— Este Po-Boy estava ótimo! — Diz Mariah, após a degustação. — É o meu favorito!
— Sei bem disso. — Comento. — Fico feliz que tenha gostado.
— Você fez, mesmo, o dever de casa, em? Alguns teriam me levado ao GW Fins, ou ao Upperline. Quando aceitei o seu convite, não imaginei que insistiria em me encontrar neste lugar. — Ela diz, olhando para o já quase esvaziado bar. — Sabe, não trabalho aqui à toa. Este local costumava ser o canto preferido desta mortal que hoje possuo. Como consequência, é o meu também.
— Tenho convicção de que me explicará isso depois, sim?
— Certamente. — Responde ela, com um sorriso provocante e um tanto malicioso. — A próxima Casa é, justamente, a minha. A Casa da Imensidão. Dos Padrões e dos Ciclos. Governávamos do mar, buscando,
sempre, influenciar a humanidade rumo a arte, a beleza e a mutabilidade. Desejávamos inspirar o seu desenvolvimento cultural e intelectual. Ainda que estivéssemos separados de vocês, por causa da superfície, próximos sempre estávamos. Depois de nós, a Sexta Casa. Lar dos Anjos da Natureza, dos supervisores do mundo selvagem. Responsáveis por controlar todo o sistema ecológico, eles estabeleceram as criaturas prototípicas, a flora, a fauna e as interações que estes exerceriam uns sobre os outros. Era algo bastante complexo, acredite. Ainda mais complexo do que hoje, uma vez que qualquer mudança abrupta, por menor que fosse, poderia vir a desencadear o descontrole e a imperfeição no universo.
— E a Sétima Casa?
— Tente adivinhar. — Ela ri.
— Bem… — Digo, pensativo. — Tudo o que é necessário para a vida já me parece ter sido encarregado a uma destas últimas. Na verdade, quase tudo. Seria a última a encarregada de fazer sua manutenção?
— Isto. Exatamente! — Diz, empolgada. — A Casa do Segundo Mundo era formada, principalmente, por sábios e solenes. Sua função, como você mesmo já supôs, era a de dar fim a certos elementos da Criação.
Ainda que mal compreendidos, inicialmente, pelos outros, eram, realmente, essenciais. Afinal, o princípio mais básico não é o de mudança? Mudança para que o novo possa surgir?
— Evidentemente, claro. Mas e os humanos? Também sucumbiam ao toque de transformação?
— Oh, não. A humanidade foi o nosso maior e mais sublime feito. Não podíamos dar fim a aquilo que era, de fato, perfeito! Fizemos vocês com nossos maiores conhecimentos e dádivas. O próprio Criador os admirava!
— E vocês? Também sentiam o mesmo?
— É claro!
— Não entendo. — Digo. — Então por que a insurreição aconteceu? Por que se rebelaram?
— Duas razões específicas, se quer saber. — Ela responde. — Primeiro, nossas ordens. Deus nos deu duas,
antes de os Anjos do Firmamento lhes darem vida. Primeiro, a de amar vocês, incondicionalmente. Em mesma proporção ao amor que tínhamos por Ela. Segundo, nos esconder! Nunca fazer contato, nunca nos apresentar…. Deveríamos deixá-los sós! Isolados! Alheios a nós, seus protetores dedicados. Consegue entender, gatinho? Compreende a piada? Vocês, a quem a hoste desejava servir. Vocês, para qual tudo foi estabelecido. Para qual tudo foi criado! Deveriam se imaginar abandonados, meio a um mundo indiferente e mecânico!
Após novos instantes de reflexão, olhando Mariah, continuo:
— E a segunda razão?
— Essa já não é tão fácil de resumir. Para que compreenda inteiramente, preciso te explicar até onde o abandono da humanidade a levou. Além de, claro, te contar o que fizemos a respeito. Te contar qual foi a nossa atitude.
Esta história foi escrita por Rafael Linhares que faz parte da Guilda Aliada Recanto das Trevas. O Recanto das Trevas é o maior servidor brasileiro do Discord dedicado a Mundo das Trevas. Lá você vai encontrar todo o suporte de narradores e jogadores para que todos tenham a melhor experiência em RPG.
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Lembranças da Criação #3
Autor: Rafael Linhares.
Padronização: Douglas Quadros.
Artista da Capa: Raul Galli.