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Icabode St. John [22]

Nos capítulos anteriores: Icabode e seus companheiros conseguiram a bússola de Maxiocán Allende, pela qual poderiam encontrar o esconderijo do coração de Solomon Saks. Após o ritual de ativação, a bússola começou a indicar em uma direção, mostrando o caminho para o grupo.

 

Leon vestia sua bata usual, com cabelos e barbas que o faziam parecer com Jesus. No interior da torre, sob os pés da Estátua da Liberdade, um grupo de vinte vampiros o ouvia discursar em cima de um barril.

– Vocês precisam entender – ele dizia, juntando as mãos como se implorasse. – Se não nos unirmos, estaremos todos mortos até o final do ano. E nós só temos uns aos outros. Se não nos protegermos, quem irá? O Conselho de Nova York?

– Se esse tal de Solomon Saks está tão forte assim, não seria idiotice lutar contra ele? – um vampiro gordo e papudo perguntou.

– Não importa o que façamos – Leon respondeu, cansado. – Ele está matando um a um. Você irá morrer de qualquer jeito. Mas se lutarmos, pelo menos teremos uma mínima chance!

– Mas por que ele está fazendo isso? – uma criança pálida e com olhos vermelhos perguntou. – Por que esse polonês está nos caçando?

– Inicialmente ele estava fazendo isso para absorver os poderes dos vampiros mais fortes – Leon olhou para cada um ao redor. – Mas o sangue de vampiro é a coisa mais deliciosa de todas. Acredito que esse maldito está viciado. Solomon Saks se tornou um canibal viciado em sangue de cainitas. Ainda que esteja extremamente forte, ele não irá parar de caçar vampiros.

– Eu pensei que o Conselho de Nova York se considerava a “Polícia da Noite” – um velho disse com sarcasmo. – Por que eles simplesmente não o abatem?

– Porque Solomon é uma daquelas pessoas extraordinárias – Leon explicou. – Ele é um rico mafioso, cheio de contatos. Ele tem um exército pessoal, com um arsenal poderoso, e está pouco ligando se vai quebrar as regras ou não. A partir do momento em que bebeu da alma de Ivanovitch e de outros vampiros mais velhos, ele garantiu sua vantagem sobre o Conselho.

– E o que você espera que façamos? – a criança perguntou. – Se nem o Conselho consegue vencê-lo, por que acha que nós, os vampiros independentes teríamos alguma chance?

– Porque o Conselho de Nova York está fraco – Leon respondeu. – Eles estão em guerra entre si. Solomon Saks tem matado vários deles por dia. Todos vocês que estão aqui hoje, não possuem um clã. Não seguem as regras do Conselho, mas isso não significa que não estão no mesmo lado. Todos vocês tem algo em comum. Todos são alvos de Saks.

– Ele está certo – uma voz conhecida surgiu da multidão. Icabode St. John se aproximou do centro, olhando para Leon. – Olá, meu chapa.

– Você está vivo! – Leon arregalou os olhos, surpreso. – Pensei que tivesse morrido naquele cemitério – ele saltou do barril e apertou a mão do outro.

– Solomon Saks não me matou – Icabode respondeu. – Pois eu é que vou mata-lo. E descobri como fazer isso – ele puxou a bússola do casaco e olhou para os vampiros independentes ao redor. – Você me empresta a sua platéia?

 

Em menos de uma semana, tudo aquilo teria terminado. O confronto final chegaria ao fim. E Lancelot, o primogênito do clã seria o primeiro a descobrir o resultado e portador das notícias. Ele estava na sala de reuniões do príncipe Fermín e seu conselho, com Leo, Savage, Lorena e Stolas.

– Que surpresa tê-lo conosco, Lancelot – Fermín disse, satisfeito. – Estou há dias lhe convidando para se unir a nós. Finalmente…

– Não é por isso que estou aqui – Lancelot o interrompeu educadamente. – Decidi não me aliar a vocês ou ao clã do Rato porque eu tinha mais o que fazer. Enquanto vocês estavam brigando entre si, Solomon Saks destruía nossa cidade.

– Aí que você se engana, meu caro Lancelot – Fermín sorriu para ele. – Eu enviei um grupo de vampiros para achar uma forma de derrotar o polonês. Eles descobriram que o coração de nosso inimigo estava escondido na Polônia, obviamente, e já partiram há uns dias para destruí-lo. A essa altura tudo deve ter sido resolvido.

– Na verdade você enviou dois neófitos, recém abraçados – Lancelot o corrigiu. – O único apto naquele grupo é Caveira, que só está na “sua missão” porque eu o ordenei.

– Aquele maldito estava agindo como um espião? – Leo perguntou, exasperado.

– Espião? – Lancelot olhou para ele, calmo. – Caveira sempre pertenceu ao meu clã. O que vocês esperavam que ele fizesse? – Ele se virou para Fermín novamente. – Eu descobri os contatos no México e garanti o transporte para a Polônia. Eu sou a verdadeira cabeça por trás dessa missão, príncipe, e quero que isso fique claro.

– Eu apenas vejo que nós temos agido como aliados o tempo todo – Fermín sorriu, sem graça. – Por que não oficializarmos essa parceria?

– Entenda uma coisa, príncipe – Lancelot pousou as duas mãos sobre a mesa, explicando de forma categórica. – Nossa equipe cometeu um erro. A bússola coincidentemente apontou para a Polônia quando a colocamos em um mapa. Mas o coração de Solomon Saks nunca esteve lá. Eles ignoraram uma possibilidade que estava debaixo de nosso nariz.

Os vampiros ao redor se ajeitaram na cadeira, intrigados com as revelações. Lancelot continuou.

– A bússola também apontava em direção à mansão de Solomon Saks, aqui mesmo em Nova York, mais precisamente no Brooklyn.

– O lugar onde Ivanovitch foi morto – Leo disse.

– E então? Eles acharam o coração? – Lorena perguntou, impaciente.

– Acharam – Lancelot explicou. – Mas no esconderijo subterrâneo da mansão não havia apenas um coração. Havia também o próprio Solomon Saks e seu séquito. Todos canibais e com poderes absorvidos de outros vampiros. O primeiro a cair foi o meu pobre Caveira. Gólgota entrou em sua cabeça e o fez ficar louco. Caveira caiu no chão gargalhando até que alguém o matasse no fim da batalha. Um maldito jogou álcool sobre seu corpo e soltou um isqueiro aceso em suas roupas. Ele ria enquanto as chamas dançavam sobre seu cadáver.

– Sinto muito por sua perda – Fermín sussurrou, espantado. Lancelot continuou.

– Icabode e Leon reuniram um grupo de vampiros independentes. Eles criaram seu pequeno exército. A maioria morreu nos primeiros cinco minutos de combate. O exército de Solomon Saks também apareceu. Vários capangas armados com metralhadoras e fuzis. Troche, o Judeu de Ferro que pensávamos estar morto, estava lá também. Ele cuidou do Capitão Sangrento. Os dois tiveram a briga mais violenta, até que um capanga chegasse por trás do vampiro boxeador e explodisse sua cabeça com uma escopeta.

– Minha nossa – Fermín fechou os olhos.

– Rabin, o feiticeiro, usou sua telecinésia para erguer Leon, o líder dos independentes, a uma altura que fosse letal. Ele abriu a mão e deixou o coitado despencar dezenas de metros de altura. O corpo de Leon atravessou o teto da mansão e pintou o porcelanato de vermelho. O último a morrer foi o próprio Icabode. Solomon Saks cuidou dele pessoalmente – Lancelot tocou na parte de trás da própria cabeça. – Ele atravessou a nuca do garoto com um soco, esmagando seu cérebro.

– Já entendemos o cenário, Lancelot – Fermín disse. – Não precisa entrar em mais detalhes. Isso significa que perdemos a luta, é isso?

– Ainda não – Lancelot disse, olhando nos olhos de cada um ali. – Os capangas de Solomon estavam armados, mas ainda eram apenas mortais. Os vampiros independentes os mataram, e em seguida eles ainda estavam em maior número, apesar de serem todos fracos. O séquito de Solomon foi dizimado. Gólgota derrubou vários deles com seu poder mental antes de ser agarrado por três e ter seus membros esquartejados.

– Isso! – Leo gritou, socando a mesa, excitado.

– E os outros, Lancelot? – Lorena perguntou, esperançosa.

– Quando Rabin viu que não conseguiria vencer a todos, levitou para longe e sumiu.

– Espere um minuto – Savage o interrompeu. – Como você sabe de tudo isso?

– Eu estava assistindo do prédio ao lado – Lancelot explicou. – Caso você já tenha jogado xadrez, sabe que os peões se movem primeiro.

– E quem seria você nesse jogo? – Savage perguntou, desconfiado.

– Eu sou a Rainha, e estou protegendo o Rei – ele olhou para Fermín com um aceno de cabeça. – E agora farei o movimento final dessa batalha.

– Solomon Saks? – Lorena perguntou. – O que aconteceu com ele?

– Ele ficou gravemente ferido – Lancelot respondeu. – Eu não estava assistindo tudo sozinho. Enviei meu lacaio mais leal com um lança chamas para o local. Enquanto Caveira pegava fogo no gramado, meu lacaio disparou outra língua de fogo em direção aos últimos sobreviventes. O Judeu de Ferro virou uma coluna de chamas e se jogou no rio. Solomon Saks havia sofrido vários ataques, e também foi beijado pelas labaredas, mas ele foi mais rápido e arrancou a cabeça do meu lacaio com uma mordida. Eu fiquei assistindo enquanto o polonês voltava mancando pela escadaria de seu bunker subterrâneo. Esperei por um tempo para ver se não havia mais ninguém ao redor, e decidi vir contar a vocês. O maldito está fraco e sozinho. E ele está guardando pessoalmente o seu coração.

– Devemos mandar alguém terminar o serviço, rápido! – Savage olhou para o príncipe.

– Não! – Lancelot cortou. – O sol está prestes a nascer, e durante o dia Solomon terá algum capanga para leva-lo para outro lugar onde ele irá se regenerar e se fortalecer novamente. Precisamos ir agora! temos pouco tempo para finalizar isso.

– E não conseguiríamos reunir outros vampiros dispostos a enfrentar Saks pessoalmente – Lorena concordou com Lancelot. – Nós temos que agir rápido.

– E essa é a oportunidade para eu provar minha força como príncipe – Fermín acrescentou. – Quão fraco ele está?

– Ele foi o centro dos ataques da noite. O lança chamas lhe causou danos terríveis – Lancelot garantiu. – Se nós o cercarmos, juntos, poderemos vencê-lo, sem dúvida.

– Então, vamos! – Fermín se levantou. – Que todos vejam que eu sou o verdadeiro líder que Nova York precisa.

Todos ao redor da mesa se levantaram, prontamente. Os seis desceram o prédio e ocuparam dois carros que aguardavam lá embaixo. As ruas de Manhattan estavam vazias, e não demorou para que eles chegassem no Brooklyn.

Enquanto se aproximavam do destino, o clima ficou mais frio, e a iluminação havia reduzido consideravelmente. Eles estavam indo para o confronto final.

– Policiais! – Fermín disse enxergando o giroflex ligado em frente ao muro da mansão. Luzes azuis e vermelhas giravam sobre o capô de três viaturas da polícia.

– Você esperava que uma guerra explodisse e nenhum policial viesse? – Lancelot perguntou no banco de trás. – Não se preocupe com eles. Estão todos desmaiados.

– Como você fez isso? – Fermín perguntou, cauteloso.

– Não se esqueça que sou um vampiro poderoso, meu príncipe – Lancelot o lembrou. – E que os meus poderes são mentais.

– Claro que eu sei, Lancelot – Fermín pousou a mão em seu ombro. – Todos sabem que você faz parte da casta mais nobre dos vampiros de Nova York.

Lancelot assentiu, satisfeito.

– E depois desta noite, espero que meu lugar no seu conselho esteja acima de qualquer outro.

– Mas é óbvio – Fermín prometeu, ignorando o olhar ciumento de Lorena ao seu lado. – Só não acima do meu, é claro.

Os carros pararam ao lado das viaturas, e os seis vampiros desceram. Eles olharam para dentro dos carros pretos da polícia, e viram os homens dormindo nos bancos.

Eles passaram pelo portão de ferro e viram a mansão abandonada, com paredes e muros quebrados, e gramado destruído. Havia dezenas de corpos espalhados pelo chão. Fermín foi até um dos corpos que reconheceu imediatamente.

– Pobre garoto – disse ele, ficando de cócoras ao lado de Icabode. – Você entregou sua não vida, mas pelo menos serviu para o nosso propósito.

Os olhos de Icabode fitavam o céu, imóveis. Seu corpo era frio e duro, e não havia vida nele. Fermín olhou em direção à porta do bunker e se preparou mentalmente para o confronto final.

– Vamos matar esse filho da mãe! – Lancelot disse, satisfeito.

Fermín estava pronto para sua marcha, quando subitamente foi surpreendido. Todos os cadáveres ao redor se levantaram do chão. Dentre eles, estavam Drake Sobogo, Caveira e Icabode. O príncipe e seu conselho estavam atônitos.

– Emboscada! – Leo gritou, segurando seu bastão de baseball com firmeza. – O que é isso Lancelot?

– Essa guerra estúpida já durou tempo demais – Lancelot explicou. – Eu estou dando um fim nela agora mesmo!

– O que você pensa que está fazendo? – Fermín lhe lançou um olhar injetado. – Os clãs da Águia, do Punho, da Rosa e dos Filhos de Pã são a maioria. Você nunca conseguirá nos vencer. Isso é loucura!

– Mas eles não estão aqui agora, estão? – Icabode perguntou, olhando ao redor. – Estão só vocês quatro. Longe da sua fortaleza super protegida.

– Nós conseguimos enfrenta-los! – Leo disse, olhando para os vampiros ao redor. – É só cada um de nós matar cinco deles. Esses independentes são fracos e neófitos. Nós podemos!

– Eu não contaria com isso – uma voz disse, e outras pessoas começaram a brotar do nada. Elas estavam invisíveis o tempo todo. Era o clã do Rato, seis vampiros de pele escamosa e ossos deformados. O vampiro que falou era o mais feio de todos.

De dentro da mansão, surgiu outros dez, todos com as cabeças cobertas por véus. Era o Clã da Sombra. Eles se uniram à multidão.

– Eu me rendo! – Lorena ficou de joelhos, diante de Lancelot. – Não me mate, por favor! O clã da Rosa renuncia a qualquer aliança feita com o falso príncipe!

– Lorena! – Fermín gritou, ultrajado. Depois ele olhou ao redor, ainda espantado. Savage seguiu os passos da vampira e também se ajoelhou diante de Lancelot.

– Desculpe, cara – Leo olhou para ele e abaixou seu bastão. Em seguida, também se ajoelhou. – O clã do Punho implora por sua misericórdia. E juramos nossa lealdade a você.

– E-eu também peço perdão pelos meus atos – Fermín se ajoelhou, gaguejando. – E rogo que aja com miseri…

– Não – Lancelot interrompeu. – Enquanto você viver, haverá guerra.

Os vampiros ao redor cercaram a Fermín, prontos para mata-lo. O príncipe se levantou do chão, desafiador. Então sua pele começou a brilhar, como se ele fosse algum tipo de criatura celestial.

– Vocês são muitos, mas eu sou muito mais – ele disse, e de repente, Drake Sobogo caiu de joelhos, atordoado. O militar ergueu a cabeça perguntando onde estava e quem eram aquelas pessoas. Em seguida, Fermín se virou para Caveira. – Eu sou o seu novo mestre. Me proteja!

Caveira sacou suas armas e começou a atirar nos vampiros ao redor. Ao perceber o poder do príncipe, Icabode correu em sua direção. Fermín olhou para ele e gritou “caia no chão!”. Icabode não teve nem tempo de pensar. Ele se jogou de peito no gramado, obediente.

– Afastem-se! – Lancelot gritou. Fermín havia causado a morte de quase dez vampiros em poucos segundos. – Se o nosso querido príncipe deseja um embate mental, nada mais justo que o primogênito do clã da Sabedoria o enfrente pessoalmente.

Os dois ficaram frente a frente, encarando-se mortalmente. De repente Lancelot se transfigurou, e virou um demônio chifrudo, com pele vermelha e longo rabo.

– Volte ao normal! – Fermín gritou. E Lancelot voltou à sua imagem normal.

– Abrace o seu medo! – Lancelot ergueu as mãos para ele, e Fermín recuou dois passos, apavorado. – Seja abraçado pelas trevas!

– Morra! Isso é uma ordem! – Fermín rebateu, mas ele perdera a confiança inicial. Agora era apenas uma criatura assustada. Seu poder não afetou o adversário em nada.

Lancelot fez uma última expressão facial e esse foi o fim. Fermín começou a gritar e rolar no chão, como se sofresse as piores dores do mundo. Os vampiros do clã do Rato o cercaram.

– Isso é pela Juíza! – um deles disse antes que todos começassem a desmembrar o príncipe de Nova York. Enquanto os outros assistiam a cena, Lorena se colocou ao lado de Icabode.

– O que aconteceu? Por que você nos traiu? O que o fez escolher o lado de Lancelot, o clã do Rato e o da Sombra?

Icabode St. John se virou para ela e começou a explicar os eventos que aconteceram nos dias anteriores.

 

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