Anteriormente na Missão Artêmis Parte 15, a Capitã descobriu que os tripulantes da nave podem não ser mais eles mesmos. Ela tentará a todo custo extirpar esse mal da sua Cosmonave. Fique agora com a Missão Artêmis Parte 16.
A capitã refletia sobre os próximos passos. Não poderia errar em suas escolhas. Não tinha mais a mobilidade nem mesmo a proteção do traje de outrora, restava condição desvantajosa de não ter absolutamente nenhum controle sobre a cosmonave. Diante do corpo caído do criptólogo Dean Franklin, divagava momentaneamente que outros tripulantes poderiam ser algozes em potencial, fato que dava a ela pouca margem de opções. A ala médica seria uma escolha mais viável, pois a dor em suas pernas era suportável devido as drogas injetadas pelo equipamento que vestia, mas isto não duraria por muito tempo, porém usar o sistema de suporte de vida sem o acompanhamento médico demandaria tempo e a deixaria exposta.
Duke pensava consigo que a ameaça instaurada ali era de máxima gravidade e que talvez sua própria vida já não importasse tanto, restando a ela traçar uma estratégia que desconsideraria sua salvação como opção primária. Não havia mais tripulação em condições de manter a missão, o risco da Ícaro era muito maior do que sua sobrevivência, ela não poderia naquele momento ser egoísta ou inconsequente, precisa cumprir sua próxima missão com foco e determinação. Assim o fez.
Duke moveu-se, pendurada pela haste, braço após braço, na direção da matriz Hefesto. Seus sentidos estavam atentos tentando inutilmente emular os sensores do visor de seu capacete, que agora cediam poucas informações além de avisos sobre os danos recebidos. À medida que adentrava a escuridão, tentava afastar temores, algo difícil diante da dor que começava gradativamente a urrar, além da opressão de entender que ela estava sozinha em uma nave praticamente à deriva na imensidão do espaço. O exercício da lógica, da razão eram necessários, mas os instintos de preservação lutavam bravamente contra quaisquer tentativas de sobriedade estratégica.
Tal impasse cessou momentaneamente quando ela se aproximou da matriz. Ao analisar aquele setor não se surpreendeu ao perceber que além da falta de energia, o sistema de alimentação de emergência também estava ausente, retirado provavelmente ou outro antigo membro da tripulação. O que interessava ali eram algumas ferramentas e produtos. Ela rapidamente selecionou alguns, assim como também percebeu ausência de outros, fato que não mudava sua meta naquele local. Pendurada, precisaria ser ainda mais eficiente para trabalhar. Começou desativando alguns sensores do equipamento que vestia, extraiu alguns módulos acoplados, entre eles o do peitoral. Utilizou a célula de alimentação da arma e outros objetos, reuniu-os a peças pequenas que ela fez questão de desmontar o máximo que pôde. Enquanto trabalhava, fazia cálculos usando o visor, simulando resistência de estruturas e efeitos em cadeia causados pelo ato que desencadearia em breve. Trabalhava com foco, afastando a ansiedade que tentava se aproximar. Seria natural alguma intervenção, mas não havia energia, não havia movimento de nenhum algoz. Provavelmente a Icaro também mantinha seu foco em outra atividade, descartando a importância de Duke no processo que ali ocorria.
Cerca de duas horas se passaram, quando ela terminou seu trabalho, reacoplando módulos ao traje. Teve todo cuidado quando concluiu a ação com a placa peitoral. Fez um breve teste, observando se o sensor do visor ainda seria capaz de operar o que terminara. Vendo o sucesso em seu trabalho, preparou sua arma e decidiu finalmente mover-se para a ponte de comando.
O percurso não demorou, estranhamente Duke percebeu que sua determinação havia vencido o medo, fato que a impulsionava. Não demorou para sua fonte de luz encontrar Garcia, Irma Chen e Kaitlin Watson diante do acesso ao coração da cosmonave. As três estavam novamente armadas, observando a aproximação da capitã. Garcia não demorou em dialogar, “pelo visto o plano de Franklin não deu certo, logo imaginei que nossa capitã não se deixaria enganar, porém na situação em que ela se encontra, não há muitas opções correto?”. Duke observou os três. Segurou sua arma, não em posição de utilizá-la, nem mesmo como uma arma de haste primitiva. Segurou firme com uma das mãos, por baixo do objeto, na intenção de arremessá-lo. Garcia não escondeu seu sorriso, pois era nítido que ela jogaria a arma e se renderia. Poderia atirar agora, mas Ícaro precisaria dela um pouco mais.
Duke fez um sinal com uma das mãos. A mesma que usou para apoiar na haste do teto, apertando firme, para preparar o ponto de equilíbrio. Dessa maneira teve mais firmeza, para um arremesso potente em direção a Garcia. Tal movimento vigoroso durou segundos, tempo que não foi suficiente para Garcia, Chen e Watson revidaram de maneira equivalente. A arma arremessada, mesmo com a lâmina afiada, poderia ferir apenas uma delas, mas o ato tinha como intenção apenas jogar o objeto o mais próximo das três de maneira que a detonação remota do gatilho instalado na célula de energia da arma defeituosa ocorresse.
Com a detonação próxima, estilhaços afiados foram arremessados em todas as direções em raio curto. Explosão insuficiente para causar danos estruturais, mas suficiente para rasgar a carne e lacerar todo material orgânico que encontrasse. Quando percebeu a ameaça, Garcia tinha diante de si, uma lâmina rasgando seus pescoços e pequenos fragmentos adentrando seu tórax. As lesões ceifaram sua vida instantaneamente. Chen recebeu estilhaços menores, porém um deles acertou-a na testa. A velocidade e pouca resistência da caixa craniana não foram suficientes para impedir que o pequeno objeto ficasse alojado dentro da massa cinzenta. Watson, fora protegida pelos corpos das companheiras recebendo fragmentos no rosto e na lateral esquerda de seu corpo.
A dor fora insuportável, mas o que mais seria decisivo para sua vida, foi o dano causado a sua arma. Perdeu alguns segundos, tentando recobrar a atenção, com o zunido nos ouvidos e o sofrimento causado pela detonação. Quando percebeu o que de fato ocorreu, sentiu algo pegando-a pelo pescoço. Foi içada até ficar com a face colada no visor de Duke. A capitã tinha um olhar vazio e aterrador. A força sobre humana conferida pelo traje foi sentida na pressão que se abatia em seu pescoço.
Watson teve poucos momentos para perceber que havia outros horrores naquele espaço confinado além da Icaro.
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Capitã Duke, a Única por sua Cosmonave – Parte 16 – Missão Artêmis
Autor: Jefferson de Campos.
Revisão de: Isabel Comarella.
Montagem da capa: Douglas Quadros.
Montagem da capa: Iury Kroff.