Anteriormente em Égide da Tempestade – Parte 8, Soren sabendo que vencer uma batalha contra o exército que acompanhava Mira não seria possível, fez com ela um acordo, para que ele e Dargon possam morrer honradamente, e os outros homens se salvem. Fiquei agora com Égide da Tempestade – Parte 9.
Égide da Tempestade – Parte 9
Os legionários estavam confusos, mas ao mesmo tempo aliviados com as ordens recebidas para recuar. Havia uma miríade de agradecimentos, louvores e bênçãos dos aldeãos. Dargon ouvia palavras de apoio, daqueles que serviram por tanto tempo ao lado dele, muitos inclusive apontavam que a melhor opção seria a fuga, nenhum deles entregaria um líder tão competente, que por tantas vezes salvou-os daquilo que muitos apontariam como morte certa. Infelizmente, o centurião refutava as sugestões de salvação e agradecia veementemente todos que se aproximavam. O destino final seria encontrado apenas no dia seguinte, mas havia necessidade de organização para a partida imediata de legionários e aldeões. Já ao cair da noite, todos começaram a se organizar e deixar o torrilhão. Soren estava ao lado de Dargon nas últimas despedidas e assim que todos estavam distantes, puderam retornar para a pequena fortaleza solitária.
Soren sonda a vidade Dargon
Soren foi o primeiro a quebrar o silêncio:
-Sinto muito por não poder permitir sua salvação, mas os termos de Mira eram claros e para nós não havia muita opção.
Dargon retrucou calmamente:
-De maneira nenhuma estou incomodado com sua decisão. Conseguimos o melhor acordo possível em nossas condições. Fico apenas chateado por não ter tido a opção de visitar lugares dos quais apenas tive conhecimento por livros e histórias. Deixei a terra de minha raça, muito cedo, lembro-me pouco das feições, mas muito das dores do treinamento de redenção pelo qual passei.
-Se lembra de familiares? Ou de algo de seu passado nas terras distantes Taurinas?
-Na verdade não. Apenas soube que muitos filhos de membros importantes de outras raças eram entregues aos sacerdotes da Autarquia como uma maneira de selar acordos entre reinos hereges. Provavelmente meus pais deveriam pertencer a algum círculo importante ou serem nobres no reino Taurino, mas sobre isso nunca obtive muitas informações, sempre haviam barreiras sobre isso e depois de ser destacado para locais tão distantes eu simplesmente deixei de procurar algo a respeito.
Houve um breve silêncio. Soren pediu para que Dargon pegasse comida e vinho para continuarem a conversa no andar superior. Em uma pequena mesa no aposento do Exarca, ambos sentaram-se lado a lado e enquanto bebiam e comiam o que restava das provisões, contemplaram por alguns momentos o horizonte escuro, do qual apenas observavam e ouviam os movimentos e os efusivos cânticos do acampamento órquico.
-Sinto muito por ter perdido tanto tempo servindo nas legiões Dargon. Sempre achei triste ver membros de seu povo passando por cerimônias humilhantes de redenção. Eu servi no Estreito da Tempestade quando era mais jovem. Lutei contra seu povo e aprendi a conhecê-los depois de tantos anos. Lá entendi muitos valores que ainda carrego comigo e descobri que apesar de estarmos em lados opostos no campo de batalha, se nenhuma maneira eu poderia nutrir raiva daqueles que defendiam com tanto afinco seu lar. Depois de selado o acordo e de muitos como você serem indicados para educação religiosa e militar eu decidi me afastar e por isso fui indicado para atuar em províncias distantes.
Dargon começou a olhar o céu:
-Eu queria conhecer outras terras, queria viajar e aprender mais. Já superei meu passado, mas infelizmente nunca aceitei o futuro que me impuseram nas legiões. Conheci bons homens e pessoas terríveis, vi mais sofrimento do que muitos poderiam suportar. Queria ter tido algum poder de decisão sobre o curso de algumas situações, mas isso não faz mais diferença. Fico feliz por tê-lo conhecido, senhor. As histórias que compartilhou, suas experiências foram inspiradoras. Como disse, fui doutrinado nas trilhas da Fé e ainda mantenho minhas crenças em uma figura de poder muito diferente daqueles que me foram apresentados pela Autarquia.
-Dargon, amanhã lutaremos com honra, mas hoje peço que procure por uma garrafa de vinho, pois essa que trouxe não será suficiente para aplacar minha sede nessa última ceia!
O centurião calmamente desceu e revirou o local procurando por mais alguma bebida, por sorte encontrou mais duas garrafas, ao subir percebeu que Soren preparava algo com a comida que sobrara.
-Meu caro centurião, os temperos que ainda tinha e os segredos de um adorador de boa comida devem ser compartilhados!
Ambos se alimentaram e beberam. Continuaram falando sobre suas lembranças durante algumas horas e logo o sono se abateu sobre ambos. Dargon sentia sua cabeça rodar e estava incomodado, pois a quantidade de bebida que havia ingerido não seria suficiente para causar tais efeitos. À medida que se dirigia para uma cama sentia dormência completa em seu corpo e aos poucos começou a perder os sentidos. Havia agora uma agonia pelo que estava ocorrendo e sobre seu destino no dia seguinte…
O que havia acontecido?
Os raios de Sol ardiam no rosto de Dargon, que aos poucos recobrava a consciência. Sua cabeça ainda doía, principalmente com a luz forte. Não entendia, por onde tanta luz adentrava o torrilhão, mas assim que os sentidos estabilizaram-se, viu-se deitado sobre a grama, em uma colina levemente distante do torrilhão. Suas mãos estavam acorrentadas, assim como suas pernas. Ao seu lado, um Orc que conhecia bem, o brutamontes caolho e musculoso que portava um machado grande de duas faces. Kagror.
-O que isso significa? Por quê não me matou? Onde está Soren?
As perguntas foram abafadas pelo som da bombarda e da agitação no campo de batalha. Naquela distância não conseguia ver os detalhes da luta, mas rapidamente sentiu um desespero ao ver o torrilhão ruir. A agitação o silenciou por pouco tempo, já que em minutos ouviam um som ecoando por toda planície, no qual Orcs e outras raças comemoravam a queda daquele bastião esquecido pelo tempo.
Dargon sentiu-se destruído, não entendia o que havia acontecido.
Kagror se aproximou dele e o libertou. Dargon, não reagiu, estava pasmo ainda.
-Minotauro, do outro lado deste monte há um bom cavalo com um estandarte que vai garantir sua segurança na viagem que quiser por essas terras do Norte. Tem comida e água por algum tempo. Boa sorte.
Kagror seguiu caminho contrário ao apontado para Dargon, afastando-se apressadamente, enquanto o Minotauro se levantava e seguia na direção apontada. Lá encontrou o cavalo e a armadura de Soren, seu escudo e arma. Pendurado na árvore, uma pequena corda com uma bolsa de couro. Ao abrir, encontrou um pequeno livro e uma carta. Havia um aperto em seu peito e então começou a ler a carta…
Continua…
Égide da Tempestade – Parte 9 – Contos de Thull Zandull
Autor: Thull Zandull
Revisão de: Isabel Comarella
Artista de Capa: Douglas Quadros
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