Review: Tormenta 20

Antes de começar a resenha propriamente dita, vale uma pequena apresentação: sou jogador das antigas. Comecei a jogar Tormenta ainda no milênio passado. É certamente um dos meus cenários favoritos de todos os tempos e, em muitos aspectos, influenciou a pessoa que sou hoje. Dito isso, nunca fui muito chegado em D&D e nos sistemas derivados dele.

Pra mim, as melhores versões de Tormenta sempre foram as baseadas em 3D&T. Desde o saudoso manual vermelho até o recente Tormenta Alpha. Os sistemas d20 sempre me pareceram muito “travados” em comparação. Quando o cenário migrou para d20 e depois para um sistema próprio baseado em d20 (o famoso Tormenta RPG), tentei jogar, mas logo desisti e passei a simplesmente adaptar o conteúdo para 3D&T.

Quando cheguei aqui era tudo mato.

Foi com esse background que, a pedido do meu grupo, comecei a mestrar Tormenta 20.

Construindo Personagens

A primeira coisa que me chamou atenção foi a facilidade para construir as fichas. São 5 passos:

1: Rolar atributos

2: Escolher raça, classe e origem

3: Escolher perícias e poderes

4: Escolher o equipamento

5: Ajustes finais

As classes podem parecer limitadas a princípio. Por exemplo, as únicas classes que conjuram magias arcanas são Arcanista e Bardo, e só uma delas tem acesso às magias mais poderosas. Mas olhando com atenção, você verá que todas elas são extremamente flexíveis. Com a classe Arcanista, por exemplo, você pode facilmente emular um mago ou um feiticeiro de D&D, ou mesmo um bruxo ao estilo “Harry Potter” que precisa de cajados e varinhas para conjurar suas magias.

Algumas adaptações ainda precisaram ser feitas. Uma das jogadoras, uma Osteon Bucaneira queria começar com um barco, que ela teria construído com os restos de seu próprio navio pirata. Baita ideia, difícil dizer não. Resolvi que isso poderia ser uma interpretação válida do poder Passagem de Navio, da origem Marujo, e permiti que ela começasse com uma coca.

As raças são únicas e muito variadas. Mais da metade do grupo optou por raças novas, como Medusa, Osteon, Golem e Trog, enquanto o restante preferiu escolher raças já icônicas do cenário, como Suraggel e Goblin.

“Klunc não vê a hora de agredir fisicamente as novas raças.”

Jogando

Rolar os dados no novo Tormenta foi uma ótima surpresa para mim. Iniciei a sessão de cara com um combate in media res em uma sala com armadilhas, usando fichas de monstro e opções do próprio livro. Um crítico quase tirou o bárbaro de combate logo no começo. O grupo, então, resolveu roubar o tesouro e fugir, o que foi muito divertido.

Eliminar o Bônus de Ataque e transformar todas as rolagens em perícias foi a melhor decisão possível para um sistema d20. Sempre achei que D&D parecia uma costura de pequenos mini-sistemas diferentes: um para combate, um para perícias, um para testes de resistência e um para magias. Unificar tudo torna o sistema mais simples e mais coeso. Você não fica tendo que lidar com ordens de grandeza diferentes cada vez que o personagem tenta fazer alguma coisa não prevista pelo sistema. Poderiam até ter ido mais longe e eliminado logo os atributos baseados na rolagem de 4d6, pois a única coisa que importa é o modificador. Uma pequena herança de D&D.

Como qualquer sistema d20 em níveis baixos, os combates podem acabar ficando repetitivos às vezes, mas pelo menos o sistema é ágil o suficiente para que não se arrastem demais. Ainda assim, para evitar isso, o próprio livro já dá ideias para encontros mais criativos.

“Role um teste resistido de Luta contra Cavalgar.”

Cenário

O mundo de Arton passou por diversos eventos dramáticos nos últimos anos. O livro traz spoilers de A Flecha de Fogo e A Deusa no Labirinto, romances lançados em 2018 e 2019. (Aliás, tomei spoilers de A Deusa no Labirinto. Foi mal, Karen Soarele.) Os acontecimentos da Guilda do Macaco, campanha via streaming dos autores do cenário, também foram incorporados ao jogo.

O Reinado está fragmentado, longe da hegemonia de alguns anos atrás. As Repúblicas Livres de Sambúrdia agora constituem um território próprio. Alguns reinos tornaram-se independentes (como Khubar, Skharshantallas e Trebuck). Portsmouth foi dominado por mortos-vivos e tornou-se Aslothia, que junto com os Puristas de Yuden demonstra potencial para tornar-se um grande vilão de sua campanha. O Império de Tauron também passa por maus bocados por conta do surgimento de uma área de tormenta sobre sua capital. Só ficou faltando um mapa* que contemple todas essas mudanças (espero que incluam na versão final).

Mudanças no Panteão podem surpreender quem não acompanhou os últimos acontecimentos no cenário. Caem Keen, Ragnar e Tauron e dão lugar a Arsenal, novo Deus da Guerra, Thwor, Deus dos Goblinoides e Aharadak, Deus da Tormenta.

Um pequeno detalhe que eu adorei foi a divisão dos antagonistas e monstros por tipo de terreno, como ermos, masmorras, áreas de tormenta, etc. Facilita muito na hora de bolar encontros. Contudo, jogadores antigos vão sentir falta das regras específicas para as áreas de tormenta, como a loucura causada pelos lefeu. Será que com a ascensão de Aharadak as mentes artonianas conseguem lidar mais facilmente com a realidade alienígena?

“Que tal um passeio de barco na Ossada de Ragnar?”
“Claro, assim que essa chuva de flechas passar.”

Bônus em Carisma

Visualmente, o livro está maravilhoso. A diagramação é linda e a divisão dos capítulos e assuntos facilita muito a consulta. Há muitas ilustrações novas, e nenhuma delas é feia ou ruim. Há algumas ilustrações reaproveitadas de outros materiais, algo comum nos produtos da editora, mas todas foram muito bem escolhidas.

Meu único incômodo é com a ficha de personagem. Já falei em outros textos que a ficha* é uma parte importante da imersão pra mim, mas parece que vários jogos têm deixado isso em segundo plano. Felizmente, existem fichas alternativas muito bonitas inclusas nas recompensas de quem apoiou o financiamento coletivo.

“Já nos vimos antes em algum lugar, não?”

No geral, meu sentimento em relação ao jogo é extremamente positiva. Não é exagero dizer que é o melhor sistema d20 que já joguei. Rápido, sem complicações desnecessárias, mas profundo o suficiente para os jogadores que gostam de chafurdar nas regras para otimizar seus personagens.

Não esqueça de dar uma passada na coluna de Edu Filhote sobre Militância no RPG.

Bom jogo a todos e se você gostou do texto e ficou interessado em comprar o Tormenta 20 é só clicar aqui!

*[EDIT] A resenha foi escrita antes de sair a versão final do jogo, e estas mudanças já foram contempladas. Aliás, o mapa ficou lindão!

Terra Devastada Edição Apocalipse – Resenha

_ E então João descreveu a abertura do quarto selo do livro do apocalipse…

“Olhei, e diante de mim estava um cavalo amarelo. Seu cavaleiro chamava-se Morte, e o Hades o seguia de perto. Foi-lhes dado poder sobre um quarto da terra para matar pela espada, pela fome, por pragas e por meio dos animais selvagens da terra. (Apocalipse 6:8)

Disse padre Yoast, a seus poucos e recém convertidos fiéis… um guarda municipal, uma senhora de bengala com um terço na mão, um motorista de transporte penitenciário e dois detentos… antes da porta da igreja ser arrombada por cadáveres ambulantes e famintos, seus rostos decrépitos e deformados, alguns com partes faltando, que se aglomeravam á porta, naquele impassível momento, interminável momento, que só durou um segundo… depois… tudo que restou foi sangue, partes de corpos e… morte.

–//–

Vamos falar de Terra Devastada

Esta é a obra de John Bogéa revisada e atualizada na sua atual versão Apocalipse, que foi lançada em financiamento coletivo no Catarse.

Todo mundo gosta de um bom jogo de zumbi, desde jogos para console á jogos de rpg de mesa e este é um ótimo exemplo de um jogo bonito e bem feito.

Tem uma temática bem interessante de fim do mundo apocalíptico cheio de zumbis, doenças e, claro, eventualmente disputas de poder, mas com regras simples de criação de personagens, com base em conceitos e características, não em regras com tabelas ou coisas do tipo o que é comumente encontrado nos rpg’s atuais.

Falaremos mais disso daqui a pouco…

O jogo todo utiliza de dados de 6 lados, os d6, nossos queridinhos e velhos amigos. Contudo, só os valores pares tem algum valor para o jogo, números impares são como não existissem! Quem conseguiu comprar no financiamento coletivo garantiu um conjunto de dados especiais para o seu Terra Devastada Edição Apocalipse!

Basicamente se você for executar uma ação relevante a história do seu personagem, você adiciona um d6 a rolagem, tendo mais chances de sucesso, o oposto também é válido, caso a característica seja prejudicial, você perderá um dado na jogada, deixando a resolução mais complicada :O

Caso as características não se apliquem, você joga somente 1d6.

Esse sistema de criação de personagem e resolução de ações é focado principalmente na narrativa e uso diversificado do seu personagem, adaptando ele as situações de vida ou morte que irá encontrar constantemente neste RPG.

Sobre o personagem.

Ficha de Personagem de Terra Devastada Edição Apocalipse

A criação do personagem se resume em escolher 12 características, que nada mais são do que frases curtas, ou mesmo palavras que descrevem seu personagem e nortearão sua interpretação no decorrer do jogo.

Essas são as características que de darão ou tirarão um d6 nas jogadas, ou não servirão para nada, que também é uma opção. ^^

Existem também as condições, que são características temporárias adquiridas pelo seu personagem após enfrentar certos desafios.

Há ainda os tormentos, similares as condições, estes são os traumas propriamente ditos que o personagem está passando ou enfrentando.

Condições e Tormentos também contam na adição ou subtração de dados nas jogadas, igual as características.

Exemplo Ficha

Como alguns sistemas conhecidos, assim como os da White Wolf, Terra Devastada Edição Apocalipse é fortemente enraizado na narrativa, tudo gira em torno disso, principalmente pela criação de personagens, que não exige pontos ou perícias, mas sim características essenciais que são a alma do seu personagem.

Algo importante de se comentar da obra de John Bogéa é a parte da Convicção, em resumo é o “algo a mais” que você emprega nas ações e decisões do personagem em momentos decisivos, que garantes mais dados a sua jogada.

Sobre as jogadas, como disse, tudo se resolve no d6, sendo que cada valor par é um sucesso, ímpares fracasso e o 6 permite jogar mais uma vez o dado.

O livro.

Ele está com imagens muito legais, bem trabalhadas em computação gráfica, um serviço muito bem feito pelo pessoal de arte.

O texto é claro, leve, direto e de fácil leitura, não tive contato com a primeira edição, e não fiquei com dúvidas quanto a esta.

Ela possui diversos exemplos das descrições que são dadas, além de no fim algumas dicas de criação de histórias, regras alternativas e até uma aventura com personagens prontos, para você já ir entrando no ritmo e enredo do jogo.

Você pode encontrar essa versão do livro diretamente no site da editora Retro Punk, clicando aqui.

Ainda não tive a oportunidade de jogar ou mesmo narrar uma oneshot ou campanha de Terra Devastada, mas soube pela diretoria que em breve, vamos ter uma mesa de Terra Devastada no Canal!

Então fica ligado que teremos novidades. 😎

Reinos de Ferro – Resenha

Reinos de Ferro é um conjunto de máquinas gigantes a vapor, armas de fogo, espadas com engrenagens e magias rolando solta.

Essa é uma das formas de resumir o livro Reinos de Ferro, da editora americana Privateers Press, lançado no Brasil pela Jambô em 2015.

Sobre Reinos de Ferro

O Reinos de Ferro foi originalmente projetado para ser apenas mais um complemento para o sistema d20, especificamente para o D&D 3.0 e o 3.5.

Contudo com o grande sucesso que fez acabou sendo produzido um livro básico contendo regras próprias mais próximas de um sistema de miniaturas como os wargames.

Assim como outros steam punks, Reinos de Ferro tem seu ambiente criado em meio a aço, pólvora, magias e máquinas a vapor de todos os tamanhos e funções.

Nessa proposta de junção entre magia e máquinas vem a “mekânica”, que justamente é o termo que designa a fusão que resultou em mudanças devastadoras no desenrolar da história do mundo.

A história de Immoren Ocidental se passa alguns anos após o que foi publicado no suplemento para d20.  Houve uma melhora e aumento na história, passando de coadjuvante para estrela da obra.

São mais de 90 páginas destinadas a ambientação da história, cenário e forma de vida.

Mapa – Immoren Ocidental.

O livro em si não é dos mais baratos. contudo, você economiza e muito porque tudo que você precisa para desenvolver uma campanha extensa e imersiva está neste livro. claro que há os complementos, porém nada que seja realmente necessário, como o livro dos monstros é no D&D.

Esse livro já conta com alguns monstros, tudo do cenário, além de tudo que você precisará para criar os personagens.

Além disso ele utiliza dados de 6 faces, os d6 que todo mundo tem em casa ou encontra em qualquer lojinha facilmente, mais especificamente 3 deles. 

Mamão com açúcar achar essas belezinhas.

Quanto ao jogo em si, antes era um suplemento ao sistema d20, contudo depois das mudanças se tornou um sistema único, bastante fluído e relativamente simples. Complicando um pouco para a criação dos gigantes-a-vapor, mas nada que uma leitura com mais calma não resolva o problema.

Raças

Dentre as opções, há 7 raças básicas jogáveis, que são:

Humanos, Anões, Gobber, os Iosanos e Nyss, os Ogrun e os Trolloides

Gobber são similares aos Goblins. Iosanos e Nyss são os Elfos do cenário, contudo cada um com suas peculiaridades. Os Ogrun são os ogros de Immoren, enquanto que Trolloides representam basicamente os Trolls.

Cada raça possui seus atributos básicos iniciais, é uma tabela que indica 4 conjunto de valores, como os abaixo.

Tabela de atributos – Humanos.

Como os personagens são heróis, é utilizados os valores na coluna correspondente.

Isso limita um pouco a diversidade de atributos, mas é só isso, depois você terá direito a 3 pontos para colocar nestes atributos.

O atributo ARC (Arcano) só é liberado se você pegar o arquétipo dotado, que falaremos mais abaixo.

Além destes valores de atributos, cada raça lhe concede características adicionais, como estatura enorme para os Ogrun, suportar carga e conexões para os Anões, potencial excepcional para Humanos etc.

Cada uma dessas características lhe concede benefícios, desde a +1 ponto de atributo a já ganhar um arquétipo de brinde.

Arquétipos

Há para serem selecionados 4 arquétipos distintos que você deve escolher 1, dentro de cada arquétipo há 10 benefícios, que você deve escolher 1 também.

 Dotado – resumo? Bolaaaaa deeeee fooooooggggooooooo!

Brincadeira, mas é a habilidade de utilizar o atributo ARC, que comentei antes, ele possibilita o uso de magias arcanas ou divinas.

Além disso, você deve ganha acesso a lista de benefício para compor seu arquétipo, tal como Conjurador Rápido, Leitura de Runas, Círculo de proteção, cada um deles lhe concede um bônus específico ou uma possibilidade específica.

Habilidoso – Resumo? Você me vê, agora não vê mais!

Basicamente é o arquétipo ligado a agilidade, ao movimento rápido, a astúcia e sagacidade, além da sorte.

Nele você conta com uma gama de benefícios ligados a estas características, como ambidestria, cauteloso, audaz, atenção sobrenatural, entre outros.

Intelectual – Resumo? Você sabe o valor do Pi de cor e pode escrever suas casas até acabar a folha de papel.

Você é super inteligente e raciocina de forma incrível, pessoas tem dificuldade de seguir sua linha de raciocínio. Assim como consegue resolver tramas que vão além do visual, um verdadeiro Einstein misturado com Sherlock Holmes.

Alguns exemplos de benefícios seriam: Coordenação em Campo de Batalha; Gênio; Memória Fotográfica; Superpercepção etc.

Poderoso – Resumo? Eu sou a entropia, Eu sou a morte, eu sou Darkseid.

Tudo bem, exagerei um pouco na frase do resumo 😉

Você é poderoso, simples assim, seus ataques corpo-a-corpo causam mais dano. Como benefícios você tem mais resistência que a maioria, dar um encontrão quando ataca alguém, ter uma espécie de fúria momentânea quando vê seus aliados tomando porrada etc.

Exemplos são, Durão, Quebra-escudo, Furia Justa, Repelir etc.

Profissões/Carreiras

Essa é uma parte muito interessante do jogo, porque você pode escolher 2 profissões entre as 30 disponíveis, cumprindo um que outro pré-requisito quando houver.

Dessa forma, essa combinação de duas das 30 profissões, mais uma dentre 7 raças, um dentre 4 arquétipos, cada arquétipo contendo 10 benefícios do arquétipo que você pode escolher 1, dão uma gama gigantesca de opções de personalização do personagem.

 

Lista de Carreiras/Profissões

 

Por exemplo, você pode ser um Aristocrata espião, um Investigador arcanista, um Mekânico arcano explorador, um Arauto da Matança caçador de recompensas, um Duelista caçador de magos etc.

Realmente as opções são vastas e os benefícios de cada classe se somam, formando algo único aliado a seu arquétipo, ao benefício do arquétipo e a sua raça.

Cura – Deixe para profissionais!

Magias

Como falei antes, magias só são acessíveis a personagens com o arquétipo dotado. A descrição delas no livro não é tão enrolado como no sistema d20, é uma descrição breve e objetiva.

Há umas 8 páginas que contem magias e suas descrições (só?) porém cada página consta em torno de 20 magias, o que dá por alto 80 magias únicas 😀

Uma magia que é muito importante é a cura. Acima de tudo porque ela não funciona como em outros rpgs do gênero. Ela frequentemente deixa sequelas, permanentes ou temporárias, conforme a frequência que você a utiliza, de formas mundanas tanto quanto mágicas.

Os gigantes-a-vapor!

Ah eles são a cereja do bolo desse rpg!

Pense em ter um construto, autômato, que pode, desde levar suas coisas a arrancar paredes ou criaturas da sua frente!

E sabe o melhor, pegando a profissão certa, combinação delas, você pode ter um monstro desses já no início do jogo.

O livro conta com mais de 20 páginas com descrição e regras para criação dessas belezinhas. Aconselho a qualquer um dar muita atenção a estas páginas, além de ser o grande diferencial deste rpg, elas têm inúmeras utilidades, bem como terem um papel derradeiro na história do mundo.

Mas não pense que é só ter um e sair abrindo caminho pela quest como se fosse um super-homem, gigantes-a-vapor necessitam de combustível para funcionar e o mestre deve levar isso muito em consideração.

A manutenção de um gigante-a-vapor é onerosa, carvão e água se esgotam com facilidade no decorrer do dia.

Um dia de atividades leves ou viagem consome uma carga de combustível para o dia todo, mas um combate, para ele continuar operante vai precisar de mais uma reposição de combustível.

Em uma viagem longa normalmente os gigantes são transportados em trens ou vagões, para que se tenha economia com os custos de combustíveis.

Um gigante-a-vapor deve ser reabastecido todo dia que estiver em funcionamento, seja em combate ou não.

Por fim

Bom, eu comprei o livro a pouco tempo, ainda não tive a oportunidade de jogar ou mestrar, mas posso dizer que estou bem animado, tanto com a temática, quanto pelo livro em si.

A encadernação é belíssima, com imagens surpreendentes, regras basicamente simples que permitem uma vastidão de possibilidades.

Uma adição sem igual para qualquer rpgista!

Ahhhh se você possui o livro, como eu, ele tem uma errata, clica aqui para fazer o download do pdf da errata de Reinos de Ferro!

Quer saber mais sobre outros RPG’s? Confere o site do Movimento RPG!

Tagmar RPG – Resenha

Pense em viver uma aventura regada à magia e na era medieval, em um mundo de fantasia… Se pensou em RPG’s como D&D ou Pathfinder você errou, estamos falando de Tagmar!

Sobre o livro

Tagmar – A Fronteira, Tagmar – O Arado de Ouro, Tagmar – Livro Básico, Tagmar – Livro dos Mostros, Tagmar – O Império

Tagmar, é um RPG de fantasia medieval totalmente feito no Brasil, 100% brazuca, lançado pela finada editora GSA, na década de 90.

É uma criação de Marcelo Rodrigues, Ygor Morai, Julio Augusto e Leonardo Nahom, no início da década de 90, foram lançados alguns complementos posteriores antes do fechamento da GSA em 97.

Capa da edição de 1991.

 

O diferencial da época para o aclamado AD&D 2º Ed. era que todo o necessário para se jogar estava em um só livro, que continha regras para jogadores, mestres, monstros e cenário, além de uma aventura pronta.

Contudo temos o complexo de achar que tudo que é gringo é melhor, associado a um sistema de criação de personagens e regras que não é igual tão prático quanto o sistema desenvolvido por Gygax, o que culminou em Tagmar não fazer tanto sucesso quanto esperado.

Os criadores foram fortemente influenciados pelo tema magno da época, os contos de J.R.R. Tolkien, ambientados em um medieval tendendo ao real, com sistemas de classes sociais como ex-escravos, pessoas livres, indo até nobres.

Mas vamos ao que interessa, o jogo

Tagmar é um RPG para quem tem afinidade com GURPS, pois, acima de tudo, possui cálculos, tabelas e detalhamento para combate. Além disso possui uma tabela que exemplifica o que ocorre com cada tipo de ataque.

São utilizados somente dois tipos de dados, d10 e d20, que servem para as rolagens dos atributos, sorteio das classes sociais, alturas e pesos, rolagens de ataques e acertos etc.

Portanto ele tem uma forte fundamentação em tabelas, há muita coisa em tabelas e sorteios, o que obriga a fugir um pouco do arquétipo do conforto.

Criando um personagem

Por exemplo, um jogador pode criar um mago, humano, alto e magro, que veio de uma família rica. Contudo, em Tagmar você até pode escolher ser um mago humano, mas se tirar um número x nos dados, pode ser um baixinho gordinho e ex-escravo.

Sem dinheiro para comprar o mínimo que precisa, sofrendo as consequências desta classe social, tendo que baixar a cabeça para nobres e burguesia e enfrentar este estigma social.

Além disso influenciar na criação de personagens, também influencia no Roleplaying e no background, porque um ex-escravo estaria andando com um nobre e um elfo burguês (outros PC’s do grupo)?

Porque ele resolveu seguir se aventurando? 

Como se livrou da escravidão?

Quem era seu mestre e que influência isso teve em sua vida?

A aleatoriedade do sorteio te faz fugir da previsibilidade.

Em termos de regras, os personagens tem acesso a algumas raças que estavam em alta na época, tais como:

Humanos, Pequeninos (Halfling), Anões, Meio-Elfos, Elfos Florestais [Os pobres] e Dourados [Os ricos].
Mapa do continente.

Cada raça possui suas vantagens e desvantagens, bem como profissões que tem acesso ou não. Estas profissões seriam o que conhecemos em D&D como classes de personagens:

Guerreiros, Ladrões, Sacerdotes, Magos, Rastreadores e Bardos.

Quanto às classes sociais, que influenciam no desenrolar da história e criação do personagem, são elas:

Ex-escravos, Ex-servos, Pessoas livres, Pequenos Comerciantes, Artífices, Grandes Comerciantes, Baixos Nobres e Altos Nobres. 

Cada classe social, além de implicar na dramatização do personagem, tem sua própria quantia de recursos iniciais, o que o torna interessantemente diferente do D&D normal, que cada classe de personagem tem uma quantidade de recursos base (ou rolavel, mas com mesmo pool de dados).

Em Tagmar, o grupo inteiro pode ter a mesma profissão (classe), ser da mesma raça, porém ainda pode ter recursos monetários totalmente diferente, em virtude da diferença de posição na sociedade.

Exemplos de personagens.

Isso torna o jogo muito mais realista, sem estragar com a fantasia do cenário.

Algumas das regras

Tagmar também introduziu o conceito de Energia Heroica (EH), e Energia Física (EF), a EH é, digamos o dano que você leva sem que seja em regiões vitais, já a EF seria a vida propriamente dita do personagem.

O sistema de combate é feito através deeeeee (tcham tcham tcham tcham) uma tabela ( 😀 ), que sofre alterações de acordo com o atributo Agilidade.

Para verificar se seu ataque foi bem sucedido ou não, rola-se um d20 e verifica o resultado. Para cada ataque, há uma chance do dano ser crítico que possui umas descrições bem interessantes e características, como por exemplo.

Um ataque crítico de uma espada (corte) será dado com um dano adicional de 75%, mais uma condição, com por exemplo, corte na cabeça põe o adversário em coma por um dia se o mesmo não estiver usando elmo. 

Legal, neh?

Isso também influencia na escolha de uma arma, o crítico que pode se ter com ela.

Um crítico (20 no d20) seguido de outro 20 na confirmação do crítico mata o adversário na hora, mesmo que fosse um dragão (a critério do mestre).

Tabela de Resoluções de Ações e Críticos.

Também há a falha crítica, que pode ir desde um golpe ruim que erra o adversário, até você ter que fazer um ataque em um companheiro próximo.

Basicamente essa tabela do Tagmar pode servir de incremento para qualquer jogo, basta ter um d20 e adaptar as regras. (Eu adoro essa parte desse sistema :D)

O sistema de magias é dado por níveis de especialização, seguindo um critério bem simples, segue um exemplo.

Boooooooollllaaaaaa deeeee FOOOOOOOGGGGOOOOOOOOO!

Por fim

Tagmar possui, para sua época, incrementos incríveis. Contudo não tinha grande apelo para a parte interpretativa, já que fazia parte do universo da época, exploração de masmorras, combates épicos e reinos que necessitavam urgentemente de heróis. Em resumo, poucas palavras e mais ação.

O AD&D seguia a mesma linha, mas era gringo, então só isso já o fazia parecer ótimo.

Atualmente o Tagmar segue de forma independente, feito pelo Projeto Tagmar e está em sua 3ª edição, como vocês podem conferir no post do Vinícius, link abaixo!

Tagmar 3.0

Ele é totalmente gratuito para baixar, livros básicos e suplementos, e segue a mesma linha do Tagmar de 1991, mas com vários upgrades.

O Livro Tagmar Terceira Edição podem ser baixados clicando aqui!

 

 

 

Conhece o Tagmar?!

 

Ficou curioso?!

 

Deixa um comentário aqui ohhh! 😀

Crash Pandas – Resenha

Crash Pandas é um jogo de RPG de uma página, isso mesmo, uma única página, que traz um sistema simples de regras, quase nenhuma na verdade e muita liberdade criativa.

O local, Los Angeles, Estados Unidos da América.

Você e seu bando, um grupo de guaxinins muito invocados estão tentando ganhar renome nas corridas de rua de L.A., contra humanos… 

Não não, você não leu errado :]

O jogo foi criado pelo inventivo Grant Howitt, que passa seu tempo elaborando jogos de RPG curtos tanto quanto jogos mais complexos. Com sistema de regras muito abertos, intuitivos e fáceis de se utilizar, além de muito divertidos.

Sobre as, poucas, regras

O sistema utiliza 3 tipos de dados, d4 para seus “atributos”, d6 para tomada de decisões e d20 para escolha aleatória de equipamentos, dois equipamentos, já que guaxinins não tem mochilas ou bolsos, só podem carregar uma coisa em cada mão… pata da frente.

O personagem

Os atributos são:
Alacrity (Entusiasmo ): Mover-se rápido, sendo escalando, nadando ou saltando
Chutzpah (Audácia): Criar/seguir com esquemas, truques, mentiras e disfarces
Ferociousness (Ferocidade): Arranhar, morder, jogar coisas, ser mau
Rotundity (Fibra*): Manter-se firme perante as adversidades

Para cada um desses atributos você joga um d4, este número é sua característica e será usada para definir quantos d6 você jogará para saber se sua ação foi bem sucedida ou não.

Os testes

Os testes são muito simples, quanto mais resultados acima de 4 você tiver no d6, melhor. Assim, em uma situações simples, bastaria um sucesso, mais complicadas dois ou até três sucessos. Conseguindo algo a mais, você pode até descrever algo legal que pode acontecer.

Além disso se sua ação  for dentro da sua história, adicione um d6 na sua jogada, se for crucial para a história, mais um d6, mas…

Falhando no teste, coisas ruins acontecem, e seu guaxinim precisará da ajuda de seus colegas ou mesmo ser resgatado por eles. 

Uma coisa boa? Guaxinins nunca morrem ou se machucam seriamente 😀

Para que vocês entendam bem o louco sistema de Grant, vamos a um exemplo prático.

Pulemos o “mimimi” do início, o enredo e toda aquela falação … 6 guaxinins se infiltrando em uma corrida de rua, com corredores humanos, para provar a eles que são melhores, ou tentando eliminar um dos corredores ou para qualquer necessidade obscura que seus instintos selvagens possam desejar.

Chegam aos veículos, rapidamente escolhem qual irão roubar, rolam os dados de acordo com a situação. Leve em conta que atributo utilizam para resolver os problemas e ver se conseguem ou não.

Dessa forma se há alguma complicação, fica a cargo do mestre e das rolagens dos personagens, nesse caso eles entram em um dos carros.

Lá, vocês aguardam o início da corrida e, como toda boa corrida de rua, não há regras 😀

Iniciando a corrida, que é o enredo principal deste jogo, começa a parte realmente engraçada!

Dirigindo um veículo em conjunto!

Cada guaxinim toma uma ação escolhendo um número no d6, sem ver a decisão do outro!

1 Freia (Velocidade -1)                               4 Usa um item (fazer algo com algum item)

2 Vira a esquerda (30º a esquerda)      5 Acelera (Velocidade +1)

3 vira a direita (30º a direita)                  6 Ação (Uma ação qualquer)

Batendo nos outros competidores, jogando coisas para atrapalhar na corrida, acelerando tudo que podem, e do nada, freando, são um conjunto de ações que podem ser tomadas em uma rodada 😉

Mas cuidado, se o seu carro levar 10 pontos de dano ou mais, ele para de funcionar e vocês terão de ser criativos para conseguir outro veículo ou arrumar o que estão, para voltar a corrida.

No fim, é um caos de ações enquanto vocês tomam as decisões, o que torna o jogo completamente imprevisível 😀

A equipe do Critical Role fez um teste, em uma one shot hilária narrada por Sam Riegel.

Se tiver se interessado, só clicar aqui e baixar o jogo gratuitamente, mas em inglês.

Leu? Gostou? Conhece? Jogou? Conte sua experiência!

* tradução do autor.

Ligeia RPG

Ligeia é um RPG independente criado por Dinho Reis e lançado em setembro deste ano. O livro é gratuito para download, mas há um financiamento coletivo recorrente de suporte ao cenário através do catarse, com suplementos mensais para os apoiadores, acesso a playtests, entre outros.

Visualmente, o material é maravilhoso. As ilustrações são excelentes e tem um estilo vetorial muito característico, enquanto a diagramação lembra muito os livros de D&D. A ficha de personagem tem um belíssimo círculo arcano no verso, um agrado para pessoas como eu que acreditam que uma boa direção de arte é importante para a imersão.

Cenário de Ligeia RPG

O mundo de Ligeia tem muito da fantasia medieval clássica, quase como se o jogo se propusesse a ser uma alternativa ao D&D. As raças e classes são muito parecidas, inclusive, mas Ligeia se diferencia em oferecer muitas, muitas, muuuuuuuuuitas opções para customizar seu personagem, com raças, sub-raças, heranças, classes (aqui chamadas “vocações”), nações, divindades e inúmeras habilidades diferentes compradas com pontos.

Sistema de Ligeia RPG

As ações são resolvidas rolando 2d6 e somando o atributo pertinente contra uma dificuldade variável. Algumas habilidades adicionam “dados de melhoria”, permitindo que o jogador role mais dados e escolha apenas os dois resultados melhores. Mesmo com uma mecânica aparentemente simples, o jogo pode se tornar extremamente tático quando levamos em consideração todas as regras de combate e as infindáveis opções de customização disponíveis.

O sistema de magias traz influência do Ars Magica e é uma das características mais icônicas do jogo. Combinando palavras mágicas você consegue gerar efeitos únicos. O próprio livro traz alguns exemplos, com modificadores que cada nova palavra adicionada ao encantamento pode trazer. Além disso, há também um sistema de corrupção, parecido com a Humanidade de Vampiro, que traz um eixo moral mais cinzento, diferente do maniqueísmo que permeia grande parte das obras de fantasia.Um resumo do sistema de personalidade Myers-Briggs também é mostrado no livro, para dar ainda mais colorido ao personagem e ajudar a guiar a interpretação do jogador.

Apoie!

Jogos brasileiros independentes são sempre bem vindos, e tenho certeza que jogadores buscando um mundo fantástico com um sistema tático e um bazilhão de maneiras diferentes de customizar seus heróis e suas habilidades vão curtir conhecer o cenário.

Bom jogo a todos!

Kult: RPG com Safeword

Com o anúncio oficial da editora Buró sobre o lançamento da quarta edição de Kult: Divinity Lost no Brasil, vou aproveitar para comentar um pouco sobre este excelente, porém desconhecido jogo europeu.

Kult surgiu lá nos longínquos anos 90, quando jogos sobre o fim do mundo estavam na moda. Era um jogo adulto e sombrio (como muitos da época) num cenário contemporâneo que misturava mitologia judaico-cristã, gnosticismo, ocultismo e uma pitada de Hellraiser.

O principal diferencial de Kult, contudo, era seu cenário rico e extremamente conciso. Em tempos imemoriais, os humanos eram deuses. Até que uma entidade chamada Demiurgo aprisionou estes humanos primordiais em uma prisão mental chamada de Ilusão (nosso mundo) e os fez esquecerem sua natureza divina. Acontece que, no começo do século XX, Demiurgo desapareceu, enfraquecendo a Ilusão e fazendo com que alguns humanos tenham lapsos sobre a verdadeira realidade do mundo. É aí que entram os personagens jogadores.

Os personagens jogadores são Awares (Conscientes), pessoas comuns que, em algum instante da vida, conseguiram ter um vislumbre do mundo por trás da Ilusão. Isso, invariavelmente, vai colocá-los frente a frente com cultistas, loucos, Awakeneds (Despertos) e criaturas bizarras vindas dos mundos além da ilusão.

O sistema da atual edição é baseado na Apocalypse Engine, e tem mecânicas simples e ao mesmo tempo muito interessantes. Todas as ações dos personagens jogadores são resolvidas jogando 2d10 e somando o valor do atributo (tipicamente entre -2 e +3) contra uma dificuldade fixa. O mestre NUNCA rola dados. Ao invés disso, cada vez que um personagem falha em um de seus testes, dependendo do resultado, o mestre opta por fazer um Move (uma decisão narrativa que prejudica o jogador imediatamente) ou anota um Hold para usar contra o jogador mais tarde.

Por exemplo: Um PJ tenta subornar um guarda para passar para um local de acesso proibido e tem uma falha completa. O mestre pode fazer um Move e decidir que o guarda aciona a polícia e o PJ, além de não conseguir entrar, pode acabar preso ou em confronto com a polícia. Se o PJ teve um sucesso parcial, o mestre anota um Hold e decide que, mais tarde, o guarda vai se arrepender do que fez e acionar a polícia. O PJ conseguiu entrar no local, mas vai ter que lidar com as consequências depois. Parece simples mas, de todos os sistemas que já joguei, este é o que mais força o mestre a tomar decisões narrativas interessantes e inesperadas. E isso é um ponto muito positivo.

A criação de personagens também é extremamente rápida. Basta escolher um Archetype (Arquétipo), um Dark Secret (Segredo Sombrio, que determina como seu personagem viu através da ilusão pela primeira vez), Vantagens, Desvantagens e distribuir 10 valores fixos entre os 10 atributos. Cada Archetype ocupa apenas uma página dupla, já com sugestões de Dark Secrets, Vantagens e Desvantagens.

O livro importado é lindo, e vamos torcer para a Buró manter a qualidade do material. As ilustrações são sensacionais e a ficha de personagem imita a Árvore da Vida da Cabala, fortalecendo ainda mais a imersão no clima místico de Kult.

Que você pode destruir completamente com uma caneta colorida.

O livro não foge de temas pesados, como pedofilia, estupro e violência gore. Inclusive, no capítulo do mestre, você vai encontrar, acertadamente, dicas sobre como lidar com temas pesados em suas sessões, como conversar com seus jogadores sobre temas pesados ANTES de pensar em abordá-los durante o jogo. Também sugere usar uma safeword, uma espécie de palavra-chave para indicar quando interromper certas cenas.

Aliás, se há alguma crítica ao Kult de minha parte, é que certas descrições no livro podem ser gatilhos para algumas pessoas. Mesmo sendo um jogo adulto, parece que os escritores não seguiram as próprias recomendações e acabaram indo longe demais em determinados momentos. Fica o puxão de orelha.

Apesar disso, o saldo geral é bem positivo. Se a Buró fizer um bom trabalho de tradução e impressão, teremos mais um excelente jogo no mercado brasileiro em 2020. Torço também para que tragam o maravilhoso baralho de tarô com temas do cenário.

Bom jogo a todos!

Acelerando o Destino com FATE

FATE RPG é um sistema genérico com foco narrativo desenvolvido pela Evil Hat Productions e publicado no Brasil pela Solar Entretenimento. Ele divide-se em duas versões: O FATE Core, mais completo e robusto, e o FAE ou FATE Accelerated Edition, uma versão mais enxuta e dinâmica do sistema. Mas ao invés de simplesmente analisar os pontos fortes e fracos do sistema, desta vez vou fazer uma resenha diferente. Vou contar uma história.

Tudo começa uma vez, na escola de desenho onde trabalho, trocando uma ideia com alguns alunos sobre RPG. Eu nunca tinha jogado com eles, mas estávamos contando histórias de campanhas, coisa assim. Eis que, em dado momento, surge a pergunta.

“Mestra pra gente”

Eles jogavam há alguns anos, mas toda a sua experiência com RPG, em termos de sistemas, se limitava a Tormenta RPG e D&D 3.5. Eles pensavam o RPG de uma forma tática. Estavam acostumados a fazer fichas combadas. Então coloquei como condição que não mestraria nenhum desses sistemas. Queria um sistema que os ajudasse a focar na interpretação e na história. Minha resposta foi “Mestro sim, mas nada de d20. Vamos jogar FATE RPG”. 

A Experiencia

Mestrei usando a versão acelerada do FATE no cenário de Tormenta. A própria construção de personagens já tirou o chão de alguns deles. Ao invés de atributos e perícias rigorosamente especificados, apenas cinco Aspectos descrevendo seu personagem (Conceito, Dificuldade e mais três livres) e 6 Abordagens que vão de +0 a +3. “Quero que meu personagem seja um elfo mago de 8 séculos de idade”. “Beleza, escreve isso aí na ficha”. “Só isso?” “Sim”.

A proposta do sistema é muito interessante se você está acostumado com RPGs mais tradicionais. Se o seu personagem é um “elfo mago de 8 séculos de idade”, você pode gastar um Ponto de Destino (usamos fichas de poker para representá-los na mesa) e receber um bônus em qualquer teste em que este Aspecto seja relevante. Pode ser lançar uma magia (pois ele é um mago), saber algo sobre a sociedade ou a história élfica (pois ele é um elfo muito velho) ou qualquer coisa que faça sentido. Da mesma maneira, o Mestre e outros jogadores podem invocar este aspecto CONTRA o jogador pagando para ele um ponto de destino. Por exemplo, ao fazer o uma marcha forçada, por conta da fragilidade da saúde do elfo (ele tem 8 séculos de idade, afinal), o mestre dá ao jogador a opção de receber um Ponto de Destino em troca de algum tipo de punição (dano, estresse, etc.) ou pegar um Ponto de Destino para superar temporariamente esta desvantagem.

A parte do jogo é interessante. Num RPG tradicional como D&D, a gente tende a olhar para a ficha em busca de recursos para superar desafios. Eventos durante o jogo costumam ser tratados de forma mais abstrata. Se o mago elfo idoso quer invocar uma Bola de Fogo para atacar um oponente em D&D, você pode ver a descrição da magia e saber exatamente quanto dano ela vai causar. Mas se o mesmo mago elfo idoso quer utilizar a mesma Bola de Fogo para incendiar uma mesa molhada de cerveja em uma briga de taverna, a descrição do Livro do Jogador já não é suficiente. Em FATE, este ação criaria um Aspecto temporário chamado “Mesa em Chamas”, por exemplo, que pode ser invocado com Pontos de Destino exatamente do mesmo jeito que os Aspectos de Personagem (“eu pago um Ponto de Destino e tento empurrar o cara em cima da mesa pegando fogo”, por exemplo).

Dados Fudge

Naturalmente, isso foi uma dificuldade que os jogadores tiveram durante a campanha. Acostumados a rolar dados apenas para causar dano, eles demoraram para aprender a tirar proveito dos Aspectos Situacionais. FATE RPG usa dados Fudge (dados que vão de -1 a +1), não muito comuns aqui no Brasil, mas que tem uma curva de probabilidade muito acentuada nos valores médios, fazendo com que seja fundamental saber usar bem os Aspectos Situacionais. Mas foi legal porque os forçou a pensar fora da caixa. Quando eles começaram a pegar o jeito, um dos personagens, um bardo, chegou a acumular quatro ou cinco Vantagens para enganar uma tropa da Aliança Negra.

A parte da resolução de conflitos do FATE é muito interessante. Não há diferença entre combates e quaisquer outros tipos de conflito que podem surgir. Mesmo o “dano” é indicado por dois marcadores genéricos chamados Estresse e Consequências, que podem representar tanto dano físico quanto fadiga, dano mental, loucura e qualquer outro elemento narrativo que faça sentido dentro da história.

A campanha que jogamos durou alguns meses e foi muito da hora. Depois dela, jogamos outras coisas também, como 3d&t, Mundo das Trevas e Old Dragon e alguns dos jogadores acabaram integrando meu grupo regular de jogo.

Onde Encontrar

FATE RPG está disponível em PT-BR pela Solar Entretenimento e em inglês pela Evil Hat Productions. É um ótimo sistema iniciantes, por sua simplicidade e foco na narrativa, e para veteranos que querem sair um pouco dos sistemas mais tradicionais. Os dados fudge podem ser adquiridos pela internet, mas também podem ser facilmente substituídos por d6 comuns (foi o que fizemos). Leva um tempinho para se acostumar a ‘converter’ os valores de cabeça, mas nada que atrapalhe jogadores espertos como vocês, não é mesmo?

Bom jogo a todos, mas antes leia também minha resenha de 3D&T!

They Came from Beneath the Sea!

 

Ciência estranha, monstros medonhos e situações hilariantes dignas de um filme de baixo orçamento. They Came From Beneath the Sea! é o mais novo jogo em desenvolvimento pela Onyx Path e nos entrega todas as maravilhas, os horrores, as emoções e a bizarrice da ficção científica dos anos 50, incorporando tudo o que tem de bom – Ou tão ruim que é bom – do Cinema B, oferecendo aos jogadores aventuras frenéticas e engraçadas. Em They Came From Beneath the Sea! os jogadores, como humanos, vivem em um mundo que está em crescente ataque por Aliens do fundo do mar!
They Came From Beneath the Sea! é um jogo escrito por Matthew Dawkins, conhecido também por seus trabalhos para a White Wolf, Onyx Path e seu canal no youtube The Gentleman Gamer. O jogo está atualmente em campanha no kickstarter, faltando apenas alguns dias para o fim da campanha a qual você pode participar aqui e garantir o seu seu!

 

Fonte: They Came from Beneath the Sea!

 

O Jogo

 

Fonte: They Came from Beneath the Sea!

 

Em They Came From Beneath the Sea! seus personagens se encontram em nosso mundo normal, porém mais estranho, ambientado em uma caricatura de um anos 50 cinematográfico onde as aventuras podem variar entre a defesa de uma pequena cidade litorânea, a libertação de um cruzeiro e levando toda a campanha para a perseguição de um submarino alienígena ou ir para o fundo do mar para lutar contra os invasores. Neste jogo os protagonistas serão veteranos de guerra, exploradores engenhosos, cientistas ensandecidos ou heróis marinheiros, todos juntos procurando proteger a terra e todos eles aparentando personagens vindos de um clássico da época.
É preciso ressaltar o quanto é importante a ambientação do cenário relacionado ao cinema e de que tipo de aventuras ele se propõe a trazer, especialmente levando em conta duas mecânicas interessantes que o jogo apresenta: Quips e Cinematics. As Quips podem ser definidas como efeitos especiais de uma cena, ou recompensas que lhe permitem lançar um soco mais forte, fazer sua repreensão mais contundente ou soltar uma frase de efeito antes de morrer, lhe permitindo todas suas ações mais absurdas, exageradas ou engraçadas.
Cinematics no entanto encorajam o jogador a tomar certo controle de jogo, permitindo a inserção de “cenas deletadas” na sessão, cortar para uma tela preta ainda com áudio em cenas “calientes”, aplicar uma dublagem ruim no diálogo de um alienígena ou convocar um dublê para substituir o personagem cientista magrelo que tem que correr por um submarino explodindo com um bebê pessoa-carangueijo nos braços. Com Cinematics você pode colocar o META em Metagame.

Fonte: They Came from Beneath the Sea!

 

O Livro

A campanha de Kickstarter de They Came From Beneath the Sea! está preparada para permitir a criação de um livro colorido em impressão tradicional e capa dura, um PDF para impressão das cartas de Quips e Cinematics, e um Escudo de Diretor para auxiliar nos jogos. No momento a campanha já bateu a meta de seu financiamento e conseguiu habilitar diversos extras trazendo novos adversários e cenários adicionais, mas ainda possui diversas novas recompensas para alcançar!
O livro será cerca de 21×27 cm com uma quantidade estimada de mais de 200 páginas. O PDF virá com mais cartas de 120 Quips e Cinematics para usar no jogo.

 

Fonte: They Came from Beneath the Sea!

 

Sistema

They Came From Beneath the Sea! terá o apoio do sistema Storypath, incluindo todas as regras necessárias para construir seu personagem, suas origens e arquétipos.O sistema Storypath é um conjunto de regras desenvolvido pela Onyx Path desenhados especificamente para permitir jogadores a jogarem com pessoas ordinárias, como cientistas ou exploradores. O básico do Storypath pode ser familiar para qualquer um que já jogou muitos outros jogos ação ou heroísmo da editora, ou para quem jogou as linhas de jogos do Novo Mundo das Trevas – Conhecido também como Crônicas das Trevas – utilizando de dados D10 e rolando um número igual à um conjunto de Habilidades+Atributos, onde os sucessos de jogadas equivalem a quantos resultados de 8 ou mais o jogador tiver.

Para quem quiser estudar mais a fundo este sistema pode adquirir o Storypath System Preview gratuitamente pela DriveThru RPG. Em seu canal Matthew Dawkins também trouxe uma divertidíssima sessão narrada pelo próprio de The Came from Beneath the Sea! que apresenta um gostinho do jogo para nós ao qual você pode assistir aqui.

 

Em mar ou terra, They Came from Beneath the Sea! vem para prometer um jogo frenético, muito criativo e engraçado, onde seu monstro gigante com tentáculos e asas pode vir com a aparência de um ator em uma fantasia barata – não se deixe enganar, ele ainda é um monstro gigante – mas claro que nada lhe impede de ter conseguido um orçamento melhor para seu jogo e manter a seriedade e um certo toque de realismo fantasioso em sua mesa. Seja como for, este é certamente um jogo de muita qualidade, com um time conceituado por trás de sua produção e que merece ser financiado e trazido ao mundo. Mas caso ainda haja dúvidas com relação ao projeto você pode checar as novidades de seu financiamento e produção aqui ou ver algumas dúvidas e fazer perguntas no FAQ.

Bem-Vindo ao Rio by Night

Os sons do submundo são mais altos para aqueles que não tem medo do estrondo das balas e os acordes dos violões. As luzes da noite não podem tocar os becos mais escuros. O cheiro salino do mar se mistura ao de sangue. A beleza está em toda parte vestida sob uma máscara de plumas e paetês. Por trás dela, a realidade é decadente.
Contrastes, sensualidade, mistérios e vitae. Este é a vida dos amaldiçoados que caçam na Cidade Maravilhosa, a segunda maior cidade do Brasil. Aqui os cainitas são embriagados pelos mistos de culturas, pela diferença de classes gritante, pelo divino e o profano, o belo e o grotesco, o elitismo e a periferia, todos em um mesmo lugar como uma grande festa pronta para virar um campo de guerra. Aqui, Sabá e a Camarilla, inimigos seculares, se aturam em pactos frágeis. Cotéries e bandos são formados por aliados suspeitos. Os legados dos grandes anciões do passado é solto ao ar com as suas cinzas. Só os mais espertos, ou os mais apaixonados, sobrevivem aqui por muito tempo. Bem vindo ao Rio de Janeiro Noturno.

Fonte: Rio de Janeiro Noturno 2018

O Rio de Janeiro Noturno é um suplemento não oficial para Vampiro: a Máscara, em especial a edição de 20 anos. Nele é abordado com detalhes o clima sobrenatural, a circulação e a política cainita em uma das maiores áreas metropolitanas brasileiras, utilizando-se das poucas informações oficiais sobre o Mundo das Trevas no país, pesquisa e livre criatividade do autor para abordar o cenário e o que pode ser encontrado nele.
O suplemento foi desenvolvido por Felipe Daen e lançado recentemente na Storytellers Vault nas versões inglês e português. Um livro curto de 140 páginas, trás um contexto histórico na perspectiva cainita e como os vampiros influenciaram na história e desenvolvimento da cidade e, consequentemente, do país. O Rio de Janeiro Noturno – ou Rio by Night se preferir – é o primeiro suplemento de cidade para Vampiro: a Máscara ambientado em território nacional disponível nas plataformas relacionadas a World of Darkness. E esperamos que possa abrir as portas para mais suplementos nacionais de WoD de agora em diante.

 

Tema e Clima

Fonte: Rio de Janeiro Noturno 2018

Paixão visceral talvez seja o que melhor descreve a atmosfera geral deste cenário. Nele, os vampiros estão sempre vivendo intensamente, se alimentando do sangue quente carioca, em uma vida noturna onde a festa nunca para, seja nas boates de luxo e nos quiosques de Copacabana, nas raves e bailes funks sórdidos das favelas ou nas festas de bar com músicas dos clássicos do samba. Inimigos e amigos nunca possuem o mesmo status por muito tempo e a situação política é uma mistura de animosidade pacifica e ao mesmo tempo caótica.
Aqui os vampiros são colocados ante um cenário onde talvez seu maior inimigo seja a liberdade e a tentação. A Camarilla e o Sabá não possuem um conflito direto, vivendo uma neutralidade duvidosa mas aproveitada especialmente pelos neófitos. Ambas as seitas ignoram ou fazem vista grossa, as regras parecem muitas vezes serem ausentes e os vampiros se tornam os lobos de si mesmos, excedendo seus limites para cultivar sua luxúria e constantemente, tendo que lidar com as consequências.
Não é incomum que grupos de Sabatistas e Camarillas se unam por um objetivo em comum, ou até façam parte de uma mesma cotérie no Rio de Janeiro. Mas até onde cainitas podem conviver igualmente entre alianças improváveis? Sem um conflito direto, quando as filosofias de uma seita deixam de se tornar prioridade e a luxúria da besta toma conta? – Paixão, paranoia e segredos: isto é o que você deve se lembrar quando lidar com este suplemento.

 

Vínculo com o Canônico e a História Cainita

Apesar de quase inteiramente feito com a liberdade poética do autor, o Rio de Janeiro Noturno é fortemente vinculado ao pouco que sabemos sobre o cenário canônico, trazendo eventos e personagens oficiais, entre eles o famoso Gratiano de Veronese do clã Lasombra. No suplemento também é possível encontrar as passagens exatas onde a cidade é mencionada em diferentes livros da linha World of Darkness.
O livro conta a história do Rio de Janeiro, desde seu descobrimento, desenvolvimento e dias atuais de forma resumida e sob a liderança secreta de cainitas ambiciosos. Apesar de trazer este contexto histórico no entanto ele é cuidadosamente desenvolvido para que se concentre na trama vampírica dentro de tudo, e não na história em si.

Fonte: Rio de Janeiro Noturno 2018

Cenário e Eventos

Em Rio de Janeiro Noturno, como já mencionado antes, temos um cenário onde os cainitas vivem em uma trégua frágil, vinda de um antigo pacto entre dois anciões das seitas. O Pacto fora desfeito mas os vampiros tentam se manter sob suas regras como outrora. Diversos conflitos e interesses internos e externos, no entanto, o impedem de ser forjado completamente mais uma vez e ao mesmo tempo em que desfrutam uma liberdade não usual os membros também precisam lidar com o possível fim desta trégua e o início de uma guerra de seitas. Cabe aos personagens decidirem o destino do Rio de Janeiro: Eles podem conseguir reestruturar o Pacto de São Sebastião, ou jogar tudo para os ares e trazer a guerra. Todo este clima abre espaço para que jogadores possam interpretar vampiros de diferentes seitas em um mesmo grupo sem a necessidade de uma motivação extremamente urgente ou uma complicação inventada pelo narrador para justificar tal cotérie.

Fonte: Rio de Janeiro Noturno 2018

Além da ambientação principal o suplemento também trás diversos ganchos e possibilidades de aventuras para o cenário: Mistérios sem respostas, segredos recém descobertos, histórias mal contadas – Tudo neste cenário é feito de forma que o narrador e os jogadores possam desenvolver as principais tramas do jogo de várias formas diferentes, entre estes um dos maiores mistérios sendo a morte dos anciões e amantes que forjaram e cultivaram o pacto entre as seitas durante séculos.

Fonte: Rio de Janeiro Noturno 2018

O suplemento também nos trás o famoso Carnaval do Rio de Janeiro como sendo um dos grandes eventos vampíricos entre os cainitas, como ele pode ser aproveitado e até mesmo usando este evento como uma mecânica do jogo para dinâmicas de influência e conflitos sociais entre o membros.

Estruturas de Poder

Neste cenário, o Pacto de São Sebastião é o ápice da sociedade vampírica, possuindo suas próprias regras e formas de ser mantido. A Camarilla e o Sabá na cidade tem poder significativo, mas possuem um controle quebradiço, tornando a política vampírica em uma miscigenação grotesca e tentadora.
Além dos cargos de status clássicos o cenário nos apresenta também diferentes novos grupos influentes tanto do Sabá quanto da Camarilla que podem trazer benefícios ou inimizades para os personagens que com estes cruzam.

 

Considerações

O Rio de Janeiro Noturno é um suplemento curto mas cuidadosamente focado, deixando fácil para os jogadores saberem o que procurar dentro dele. É muito bem escrito e diagramado, tendo a contribuição de artes originais de ilustradores e escritores brasileiros. Os NPCS preparados tem um desenvolvimento interessante e vínculos que os ligam entre si mesmo que nos menores detalhes. Além de tudo o livro também trás muitos detalhes da geografia e ambientação urbana e selvagem do jogo, deixando fácil mesmo para quem nunca foi para a cidade conseguir se localizar. Rio de Janeiro Noturno é um suplemento completo, elegante e fácil de manipular e facilmente adaptável para qualquer uma das edições de Vampiro: A Máscara, até mesmo o V5. Para quem quiser ler mais sobre o suplemento pode procurar também nesta matéria do REDERPG.

Sair da versão mobile