado por um neófito? – Ritzo parou um momento, reflexivo. Depois ele olhou para os dois, ressentido. – Não sei como eles deixaram vocês vivos depois de tudo que fizeram.

– Eles precisam de um bode expiatório – Leon explicou. – Se você faz parte da sociedade, deveria conhecer o modus operandi do Conselho. Quando todos descobrirem que Ivanovitch morreu, a Juíza fará questão de dizer que a culpa é minha e de Icabode, e que tudo isso ocorreu no seu domínio, senhor Anthony.

– Sim, sim – Ritzo o interrompeu, irritado. – Eu sei como as coisas funcionam por aqui. E a culpa de tudo isso é de vocês! – ele fechou os punhos, inconformado.

– A culpa de tudo isso é de Saks! – Icabode o corrigiu. – E se não nos unirmos para impedi-lo, ele ficará mais forte a cada dia. Saks tem dinheiro, armas e capangas.

– Eu sei disso – Anthony apontou para as próprias armas. – O polonês e eu vendemos armas no mesmo território. Nossos homens já trocaram tiros algumas vezes. Mas isso acaba hoje!

– Hoje? – Leon perguntou. – Você quer que o ataquemos hoje? Mas não seria melhor gastarmos um tempo preparando um plano à prova de falhas? Não foi por causa desse impulso que Ivanovitch está morto?

– Eu concordo com ele, Leon – Icabode disse, pegando uma pistola de uma caixa. – O tempo é aliado de Solomon. Acho que sou o único que entendeu até agora que o mafioso é ardiloso e astuto. Ele deve estar articulando coisas maléficas neste exato momento, e quero derrubá-lo antes que continue.

– Mas nós nem sabemos onde ele está – Leon disse, receoso.

– Sabemos sim – Anthony respondeu, erguendo um cinto de granadas ao redor do ombro. – Desde o tiroteio de ontem, tenho homens vigiando a mansão do polonês.

– E quando partimos? – Icabode perguntou, examinando uma metralhadora Thompson.

– Agora – Ritzo tirou uma máscara de carranca da parede e colocou no próprio rosto. – Esse filho da puta vai morrer hoje.

 

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Icabode St. John [9]

Nos capítulos anteriores: Após a missão desastrosa de derrotar Solomon Saks, Icabode foi capturado pelos vampiros que governavam a cidade. Sem saber o paradeiro de Sunday e Drake, Icabode revela os planos do mafioso polonês, alertando os vampiros. Eles enviam Icabode com Ivanovitch, o vampiro mais forte do mundo, para matarem Solomon. Ocorre que os dois não sabiam que o mafioso já se transformara em vampiro e que se alimentara de Anatole, uma criatura antiga. Com as defesas baixas, Ivanovitch foi empalado e consumido por Solomon, que era mais forte do que ele esperava.

 

Icabode assistia a cena, assombrado. Solomon Saks matara Ivanovitch, a Besta do Oriente, e agora possuía um poder terrível. O próximo a ser morto e consumido seria o próprio Icabode, que estava ferido, caído no chão.

Fuja, garoto, fuja! Sunday disse em sua mente.

– Onde você está? – Icabode sussurrou, ainda sem saber como o detetive se comunicava com ele.

De repente, uma figura se materializou em sua frente. Um homem, cobrindo os próprios lábios com o dedo, pedindo silêncio. Ele tinha barba e cabelos sedosos, compridos. Suas roupas eram trapos cheios de sangue. Icabode o reconheceu imediatamente. Era o vampiro que ele libertara da fundição em Green Point. Ele colocou a mão no ombro de Icabode e olhou para Solomon. O mafioso gargalhava, diante do carro que acabara de dividir ao meio. Em seguida, ele olhou para onde Icabode estava e seu olhar ficou perdido. Girou sobre os calcanhares, procurando algo.

– Onde ele está? – ficou repetindo. – Onde está aquele maldito? – gritou.

Você está invisível, garoto, Sunday explicou. Não faça barulho.

Furtivamente, Icabode saiu com o vampiro pelo buraco da sala, e os dois foram para o quintal.

– Você sabe voar, não sabe? – o outro sussurrou.

– Ouvi dizer que estava voando por aí, mas não lembro de nada.

– Se pendure em meus ombros – o vampiro disse com desgosto.

Icabode se agarrou às costas dele, e o chão começou a se afastar de seus pés. Os dois sobrevoavam a quadra, indo para longe da mansão.

– Depois que você fugiu da fundição – o vampiro disse -, eu não vi para onde foi. Fiquei te procurando em todos os cantos do Brooklyn. Você estava irracional, faminto. Eu temi que você saísse por aí fazendo besteira, ou que ao amanhecer, o sol te fulminasse.

– E por que você está tão preocupado comigo? 

– Eu te transformei em um cainita – o outro explicou. – É o meu papel garantir que você sobreviva e que não faça nenhuma besteira… pelo menos até ter autonomia. Meu nome é Leon, e o seu?

– Icabode – ele respondeu, olhando para o pescoço de Leon. Debaixo daquela pele, havia sangue. E Icabode estava com muita fome. – Mas como você me achou?

– Eu consigo ouvir coisas a quilômetros de distância. Posso ouvir bolas de algodão caindo no chão, se estiver muito perto. Quando o tiroteio começou, imaginei que tivesse algo a ver com você. Felizmente, eu estava certo. E agora, pra onde quer que te leve?

Montauk, pensou Icabode, mas não podia ir pra casa, sabendo que Sunday e Capitão Sangrento estavam em algum lugar, em perigo. Então ele disse para leva-lo até à casa do detetive. Só depois lembrou que foi Sunday quem entregou o esconderijo de Leon a Solomon Saks.

– Leon – Icabode disse, enquanto atravessavam o rio. – Eu sei que você conhece o detetive Sunday. Ele estava comigo na fundição. Ele me disse que você era seu informante.

– E onde ele está? – Leon virou o rosto, surpreso. – Ele foi me resgatar?… – ele virou o rosto para frente novamente. – Acabo de lembrar que você foi até lá para me matar. Sunday descobriu que eu fui preso, e decidiu me matar antes que eu causasse algum problema maior.

– Na verdade foi Sunday quem o entregou a Saks – Icabode corrigiu, temendo ser solto vários metros acima do chão. Ele viu que o vampiro virou o rosto novamente, sem dizer nada. – Eu pedi pra ele me entregar o endereço de um vampiro. Ele relutou, mas eu o obriguei. Não foi pessoal.

Leon assentiu.

– Ele fez o certo. Eu mereço mesmo morrer. Todos nós merecemos.

– Mas você é tão diferente dos outros – Icabode disse, perplexo. – Como pode pensar dessa forma?

– Isso é questão de tempo… você verá quando a fome começar a tomar controle do seu… – ele se lembrou de algo. – Você está racional agora. Como fez isso? Como se alimentou?

– Um cachorro… – Icabode se lembrou de quando Anthony Ritzo o empalou na calçada. Tinha o corpo de um cachorro ao seu lado. – Eu acho.

– Você deve estar faminto. Depois falamos sobre Sunday. Precisamos alimentá-lo.

– Esquece. Não vou beber sangue.

– Você vai sim – Leon retrucou. – Se você não beber agora, a besta que há dentro de você, irá lutar contra a fome. Ela tomará o controle de seu corpo, e sua mente ficará inconsciente. Você matará a primeira coisa que estiver em sua frente pra se alimentar. Não subestime a sua fome, Icabode. Eu já subestimei, e as coisas não acabaram muito bem.

– Quais opções eu tenho para não condenar a minha alma? – Icabode perguntou, inconformado.

– Tarde demais, meu amigo – Leon disse, resignado. – Por que acha que não me matei ainda? Além de ser vampiro, ser suicida? O meu lugar está garantido no inferno.

– Você acha que todos eles se preocupam com isso? Os outros vampiros?

– Provavelmente sim. Mas chega um momento onde todos aceitam a sua natureza. Ou você abraça a besta para “viver” nesta não-vida, ou você luta contra ela, e acaba sendo destruído e mandado para o inferno.

– Pelo visto você ainda não fez a sua escolha – Icabode disse, tanto para ele quanto para si próprio, percebendo que sua fome aumentava.

– Escolha? – Leon franziu o cenho. – Não existe tal coisa… olhe só, uma construção embargada. Achamos o nosso restaurante.

– Restaurante? – Icabode olhou para o prédio com mais de dez andares, incompleto e antigo.

– Indigentes, meu amigo, indigentes.

– Tudo bem, mas não precisamos matar ninguém.

Os dois pousaram no terraço cheio de musgo, cocô de pombo, garrafas e latas. O rosto de Leon parecia com a imagem de um Jesus católico, mas ao encarar Icabode, suas presas tornaram o sagrado em profano. Ele tirou sua camisa suja de sangue e fez o sinal para Icabode fazer o mesmo. Ele não queria assustar as presas antes da hora.

– Você tem os mesmos poderes que eu – Leon informou. – Você pode voar, pode ficar invisível e pode ter os sentidos aguçados. Estes últimos não ficam sempre funcionando. Você precisa prestar atenção. Nós entraremos em uma área escura, e você precisa abrir seus olhos malditos.

Icabode olhou ao redor, e piscou várias vezes, tentando ativar o poder. O vento deslizava frio em seu corpo igualmente gélido. Manhattan era como uma cabeça, e os prédios eram os fios de cabelo. Havia milhares deles ao redor, todos pontilhados com janelas acesas, decorados com propagandas da Coca, com marca de cigarro, atrações da Broadway, marcas de bebida, um zepelim da Kodak voando acima de suas cabeças.

Pela janela de um quarto, Icabode viu um asiático colocar uma camisa vermelha. Na mesa em sua frente havia dois incensos acesos, ladeando a foto de um general de seu país. No canto superior da foto, havia o símbolo comunista.

-Uau! – Icabode piscou, percebendo que o quarto estava muito longe dali, e que vira detalhes tão pequenos que nem um binóculo conseguiria revelar. Ele se virou para Leon. – Estou pronto.

Os dois desceram o primeiro lance de escadas, e descobriram um piso abandonado, sem paredes e cheio de lixo. Eles continuaram descendo até os ouvidos aguçados de Icabode ouvirem os primeiros sons. Era um ronco.

 

George discutira com seus pais extremamente religiosos quando ainda era adolescente. Ele fugiu de sua casa no Tennessee e foi viver no litoral. Depois de quinze anos viajando, decidiu ficar em Nova York, onde ficou por mais duas décadas. Os últimos cinco anos de sua vida foram os piores. Ficara desempregado, sem teto e sem dinheiro. Dormindo em vários lugares diferentes. Aquele prédio estava sendo seu lar nos últimos meses. Os outros indigentes tinham jogos completos de panela, isqueiro, garrafas de alambiques e cigarros. Eles se ajudavam sempre que podiam.

Era madrugada e ele dormia profundamente, quando de repente, algo o despertou. Dois homens estavam em pé, encarando-o. Eles não vestiam camisas. Um deles parecia Jesus, e o outro não tinha alguns dedos da mão.

– Não acorde os outros – Jesus dissera. – Eu tenho uma proposta pra você.

– Eu não sou nenhuma bicha – George respondeu calmamente, sem saber se estava falando com um anjo ou com um nóia.

– Nem nós – o jovem respondera com uma careta.

– Deixe-nos beber um pouco de seu sangue, e pagaremos bem – Jesus propusera. – O que acha?

– Isso não é errado? – George perguntou, completamente confuso. Talvez estivesse sonhando.

– Nós poderíamos pegar à força, se quiséssemos – Jesus explicou de maneira ponderada. – Mas nós queremos pagar por isso.

– Nesse caso – George olhou ao redor e viu que estava sozinho. Era um péssimo dia para ficar sozinho no sexto andar. Aquilo não era Jesus, porra nenhuma. Aquilo era um dos demônios que ele ouvia falar nos becos do submundo. – Prometem que não vão me matar… ou me transformar em um de vocês?

– Nós prometemos – o garoto assegurou, incomodado com a pergunta.

– Como querem fazer isso? – George perguntou, ainda deitado.

O que parecia com Jesus ficou de cócoras, e o garoto o imitou. Em seguida, cada um pegou um de seus braços e os levou até suas bocas. Os lábios eram frios e secos. O hálito parecia um sopro invernal. George esperou mordidas doloridas e profundas, mas tudo o que sentiu foi uma leve picada de mosquito, seguida por uma coceira. Seu corpo inteiro foi tomado por aquela sensação, e havia uma certa dormência. Ele sentiu o sangue correr pela virilha, e logo seu membro ficou ereto. A sensação era realmente boa. Ele se sentiu fraco e tonto. Piscou lentamente, e de repente, escuridão.

 

– Ele está bem? – Icabode perguntou, afastando o braço de sua boca com muita relutância. Ele queria continuar bebendo o sangue do mendigo, mas agora estava assustado. – Ele desmaiou?

– Sim, ele está vivo – Leon o acalmou. – Se você prestar atenção, pode ouvir as batidas de seu coração. Mas por hora, a besta não tomará conta de nosso corpo. Podemos procurar mais um indigente.

– Não! – Icabode pediu. – Não podemos simplesmente ir pra casa? Amanhã a gente continua – ele olhava para o homem desmaiado, pálido. O gosto do sangue em sua boca era doce e quente, como um resquício da vida que ele nunca mais teria.

– Por mim, tudo bem – Leon deu de ombros. – Eu também relutei bastante quanto à beber sangue. Mas hoje, decidi que é melhor beber um pouco e não matar ninguém, do que não beber nada, e me tornar uma fera assassina. É melhor você superar essa fase logo.

– Eu irei – Icabode prometeu. – Só não hoje, por favor.

– Claro. Amanhã continuaremos – Leon bateu em seu ombro, com um sorriso. – Antes de partir, precisamos fazer mais uma coisa – ele ergueu o braço do mendigo e lambeu o local da mordida. Os buracos sumiram imediatamente. – Faça isso sempre que se alimentar pra cauterizar a ferida.

Icabode pegou o outro braço e fez o mesmo. No próximo instante não havia marcas de mordidas no mendigo.

– Você disse que iria pagar pelo sangue – Icabode o lembrou, puxando os bolsos vazios da calça.

– Eu menti – Leon respondeu, se aproximando da borda do andar. – Nós dois precisávamos do sangue com urgência, e eu não tenho um tostão furado comigo. Você vai ter que fazer coisas assim a partir de agora. A sobrevivência é uma arte – ele olhou para o céu. –  O apartamento de Sunday é aqui perto. Devemos ir logo. O sol está prestes a nascer.

– Espero que ele esteja lá – Icabode se pendurou novamente no vampiro, e os dois saíram do prédio. – Assim que o encontrarmos, podemos ir atrás do Capitão Sangrento.

– De quem?

– Era o nosso terceiro mosqueteiro – Icabode explicou. – Uns vampiros o capturaram.

– Quem? – Leon perguntou, sobrevoando alguns prédios.

– Uns tais de Fermín, Anthony Ritzo, uma juíza, e Ivanovitch. Este último foi morto por Sacks.

– Sacks matou a Besta do Oriente? – Leon quase gritou. – Se você conhece o Conselho de Nova York, então já está mais envolvido à não-vida do que eu esperava.

Os dois pousaram na sacada do apartamento de Sunday, e adentraram o imóvel, mas o detetive não estava lá. Em seguida, eles isolaram o local contra a luz solar, e apagaram.

 

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Icabode St. John [8]

Nos capítulos anteriores: O paradeiro de Drake Sobogo era desconhecido desde que Anthony Ritzo o capturara. Sunday também não era visto desde a derrota na fundição da máfia. Icabode estava sendo julgado pelo Conselho de Nova York, onde os vampiros burocratas diziam ter toda a autoridade. Após ele revelar os planos de Solomon Saks de se tornar vampiro para governar a cidade, o Conselho decidiu caçar o mafioso. Enviaram Icabode e Ivanovitch, o vampiro mais forte do mundo para se livrarem de Saks. Ao chegarem na mansão, Ivanovitch matou todos os seguranças e avançou sobre o mafioso, mas Saks os enganara, empalara o vampiro e atirou em Icabode. O mafioso revelou que já havia sido transformado, e em seguida consumiu a alma de Ivanovitch, e ficou super poderoso. Antes que matasse Icabode, descobriu que o garoto não estava mais lá. 

 

Alguns dias atrás, Solomon Saks fora chamado por seus homens até um de seus galpões, pois algo acontecera. Havia um conversível batido no interior do depósito, com o motorista morto. E no chão, um cadáver estava coberto por um lençol. O capanga ao lado puxou o lençol e Solomon viu que o morto estava carbonizado, e tinha uma estaca no coração.

– O que está acontecendo aqui? – Solomon perguntou.

– Senhor, este aqui é o Rabino – um capanga apresentou um homem de roupas informais, cheio de tatuagem e colares.

– Eu não sou exatamente um judeu praticante – Solomon respondeu, olhando para o novato, sem paciência.

– Eu não sou exatamente um rabino – o outro respondeu, mostrando os colares com pingentes de várias crenças. – Estou mais para feiticeiro. O Gólgota aqui me chamou para explicar a situação – ele apontou para um dos capangas.

– Por que você trouxe um forasteiro para o meu galpão, Gólgota? – Solomon olhou para o capanga de cabelos e barbas encaracolados.

– Acredite em mim, chefe. Você precisa de alguém como o Rabino para explicar essa loucura – o capanga sorria de forma demente. Ele foi até o cadáver carbonizado e arrancou a estaca de seu coração.

O corpo começou a se mover, estendendo os braços para Gólgota, enquanto este sorria, dando tapas nas mãos do defunto. Os caninos que saíam da boca do cadáver eram compridos, e seus olhos, vermelhos. Rabino ficou de cócoras ao lado de Anatole, e ficou passando a mão diante de seu rosto, provocativo.

– Senhor Saks, isso é um vampiro. E pelo grau de queimadura, ele deveria estar morto. Acho que temos uma criatura antiga aqui. Se você quiser leva-lo para um lugar protegido, podemos estuda-lo. Seu sangue tem propriedades muito especiais para o organismo humano.

– Quem fez isso com ele? – Solomon olhava com espanto para Anatole.

– É um garoto, Icabode – Gólgota respondeu, limpando a baba do canto da boca. – Ele está na enfermaria. Ele viu nossas armas e tudo mais, quer que demos um fim nele? – ele passou o indicador pelo pescoço.

– Quem quer que seja – Rabino pegou a estaca manchada com o sangue do coração de Anatole. – Ele sabia o que estava fazendo. Se eu fosse você, faria umas perguntas antes de se livrar dele.

– Você consegue mesmo estuda-lo? – Solomon perguntou para Rabino. – Será que ele tem escapatória?

Rabino sorriu pra ele, ansioso.

 

Nos dias seguintes, Solomon acompanhou os estudos de Rabino acerca do vampiro. Anatole recuperou a consciência e se regenerou plenamente. O feiticeiro garantiu que ele estivesse o tempo inteiro amarrado e cercado por cruzes. Solomon assistia tudo com fascínio. Em sua frente estava o segredo para a imortalidade.

Somente depois ele foi conhecer Icabode. O garoto convidara Sunday, o expert em vampiros, e aparentemente eles sabiam do paradeiro de outras criaturas como aquelas. Eles se uniram e foram atrás do esconderijo de um vampiro. Solomon o capturou e dispensou a Icabode e Sunday. Agora ele tinha dois vampiros cativos, e cada um deles tinha habilidades sobrenaturais diferentes.

Rabino explicou que assim que Solomon virasse um deles, ele poderia absorver os poderes dos vampiros cujas almas ele consumisse. O processo parecia ser simples. Bastava ingerir completamente o sangue do outro vampiro, que a alma viria junto, assim como seus poderes.

Não era seguro manter os dois prisioneiros no mesmo lugar, então Solomon deixou Anatole em seu bunker subterrâneo, e Leon na fundição de Green Point, ambos cercados por crucifixos, pois aparentemente a fé cristã tinha bastante poder sobre eles.

Acompanhado de Rabino e Gólgota, Solomon decidiu se transformar. Eles cortaram o seu pulso e o penduraram de cabeça para baixo para deixa-lo exangue. Depois tiraram uma gota de sangue do vampiro de Green Point e a pingaram em sua língua. Quando Solomon acordou, ele estava preso no banheiro, cercado de galinhas mortas que foram usadas para saciar sua primeira fome.

Rabino e Gólgota ficaram maravilhados e pediram para também serem transformados, mas Solomon disse para esperarem. Depois, ele foi até o bunker e mandou colocarem quadros com imagens de cruz no meio do cômodo, todos virados para Anatole. Solomon ficava atrás desses quadros, em segurança.

– Por que você não pediu para eu transforma-lo? – Anatole perguntou, prestativo. – Eu poderia fazer isso pra você. Eu tenho séculos de idade. Minha força é muito maior do que qualquer vampiro de Nova York.

– Do que você está falando? – Solomon olhou para ele com desprezo. – Acha que eu me tornaria cria de um negro? Você deve estar louco!

– Então me dê outra tarefa – Anatole pediu, engolindo o orgulho. – Faço qualquer coisa em troca de minha liberdade.

– Liberdade? – Solomon sorriu com deboche. – Você é a minha melhor carta na manga. Por que eu deixaria você ir?

– Diga-me, se eu tirasse esses quadros agora – Solomon disse, tocando na parte de trás da parede de cruzes. – Sua força voltaria ao normal, não voltaria? Quão forte você é?

– Muito – Anatole assegurou. – E eu poderia ensiná-lo a ficar assim.

– Você conseguiria quebrar uma parede com um soco?

– Facilmente – Anatole sorriu pra ele. – Solte-me e te mostro como fazer.

– Ensinar pra quê, se posso apenas consumir sua alma?

Anatole arregalou os olhos.

– Eu ficaria incrivelmente forte, não é? – Solomon perguntou, fechando os punhos, pensativo.

 

Não se passaram dois dias depois dessa conversa quando Solomon recebeu a ligação de que estavam invadindo a fundição. Era Icabode, Sunday e um homem negro. Solomon mandou que Troche protegesse ao vampiro. Poucos minutos depois, o Judeu de Ferro ligou, avisando que Icabode era um vampiro, e que fugira com o negro. E o prisioneiro havia fugido. Irritado, Solomon mandou que Troche voltasse à mansão imediatamente.

– Eles virão até mim – disse ele, e mobilizou os guardas da mansão para ficarem em alerta. Depois, foi até o bunker.

– Parece que sua hora chegou – declarou a Anatole, atrás dos quadros. – Eles virão me matar.

– Então me solte! – o vampiro pediu. – Eu posso ajudá-lo!

– Você vai me ajudar, sim. Mas não irei te soltar.

– Você precisa de aliados, Saks! Sozinho, você nunca irá vencer o Conselho de Nova York.

– Você está certo. Eu já estou em negociação com alguns aliados. Mas você não está entre eles. Como já disse, tu és minha carta na manga.

O barulho de tiros veio pela portinhola do bunker. Solomon fez um sinal para que seus capangas seguissem com o plano. Alguns deles foram até Anatole com estacas nas mãos.

– Eu posso ser muito útil! Sei de tantas coisas que você não iria acreditar.

– Eu sei que você sabe – Solomon respondeu com as mãos para trás. – E eu gostaria muito de ouvir sobre elas, mas infelizmente não temos tempo. Terei que usá-lo como meu último recurso.

Anatole chorou quando os capangas o empalaram direto no coração. Em seguida, eles derrubaram a parede de quadros, liberando o caminho para Solomon. Ele se aproximou e bebeu todo o sangue do vampiro, sugando até sua alma, enquanto os capangas subiam para enfrentar os invasores. Depois, o corpo de Anatole se desintegrou em um montículo de cinzas.

Solomon sentiu as veias de seu corpo pulsarem, e seus músculos bombearem. Ele sentia o poder percorrer o seu corpo, mais ainda do que quando sentira ao despertar como vampiro pela primeira vez. Anatole era poderoso, e agora seu sangue se misturara ao corpo do polonês. Ele tocava o próprio rosto, maravilhado. Controlou-se para não sair quebrando tudo ao redor. A tentação de explorar seu novo poder era grande, mas ele precisava lidar com os invasores.

– Você terá tempo de sobra para testar sua nova força – disse para si mesmo. Então pegou uma pistola e uma estaca e os guardou em seu roupão.

A portinhola do bunker dava para dentro de uma sala da mansão. Ele subiu as escadas para o segundo andar e encontrou com Gólgota, Rabino e outro capanga.

– Chegou a vez de vocês se tornarem imortais – Solomon declarou. – Façam os invasores pensar que nossa defesa é fraca. Deixe-os baixarem a guarda. Quando nos vermos novamente, vocês serão divindades.

Rabino assentiu, e Gólgota riu, ansioso. O outro capanga sentia apenas medo, mas os três foram em direção aos invasores. Solomon aguardou e ouviu o último tiroteio. Seus homens estavam todos mortos. Agora é a minha vez de agir, pensou, surgindo na galeria de sua sala de estar. Icabode e um vampiro corpulento estavam no térreo, esperando-o. Ele fez questão de descer, repassando o plano em sua mente.

Ele iria sacar sua pistola para trazer a atenção dos dois adversários pra ela, enquanto com a mão esquerda, iria enfiar a estaca no peito do grandão. Assim que chegou a hora, ele sentiu o sangue de seu corpo inteiro se mover com força para o braço esquerdo. Suas pernas ficaram bambas e ele ficou tonto. Sentiu os lábios secarem, e usou a maior parte do sangue para fazer um simples movimento. Se aquilo desse errado, ele seria morto, sem dúvida.

Sacou a pistola, e como esperava, o vampiro se jogou contra ela, erguendo-a para cima. Solomon puxou a estaca do roupão e a enfiou no peito do outro. No início, houve grande resistência. Ele achou que iria falhar, mas o sangue que ele gastara para aquela ação, mais a força sobrenatural de Anatole fizeram a diferença. Seus bíceps ficaram cheios de veias, e cinco vezes maiores. Seus dedos seguraram firmes a estaca, e ela penetrou a pele pétrea do vampiro. Os olhos de Ivanovitch ficaram molhados, e a ponta de madeira atravessou seu coração.

Eu estou fraco e posso cair a qualquer momento, e Icabode irá me destruir, Solomon pensou, deixando o vampiro paralisado em sua frente. Ele puxou a pistola, deu um passo para o lado e atirou várias vezes contra o garoto. Icabode caiu no chão, terrivelmente ferido.

O plano de solomon funcionara, e ele tinha mais duas fontes de vitalidade vampírica para consumir. Icabode e o vampiro corpulento. Com eles, ele teria ingerido a alma de três vampiros, e isso já lhe daria a força necessária para enfrentar a maioria dos cainitas de Nova York.

Para não perder tempo, Solomon mordeu o pescoço de Ivanovitch e bebeu todo o sangue, até sentir sua alma adentrar seu corpo. No fim, o grandalhão parecia uma grande ameixa com braços e pernas.

Em seguida, Solomon se sentiu a força e o poder correrem de volta em seus músculos, e ele sabia que era invencível. Foi até o seu carro que por algum motivo estava no meio da sala de estar, e o partiu em dois. Estou terrivelmente forte! Ele queria gargalhar, e estava ansioso para consumir a alma de Icabode também. Aquela sensação era boa, e ele estava ficando viciado nisso. Mas ao olhar para o lado, o garoto havia sumido.

Procurou desesperadamente por ele, mas nunca o achou. Troche chegou logo depois, e Solomon disse para ajuda-lo a levar os corpos para o bunker.

– O sol vai nascer daqui a pouco – Solomon disse ao Judeu de Ferro depois de colocarem o último corpo no bunker.  – E a polícia virá antes disso. Você precisa dizer a eles que estou em uma viagem, incomunicável. Reúna alguns homens e diga que eles trocaram tiros com bandidinhos que tentaram assaltar a mansão. Diga que os delinquentes fugiram assustados – ele girou a mão, como se não tivesse importância.

– E o carro na sua sala de estar? – Troche perguntou, olhando para o buraco na parede. – O que devo dizer?

– Se você quiser ser meu braço direito, terá que ser criativo e independente – Solomon rosnou para ele. – Se vire! E amanhã, ao anoitecer, leve comida ao bunker.

Solomon desceu a escada do bunker e fechou a portinhola. Havia mais de quinze cadáveres de seus capangas no centro. Ele sugou o sangue de todos eles, deixando-os completamente secos. Em seguida, fez um corte no braço e pingou uma gota na boca de cada um. Não tinha tempo de pegar animais para que eles se alimentassem ao acordar, e provavelmente a loucura da fome os fariam atacar uns aos outros.

– Que a lei do mais forte me dê os melhores – Solomon disse, se trancando em um quarto de metal.

No início da noite seguinte, ele abriu a porta e olhou ao redor. Havia tripas e pedaços humanos em todas as direções. A batalha fora sangrenta, e apenas dois sobreviveram. Rabino e Gólgota se viraram para ele, instintivamente. Ao verem seu mestre, ambos curvaram a cabeça em submissão. Seus olhos ainda estavam levemente vermelhos.

A portinhola abriu e Troche desceu. Solomon olhou para os três, todos caminhando sobre restos mortais, e disse:

– E assim começa a nova ordem de Nova York. Eles serão meus súditos, e eu serei seu rei. E vocês, meus caros – Solomon olhou para os três, mostrando um sorriso -, serão os príncipes desta cidade.

 

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Icabode St. John [7]

Nos capítulos anteriores: Drake Sobogo era o único sobrevivente dos três que invadiram o prédio da máfia, para matar o vampiro prisioneiro. Enquanto Drake tentava sobreviver, Troche, o judeu com dentes de ferro o perseguia. No último instante, Icabode surgiu, com olhos vermelhos e presas na boca. O vampiro cativo o transformara para que não morresse completamente. Icabode se agarrou em Drake e os dois voaram para longe do prédio, mas eles lutavam sobre as ruas do Brooklyn, pois naquele momento eram caça e caçador. Icabode estava faminto e irracional. Um vampiro misterioso surgiu do nada e capturou a ambos. Quando Icabode recuperou a consciência, se viu em um julgamento vitoriano, cercado de vampiros.

 

Não faça isso, a voz de Sunday viera em sua mente. Icabode não se lembrava de nada sobre o inferno, mas vira com os próprios olhos o detetive se jogar pela janela, rumo à morte. Como ele estava ouvindo sua voz?

Na sala, havia cerca de dez vampiros, alguns escondidos nas sombras. Mas mesmo assim, Icabode se levantara em desafio, declarando-se um caçador de vampiros. Era em horas assim que seus valores eram testados. Morrer como um herói, ou se curvar ao mal?

Ivanovitch socou a mesa, seguido por uma gargalhada. Ele era imenso, barbudo e cabeludo. Seu dedo era mais grosso que uma linguiça, e ele o apontou para Icabode.

– Esse neófito tem colhões! Ele vai morrer, eu sei, mas ganhou meu respeito!

– Não se eu matar a todos vocês primeiro – Icabode disse com pouca convicção. Não fazia ideia de como sair daquela situação.

– Matar a todos nós? – Ivanovitch cruzou os dedos das mãos diante do rosto, curioso. – E como você faria isso?

Icabode ficou em silêncio, sem saber a resposta. De repente, uma ventania fez as cortinas esvoaçarem, e Ivanovitch aparecera um palmo em sua frente.

– Você certamente nunca ouvira falar sobre Ivanovitch, a Besta do Oriente – o vampiro disse, analisando a feição de Icabode. – Se tivesse ouvido falar de mim, saberia que sou o vampiro mais forte do mundo.

– Supostamente – Fermín o corrigiu. – Você é apenas o mais forte dos vampiros conhecidos. Obviamente existem centenas de outros que o venceriam, mas não são tão exibidos.

– Que eles fiquem com o título de “vampiros desconhecidos mais fortes” – Ivanovitch respondeu, olhando sobre o ombro. – Eu me contento com o título que importa de verdade.

– Antes de me tornar essa aberração – Icabode olhou para as próprias mãos -, quando ainda era um mero mortal, eu matei um de vocês. Só não matei o segundo por misericórdia. Agora que tenho o auxílio de forças sobrenaturais, sou capaz de muito mais.

– Diga-me, você é capaz de fazer isso? – Ivanovitch bateu palmas, e um estampido ressoou pela sala, agudo, com uma lufada forte que fez Icabode cambalear. O vampiro riu. – Eu lhe derrubaria com um estalar de dedos, literalmente – ele ergueu a mão em posição de um estalo. – Dependendo da força que eu usar, posso estourar seus tímpanos – ele encostou os dedos na testa de Icabode. – E se eu fizer isso bem aqui, esmago sua cabeça só com o coice do meu polegar.

A voz da Besta do Oriente era ameaçadora, e Icabode temeu. Sabia que não tinha chance alguma contra ele. Talvez haja, pensou, lembrando-se do crucifixo em seu peito. Suas mãos puxaram a corrente e ele a ergueu. Ivanovitch baixou os olhos para o pingente. Em seguida ele o arrancou do pescoço de Icaobode e o analisou de perto. Então, o jogou boca adentro, e o mastigou lentamente.

– Como você… – Icabode gaguejou, espantado com a cena.

– Você é um de nós agora – Ivanovitch disse, cuspindo os pedaços de metal no chão. – Sinto a sua fé como um aroma distante levado pelo temporal.

– Pare de brincar com a comida, senhor Ivanovitch – disse a juíza, uma criatura de formas animalescas, pontudas e grotescas. – Vamos aos votos?

– Claro, vossa excelência – respondeu o vampiro, voltando para o seu lugar.

– Antes de votarmos – Fermín disse, erguendo um dedo. – Gostaria de voltar a uma afirmação do acusado. Você disse que o mafioso Solomon Saks mantém um vampiro preso. Por quê?

– Ele pretende criar um exército – Icabode respondeu prontamente. – Saks pretende se tornar um vampiro, assim como seus soldados, com o propósito de tomar o controle da cidade, tanto do mundo mortal quanto dos vampiros.

– Ele está mentindo – Ivanovitch disse, incerto.

– Não – pela primeira vez, a senhora de preto, de rosto coberto por um véu, falou. – Ele diz a verdade. Senhor Ritzo, Solomon Saks vive em seu distrito, correto?

– Sim – Anthony Ritzo respondeu, segurando os suspensórios. – Ele é o empresário mais rico do Brooklyn, e um dos mais poderosos de Nova York.

– Então ele tem esse poder de nos incomodar? – Fermín perguntou.

– Se todos os homens que trabalham pra ele, se tornarem cainitas, sim, com certeza – Ritzo respondeu, preocupado.

– Eu resolvo isso – Ivanovitch deu de ombros. – Temos algumas horas antes do amanhecer. Eu dou um pulinho na casa desse cara e arranco seu coração, assim – ele fez o sinal com o polegar e indicador puxando alguma coisa.

– Vossa Excelência? – Fermín olhou para a vampira no canto da sala. – Eu não tenho nenhuma objeção.

– Muito menos eu – a senhora de preto acrescentou.

– Que seja – a Juíza respondeu, olhando a Ivanovitch. – Faça isso. E leve o neófito com você. Faça-o dizer tudo que sabe, inclusive o paradeiro desse vampiro que é refém de Saks, e traga-o junto. Depois votaremos sobre o futuro dos dois.

– Entendido, chefa – Ivanovitch foi até Icabode, segurando-o pela mão e o puxando em direção à sacada.

– Nós dois não conseguiremos fazer isso sozinho! – Icabode relutou. – Eu já tentei e foi um desastre! Ele tem um exército, mais o Troche, um cara de metal…

– Você não confia em mim, confia? – Ivanovitch perguntou, e subiu no parapeito da sacada. – Senhor Ritzo, endereço?

– Brooklyn Heigths, na Furman com Old Fulton. A mansão fica à beira do rio, colada à Brooklyn Bridge.

– Do lado do carrossel?

– Do outro.

– Saquei – Ivanovitch disse antes de saltar.

Icabode foi puxado de repente, centenas de metros acima do asfalto. Os dois aterrissaram no terraço do prédio à frente. Em seguida, Ivanovitch pulou novamente, e os dois foram em direção a outro prédio mais baixo. Como se estivessem em um Grand Canyon de concreto, eles saltavam sobre os abismos colossais de Manhattan, de prédio em prédio. Icabode era levado sob a força bruta da Besta do Oriente. Isso continuou até que chegaram ao chão.

– Vou te ensinar a fazer as coisas na surdina – Na velocidade de um raio, Ivanovitch começou a correr, passando por becos e túneis, sempre por caminhos sem luz e sem testemunhas.

De repente, Icabode percebeu que eles corriam sobre o rio, debaixo de uma ponte monumental, com cabos quilométricos e arcadas gigantescas. Era a Ponte do Brooklyn.

 

Ao chegar do outro lado do rio, Ivanovitch saltou pela última vez, levando os dois a caírem em uma propriedade arborizada.

– Esse é um belo quintal – disse o vampiro olhando ao redor.

No centro, havia uma mansão, e outras casinhas menores ao redor. Poloneses armados vigiavam todos os cantos da propriedade. Ao lado, jazia um carro elegante. Icabode supôs que Solomon Saks devia estar em casa.

– Acho que estamos no lugar certo – Ivanovitch disse, começando a andar em direção à mansão.

Os primeiros seguranças os avistaram, e começaram a gritar, erguendo suas armas. Ivanovitch se colocou na frente de Icabode.

– Fique atrás de mim. Você não pode morrer ainda.

– Se faz tanta questão – Icabode respondeu, se escondendo atrás do brutamontes.

Os poloneses se aproximaram, dando ordens e mirando as armas. Ivanovitch esperou em silêncio, com os braços erguidos. Assim que eles chegaram perto o suficiente, o vampiro agiu. Rapidamente, ele correu, fazendo uma meia lua, com o braço estendido na direção dos homens. Suas garras cortavam os pescoços dos guardas enquanto ele passava em suas frentes. No fim, todos caíram, agonizando. Demorou alguns segundos antes que o último morresse de fato.

Ivanovitch tirou um lenço do bolso e limpou sua mão coberta de carne, sangue e tendões. Ele olhou para Icabode e o lembrou:

– O vampiro mais forte do mundo.

Os dois se viraram em direção à mansão, e um dos guardas que assistira a cena, se virou e trancou a porta dos fundos. Ivanovitch deu de ombros e foi em direção ao carro. Ele ergueu o veículo com uma mão e o arremessou, abrindo um buraco na parede da mansão.

– Quando Deus fecha uma porta, eu abro um buraco.

O segurança atirou, descarregando sua Thompson no corpo de Ivanovitch. O vampiro agarrou um cadáver e o arremessou, acertando o segurança em cheio. Não havia mais ninguém em seu caminho. Os dois vampiros adentraram a sala, decorada com símbolos hebraicos, móveis caros, pedaços de parede no chão e um carro de cabeça pra baixo.

Três poloneses surgiram no andar superior e começaram a atirar. Icabode se jogou atrás do sofá, mas Ivanovitch ficou parado. Em seguida, ele abriu os braços e mostrou as presas, ameaçador como se fosse o próprio diabo. Os poloneses recuaram e saíram correndo, apavorados.

Em seguida, quando o silêncio se fez completo, uma voz surgiu. Icabode a reconheceu. Era Solomon Saks. O velho de postura invejável e longas barbas e cabelos brancos surgiu no topo da escada. Ele vestia um roupão de seda, negro.

– Boa noite, senhores. Como se já não bastasse o prédio de Green Point, estou recebendo visitas em minha própria casa. A mãe de alguém esqueceu de ensinar boas maneiras.

– Solomon Saks? – Ivanovitch perguntou. Sua voz abalou as estruturas da mansão.

– O próprio – Saks começou a descer a escada, não demonstrando ter medo. – E o senhor, quem seria?

– Aquele quem vai te devorar.

– E eu – Icabode disse, saindo de trás do sofá. – Lembra de mim?

– Ora, nos encontramos de novo – Solomon olhou para Icabode com surpresa. – Parece que você aperfeiçoou suas amizades – Em seguida, ele olhou para Ivanovitch. – Depois de tudo o que você fez em minha casa, irei mata-lo lentamente. Não hesite em fazer o mesmo comigo se tiver a chance.

– Pode deixar. Gosto de saborear minha comida. Não será a primeira vez que como carne polonesa.

– Camarada russo, sua provocação é muito empobrecida. Ela não me afeta em nada – assim que chegou ao térreo, Solomon parou.

– Faça isso rápido – Icabode disse ao vampiro. – E depois precisamos resgatar o vampiro que Solomon prendeu.

– Nós temos tempo suficien… – antes que Ivanovitch terminasse a frase, Solomon abriu o roupão e sacou uma pistola.

Ivanovitch se lançou sobre ele, erguendo a arma pra cima.  Icabode ficou assistindo a cena, em silêncio. As costas de Ivanovitch cobriam tudo, e ele não sabia se Solomon já estava morto. O vampiro estava parado, e Icabode achou que ele devia estar bebendo do pescoço do polonês.

“Iriei mata-lo lentamente. Não hesite em fazer o mesmo comigo se tiver a chance”, foram as palavras de Solomon, e Ivanovitch provavelmente estava aproveitando o momento.

Icabode franziu o cenho ao ver algo se movendo no casaco do vampiro. Algo começou a se projetar em suas costas, quando de repente um objeto pontudo, banhado em sangue rasgou seu casaco. No momento seguinte, Solomon deu um passo para o lado e atirou várias vezes no jovem. Icabode caiu no chão com vários buracos no peito.

Ele tentou se levantar, mas estava muito ferido. Olhou para estaca em Ivanovitch e não acreditou.

– No momento que eu ergui a arma – Solomon disse, olhando para Ivanovitch -, eu sabia que você iria direto na minha mão. Ela foi apenas um chamariz enquanto eu sacava a estaca com a outra e te empalava. Seu amigo ali conviveu comigo

alguns dias –apontou para Icabode. – Ele deveria saber que eu sou canhoto.

Solomon apertou o bíceps de Ivanovitch, admirado.

– Nenhum músculo é tão forte quanto o cérebro – ele olhou para Icabode e sorriu, mostrando as presas vampirescas.

– Oh não, você é um… – Icabode disse, surpreso.  – Você é um vampiro!

Solomon virou a cabeça e mordeu o pescoço de Ivanovitch, e começou a beber seu sangue. Icabode começou a se arrastar, mas sentia muita dor. Nunca chegaria a tempo.

Se ele beber da alma de outro vampiro, ele absorverá seus poderes! Sunday disse em sua mente. Você precisa pará-lo.

– Eu não… eu não consigo – Icabode tombou, observando Solomon drenar todo o sangue de Ivanovitch.

Em seguida, o brutamontes caiu no chão, ressecado, como se fosse uma grande ameixa. Ao seu lado, Solomon se retorcia, e com o roupão aberto, Icabode percebeu seus músculos dilatando sob a pele. As veias do polonês se engrossaram, e ele estava se transformando em algo mais. Em seguida, o velho se recompôs. Seus olhos estavam vermelhos, as presas, para fora. Ele foi até o carro no meio da sala, colocou as duas mãos sobre o veículo e com um movimento brusco, o repartiu em dois, como se fosse feito de papel.

Parece que temos um novo vampiro mais forte do mundo, Icabode pensou, aterrorizado com a cena.

 

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