Falhas Críticas 22 – Movimento da Mente

Após uma negociação um tanto malsucedida, um vampiro Tremere encarava o inimigo que, agora, apontava duas armas na direção dele. Após uma longa ponderação olhando para a própria ficha, o Tremere anuncia que vai utilizar Movimento da Mente para tirar as armas da mão do inimigo.

  O Tremere CONSEGUE fazer as armas levitarem com seu movimento da mente, só não contava com o assombroso preparo do NPC, que prontamente saca MAIS DUAS armas e alveja o tremere com todo seu poder de fogo!

Fim.

Mande suas histórias de Falhas Críticas para nosso e-mail contato@movimentorpg.com.br. As melhores histórias vão ser eternizadas pelos ilustradores do Estúdio Tanuki e você vai poder ver aqui no site do Movimento RPG.

Baseado nas aventuras jogadas por: Douglas Quadros
Texto de: Raul Galli
Revisão de: Douglas Quadros
Arte de: Estúdio Tanuki

Veja todas as tirinhas no nosso instagram ou diretamente no site.

MRPG Podcast [09] – Terror no RPG

Olá aventureiros! Neste episódio do MRPG Podcast, Douglas Quadros foi até a ilha de Darkwater para encontrar o autor Felipe Cangussu. Os dois conversam sobre como utilizar o terror no RPG dando dicas úteis de como ambientar os jogadores neste tema tão polemico.

Primeiramente falaram sobre os principais problemas que os jogadores enfrentam para entrar no clima de terror da aventura. Por outro lado o teor da conversa em si, se manteve muito mais no terror como uma ferramenta no geral. Posteriormente o convidado respondeu algumas perguntas dos ouvintes relacionadas ao terror no RPG e como os mestres poder usar esta ferramenta nas suas campanhas.

Enquanto conversavam, Felipe Cangussu bebeu Whisky e Douglas Quadros comeu uma sopa de polvo. Enfim pegue uma bebida de sua preferencia, puxe uma cadeira e acompanhe está conversa recheada de dicas de como utilizar o humor no RPG.

Para mais algumas dicas de terror leia os posts do autor Vinicius Viana.

Tema: Dicas para Mestres
Tempo: 00:42:50



Links Convidado:

– Seja um Padrim do Movimento RPG
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E-mail: contato@movimentorpg.com.br – Mande suas perguntas sobre o próximo tema, ele sempre é anunciado com antecedência no twitter e instagram siga lá.


Host: Douglas Quadros
Convidado: Felipe Cangussu
Editor: Senhor A
Arte da Vitrine: Douglas Quadros
Pauta: Douglas Quadros

Ficha de Personagem Vampiro V5 – Design de Raul Galli

A quinta edição de Vampiro: A Máscara tem uma direção de arte incrível. Contudo é uma pena que parece que esqueceram de dar a mesma atenção a um dos principais elementos de jogo: a ficha de personagem. Eu, como diretor de arte todavia, acredito que o design da ficha deve ser claro e favorecer a imersão no cenário. Por isso, decidi fazer minha própria versão.

Os elementos que mais tendem a variar ao longo das sessões (Hunger, Desire, Ressonance, Health, Willpower e Humanity) foram reunidos em um círculo no centro da parte superior da ficha. Do lado esquerdo, estão as informações “mundanas” do personagem (Nome, Concept e Ambition) e, do outro lado, as informações sobrenaturais (Clan, Generation, Sire e Predator Type).

Resolvi trazer para a parte da frente da ficha os Chronicle Tenets, Touchstones & Convictions e Clan Bane, pois são informações relevantes para a interpretação do personagem. Do outro lado, ficaram todos os recursos que os personagens podem querer usar em momentos de dificuldade, como Advantages & Flaws, Disciplines e informações relativas à Blood Potency, junto com espaços para background e anotações.

Clique aqui para baixar a Ficha de Personagem do Vampiro V5 design de Raul Galli

Algumas pessoas me pediram uma versão em PT-BR desta ficha, que prometo fazer quando sair a tradução oficial da Galápagos. 😉

Bom jogo a todos!

Movimento RPG Podcast [03] – Spohrverso

Olá aventureiros! Neste episódio do Movimento RPG Podcast, Douglas Quadros vai até a região serrana do RJ visitar a Universidade de Santa Helena para bater um papo com Eduardo Spohr e falar sobre O Spohrverso. Inicialmente os dois tem uma fabulosa conversa sobre as origens do universo criado pelo autor em seu grupo de RPG.

Primeiramente falaram sobre os primórdios do cenário que carinhosamente os fãs denominaram como Spohrverso, e como foi todo este processo de evolução e expansão do universo. Posteriormente respondendo a pergunta de o que veio primeiro, “a obra ou o universo”, tiveram uma conversa sobre cenário e sistema. Eduardo então respondeu algumas perguntas dos ouvintes para que nenhuma dúvida restasse sobre a obra e universo do autor. Concluíram falando sobre a campanha de financiamento coletivo que o autor lançou no início de Agosto que encerra em Setembro. Corra para garantir o seu Box da Tetralogia Angélica.

Enquanto conversavam, Eduardo Spohr para homenagear o personagem Daniel propôs que bebessem um Jack Daniels, Douglas Quadros acompanhou, então pegue uma bebida, puxe uma cadeira e acompanhe está conversa extraditaria sobre os bastidores da criação do Sporhverso.

PS para os fãs de Tormenta: inesperadamente foi falado de Tormenta RPG DE NOVOOO!

Tema: Cenário de RPG
Tempo: 00:52:07

Apoio: Questfinder – Jogue RPG com pessoas próximas



Links Convidados:
– Financiamento Coletivo da Tetralogia Angélica – Edição de Colecionador
– Aventura Sombras do Abismo
– Conto A Torre das Almas
– Site do Autor
– Site dos Livros
– Instagram do Autor
– Twitter do Autor
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Participantes: Douglas Quadros
Convidados: Eduardo Spohr
Editor: Senhor A
Arte da Vitrine: Douglas Quadros
Pauta: Douglas Quadros

Falhas Críticas 04 – Quando o Jogador Buga

Jonny estava investigando um carro abandonado em uma rua deserta da cidade, resolveu então olhar o porta-malas do automóvel. Então o jogador pergunta — Mestre, o que encontro no porta-malas?

— Você encontra somente um macaco mesmo. Responde o mestre não demonstrando nenhuma reação de estranheza.

Eis que o cérebro de gangrel do jogador tira ––  e este pergunta: — Macaco? Macaco de que raça?

E e o mestre com uma cara sarcástica responde: — da raça Hidráulicux!!!!

 

 

FIM.

Baseado nas aventuras jogadas por: Douglas Quadros
Texto de: Douglas Quadros
Arte de: Raphael Barros

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Icabode St. John [25]

Maxiocán ia à frente do grupo, de olho na bússola que os conduzia pela trilha de neve entre os pinheiros. Drake Sobogo trazia a mala com as armas e granadas, mais atrás do grupo. Leon aguçara seus ouvidos, em alerta. Seria sua responsabilidade avisar aos outros caso alguém se aproximasse. Caveira segurava seus revólveres, com os canos apontados para cima.

– Esperem! – Leon disse, se virando na direção dos pinheiros. – Estou ouvindo um barulho de árvores quebrando… meu Deus, ele já chegou!

Um vulto negro surgiu da floresta e se agarrou em Drake, levando-o para o outro lado das árvores, desaparecendo completamente do grupo. O Capitão Sangrento nunca mais veria nenhuma daquelas pessoas.

– Olha, olha, o que temos aqui – uma voz surgiu da noite, quando de repente, Gólgota surgiu no meio do caminho. Ele estava invisível até o momento. – Não me diga você é Maxiocán, o lendário caçador de vampiros!

– É ele sim – Rabin confirmou, descendo do céu como se fosse um anjo caído. – E acho que ele veio atrás do coração do chefe. Será que ele é tão poderoso quanto dizem, Gólgota?

– Só há um jeito de saber – o vampiro tirou os olhos de Rabin e se virou para Maxiocán. Em seguida, esses mesmos olhos se arregalaram, e uma veia saltou de sua testa.

O corpo de Maxiocán se tensionou imediatamente, sua pele enrubesceu, os vasos sanguíneos de seus olhos estouraram, transformando as pupilas em duas bolas vermelhas. E em seguida, seu corpo caiu duro como uma estátua para trás, ainda segurando a bússola.

– É tão fácil fritar o cérebro de um humano – Gólgota disse, satisfeito. – Por que não pode ser fácil assim com vampiros?

– Quem disse que não é? – Caveira perguntou, esticando os revólveres e apertando os gatilhos freneticamente.

Gólgota deu um grito de susto e ficou invisível, mas isso não serviu de nada, pois logo em seguida seu corpo voltou a aparecer, enquanto sua cabeça era perfurada várias vezes. Os miolos pularam para fora como pipoca, e em menos de um segundo, ele estava caído sobre a neve, tornando-a vermelha ao redor da cabeça. Os olhos eram como de peixe morto, e sua alma fora enviada direto para o inferno.

Leon se jogou sobre o corpo de Maxiocán, tirou a bússola de sua mão e ficou invisível. Caveira e Rabin estavam sozinhos, um de frente para o outro. O feiticeiro de Solomon olhava para o corpo de Gólgota, incrédulo. Aquilo acontecera muito rápido. Caveira era um pistoleiro muito habilidoso. Pegadas começaram a se formar na neve, quando Leon (ainda invisível) começou a correr com a bússola na mão.

– Você não vai escapar! – Rabin ergueu os dedos para o céu, e uma bola de fogo se formou no centro de sua palma antes de arremessa-la em direção a Leon.

Caveira virou morcego e se jogou em frente ao ataque, sendo atingido em cheio. Seu corpinho flamejante caiu fundo na neve, de onde saiu uma coluna de fumaça. De repente, sua forma humanoide se estendeu no chão, metade carbonizada. Ele tirou a máscara, revelando um rosto de morcego, peludo e chamuscado.

–  Como é o gosto do fracasso? – Rabin perguntou, olhando-o com curiosidade.

– Me diga você – Caveira gaguejou, forçando um sorriso. – Já que o meu camarada invisível acabou de entrar na floresta.

Rabin olhou para trás e percebeu que as pegadas de Leon sumiram entre as árvores. Agora seria impossível encontra-lo. Ele fechou os punhos, furioso, e ateou fogo no corpo de Caveira antes de voar para dentro da floresta.

Enquanto isso, Drake Sobogo sentia seu corpo bater em cada árvore no caminho, enquanto Troche o empurrava para dentro da floresta. O Judeu de Ferro o abraçara com força, imobilizando seus braços, e ele corria rapidamente, levando Drake para uma direção misteriosa. Foi quando as árvores acabaram que Drake percebeu seu destino. Havia um penhasco logo à frente, e Troche planejava joga-lo lá de cima.

Drake dobrou o pescoço para trás e pegou impulso antes de dar uma cabeçada no nariz de Troche. Isso o fez parar. Os dois rolaram pela neve entre a floresta e o penhasco. O Judeu de Ferro se levantou, segurando o nariz moído.

A alça da mala de armas ainda estava presa no ombro de Drake, e ele rapidamente segurou os dois lados da bagagem e a rasgou ao meio, como se fosse um saco de batatas fritas. Vários fuzis, metralhadoras e granadas caíram no chão, aos seus pés. Ele pegou a Thompson com munição de disco frontal e a ergueu.

– Não acredito que você vai trazer arminhas para a nossa batalha final – Troche disse, com o sangue escorrendo de seu nariz e encharcando a barba.

Drake apenas cuspiu para o lado e segurou o gatilho. A metralhadora cuspiu todas as suas balas, acertando o corpo do Judeu de Ferro com uma sequência de choques metálicos. Quando a munição acabou, Drake a jogou no chão, ignorando o disco fumegante derreter a neve. Troche ainda estava em pé, sorrindo para ele.

– Desgraçado – Drake sussurrou, pegando um fuzil para repetir o ataque. Ele atirou várias vezes, vendo Troche se aproximar, como se nada estivesse acontecendo.

– Você não sabe quantos vampiros eu absorvi para chegar onde cheguei – Troche disse, ficando cara a cara com Drake. – Eu sou o maldito Troche, seu filho da puta.

O Judeu de Ferro enfiou as mãos na barriga de Drake e abriu os braços, dividindo o militar em dois. Drake sentiu as tripas escorrendo de sua barriga e caindo em cima dos quadris. As pernas tombaram para um lado e o tronco para o outro. Drake cuspiu sangue, incrédulo. Ele morrera muito fácil. Suas mãos tatearam as armas ao redor, na esperança de reverter aquela situação.

Troche ficou de cócoras ao seu lado, sorrindo. Drake estendeu o braço em sua direção, agonizando. Os dedos apertaram o pescoço do judeu, sem forças. O militar começou a balbuciar algo, tremendo. Troche se abaixou um pouco para ouvir suas últimas palavras. Assim que ele inclinou, os dedos de Drake milagrosamente se mostraram fortes de novo, puxando-o mais para perto.

– O quê? – o sorriso de Troche se perdeu, quando ele sentiu o abraço ao redor de seu pescoço, puxando-o até encostar seu rosto no de Drake. – Por que você não me solta e morre logo?

– Eu não vou te soltar – Drake gaguejou, erguendo o outro braço livre. Com a visão periférica, Troche percebeu que ele sacudia uma espécie de chocalho perto de seu ouvido. – Porque nós vamos para o inferno juntos.

E Drake Sobogo soltou o lacre de uma das granadas.

 

Icabode St. John virou a cabeça, surpreso. Ele via uma imensa fogueira na trilha que seus companheiros seguiam, e uma grande explosão do outro lado da floresta. Aparentemente o seu grupo não conseguira encontrar o coração do polonês.

– Você tem um espírito guerreiro – Solomon disse com as mãos nas costas. – Isso é muito valorizado na máfia.

– Foda-se a máfia – Icabode respondeu, pensando nas suas alternativas. Seus poderes eram de invisibilidade, poder da mente e sentidos aguçados. Como usar isso?

– É exatamente disso que estou falando – Solomon disse, admirado. – Mas e aí, o que pensa em fazer? Se quiser se unir a mim, será muito bem-vindo.

– Eu passo – Icabode deu de ombros. – Eu já me aliei a você uma vez e me dei mal. No meu lugar, o que você faria?

Solomon gargalhou, resignado.

– No seu lugar, eu me mataria sem pensar duas vezes  – confessou.

– É o que vou fazer – Icabode estendeu o braço e fez Solomon sair do chão. Ele ergueu o outro braço e fez quatro tochas levitarem em direção ao vampiro.

Ele manteve o inimigo flutuando sob sua telecinese, enquanto as tochas se aproximavam de seu corpo. Icabode achou que ia vencer facilmente, até que percebeu o olhar de Solomon. O homem mais velho não temia o fogo. Ele olhava com uma curiosidade divertida para as tochas. E no próximo instante, as hastes de madeira pararam de se aproximar.

– O quê? – Icabode tentou força-las em direção ao outro, mas nada acontecia. – É você que está fazendo isso?

De repente, as quatro tochas se apagaram, como se mãos invisíveis tivessem se fechado sobre elas. E Solomon Saks começou a descer, até seus pés voltarem a tocar o chão.

– Existe uma regra no mundo vampírico – Solomon Saks estava ereto, com as mãos ainda atrás das costas. – O vampiro mais forte não pode ser subjugado pelo mais fraco. Qualquer poder sobrenatural que tentar usar contra mim, fracassará.

Espantado, Icabode tentou usar novamente seu poder, mas Solomon Saks nem se moveu. Ele se virou e fez as tochas se lançarem contra o inimigo, mas o polonês fazia todas caírem no chão antes de se aproximarem.

– Já chega – Solomon disse. – Já lhe dei todas as chances que precisava. Agora irei mata-lo, garoto.

Icabode não o viu se aproximar. Primeiro sentiu o impacto do soco esmagar seus órgãos internos. O próximo golpe deslocou o maxilar. O chute fez seu joelho quebrar, e sua perna se dobrar para trás. Icabode estava no chão, completamente desmontado. Ele olhou para o trono ao lado, e viu sua tia Katherine ainda inconsciente, amarrada por uma corrente. Eu falhei com você, tia.

Ele viu a sola do sapato de Solomon Saks pisar em seu rosto. Lentamente, o pé do polonês foi se afundando, e os ossos faciais de Icabode foram cedendo. Esse era seu fim.

 

Alguns quilômetros dali, Leon corria pelas árvores, ainda invisível. Quando perdeu Rabin de vista, ele voltou ao normal. E voltou a seguir a bússola. Não muito longe de onde estava, havia uma cabana solitária no meio de uma clareira. E coincidentemente a bússola apontava para essa direção. Ele não fazia ideia que Caveira fora transformado em pó, ou que Drake explodira a si mesmo, abraçado a Troche, ou que Icabode estava sendo esmagado por Solomon. Leon até mesmo acreditava que Maxiocán podia ser salvo, que ele estava só em transe.

Mas Leon estava enganado. Maxiocán era um vegetal. Um corpo sem consciência alguma. Ele era a última pessoa incólume de seu grupo. E agora Leon entrava na cabana apontada pela bússola. O lugar estava em ruínas, e em seu interior havia apenas uma pessoa. Uma velha com um pano amarrado ao redor da cabeça, olhando para uma foto, triste. Ela ergueu os olhos para Leon e mostrou a foto para ele. A imagem era em preto e branco, e mostrava um garoto sorrindo.

– Esse é o seu filho? – Leon perguntou para a mulher. – Esse é Solomon?

Ela ignorou a pergunta, e ergueu o baú que estava no colo. Leon o recebeu e abriu a tampa. Era um coração humano, o coração de Solomon.

– Não! Não faça isso! – Rabin gritou, vindo pela trilha de neve. Ele voava rapidamente em direção à cabana, vendo através da porta, Leon tirar o coração do baú.

Leon puxara a estaca do casaco e a erguera sobre a cabeça. O feiticeiro estava prestes a invadir a cabana.

Tudo aconteceu muito rápido. Leon abaixou a estaca com toda a força de seu corpo, sentindo o sangue queimar em suas veias, bombeando o bíceps do braço direito. A estaca atravessou o coração e saiu do outro lado de sua mão. Rabin parou no meio do caminho, gritando com os olhos arregalados. Ele se virou e voou para longe, desesperado.

Leon se virou para a mãe de Solomon e percebeu que ela se encostara na parede e abaixara a cabeça. A velha estava morta.

Icabode olhava para Katherine enquanto sua cabeça estava sendo esmagada. Sunday estava em silêncio. O mundo estava em silêncio. E aquilo estava demorando demais. Solomon não terminava o serviço. Depois de alguns segundos, Icabode percebeu que o vampiro estava imóvel. Ele se arrastou e observou, surpreso, o polonês parado como uma estátua, e seu pé erguido como se fosse esmagar algo.

– Deu certo – Icabode concluiu. – Eles encontraram o coração.

Ele foi saltando sobre uma perna até a tocha mais próxima, a trouxe de volta e estendeu-a sob o pé do polonês. As chamas começaram a se espalhar pelo corpo de Solomon Saks aos poucos. Icabode ficou em sua frente, olhando-o nos olhos. Ele ficou feliz ao ver que as pupilas vermelhas de pavor.

– Você está sentindo isso, não está? – ele perguntou, satisfeito.

Solomon se tornou uma coluna de fogo, imóvel. Não demorou muito para Rabin alcançar o topo daquele monte. O feiticeiro olhou para o polonês e depois para Icabode. E seu olhar era de confusão e perda. Rabin olhou para o horizonte e fugiu, e nunca mais foi visto.

Icabode se virou para trás, e não viu mais sua tia. Apenas a mancha de sangue no chão. Ele olhou ao redor, e a encontrou, sumindo no meio da névoa. Ela andava de mãos dadas com alguém. O desconhecido vestia um longo casaco de detetive e um chapéu.

Adeus, meu amigo, Icabode pensou, vendo Sunday levar sua tia para a eternidade.

 

Após uma longa caminhada de volta, ele encontrou com Leon. Não sabiam se havia outros sobreviventes, mas isso não importava mais. Os dois apenas seguiram em silêncio pelo caminho que haviam percorrido mais cedo. Lá estava o monte de cadáveres, com a porta da umbra no seu topo.

Os dois subiram até ela, quando uma figura encapuzada apareceu.

– Vocês foram avisados! – o espectro bradou. – O portal só pode ser aberto por meio de um sacrifício pessoal.

– Não – Icabode rebateu. – Nós dois iremos atravessá-lo. Deve haver uma maneira.

– Você sabe que não há – Leon o censurou, tirando a estaca do casaco. A mesma estaca que usara no coração de Solomon. – E não tem problema. Quando você veio atrás de mim na fundição de Solomon, eu quis que você me matasse. Aquele dia eu pedi para você fazer isso.

– Se você fizer isso, vai acordar no inferno – Icabode o avisou, sentindo uma lágrima de sangue escorrer pelo rosto.

– Eu acho que de todos os vampiros – Leon começou a levitar. – Eu não fui tão ruim assim. Quem sabe exista uma salvação para a minha alma?

Icabode viu o amigo subir a uma distância incrivelmente alta. Lá em cima, Leon apunhalou o próprio coração. Icabode aguçou sua visão sobrenatural e viu o corpo cair na escuridão e acertar o chão, aos pés do monte de cadáveres. Mesmo longe, ele via nitidamente o rosto de Leon, definitivamente morto. Ainda que arrancassem a estaca de seu coração, ele nunca mais se levantaria.

A porta da umbra se abriu, e Icabode a atravessou chorando como se fosse uma criança.

 

Leia  todos os  capítulos de Icabode St. John clicando aqui. Ou então encontre mais livros do autor clicando aqui.

Icabode St. John [23]

O trio estava naquela mesma mansão onde aconteceria o grande confronto no final daquela semana. Icabode segurava a bússola de Maxiocán, mas olhava para o lado oposto ao que ela apontava.

– Preciso passar na Estátua da Liberdade. Leon pode nos ajudar nessa missão.

– Concordo, mas primeiro devemos esperar um pouco – Caveira disse, encostado no umbral da porta. – Estou esperando uma visita.

– O que disse? – Drake Sobogo fez as presas vampíricas saltarem.

– Como assim? – Icabode perguntou. – Quem está vindo?

– Meu chefe – Caveira explicou. – Eu liguei pra ele lá no México, avisando que estaríamos aqui na mansão. Só pra vocês saberem, foi ele quem encontrou Maxiocán e quem conseguiu o helicóptero para nós.

– Sim, é verdade – Lancelot disse, surgindo pelo caminho que levava ao portão da propriedade. Ao seu lado havia um homem cujo rosto estava coberto por um véu negro, e outro homem de pele escamosa e rosto deformado. – Nós todos estamos do mesmo lado.

– Eu lembro de você naquela reunião – Icabode disse.

– Todos nós estávamos lá – ele apontou para os dois homens ao seu lado. – Lorena e Leo mataram a Juíza e a Dama do Véu Negro, as primogênitas dos clãs do Rato e da Sombra – ele apontou para o homem deformado e o homem de rosto coberto.

– Mas é Fermín quem está por trás da grande traição – o homem de véu negro disse. – Ele estava planejando assumir o governo de Nova York há muito tempo.

– Diga a eles, Ramon – Lancelot se virou para o rato.

– Fermín tentou fazer as pazes com o nosso clã – o vampiro escamoso revelou. – Disse que vocês iriam matar Solomon Saks, e depois ele iria nos entregar vocês três para que vingássemos a morte de Hercule nos esgotos.

– O quê? – Icabode perguntou, incrédulo. – Ele iria nos mandar fazer seu serviço sujo e depois nos matar?

– Aquele maldito traidor – Drake Sobogo fechou os punhos.

– Fermín é astuto – Lancelot os lembrou. – Enquanto ele estiver no governo, Nova York estará em guerra. E nós precisamos acabar com isso. Os clãs da Sabedoria, do Rato e da Sombra se aliaram, mas eles ainda nos vencem em números. Apesar de os Punhos terem sido dizimados, o clã da Rosa é maior que todos nós juntos.

– O seu amigo independente é a chave para os vampiros sem clã – Caveira disse a Icabode.

– Leon está se reunindo neste exato momento com os outros independentes – Lancelot informou. – Você deve ir até eles e convencê-los a acabar com essa guerra. Eles são poucos e indisciplinados, mas eu tenho uma estratégia.

Lancelot explicou o plano de como eles iriam tirar Fermín e seus aliados da fortaleza de Manhattan para emboscá-los.

– Mas antes, precisamos resolver uma questão – Lancelot disse. – Eu dei um jeito de informar Solomon Saks sobre a bússola, e que vocês estavam indo atrás do seu coração para derrota-lo.

– Por que você fez isso, maldito? – Drake Sobogo bufou, furioso. – Agora ele vai correr de volta para proteger a droga do coração.

– Exatamente – Lancelot olhou para ele, sério. – Eu tenho homens em cada estação de trem e aeroporto do estado. Eu descobri que Solomon e seu séquito foram para a Polônia. É lá onde seu coração está.

Icabode olhou para a bússola em sua mão e percebeu que ela apontava para o mar. Lancelot estava certo.

– O helicóptero nunca chegará até lá – Lancelot continuou. – Mas eu consegui um pequeno avião que talvez possa. Ele não aguentará o peso de várias pessoas, então vocês precisam ir sozinhos. Quando voltarem, destruiremos Fermín.

– Mas antes precisamos de mais soldados – Caveira disse a Icabode. – Leon e os independentes não seguirão a nós, membros da politicagem vampírica. Mas você é praticamente um deles. Convença-os.

Icabode e Drake Sobogo se olharam, desconfiados. Mas a informação de Lancelot acerca do coração de Solomon era uma ajuda e tanto. Isso, eles não poderiam negar. E entre confiar em Fermín e qualquer outra pessoa, eles escolheriam a segunda opção.

 

Icabode deixou a todos e foi até a beira do continente, onde começou a levitar em direção à estátua. Ele sobrevoou as águas noturnas, aguçando seu ouvido para captar os sons que vinham de lá. Como Lancelot dissera, havia vários vampiros na ilhota, e a voz de Leon sobressaía às deles. Icabode ficou invisível assim que chegou na base da ilha, e se aproximou do grupo, cuidadoso. Na hora certa, ele interveio. Os vampiros independentes eram duros e receosos, mas a promessa de Icabode de destruir o príncipe de Nova York entrou em seus ouvidos como sangue fresco, e eles amavam sangue fresco.

– Então vocês atrairão o príncipe até a mansão abandonada e nós o mataremos? – um vampiro perguntou. – Tem certeza que ele não trará um exército?

– Se ele fizer isso, a missão será abortada – Icabode garantiu. – Fermín trará no máximo um pequeno séquito. Eu prometo que a nossa vitória será esmagadora.

– Então estou dentro – o vampiro disse. – Estou cansado de viver escondido desses almofadinhas de Manhattan.

A reunião não se estendeu muito, como de costume. Vampiros não possuem a mesma disponibilidade de tempo que os mortais, e seus encontros geralmente eram rápidos e direto ao ponto. Os independentes foram embora, e Icabode e Leon ficaram sozinhos. Eles caminhavam à beira da água, sob a sombra da estátua gigantesca em suas costas.

– Venha conosco – Icabode pediu. – Nós precisaremos de toda ajuda possível para destruir Solomon. Seus poderes furtivos farão toda a diferença.

Leon deu um sorriso triste.

– Lembra quando você ajudou Solomon a invadir o meu esconderijo para me matar? E depois quando você invadiu a fundição de Solomon para tentar me matar de novo?

– E no final das contas você me salvou.

– Eu te condenei – Leon o corrigiu. – Sua alma…

– Minha alma já estava condenada. Meu pai a vendeu quando eu era criança. No início achei estranho Anatole (o primeiro vampiro que cacei) estar procurando por meu pai. Mas agora sei que o “reverendo” tinha um passado negro. Então – Icabode colocou a mão no ombro dele – se você não tivesse me transformado em vampiro, eu estaria no inferno neste exato momento.

– Isso remove a minha culpa, mas me deixa abismado. Não sabia sobre o seu pai.

– Isso não importa agora. Se não destruirmos Solomon Saks imediatamente, provavelmente depois será impossível.

– Então vamos – Leon assentiu, sentindo a urgência no tom de Icabode. – Vamos chutar seu traseiro judeu. Que dia partimos?

– Amanhã. Lancelot tem um rancho ao norte, com pista de pouso. Sairemos todos de lá – os dois se despediram e Icabode voltou para a cidade, especificamente para o prédio de Sunday.

 

O apartamento estava do jeito que eles deixaram, com paredes quebradas e uma fita policial na porta. Icabode entrou pela sacada e foi direto para a suíte principal. Assim que se deitou na cama, a voz de Sunday veio em sua mente.

Garoto, preciso te contar algo. Levante-se.

Sunday? Icabode perguntou, obedecendo a ordem. O que aconteceu?

Vá até a cômoda à sua direita e abra a última gaveta. Remova os lençóis e abra essa caixa metálica. Icabode obedecia a tudo que ele pedia.. Dentro da caixa, havia um monte de cartas.

São cartas dos meus pais. Icabode percebeu que todos os remetentes eram de Peter St. John. E o endereço era na Califórnia. Cartas de antes de eu nascer.

Pegue aquela carta amassada no final, Sunday disse, e Icabode percebeu que uma delas estava toda enrugada, como se alguém a tivesse transformado em uma bola de papel e depois a esticado novamente.

Aí está a verdade, garoto, Sunday disse. Desculpe-me por não ter dito antes.

Icabode abriu o envelope e leu o que estava escrito no papel:

Olá Sunday.

Eu acho que fiz uma coisa terrível. Noite passada Sandra entrou em trabalho de parto, e nós estávamos na cabana, longe de São Francisco. Não tinha como leva-la até o hospital.  Então eu tive que fazer o parto sozinho, imagine só. Mas tudo saiu do controle muito rápido. O bebê não saía, e ela perdia muito sangue, e eu fiquei… fiquei apavorado. A Sandra ficou pálida e delirando. Quando começou a perder a consciência, decidi enfiar o meu braço dentro dela para arrancar a criança. E ao perceber que iria perder minha esposa, fiquei louco. Comecei a rezar mas Deus não me respondia. Foi aí que aconteceu algo macabro, Sunday. Algo terrível. Sei que você não vai acreditar, mas eu senti a presença de alguém em minhas costas, quando me virei, vi um homem do outro lado da porta, na sala e estar. Ele tinha chifres. Seu rosto era comprido e peludo. Seus pés pareciam cascos fendidos. Ele me disse que poderia salvar minha esposa, mas isso tinha um preço. Ele me pediu… oh, Deus, ele me pediu a alma do bebê. E na hora, em minha mente, eu visualizei Sandra me dando outros filhos. Eu poderia perder aquele. Mas não conseguia imaginar minha vida sem ela, então, Sunday, oh, meu amigo, eu aceitei. Fiz o pacto com o demônio, e vendi a alma do pobre garoto. Depois, Sandra recuperou a consciência e a criança nasceu. Mas eu não esperava uma coisa. Na hora que o peguei em meus braços, meu coração se encheu de amor. Sunday, me ajude por favor! Preciso fugir da Califórnia. Preciso ir para o lugar mais longe possível! Pensei em ficar perto de você e de Katherine, só que não na cidade. Pensei em Long Island, talvez. Será que vocês nos receberiam aí por alguns dias? só até nós acharmos um lugar. Eu sei que parece loucura tudo o que disse, mas explicarei pessoalmente, se você me permitir.

Icabode ficou encarando a carta em silêncio quando Sunday se manifestou.

O pai é responsável pela alma do filho até que ele alcance a maioridade. Assim que o adolescente se torna adulto, ele ganha autonomia espiritual, e qualquer contrato de consagração com o demônio é extinto. Seu pai sabia disso, e por esse motivo quis se esconder. O demônio tentaria te matar, Icabode, antes que você virasse adulto.

Isso é injusto, Icabode disse. Por que eu não tenho direito sobre a minha própria alma?

As coisas sempre foram assim. Deus mandava o povo de Israel matar os exércitos inimigos, incluindo os filhos pequenos. Se você tivesse o azar da nascer no lado errado da guerra, você era considerado inimigo de Deus, fosse adulto ou bebê.

Mas eu ainda não sou maior de idade, Icabode disse, olhando para o próprio corpo, e nem serei! Estou congelado nessa idade para sempre.

Eu sei, garoto, Sunday disse, triste. E eu não te disse antes porque não tive a oportunidade. Desde que você chegou em Nova York, nós estivemos juntos umas três vezes, e eu ainda não tinha certeza se deveria, já que o seu pai optou por esconder esse segredo, e depois que morri…

Sunday, Icabode o interrompeu. Não precisa me pedir perdão por nada. Eu sei que você nunca faria nada de mal a mim. Sei que suas intenções são sempre boas. Mas agora eu preciso dormir. Amanhã enfrentaremos Solomon Saks, e eu salvarei minha tia Katherine. Você tem minha palavra.

Eu confio em você, garoto. De verdade.

Icabode ficou deitado, pensando na carta de seu pai. Você não queria escolher entre a minha vida e a vida da sua esposa. Eu entendo, pai. Você tentou salvar os dois ao mesmo tempo, mas não conseguiu salvar nenhum. As vezes o herói é derrotado. Mas agora eu me tornei um vampiro. Sinto raiva o tempo todo, e tenho sede de sangue. A vida humana se tornou algo barato para mim. E talvez seja melhor eu não lutar contra isso. Talvez eu deva ser um vilão frio e calculista. Porque se eu não for, não durarei muito tempo, e logo me mandam de volta ao inferno. Então é isso, pai. Nem sempre o lado bom vence no final.

Boa noite, reverendo – Icabode disse em voz alta e fechou os olhos.

 

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