Entrevista realizada com o autor Vitor Simões, compartilhando conosco momentos da sua vida como criador de jogos de RPG Indie.
1. Conte-nos um pouco sobre você e sua trajetória como autor de RPG indie no Brasil.
Assim soa até um pouco estranho a meus ouvidos ser chamado de “autor” hahaha. Agora, de forma bastante resumida, vou dar uma pequena linha do tempo que acho que ilustra bem aminha trajetória e a do Codex, pois é praticamente impossível desvincular uma coisa da outra.
Em 2014, eu me reuni com mais 4 amigos para começar o desenvolvimento do nosso sistema de RPG pois “quão difícil pode ser, não é mesmo?”. No começo de 2015 já tínhamos uma versão para teste (ainda não tinha nome o sistema). Testamos e estava horrível, não sei dizer se foi o pior sistema que já joguei, mas estava no top 5 hahaha nu. Depois disso passamos a aplicar uma metodologia de desenvolvimento de produto e recomeçamos do 0. A v0.00 do Codex saiu em meados de 2016.
Desse ponto…
…até 2020 fizemos 11 versões diferentes, algumas com mais mudanças outras com menos.
Nesse meio tempo tivemos a troca de dois integrantes da equipe, participamos de diversos eventos, conhecemos muita gente bacana dentro da comunidade do RPG e crescemos muito como pessoas e como conhecedores do hobby.
No final de 2020 lançamos a nossa campanha no catarse para o financiamento coletivo do livro, foi graças a todas as pessoas que conhecemos ao longo dos anos que conseguimos ter sucesso no financiamento para poder realizar o nosso sonho de lançar o nosso próprio sistema de RPG. Assim, 2021 era O ano dedicado a terminar tudo e entregar as recompensas.
Mas claro que as surpresas e dificuldades não acabam só porque você consegue ter sucesso em um financiamento. Agora é a hora da verdade e de formatar, diagramar e revisar e reescrever muitas coisas, assim a partir de meados de 2021 começamos a trabalhar em diferentes frentes, lidando com imprevistos desde ajustes inesperados no sistema até fornecedor que não entrega e a desistência de um dos membros da equipe. Mas isso tudo faz parte da aventura, afinal se fosse fácil não teria graça não é mesmo?
2. Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao desenvolver RPGs indies? Como os superou?
Ao longo dos anos de desenvolvimento tive de superar vários obstáculos, mas como sempre trabalhei em grupo nunca senti que nenhum deles era grande de mais. A nossa equipe funciona como num grupo de personagens de RPG, cada um tem seu ponto forte e a sua função, se complementando e ajudando uns aos outros nos desafios que não conseguem superar.
Para mim o desenvolvimento de um sistema de RPG sempre foi muito mais do que desenvolver um sistema, mas também uma jornada de crescimento e aprendizado. Acredito que quando você encara um desafio dessa forma, as coisas ficam mais leves e as consequências, menos drásticas. Afinal mesmo que tudo desse errado e o sistema virasse algo que ninguém jogasse, apoiasse ou gostasse, ainda assim eu teria aprendido muito só por fazer ele e isso pra mim era o mais importante dessa empreitada.
Agora, respondendo a pergunta de forma mais objetiva, eu sempre tive dois grandes desafios. O primeiro era manter toda a equipe motivada, mesmo quando as coisas estavam dando erradas ou estava todo mundo exausto e o segundo era garantir que as coisas estavam acontecendo e sendo feitas com a velocidade e qualidade desejada. Essa segunda parte é especialmente verdade quando tratamos de fornecedores e pessoas externas ao grupo.
3. Quais foram os momentos mais marcantes ou pontos altos da sua jornada como autor de RPG indie
Tiveram alguns, diria que o mais marcante de todos, sem sombra de dúvidas, foi o sucesso no financiamento do Codex.
Todo acolhimento pela comunidade foi algo que me surpreendeu e me impactou bastante (de forma positiva, é claro hehehe).
Outro momento bastante marcante foi a nossa primeira participação em um evento de RPG em São Paulo. Foi em um evento de halloween no CCJ (Centro Cultural da Juventude) organizado pelo pessoal do Covil do RPG. Foi a primeira vez que testamos o nosso sistema com pessoas do público Sinto que esse foi o nosso primeiro passo dentro da verdadeira comunidade do RPG. A partir daí começamos a participar de eventos a cada 3~4 meses, depois a cada 1 mês e no final estávamos participando de eventos quase que quinzenalmente. Foi um período bastante intenso mas muito gratificante.
4. Compartilhe conosco um ou dois sucessos que você alcançou no cenário de RPG Indie. Houve surpresas, ou foi tudo como planejado?
Bom, posso dizer que o maior sucesso foi o do financiamento do Codex. Em termos da parte prática/funcional do financiamento, tudo ocorreu como previsto antes e durante o financiamento. Conseguimos bater as metas e todas as compras estavam dentro do que tínhamos projetado, assim não tivemos surpresas com o orçamento nem nada parecido.
A única surpresa, foi a quantidade de trabalho que ainda tínhamos pendente. Acreditávamos que o sistema estava praticamente 100% finalizado, mas no momento da revisão percebemos que tínhamos muita coisa para escrever e reescrever, no final acabamos fazendo até uma nova versão do sistema, incluindo algumas regras novas e uma serie de novos conteúdos para afinar o balanceamento do jogo.
Infelizmente isso significou em um atraso imprevisto na data de entrega das recompensas para os apoiadores…
5. Quais os projetos você tem desenvolvido na área dos RPG Indies? Ou tem algum projeto que você gostaria de divulgar?
Bom, acho que já falei bastante do Codex até agora. Então só vou dizer que o nome completo do sistema é: Codex of Reality. Temos página no facebook, instagram, discord e whatsapp se alguém quiser conversar sobre desenvolvimento de RPG ou saber mais sobre o sistema é só mandar mensagem em alguma dessas plataformas acesse nosso Corerpg | Instagram, Facebook, Twitch | Linktree.
6. Como você vê a ideia da comunidade RPGísta de realizar o mês do RPG Indie?
Olha, eu super apoio qualquer tipo de movimento da comunidade do RPG para criação de qualquer tipo de evento que ajude a disseminar o hobby e alimente a interação entre aqueles que já fazem parte dele.
Acredito que o nosso hobby é aquilo que fazemos dele então quanto mais pudermos fazer a favor da comunidade, melhor 😀
7. Para você, qual deveria ser o principal objetivo desse evento? E o que espera dele?
Vejo o mês do RPG Indie como uma janela de oportunidade para pessoas que estão desenvolvendo seus projetos mostrar para o publico o que estão fazendo além de ter contato com pessoas que já estão mais consolidadas nesse meio. Dessa forma espero encontrar não só coisas sobre projetos e pessoas que estão sempre aparecendo por aí, mas também ver novos autores e desenvolvedores.
8. O que você diria que são RPGs INDIEs e qual a importância deles?
Para mim, RPG Indie é todo RPG que não é regido/controlado por nenhuma editora grande. Em outras palavras, um RPG desenvolvido por alguém que é livre para criar e desenvolver o que bem entende sem sofrer influências ou interferências de uma empresa ou entidade que tenha como o objetivo principal o lucro.
Esse tipo de liberdade da a oportunidade para o surgimento de coisas que antes seriam inimagináveis, pois o autor pode criar e experimentar sem ter o peso da necessidade de criar algo que seja sucesso comercial.
9. Como você vê a relação: RPGs da industria de jogos X RPGs INDIEs no mercado brasileiro e o mundo?
O mercado de RPG no Brasil ainda está crescendo e ainda tem muito a crescer.
O brasileiro é um povo que culturalmente é muito aberto a coisas novas e a experimentar o desconhecido, então eu vejo muito espaço para pequenos autores e novos sistemas no Brasil.
Afinal não é incomum ir em um evento e ter 15 sistemas diferentes sendo jogados em 15 mesas.
Não sou profundo conhecedor do mercado internacional de RPG, mas estou morando em Toronto já faz 10 meses e posso dizer que aqui não existe o conceito de “eventos de RPG”. O que acontece é de pessoas se reunirem para jogar em locais públicos e abrirem vagas na mesa para pessoas externas, mas estranham quando eu descrevo ou conto o conceito dos eventos que temos em São Paulo, por exemplo.
Por causa desse tipo de coisa que eu acredito que o Brasil possui um ambiente muito mais fértil para o crescimento de novos RPGs, indies ou não.
10. Qual mensagem pessoal sua você gostaria de mandar para a comunidade RPGista brasileira?
Não tenho nenhuma grande mensagem ou frase de efeito, apenas desejar que todos continuem jogando e se divertindo. Afinal o RPG é isso, algo para a gente usar para se divertir, e não tem nada de errado com isso!
Assim, seja um Patrono do Movimento RPG e tenha benefícios exclusivos como participar de mesas especiais em One Shots, de grupos ultrassecretos e da Vila de MRPG.
Além disso, o MRPG tem uma revista! Conheça e apoie pelo link: Revista Aetherica.
Vitor Simões – A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG
A 1ª Semana do RPG Indie no Movimento RPG é um evento idealizado e organizado por:
Douglas Quadros
Gustavo “AutoPeel” Estrela
Isabel Comarella
Iury.KT
O Escritor Ansioso
Ur Tiga Brado’k
Mandi