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O Presente das Fadas Parte 03 – A Quinta Estação

O Presente das Fadas Parte 03 é última das três partes do primeiro capítulo do romance “fan made” A Quinta Estação, por Oghan e publicado no site do Movimento RPG. Para acompanhar a série completa, entre neste link. Caso você goste desta história compre as obras do autor clicando aqui clicando aqui! Caso você não tenha lido a primeira parte do conto, clique aqui!

Sinopse

O Exército do Reinado triunfou! Liderados por Sir Orion Drake, a coalisão de soldados, heróis e mercenários venceu onde era impossível vencer. Mas, nem só a Tormenta é uma ameaça para este mundo: A Aliança Negra, o Império de Tapista e muitos outros problemas precisam de heróis para enfrentá-los.

Nesta época de transformações, surge a Confraria dos Redentores, uma companhia mercenária especializada em proteger os mais fracos e impedir que o mal se espalhe.

Mas, o que acontece quando o mal parte de dentro da própria Confraria?

Sobre o autor

Oghan é escritor de afrofuturismo e primeiro autor de steapunk do Brasil com seu romance O Baronato de Shoah, foi vencedor do Wattys 2018, e é autor de Os Oradores dos Sonhos, além de publicado na Revista Nigeriana Omenana Magazine e na MV Media nos Estados Unidos; também tem seu nome gravado no legado de Arton através de um conto em Crônicas de Tormenta volume 2 e seu sonho é escrever o primeiro romance focado na Grande Savana.


O Presente das Fadas Parte 03

Girou nos calcanhares, irritada com aquela responsabilidade toda. Quando o bebê crescia em sua árvore, dentro da seiva e de seu útero, ela não precisava parar seus afazeres para cuidar dele. Podia nadar, brincar e se embelezar à vontade. Faltava-lhe entender o porquê de tantas fêmeas por aí gostarem de ser mães e largarem a própria vida para cuidar daqueles ranhentos.

O vento estava mais forte do outro lado do lago, Lylia sabia o que isso significava: sílfides, os espíritos do vento. Criaturas mágicas que viviam nas brisas e nos céus. Claro que por serem dominadoras de um elemento tão caótico e livre, as sílfides eram um pouco mais malucas que suas contrapartes.

Encontrou com Shaela, a sílfide, após uma caminhada de quase meia hora. Ela estava nua, exceto por uma espécie de túnica transparente que não escondia nenhum detalhe de seu corpo magro. Seus cabelos eram curtos e revoltos, combinando com os olhos cinzentos cor de princípio de tempestade.

Shaela fora a única das seis Rainhas Elementais que se relacionara com um Dragão-Rei. Lylia mentira para Meriele quando dissera que se lembrava do que havia acontecido por causa deste relacionamento. Era mais do que óbvio que as duas raças não se misturavam por algum medo divino das crias, mas isso não vinha ao caso.

Lylia começou a falar, mas Shaela avançou e tapou sua boca com a mão. Lylia sentia faíscas de relâmpago atingindo seus lábios e umidade ao seu redor. Queria abraça-la, mas Shaela jamais se permitiria ser tocada por criaturas da terra.

— O nome dele era Hydora… e minha punição é jamais tocar o chão de novo… — Shaela criou uma miniatura de dragão com os raios entre seus dedos, então a apagou com um sopro. — Vim dar um presente para o seu filho, mas um presente igual aos ventos.

— Caótico, inconstante, louco e frio? — Lylia se incomodou com as palavras da amiga. Era o mesmo que esperar um discurso coerente da chuva de inverno ou uma anedota de uma fogueira.

— Ele receberá as graças de um dos deuses — Shaela voou para longe, seu elemento desapareceu entre nuvens. — Ou não. Mas talvez receba mesmo, só para entender o quanto eles são cruéis e bondosos.
Lylia observava se sentindo um pouco idiota enquanto Shaela desaparecia entre as copas das árvores. Deveria ter esperado por aquilo, mas nunca se cansava de se surpreender com as sílfides. Fez uma anotação mental “esperar o pior dos ventos, sempre”.

Havia uma fogueira em uma clareira. Em meio às chamas uma salamandra aproveitava o calor e se espreguiçava. Ao ver Lylia, a salamandra se ajeitou com algum respeito e apontou o dedo para o bebê.

— Seu filho terá gripe — tanto a salamandra quanto Lyla entreolharam-se, constrangidas com aquele presente estúpido. — Não, quero dizer… Seu filho será ateu!

— Como que alguém é ateu em um mundo onde os deuses descem para tomar chá na sua casa? — Lylia protestou. — Quero um presente melhor, vamos logo com isso!

— Vocês fadas são muito confusas. — A salamandra se colocou de pé na fogueira, agitou a cauda. — Que tal uma arma?

— Arma é interessante, mas eu queria algo menos clichê. — Lylia coçou atrás da orelha — Ele já ganhou nome, amores e a graça de um dos deuses.

— Ele vai ser um herói de verdade! — a salamandra cuspiu uma pequena bola de fogo — Ele terá surtos de heroísmo quando precisar ajudar alguém que precise muito dele!

— Que coisa mais besta, qualquer herói pode fazer isso — Lylia bocejou. — Um personagem principal de histórias não pode ser só isso.

A salamandra bufou, entediada com a falta de visão da dríade.

— Certo, então ele vai ser um aventureiro nato. Tá bom pra você? — o tom da salamandra dava a entender que a conversa tinha terminado.

— Que arma você queria dar? — Lylia percebeu que a salamandra estava pouco disposta a colaborar.

— Duas espadas! — a salamandra abriu os braços e atacou o ar — Duas magníficas espadas que eu achei por ai, uma de gelo, outra de fogo…

— Pode parar aí, eu conheço essas armas de algum lugar… —Lylia coçou o queixo – Sua trapaceira, estas armas já estiveram em outra história!

— Tá bom, tá bom! — a salamandra caminhou até um galho caído e o segurou com as duas mãos — Seu filho terá a habilidade de criar uma espada a partir da natureza nativa que o rodeia…

— Tá bom, aceito — Lylia partiu com o filho, tentando se lembrar, exatamente, o que “nativa” significava. Ela esperava que não fosse aquela coisa que ficava por cima do leite quando fervia.

Faltava o último presente, podia ser um clichê, mas podia ser algo único. Pedir presentes a uma bruxa resultaria no que era necessário para Khanta se tornar o maior herói que Arton já vira. Lylia mal podia se conter, acelerando o passo e mal falando com o filho. Talvez a bruxa lhe desse um grande inimigo, talvez uma missão impossível de realizar, mas, mesmo que ele quase morresse, era obrigatório vencer no final.

— Por que o bem sempre vence no final, viu? — Lylia parou na entrada da cabana da bruxa, uma estrutura que ficava no meio do pântano e bloqueada por duas gigantescas árvores mortas. Sentindo um calafrio, abriu a porta com cuidado para não incomodar a irmã mais velha. O menor deslize e seu presente poderia ser uma verruga na ponta do nariz.

— Se o bem não venceu, é por que a história não acabou — ela completou o raciocínio.

Por dentro a cabana da bruxa era como as outras, ornamentada com animais empalhados, esqueletos de pássaros e esquilos; por cima da porta de entrada havia um enorme crânio de alce e a lareira sempre queimava os restos de lenha da noite anterior. Cortinas finas cobriam as janelas circulares, o aroma de ervas e incensos se espalhava pelo cômodo único e a cadeira de balanço sempre balançava, mesmo que ninguém estivesse sobre ela.

— Seu filho será corajoso — Lylia ouviu a voz da bruxa, mas não sabia de onde ela vinha. A semelhança com as histórias dos bardos era tão empolgante que ela se deixou levar pela situação.

— Seu filho será bonito — a voz continuou. Lylia parou ao lado do caldeirão e viu um homem negro e forte, empunhando duas espadas feitas de galhos de árvores.

— Isso é tudo? Obrigada — Lylia voltou-se para a porta, recuou assustada ao se ver de frente com a Rainha Trevas.

Caliadore era velha por que as histórias exigiam que assim o fosse. Ela tinha a mesma idade das outras Rainhas Elementais de Caed Dhu e podia rejuvenescer quando quisesse. Ela não era má, apenas cumpria o papel que lhe fora imposto pelo arquétipo das Trevas, assim como Tenebra, a deusa da noite.

Lylia tinha a impressão que Caliadore gostava de ser uma anciã recurvada e com um olho de vidro, apesar de, em certas ocasiões, apresentar-se como uma mulher jovem e curvilínea.

— Mais alguma coisa? — a petulância de Lylia era incontrolável, principalmente confrontando a irmã mais velha frente-a-frente. As energias das duas eram opostas, quase inimigas, ainda que se completassem.

A bruxa ergueu o rosto, olhou para Khanta, depois para Lylia e falou.

— E seu filho não será o personagem principal desta história.

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O Presente das Fadas Parte 03

Autor: Oghan N’Thanda.
Revisor: Isabel Comarella.
Adaptação do Post: Douglas Quadros.
Ilustrador da Capa: Theo S. Martins.

 

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