Vitor Simões – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Entrevista realizada com o autor Vitor Simões, compartilhando conosco momentos da sua vida como criador de jogos de RPG Indie.

1. Conte-nos um pouco sobre você e sua trajetória como autor de RPG indie no Brasil.

Posso dizer que o começo da minha história com o RPG indie é quase que a mesmo que o começo da minha história como autor. Foi a partir do momento em que eu e meu grupo de amigos decidimos  desenvolver o nosso próprio sistema de regras que começamos a ter mais contato com esse mundo  Indie, pois passamos a olhar e a pesquisar diferentes fontes e sistemas.  Para ser sincero, nós nunca encaramos o desenvolvimento do Codex como algo “autoral”, no sentido de  escrita. Acho que por sermos todos engenheiros, nós sempre encaramos o desenvolvimento do sistema como um projeto de desenvolvimento  de produto e não como um livro que estava sendo escrito. Inclusive, foi só após 7 anos de desenvolvimento que definimos que o formato que o sistema seria  apresentado era o de um livro.

Assim soa até um pouco estranho a meus ouvidos ser chamado de  “autor” hahaha.  Agora, de forma bastante resumida, vou dar uma pequena linha do tempo que acho que ilustra bem aminha trajetória e a do Codex, pois é praticamente  impossível desvincular uma coisa da outra.

Em 2014, eu me reuni com mais 4 amigos para começar o desenvolvimento do nosso sistema de RPG  pois “quão difícil pode ser, não é mesmo?”.  No começo de 2015 já tínhamos uma versão para teste (ainda não tinha nome o sistema). Testamos e  estava horrível, não sei dizer se foi o pior sistema que já joguei, mas estava no top 5 hahaha nu. Depois disso passamos a aplicar uma metodologia de desenvolvimento de produto e recomeçamos do  0. A v0.00 do Codex saiu em meados de 2016.

Desse ponto…

…até 2020 fizemos 11 versões diferentes, algumas com mais mudanças outras com menos.
Nesse meio tempo tivemos a troca de dois integrantes da equipe, participamos de diversos eventos, conhecemos muita gente bacana dentro da comunidade do RPG e crescemos muito como pessoas e como conhecedores do hobby.

No final de 2020 lançamos a nossa campanha no catarse para o financiamento coletivo do livro, foi graças a todas as pessoas que conhecemos ao longo dos anos que conseguimos ter sucesso no financiamento para poder realizar o nosso sonho de lançar o nosso próprio sistema de RPG. Assim, 2021 era O ano dedicado a terminar tudo e entregar as recompensas.
Mas claro que as surpresas e dificuldades não acabam só porque você consegue ter sucesso em um financiamento. Agora é a hora da verdade e de formatar, diagramar e revisar e reescrever muitas coisas, assim a partir de meados de 2021 começamos a trabalhar em diferentes frentes, lidando com imprevistos desde ajustes inesperados no sistema até fornecedor que não entrega e a desistência de um dos membros da equipe. Mas isso tudo faz parte da aventura, afinal se fosse fácil não teria graça não é mesmo?

2. Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao desenvolver RPGs indies? Como os superou?

Ao longo dos anos de desenvolvimento tive de superar vários obstáculos, mas como sempre trabalhei em grupo nunca senti que nenhum deles era grande de mais. A nossa equipe funciona como num grupo de personagens de RPG, cada um tem seu ponto forte e a sua função, se complementando e ajudando uns aos outros nos desafios que não conseguem superar.
Para mim o desenvolvimento de um sistema de RPG sempre foi muito mais do que desenvolver um sistema, mas também uma jornada de crescimento e aprendizado. Acredito que quando você encara um desafio dessa forma, as coisas ficam mais leves e as consequências, menos drásticas. Afinal mesmo que tudo desse errado e o sistema virasse algo que ninguém jogasse, apoiasse ou gostasse, ainda assim eu teria aprendido muito só por fazer ele e isso pra mim era o mais importante dessa empreitada.

Agora, respondendo a pergunta de forma mais objetiva, eu sempre tive dois grandes desafios. O primeiro era manter toda a equipe motivada, mesmo quando as coisas estavam dando erradas ou estava todo mundo exausto e o segundo era garantir que as coisas estavam acontecendo e sendo feitas com a velocidade e qualidade desejada. Essa segunda parte é especialmente verdade quando tratamos de fornecedores e pessoas externas ao grupo.

3. Quais foram os momentos mais marcantes ou pontos altos da sua jornada como autor de RPG indie

Tiveram alguns, diria que o mais marcante de todos, sem sombra de dúvidas, foi o sucesso no financiamento do Codex.

Todo acolhimento pela comunidade foi algo que me surpreendeu e me impactou bastante (de forma positiva, é claro hehehe).

Outro momento bastante marcante foi a nossa primeira participação em um evento de RPG em São Paulo. Foi em um evento de halloween no CCJ (Centro Cultural da Juventude) organizado pelo pessoal do Covil do RPG. Foi a primeira vez que testamos o nosso sistema com pessoas do público Sinto que esse foi o nosso primeiro passo dentro da verdadeira comunidade do RPG. A partir daí começamos a participar de eventos a cada 3~4 meses, depois a cada 1 mês e no final estávamos participando de eventos quase que quinzenalmente. Foi um período bastante intenso mas muito gratificante.

4. Compartilhe conosco um ou dois sucessos que você alcançou no cenário de RPG Indie. Houve surpresas, ou foi tudo como planejado?

Bom, posso dizer que o maior sucesso foi o do financiamento do Codex. Em termos da parte prática/funcional do financiamento, tudo ocorreu como previsto antes e durante o financiamento. Conseguimos bater as metas e todas as compras estavam dentro do que tínhamos projetado, assim não tivemos surpresas com o orçamento nem nada parecido.
A única surpresa, foi a quantidade de trabalho que ainda tínhamos pendente. Acreditávamos que o sistema estava praticamente 100% finalizado, mas no momento da revisão percebemos que tínhamos muita coisa para escrever e reescrever, no final acabamos fazendo até uma nova versão do sistema, incluindo algumas regras novas e uma serie de novos conteúdos para afinar o balanceamento do jogo.
Infelizmente isso significou em um atraso imprevisto na data de entrega das recompensas para os apoiadores…

5. Quais os projetos você tem desenvolvido na área dos RPG Indies? Ou tem algum projeto que você gostaria de divulgar?

Bom, acho que já falei bastante do Codex até agora. Então só vou dizer que o nome completo do sistema é: Codex of Reality. Temos página no facebook, instagram, discord e whatsapp se alguém quiser conversar sobre desenvolvimento de RPG ou saber mais sobre o sistema é só mandar mensagem em alguma dessas plataformas acesse nosso Corerpg | Instagram, Facebook, Twitch | Linktree.

6. Como você vê a ideia da comunidade RPGísta de realizar o mês do RPG Indie?

Olha, eu super apoio qualquer tipo de movimento da comunidade do RPG para criação de qualquer tipo de evento que ajude a disseminar o hobby e alimente a interação entre aqueles que já fazem parte dele.

Acredito que o nosso hobby é aquilo que fazemos dele então quanto mais pudermos fazer a favor da comunidade, melhor 😀

7. Para você, qual deveria ser o principal objetivo desse evento? E o que espera dele?

Vejo o mês do RPG Indie como uma janela de oportunidade para pessoas que estão desenvolvendo seus projetos mostrar para o publico o que estão fazendo além de ter contato com pessoas que já estão mais consolidadas nesse meio. Dessa forma espero encontrar não só coisas sobre projetos e pessoas que estão sempre aparecendo por aí, mas também ver novos autores e desenvolvedores.

8. O que você diria que são RPGs INDIEs e qual a importância deles?

Para mim, RPG Indie é todo RPG que não é regido/controlado por nenhuma editora grande. Em outras palavras, um RPG desenvolvido por alguém que é livre para criar e desenvolver o que bem entende sem sofrer influências ou interferências de uma empresa ou entidade que tenha como o objetivo principal o lucro.

Esse tipo de liberdade da a oportunidade para o surgimento de coisas que antes seriam inimagináveis, pois o autor pode criar e experimentar sem ter o peso da necessidade de criar algo que seja sucesso comercial.

9. Como você vê a relação: RPGs da industria de jogos X RPGs INDIEs no mercado brasileiro e o mundo?

O mercado de RPG no Brasil ainda está crescendo e ainda tem muito a crescer.

O brasileiro é um povo que culturalmente é muito aberto a coisas novas e a experimentar o desconhecido, então eu vejo muito espaço para pequenos autores e novos sistemas no Brasil.

Afinal não é incomum ir em um evento e ter 15 sistemas diferentes sendo jogados em 15 mesas.

Não sou profundo conhecedor do mercado internacional de RPG, mas estou morando em Toronto já faz 10 meses e posso dizer que aqui não existe o conceito de “eventos de RPG”. O que acontece é de pessoas se reunirem para jogar em locais públicos e abrirem vagas na mesa para pessoas externas, mas estranham quando eu descrevo ou conto o conceito dos eventos que temos em São Paulo, por exemplo.

Por causa desse tipo de coisa que eu acredito que o Brasil possui um ambiente muito mais fértil para o crescimento de novos RPGs, indies ou não.

10. Qual mensagem pessoal sua você gostaria de mandar para a comunidade RPGista brasileira?

Não tenho nenhuma grande mensagem ou frase de efeito, apenas desejar que todos continuem jogando e se divertindo. Afinal o RPG é isso, algo para a gente usar para se divertir, e não tem nada de errado com isso!


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Vitor Simões – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG é um evento idealizado e organizado por:

Douglas Quadros
Gustavo “AutoPeel” Estrela
Isabel Comarella
Iury.KT
O Escritor Ansioso
Ur Tiga Brado’k
Mandi

Jorge Valpaços – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Entrevista com o autor Jorge Valpaços, contando para a gente suas experiências com RPG Indie.

1. Conte-nos um pouco sobre você e sua trajetória como autor de RPG Indie no Brasil.
Lampião Game Studio

Opa! Eu sempre curti muito os jogos independentes nacionais. Me aproximei da cena ao jogar os jogos do Marco Bym, Carlos Klimick, Eliane Bettochi desde os anos 90. Mas recentemente, Tiago Junges,Encho Chagas, Eduardo Caetanoe outros foram fontes de inspiração. Eu tocava projetos de educação lúdica em contextos socioeducativos e sempre levava jogos brasileiros para as oficinas. Daí não tardou para esbarrar com Jefferson Neves e Rafão Araújo, conhecer seus projetos e ser convidado a participar do Lampião Game Studio. Estou nessa desde os anos 2014, mais ou menos, e tenho uma boa gama de jogos lançados desde então. Eu comecei a me relacionar com design de jogos pelo viés acadêmico, e só depois comecei a colocar a mão na massa e criar meus desvios.

Acho que minha assinatura tem a ver com as vivências, com o que sinto, com o que desejo partilhar. E em cada projeto deixo um tanto demim aberto pra jogo.

E acho que assinar “no jogo, a gente se encontra” é o que realiza a minha potência de viver. Só consigo me encontrar na contingência que é existir enquanto estou em jogo, e jogado, no mundo.

2. Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao desenvolver RPGs indies? Como os superou?

Cada projeto tem suas demandas específicas. Muito do que faço fica anos na gaveta, precisando do tempo certo pra acontecer. Acho que os principais desafios vêm da materialidade. Eu, como qualquer criador cultural independente, não temos segurança financeira, e trabalhamos em tempo disponível. Escrever tendo de lidar com preocupações como tiroteio no complexo do alemão, tratar da saúde mental e tantas questões que me atravessam são mais complexas que buscar uma solução mecânica. Mas, quanto às restrições do processo criativo, penso que o sangramento voluntário e o design material sejam os meus principais desafios. Eu “me coloco em jogo”, num processo de entrega em cada projeto.
Então há aspectos de gozo e sofrimento em cada jogo que “nasce”. Já em relação ao design material, eu abandono convenções de jogos (como um manual é escrito, como o jogo é jogado) e parto da dinâmica “acontecendo na mesa” para pensar na criação do jogo. Se eu pensasse de outra forma, Ceifadores, com a ficha-biombo e a mecânica de pegar o dado, não aconteceriam, por exemplo. Mas isso gera algo muito complicado, que é buscar repertórios de outras práticas lúdicas para solucionar questões abertas durante a criação dos jogos. É algo um tanto difícil, mas muito recompensador. Só não concordo muito com a necessidade de superar desafios. Digo porque desisti, abandonei muitos projetos, muitos jogos. Saber que não vai dar é tão ou mais significativo que fazer. Você compreende seus limites, o que deve investir em melhorar, o que te faz mal.

É importante ter isso em mente, e deixarde lado um tanto aquela coisa de sempre vencer, superar, avançar.

3. Quais foram os momentos mais marcantes ou pontos altos da sua jornada como autor de RPG indie?
Ceifadores
Lições

Ganhar os Goblins de Ouro de 2022 e 2023 com Ceifadores e Lições seria a resposta fácil. Mas quando levo um jogo meu a uma periferia, ele é jogado por uma menina que diz que foi muito divertido e é seu primeiro jogo narrativo, ali está meu ponto alto. E é por isso que hoje me dedico a jogos ensaios, impressos artesanalmente e em zines baratinhas e me volto a comunicar mais na ponta que no centro.

Agora, se dá pra listar outro ponto alto, outro aspecto que realmente se destaca em minha jornada, é poder dividir convites de jogar histórias tão únicas, como as de Amores da Vila do Caju, Asas da Vizinhança, Cruzos e Herdeiros dos Antigos. Apenas saber que estes desvios interessam a outrem já me faz viver

4. Compartilhe conosco um ou dois sucessos que você alcançou no cenário de RPG indie. Houve surpresas, ou foi tudo como planejado?

Lições RPG é um jogo com quase 8 anos de desenvolvimento. Lançá-lo após um fracasso na primeira campanha de financiamento coletivo já foi um sucesso incrível. Me dediquei muito a ele, mas jamais pensei que ganharia 2 prêmios (design de regras e livro básico no Goblin de Ouro de 2023). Tudo foi planejado para ser meu jogo definitivo no sistema L’Aventure, mas foi una grande surpresa ter tido este reconhecimento, dada a qualidade das obras de quem concorria comigo.

5. Quais os projetos você tem desenvolvido na área dos RPG Indies? Ou tem algum projeto que você gostaria de divulgar?
Gavaret

Sigo na deriva e no desvio lúdico. Agora meu enfoque é em lidar com o repertório do jogar que nós temos ao criar jogos. Então esperem ver jogos meus que lidam com adedanha/stop, amarelinha, batalha naval e tantos outros jogos que a gente já conhece para estar no centro do desenvolvimento da prática lúdica. E meu primeiro projeto neste (des)caminho é Gavaret, fantasia e aventura em suas mãos. É um jogo narrativo competitivo (isso mesmo, teremos vitória em rpg) jogado com pega-varetas. O seu lançamento será no início de agosto em catarse.me/gavaret

6. Como você vê a ideia da comunidade RPGísta de realizar o mês do RPG Indie?

Gosto muito da proposta. Me inspiro e admiro muito as pessoas autoras que estão na cena e me
orgulho de dividir o presente com eles.

7. Para você, qual deveria ser o principal objetivo desse evento? E o que espera dele?

Eu espero que haja mais visibilidade destas pessoas fantásticas que inventam mentiras incompletas jogáveis, verdadeiras como a vida, e as partilham. Penso que o principal objetivo do evento possa ser repensar o jogo e o jogar. E nisso, já lançamos os dados.

8. O que você diria que são RPGs INDIEs e qual a importância deles?

Eu não sei o que são rpgs indies, rs. Dá pra pensar em produção independente, mas não tenho segurança em determinar que um tipo de jogo é indie e outro não. Acho que o independente por aqui s relaciona com o jogar e criar e não exatamente com o jogo. Pensando sobre este jogar e criar independente, penso que ele pode saltar por caminhos mais brincantes e esquivos que a estrada de tijolos amarelos. Mais, ainda em amarelo, somos, em submarinos, ou não.

9. Como você vê a relação: RPGs da industria de jogos X RPGs INDIEs no mercado brasileiro e no mundo?

Sem óculos, vejo meio embaçado. Com óculos, talvez seja mais embaçado.

Não observo uma necessária oposição, mas assimetria e exploração. Criadores independentes fazem parte de um mundo atravessado por monopólios, concentrações hegemônicas e contradições. Grande parte (e eu me insiro) são precarizados numa indústria que se orgulha em falar de lucro e receita enquanto coleciona escândalos trabalhistas e práticas de apoio a supremacistas, por exemplo. Ali, debaixo da ponte, com a tenda aberta, há quem mostra sua arte, ao lado do shopping center. Acontece que a fome bate, a conta vem e você vende sua força de trabalho pra reproduzir sua existência. E este é o jogo mais difícil de jogar.

10. Qual mensagem pessoal sua você gostaria de mandar para a comunidade RPGista brasileira?

Permita colocar-se em jogo. Venha comigo pra se perder um tanto. A gente inventa uma história sobre como foi depois. Basta escolher um lanche de histórias e comer com gosto em Lampião Game Studio


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Jorge Valpaços – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG é um evento idealizado e organizado por:

Douglas Quadros
Gustavo “AutoPeel” Estrela
Isabel Comarella
Iury.KT
O Escritor Ansioso
Ur Tiga Brado’k
VellSant

José Noce – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Entrevista realizada com o autor José Noce, que nós contou um pouco da sua historia com o universo Indie.

1. Conte-nos um pouco sobre você e sua trajetória como autor de RPG Indie no Brasil.
Studio
Macunaíma Games

Meu nome é José Noce, sou de Belo Horizonte – MG e também sou a mente insana por trás do Studio Macunaíma Games. Tenho alguns jogos de RPG e tabuleiro publicados no blog do meu studio, além de
dois livros publicados pelo Catarse. O primeiro é um livro com dicas para narradores de RPG, chamado
Vamos Pôr Ordem Nesta Bodega! E o segundo é um RPG infanto-juvenil chamado Pequenos Aventureiros, que serve como porta de entrada para o nosso hobby.

Pequenos Aventureiros

Eu sempre curti fazer jogos né. Quando criança, me amarrava numa seção dedicada a todo tipo de jogos analógicos que havia na Super Interessante. Eu vivia tentando fazer hacks daqueles jogos, ou até criar jogos originais usando eles como referência. Então, quando eu descobri o RPG na minha adolescência, foi paixão à primeira vista! Mais a vez, lá estava eu na piração de fazer joguinhos hehehe. Mas como eu ainda não tinha assim tantas referências e noções de game design, ainda não era capaz de criar algo funcional. Com o tempo, fui jogando, mestrando e estudando muitos jogos. Ae sim eu comecei a ter uma base. Além disso, também passei a estudar alguma coisinha de game design. No começo preferia desenvolver jogos de tabuleiro, por serem mecanicamente mais simples que jogos de RPG. Mas logo descobri que a produção é aonde o bicho pega kkkkkkkk. Trabalho e custos demais fazendo caixas, tabuleiros, cartas, dados, marcadores, etc. Então resolvi focar no RPG, que apesar da complexidade de criar regras que emulassem toda uma “realidade fictícia”, a execução desses jogos era quase semprepublicar um livro.

2. Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao desenvolver RPGs indies? Como os superou?

Lá no começo da minha jornada RPGística, além de ser muito cru como descrevi anteriormente, era muito mais difícil publicar as coisas. A internet ainda engatinhava, e não haviam ferramentas de venda como financiamentos coletivos. E ainda por cima era super difícil conseguir fornecedores gráficos com familiaridade na produção de acessórios para jogos. Tanto que houve uma época em que eu me resignei que só iria conseguir desenvolver e publicar jogos depois da minha aposentadoria kkkkkkkkk. Mas felizmente muita coisa mudou de lá pra cá. Hoje em dia é muito mais fácil publicar jogos, tanto que muitas vezes nem é preciso recorrer a uma editora pra isso. Tem muita gente que se refere aos anos 90 como a Era de Ouro do RPG no Brasil. SABE NADA INOCENTE KKKKKKK! A Era de Ouro é agora, sem sombra de dúvidas!

3. Quais foram os momentos mais marcantes ou pontos altos da sua jornada como autor do RPG indie?
Jogatina

Foi ver toda a minha jornada e todo o meu aprendizado começando a gerar frutos. Vendo que as pessoas começavam a prestar atenção nos meus jogos pra muito além do meu “quintal”, dos rolês que eu já era acostumado a frequentar. Que muitos clubes de jogos, streamers, divulgadores RPGísticos, começavam a me convidar pra falar dos meus trabalhos ou até demonstrar eles na prática fazendo alguns gameplays. Sou muito grato por tudo isso. Só que o mais bacana foi perceber que além dessa visibilidade, eu estava deixando uma marca positiva na vida dessas e muitas outras pessoas. E isso é bem recente, de quando lancei o financiamento coletivo do Pequenos Aventureiros.

4. Compartilhe conosco um ou dois sucessos que você alcançou no cenário de RPG indie. Houve surpresas, ou foi tudo como planejado?

O sucesso veio aos poucos, mas se eu falar que foi planejado eu tô mentindo kkkkkkkkk. Fui aprendendo com o erros, quebrando a cara mesmo. Até que uma hora eu comecei a acertar, apesar de ainda cometer muitos erros que eu gostaria de evitar rsrsrs. Um dos momentos mais memoráveis e bem sucedidos pra mim foi numa live do canal Flecha Mágica no YouTube. O Pequenos Aventureiros estava em campanha de financiamento coletivo, e começamos a live já batendo uma meta e terminamos ela batendo outra. Achei aquilo incrível Mas o sucesso de outros autores à minha volta é tão importante quanto os meus.

Somos todos parte de um ecossistema, então o sucesso dos meus pares pra mim é um sinal de que a cena está estruturada e saudável.

Pois sem isso, por mais que eu seja bem sucedido, não há estrutura pra ninguém. É como se, na falta de um porto seguro, todo mundo estivesse se afogando em alto mar. Com a diferença apenas que aqueles que têm algum reconhecimento ou relevância – o que não é o meu caso – são erguidos pra tomar um fôlego e depois são soltos na água pra se afogar igualzinho ao resto.

5. Quais os projetos você tem desenvolvido na área dos RPG Indies? Ou tem algum projeto que você gostaria de divulgar?
Vamos por Ordem nessa Bodega

Bom, pra começar, tem meu livro “Vamos Pôr Ordem Nesta Bodega!” Ao invés de partir da premissa “O que o mestre pode fazer pelos jogadores?”, presente na esmagadora maioria de materiais a esse respeito, ele parte de uma outra premissa que parece contrária, mas que na verdade completa a primeira: “O que o mestre tem direito de exigir dos jogadores?” É portanto um livro que busca valorizar o trabalho dos mestres, que muitas vezes torram seus neurônios por grupos que não estão nem “ae” pro seu esforço. Este livro foi publicado em 2017 pelo Catarse. Tem também meu RPG infanto-juvenil Pequenos Aventureiros. Ele tem um sistema de associação de cores e símbolos com as características dos personagens, de modo que até crianças ainda não alfabetizadas consigam jogar sem dificuldades. E o outro diferencial é um sistema gerador de aventuras “calibrado” para crianças recém alfabetizadas ou outros narradores iniciantes.

Ele foi bem sucedido em dois financiamentos no Catarse, a campanha original e o late pledge, este último que eu tive que fazer atendendo aos pedidos da galera hehehe. E eu ainda tenho outros 2 RPGs publicados no meu segundo blog, o Macunaíma Lado B, pra conteúdos adultos. Um deles é o Meus Colegas da Quinta Série, um jogo sobre rir de você e ao mesmo tempo com você. Você joga com um alter-ego seu, só que construído através da zoera dos outros jogadores, passando por todo tipo de situações ridículas kkkkkkkkk. Um jogo que eu costumo indicar pra maiores de 30 rs, ou pessoas que saibam rir de si mesmas rsrs. O outro jogo é o Rock no Cu & Gritaria, um RPG Cringepunk sobre sexo, drogas, rock n’ roll e vergonha alheia, aonde todo mundo parece com o Supla e a Ana Maria Braga kkkkkk. Esse por enquanto só tem alguns rascunhos publicados.

6. Como você vê a ideia da comunidade RPGísta de realizar o mês do RPG Indie?

Acho incrível! Quanto mais datas a gente tiver pra celebrar o RPG Independente, melhor!

7. Para você, qual deveria ser o principal objetivo desse evento? E o que espera dele?

A divulgação de RPGs Independentes, especialmente feitos por autores iniciantes. Além, é claro, de convidar o público em geral para conhecer jogos fora da caixa, da mesmice do mainstream .

8. O que você diria que são RPGs INDIEs e qual a importância deles?

Jogos indie, ao contrário do que se pensa, não têm a ver com conceitos inovadores, mas sim com forma de produção e distribuição, geralmente no formato de auto-publicação. Porém, o autor independente tem mais liberdade criativa, não tendo que se prender às formas mercadológicas do mainstream, e por isso que geralmente jogos indie são beeem fora da caixa. A importância do RPG Independente tem a ver com 2 fatos. O primeiro, como já foi dito antes, é convidar o publico RPGista a sair da caixa, embarcar em novas experiências. E o segundo é mostrar pra jovens autores que é possível sim publicar o seu RPG, mantendo assim a chama do RPG acesa também nas novas gerações.

9. Como você vê a relação: RPGs da industria de jogos X RPGs INDIEs no mercado brasileiro e  no mundo?

Eu creio que exista uma simbiose entre os mercados mainstream e indie. Por um lado, de tempos em tempos o mainstream precisa se reinventar, já que suas fórmulas mercadológicas ao extremo começam  a ficar batidas. E nessa hora eles recorrem quase sempre aos autores indie pra se repaginarem. Por outro lado, o indie é muito pequeno e nichado pra conseguir visibilidade por si mesmo. Então ele se aproveita da visibilidade do mainstream pra se fazer visto, especialmente atendendo nichos menores que o mainstream não consegue atender por conta de suas especificidades.

10. Qual mensagem pessoal sua você gostaria de mandar para a comunidade RPGista brasileira?

Saiam do “arroz com feijão” do D&D, Vampiro e companhia e venham jogar com a gente! Venham
conhecer jogos com poucas páginas, mas com muita inovação conceitual- e claro, muita diversão!


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O Que é RPG Indie? – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Apesar de sua aparente simplicidade, um RPG Indie é um RPG independente. Ele é desenvolvido e lançado sem o apoio de editoras, frequentemente envolvendo pequenos estúdios. Quando mencionamos a ausência de uma editora, queremos dizer que os autores têm total liberdade criativa e são os proprietários dos direitos autorais de suas obras. Eles não estão restritos aos métodos de trabalho ou às ideologias das grandes editoras, o que lhes confere pleno controle sobre o conteúdo de suas criações.

Características do RPG Indie

Em geral, embora não seja uma regra rígida, o RPG Indie tende a ser mais compacto, com menos páginas em comparação às obras já consagradas, e possuem menos suplementos. No entanto, mesmo com essa característica, eles oferecem aventuras ricas, concentrando-se na facilitação da narrativa ou adotando formatos distintos do convencional. Podemos afirmar que esses jogos se especializam em criar uma experiência única a cada sessão de jogo.

Além disso, os jogos independentes desempenham um papel fundamental no mercado, pois são uma resposta dos jogadores às empresas ou editoras que tomam decisões ou direcionamentos em jogos aclamados que desagradam aos fãs. Isso resulta na criação de novos jogos de nicho, substituindo os mais famosos, e contribui para o crescimento e a diversificação do mercado de jogos.

Por que o RPG Indie merece reconhecimento?

O Movimento RPG, está dando inicio a sua 1ª Semana do RPG Indie. E dedicar um dia para o RPG Indie é importante por várias razões.

Primeiramente, os jogos independentes oferecem uma perspectiva única e uma abordagem criativa que muitas vezes não são encontradas nos jogos mainstream, e clássicos. Eles proporcionam experiências de jogo diferentes, explorando narrativas originais, mecânicas inovadoras e formatos não convencionais. Ao se dedicar para explorar esses jogos, os jogadores têm a oportunidade de vivenciar aventuras únicas e descobrir novas formas de jogar.

Além disso, apoiar os RPGs Indie é uma forma de valorizar a independência criativa e a diversidade no mundo dos jogos. Ao dedicar um período específico para esses jogos, estamos reconhecendo e promovendo a importância da liberdade artística, da autonomia dos desenvolvedores e da pluralidade de ideias. Isso incentiva o crescimento e a inovação no cenário dos jogos, proporcionando mais opções e alternativas aos jogadores.

A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG

Por fim, dedicar um dia ao RPG Indie também é uma maneira de mostrar apoio e reconhecimento aos desenvolvedores independentes e aos pequenos estúdios. Eles muitas vezes enfrentam desafios significativos para criar e lançar seus jogos sem o respaldo das grandes editoras. Ao dedicar tempo e recursos para jogar e promover esses jogos, estamos contribuindo para sua visibilidade e sucesso, incentivando o florescimento de uma comunidade de criadores independentes.

Em resumo, dedicar essa semana para o RPG Indie é importante para nós porque permite explorar novas experiências de jogo, apoiar a independência criativa e diversidade, e promover a visibilidade e o sucesso dos desenvolvedores independentes.

É uma forma de celebrar a criatividade e o espírito inovador que impulsiona a indústria do RPG.

Portanto nessa semana, traremos vários conteúdos que enaltecem o RPG Indie Nacional! Fique por dentro das nossa mídias, e acompanhe aqui pelo site também!


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