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Icabode St. John [18]

Nos capítulos anteriores: Icabode e seus dois companheiros foram atrás de Sunday em seu apartamento, mas no lugar dele, encontraram a tia de Icabode, Katherine. Os capangas de Solomon Saks apareceram e a sequestraram, ameaçando matá-la se Icabode não parasse de procurar por Maxiocán. Por fim, o trio foi sequestrado por vampiros escamosos dos esgotos. 

Icabode, Sobogo e Caveira foram jogados em uma cela no fundo dos esgotos.

– Quem são eles? – Icabode perguntou.

– Eles são o clã do Rato – Caveira respondeu, sentado no chão, com os braços apoiados nos joelhos. – A Juíza era a líder deles. Aquela vampira que a matou é a líder do clã da Rosa. Os clãs do Rato e da Rosa são inimigos mortais. Aquilo que aconteceu mais cedo na casa do Fermín, pode ter certeza, foi o início de uma longa e bela guerra.

– E por que eles nos prenderam? – Icabode perguntou, confuso.

– Lorena, a líder do clã da Rosa é aliada de Fermín, o mesmo Fermín para quem trabalhamos. Eles dois mataram a Juíza.

– E o que acha que farão conosco? – Icabode olhou para a porta da cela, coberta de musgo fedido.

– Eles podem fazer várias coisas – Caveira disse, pensativo. –Provavelmente irão nos matar e consumir as nossas almas.

– Eu não irei permitir – Drake Sobogo rosnou em seu canto.

– Não adianta grandão – Caveira olhou para ele. – O clã do Rato também é conhecido por ter super força. Você não tem vantagem nenhuma sobre eles.

– Quais são os outros poderes deles? – Icabode perguntou, se encostando na parede e escorregando até o chão.

– Eles tem super força – Caveira começou a contar nos dedos -, poder de mudar a aparência, ficar invisíveis, se comunicar com animais, enxergar no escuro e afins. Não sei exatamente todos. Nunca me importei muito com os Ratos do Esgoto. Só sei que eles são os melhores detetives do Mundo Sombrio. Nada acontece sem que eles saibam.

– Quais as nossas alternativas? – Icabode perguntou.

– Nós podemos escolher as últimas palavras que diremos antes de morrer – Caveira disse, e em seguida sua cabeça tombou sobre o peito.

O sol está nascendo, Sunday disse em sua mente. Todos os vampiros irão entrar em torpor agora. Icabode olhou para o lado e viu que o Capitão Sangrento também estava morto. Você precisa fazer alguma coisa quanto ao clã do Rato, Sunday o alertou. Você não pode morrer agora! Katherine precisa de você!

Mas o que posso fazer? Icabode perguntou. Não vejo nenhuma alternativa.

Mas existe uma! Sunday insistiu. Use seus poderes!

Eu ainda não os domino bem.

Pratique esta noite.

Eu vou entrar em torpor a qualquer momento.

Força de vontade, rapaz! Eu te ajudo! Fique acordado durante o dia e pratique seu poder! Quando eles abrirem a porta, fuja com todas as suas forças!

E os outros? Icabode olhou para Drake e Caveira.

Eles conseguem se virar. Você é quem precisa de ajuda. Você precisa se ajudar! Tem que começar a jogar o Jogo das Trevas. Você precisa ser mau, garoto!

Ser mau? Mas eu sou cristão…

Icabode, você não é cristão. Você está condenado. Quando morreu, você foi para o inferno! Seu pai vendeu a sua alma! É tarde demais para você ser bonzinho.

O quê? Icabode estava confuso.

Você não lembra de nada não é? Nós dois morremos naquela fundição, enquanto tentávamos matar Leon. Depois nos encontramos no inferno, onde você descobriu que havia sido vendido para algum senhor do mundo inferior.

Icabode ficou em silêncio, analisando aquelas palavras.

Então você foi abraçado, e sua consciência voltou para o seu cadáver. Sua alma continua aqui.

Aqui? Icabode engoliu seco, apavorado. O-onde você está, Sunday? Diga logo!

Eu estou no inferno, Icabode, sua voz era triste. Parte de minha consciência subiu com a sua quando você foi abraçado. Há uma parte de mim em você. Por isso conseguimos nos comunicar. Se você morrer, virá direto pra cá. Não morra. E pra você continuar vivo, precisa…

Preciso ser mau, Icabode compreendeu.

 

 

Do lado de fora do esgoto, o asfalto reluzia a luz do sol em um dia quente. A grande estrela cruzou o céu nascendo entre prédios e sumindo entre prédios, até que a noite chegou novamente. Ela sempre chegava. E nessa hora, criaturas demoníacas e sanguinárias despertavam em seus covis.

Drake Sobogo acordou. A qualquer momento, vampiros abririam a sua cela e o matariam. Ele era forte, mas os outros também eram. Eu morrerei, mas levarei alguns desses vermes comigo, prometeu a si mesmo. Ele olhou para frente e viu Icabode sentado, pernas cruzadas, mãos segurando os joelhos. Ele olhava para o chão.

– Garoto? – Drake perguntou, preocupado. – Você está bem?

Icabode ergueu a cabeça e revelou olhos vermelhos e irritadiços. Drake se sentia mal por ele. O garoto era uma pessoa boa, e Drake estava sendo um cuzão com ele.

– Como eu fui parar aqui? – Caveira perguntou subitamente, olhando para o chão. – Eles entraram aqui?

Drake Sobogo olhou ao redor e percebeu que também não estava no lugar em que tinha dormido. Alguém mexera em seus corpos. Ele olhou para Icabode e percebeu que o garoto não os dava atenção.

– Garoto?

A porta se abriu e vários vampiros apontaram suas armas para os prisioneiros.

– Vamos! – um deles ordenou, e todos abriram caminho para o trio.

Drake e os outros dois obedeceram, cautelosos. Vou esperar a hora certa para agir, o boxeador pensou, seguindo por um túnel, cercado de inimigos. O grupo chegou até um grande salão subterrâneo, com várias tochas penduradas na parede. A luz do fogo bruxuleava, fazendo as sombras dos vampiros dançarem para todos os lados. O chão da câmara era tomada por ratos que assistiam a cena, curiosos. Havia milhares deles enchendo o esgoto com seus guinchos agudos.

Do outro lado, sentado em um trono feito de ossos, o vampiro de olhos amarelos os aguardava. Seu rosto escamoso os encarava com sede de vingança. Os prisioneiros foram conduzidos até o centro, pisando sobre os ratos. Drake reparou que Icabode cambaleava, olhando para as criaturas no chão como se fossem boletos a serem pagos.

– Odeio ratos – Icabode sussurrou

– Digam o que sabem sobre esse Maxiocán – ordenou o vampiro no trono.

– Com quem eu estou falando? – Caveira tomou a dianteira, colocando as mãos na cintura.

– Hercule, o Come Ossos – respondeu o vampiro. – Sou o novo primogênito do clã do Rato.

– Engraçado, eu não o conhecia – Caveira observou, sorrindo. – Vocês são muito furtivos mesmo. Mal aparecem nas nossas festinhas.

– Caveira, eu o conheço muito bem. E não simpatizo nem um pouco com essas suas gracinhas. És um tolo para mim. Diga-me o que sabem sobre Maxiocán, e eu darei uma morte rápida a vocês.

– Veja bem, quem matou a Juiza foi… – antes que o Caveira terminasse, Hercule, o Come Ossos o interrompeu.

– Eu estava lá! – de repente, sua aparência grotesca se modificou diante dos olhos de todos. Ele era um homem loiro de terno fino e olhos azuis. – Por isso você não nos vê em suas festinhas. Porque nós vemos tudo e nunca somos vistos. Nós vimos a traição do seu mestre, e não finja que vocês não tem nada a ver com isso. Todos vocês mataram a Juíza, e serão condenados por isso. Mas eu posso ser benevolente e mata-los rápido, ou não, e lhes dar uma morte lenta e terrível.

– E que tal se eu não falar nada – Icabode chutou alguns ratos com nojo –, e ir embora agora? Tenho mais o que fazer.

– Ir embora? E como pretende fazer isso?

Icabode ergueu o braço, e Hercule se levantou do seu trono, subindo em direção ao teto. Com o outro braço, Icabode vez as tochas ao redor se aproximarem do vampiro.

– O que estão esperando? – Hercule gritou para os outros membros do clã, se debatendo no ar. – Matem esse insolente. Matem-no rápido!

Quando eles avançaram, Icabode ficou invisível. Os vampiros pararam no meio do caminho, procurando-o. As tochas continuaram se aproximando lentamente de Hercule, que gritava desesperado. Todos viram o seu primogênito se tornar uma coluna de fogo, se debatendo e dando gritos estridentes.

Drake Sobogo e Caveira se olharam, abismados com a cena. Hercule caiu no chão, e as tochas começaram a se afastar. Os outros membros do clã do rato recuaram, temendo serem os próximos. Mas as tochas voaram em direção aos ratos, ateando fogo em dezenas deles. A câmara se tornara um pandemônio, tomada pelo fogo.

Ao ver que os vampiros fugiam, muitos deles tomados pelo fogo, e que o Caveira se tornara um morcego e fugira, Drake Sobogo começou a correr, cercado por fogueiras de quatro patas que corriam de um lado para outro, guinchando de dor. O boxeador se jogou em um pequeno escoamento de água na parte oposta da câmara, assistindo a cena de longe. De repente ele olhou para cima e viu uma figura levitando próxima do teto, era Icabode. O garoto olhava para baixo com uma expressão macabra. O fogo reluzia em seu rosto, destacando seus olhos vermelhos. Era quase como se Drake visse um anjo caído sobrevoando o inferno.

Ratos flamejantes percorriam vários túneis do esgoto. Milhares deles. Drake se enfiou em um túnel, correndo também. Ele via o fogo reluzindo nas paredes sempre que alguma criatura passava correndo. Deixando um rastro de fumaça. O boxeador passou por vários cruzamentos até achar uma escada. Assim que saiu da boca de esgoto, as pessoas do mundo superior começaram a exclamar e apontar em sua direção. 

Drake olhou ao redor e encontrou Caveira sentado no capô de um carro, observando-o.

– Eu sabia que você conseguiria – Caveira apontou para ele.

Drake olhou para a esquina a tempo de ver Icabode voar para fora do esgoto e pousar no asfalto, fazendo os carros desviarem.

– Nós três estaremos mortos até o fim de semana – Caveira avisou, sorrindo. – Em menos de um dia quebramos quase todas as regras da sociedade vampírica. Estamos nos expondo muito. Daqui a pouco seremos caçados.

Drake resmungou pra ele, e os dois foram se encontrar com Icabode.

– O que você fez lá embaixo – Caveira disse, seguido de um assovio. – Eu nunca vi nada igual em toda a minha vida.

– Vamos – Icabode disse, acenando para um táxi. – Precisamos descobrir em que parte do México está Maxiocán.

– O clã do Rato é o responsável para encontrar esse tipo de informação – Caveira observou. – Mas agora não acho que eles nos ajudariam. Tem um traficante de informações que mora em um cemitério, eu posso apresenta-los…

– O Sombra está morto – Icabode o interrompeu, abrindo a porta do táxi. Caveira olhou para ele, surpreso. – Nós o matamos.

– Eu tenho um contato influente na Cidade do México – Caveira disse quando os três entraram no banco de trás do táxi. Mas depois falamos sobre isso.

– Não. Falamos agora – Icabode respondeu, seco. – Depois matamos o taxista e jogamos seu corpo em algum lugar.

O motorista olhou pelo espelho, achando que ouvira errado. Caveira e Drake se olharam, surpresos.

 

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