Feiticeiros e suas origens – Classes D&D

Olá Draconianos, eu sou Willian Vulto e esse é o oitavo post da minha série sobre as classes de D&D. No post anterior eu falei sobre os Monges e essa semana eu vou falar sobre os famigerados Feiticeiros.

Sobre os Feiticeiros

Feiticeiro é uma classe muito legal de se jogar. Você tem menos magias que o Mago, mas isso não é problema já que, na maioria dos combates se usa sempre as mesmas magias. Além disso você lança mais magias por dia e não precisa preparar magias, o que é muito legal.

Para efeitos práticos, o Feiticeiro é só um mago diferenciado, mas isso anula algumas possibilidades interessantes que a classe gera. Existem três elementos interessantes no Feiticeiro que tornam esses personagens únicos.

Magia inata:

A Magia do Feiticeiro não vem dos estudos, nem da fé, nem da natureza e nem da música. Isso torna o feiticeiro uma classe especial com membros que acreditam ser especiais, podendo transitar entre uma arrogância corrosiva e um senso de dever heroico. “Eu sou especial, logo devo ter uma missão especial”.

Além disso, o Feiticeiro pode desenvolver suas próprias magias com seu próprio sistema, o que pode gerar momentos interessantes na história.

 

 

Magia baseada em Carisma:

A Magia do Feiticeiro é baseada em Carisma e, até hoje, ninguém me explicou muito bem como isso funciona. Para o Bardo parece mais claro, mas para o Feiticeiro esse entendimento exige um pouco mais de pensamento. Então para mim, esse Carisma do Feiticeiro é definido por uma palavra, Presença.

Presença é aquela capacidade que algumas pessoas têm de se fazer presente. Todo mundo tem um amigo super maneiro que parece incrível, mas que olhando de perto não tem nada de especial. O que faz que aquela pessoa chame a atenção é a presença. A capacidade do cara de se posicionar e de passar confiança. E para isso a pessoa tem que ter confiança em si mesma.

Essa é a forma que eu encontrei de fazer a magia do Feiticeiro fazer sentido na minha cabeça. Um jeito prático de fazer que Carisma seja um atributo mental. A confiança do feiticeiro em si mesmo e em seu dom é, ao mesmo tempo, o que faz com que sua magia seja mais poderosa e que sua presença de espírito atraia as pessoas.

Fonte Duvidosa:

Esse é um fator que eu não vejo as pessoas utilizando nos Feiticeiros. Mais legal do que ter Sangue de Dragão, ou uma descendência Celestial ou Extra-Planar, é o fato de você não saber de onde seu poder vem. A dúvida é extremamente interessante para as narrativas e podem gerar situações interessantes. Um Feiticeiro pode ter total convicção de sua linhagem ou viver em dúvida constante. Ele pode adorar e cultuar sua herança, ou pode odiá-la por fazer dele o que é. São várias possibilidades.

 

 

ALGUNS TIPOS DE FEITICEIRO

O Caçador de Dragões:

O Caçador de Dragões acredita ser o filho bastardo de um Dragão (pode nem ser), o que é uma teoria comum para explicar o poder dos Feiticeiros. Porém, para esse personagem, os Dragões são criaturas malignas que abusam dos humanos e devem ser exterminados para que não possam mais fazer mal. É o conceito clássico do Bastardo que odeia o pai, mas nesse caso o Pai é muito poderoso e é um Dragão.

Esse Feiticeiro vai viajar pelo mundo a fim de se aprimorar até ter poder para matar Dragões, incluindo seu próprio pai.

O Amaldiçoado:

Os poderes do Feiticeiro surgem do nada e devem ser controlados através da força de vontade e do poder mental do Feiticeiro. Porém, muitas vezes a descoberta desses poderes pode ser traumática. O Amaldiçoado é um Feiticeiro que matou parentes ou outras pessoas amadas nesse primeiro momento de descoberta do poder.

Esse tipo de feiticeiro acredita que seus poderes são uma maldição e que podem se descontrolar a qualquer momento. Seus poderes evoluem, mas ele pratica para aprimorar seu controle, para que nunca perca o controle de novo.

O Amaldiçoado é um personagem triste que vai tentar afastar a tudo e a todos de si mesmo, já que não quer que mais ninguém se machuque. Mesmo assim, sua conscicência e sabedoria o tornam uma pessoa interessante que atrai as outras.

 

 

O Herói:

O Herói acredita que seu dom o torna especial. Porém, os poderes também são um fardo e ele entende que seu dom deve ser usado para o bem. O Herói vai viajar o mundo procurando pessoas que necessitem de ajuda e injustiças a serem combatidas.

Esse tipo de personagem é extremamente confiante o que o posiciona como um grande combatente, admirado por muitos. Por outro lado, sua extrema confiança em seu destino especial, pode torná-lo um aventureiro inconsequente e que se coloca em risco mais do que o necessário.

O Cético:

O Cético conhece todas as teorias que tentam explicar os poderes dos Feiticeiros, mas não acredita em nenhuma delas. Será que sou filho de um Dragão? Será que tenho sangue Extra-Planar? Não sei, mas alguém sabe.

O Cético sabe que existem criaturas muito antigas e muito conhecimento perdido em antigos templos espalhados pelo mundo. Por isso, ele vai viajar pelo mundo em busca da verdade sobre a sua origem e a origem dos seus poderes. Apesar de não precisar estudar para aprender Magia, ele é um estudioso de história e de cosmologia.

O Cético funciona como um Arqueólogo (veja o post do Mago), mas com um objetivo muito mais específico. O Cético, antes de entrar em combate, vai fazer questão de conversar com o Dragão para saber se ele sabe algo sobre Feiticeiros e o possível sangue dracônico, por exemplo.

 

 

O Manipulador:

O Manipulador é o Feiticeiro que usa seu Carisma nas duas frentes possíveis. Sua presença e auto-confiança o impulsionam no mundo da magia e também na micropolítica da cidade, ou do reino. O Manipulador consegue muita coisa com seu Carisma e mais ainda com pequenas magias de encantamentos, que ele pode usar várias e várias vezes durante o dia. O Manipulador é um escalador social e vai disputar os interesses na política local, primeiro como agente de uma força superior, depois estendendo seus próprios tentáculos.

Esse tipo de Feiticeiro funciona mais como NPC e mais ainda como um vilão em tramas citadinas. Nunca se sabe quem está trabalhando para ele por causa de controle mental, por troca de favores ou simplesmente por causa de seu Carisma e traquejo social.

O Caoísta:

O Caoísta é estudante independente de Magia. Esse Feiticeiro sabe que existem energias que vêm de outros planos, e sabe que ele tem o dom de manipulá-la. Apesar do processo parecer natural, o Caoísta acredita que, através da tentativa-e-erro e de um método pragmático, ele pode melhorar os resultados de sua magia.

Para o Caoísta, existe um sistema de regras para a Magia e cabe a ele identificá-lo. Apesar de entender que os métodos dos Magos não funcionam para ele, ele respeita os Magos por terem um sistema funcional.

Esse tipo de Feiticeiro vive treinando e fazendo conjecturas sobre suas magias, as vezes parecendo um louco e as vezes parecendo um grande filósofo que consegue enxergar as linhas de energia que unem todas as coisas.

 

 

Em resumo: O Feiticeiro é muito mais que um Mago que lança muita magia. O Feiticeiro é um personagem que tem um dom natural, que pode significar uma ligação com algo maior e especial. Mas do que isso, a presença de um feiticeiro, evidencia a eterna dúvida sobre os sistemas do mundo. Um feiticeiro pode passar a vida achando que seus poderes vêm do sangue de Dragão, mas por fim descobrir que não é nada disso.

Então as perguntas para criar um bom Feiticeiro são: De onde vem os poderes do meu personagem? De onde o meu personagem acha que seus poderes vêm? Ele se acha especial ou um amaldiçoado? Como ele lida com isso? Como ele lida com Magos?

Da para fazer Feiticeiros muito interessantes. É só não ter medo de ser criativo.

 

 

Então esse foi mais um texto meu.
Deixe sua opinião aqui nos comentários.
Espero estar de volta na semana que vem.

Icabode St. John [9]

Nos capítulos anteriores: Após a missão desastrosa de derrotar Solomon Saks, Icabode foi capturado pelos vampiros que governavam a cidade. Sem saber o paradeiro de Sunday e Drake, Icabode revela os planos do mafioso polonês, alertando os vampiros. Eles enviam Icabode com Ivanovitch, o vampiro mais forte do mundo, para matarem Solomon. Ocorre que os dois não sabiam que o mafioso já se transformara em vampiro e que se alimentara de Anatole, uma criatura antiga. Com as defesas baixas, Ivanovitch foi empalado e consumido por Solomon, que era mais forte do que ele esperava.

 

Icabode assistia a cena, assombrado. Solomon Saks matara Ivanovitch, a Besta do Oriente, e agora possuía um poder terrível. O próximo a ser morto e consumido seria o próprio Icabode, que estava ferido, caído no chão.

Fuja, garoto, fuja! Sunday disse em sua mente.

– Onde você está? – Icabode sussurrou, ainda sem saber como o detetive se comunicava com ele.

De repente, uma figura se materializou em sua frente. Um homem, cobrindo os próprios lábios com o dedo, pedindo silêncio. Ele tinha barba e cabelos sedosos, compridos. Suas roupas eram trapos cheios de sangue. Icabode o reconheceu imediatamente. Era o vampiro que ele libertara da fundição em Green Point. Ele colocou a mão no ombro de Icabode e olhou para Solomon. O mafioso gargalhava, diante do carro que acabara de dividir ao meio. Em seguida, ele olhou para onde Icabode estava e seu olhar ficou perdido. Girou sobre os calcanhares, procurando algo.

– Onde ele está? – ficou repetindo. – Onde está aquele maldito? – gritou.

Você está invisível, garoto, Sunday explicou. Não faça barulho.

Furtivamente, Icabode saiu com o vampiro pelo buraco da sala, e os dois foram para o quintal.

– Você sabe voar, não sabe? – o outro sussurrou.

– Ouvi dizer que estava voando por aí, mas não lembro de nada.

– Se pendure em meus ombros – o vampiro disse com desgosto.

Icabode se agarrou às costas dele, e o chão começou a se afastar de seus pés. Os dois sobrevoavam a quadra, indo para longe da mansão.

– Depois que você fugiu da fundição – o vampiro disse -, eu não vi para onde foi. Fiquei te procurando em todos os cantos do Brooklyn. Você estava irracional, faminto. Eu temi que você saísse por aí fazendo besteira, ou que ao amanhecer, o sol te fulminasse.

– E por que você está tão preocupado comigo? 

– Eu te transformei em um cainita – o outro explicou. – É o meu papel garantir que você sobreviva e que não faça nenhuma besteira… pelo menos até ter autonomia. Meu nome é Leon, e o seu?

– Icabode – ele respondeu, olhando para o pescoço de Leon. Debaixo daquela pele, havia sangue. E Icabode estava com muita fome. – Mas como você me achou?

– Eu consigo ouvir coisas a quilômetros de distância. Posso ouvir bolas de algodão caindo no chão, se estiver muito perto. Quando o tiroteio começou, imaginei que tivesse algo a ver com você. Felizmente, eu estava certo. E agora, pra onde quer que te leve?

Montauk, pensou Icabode, mas não podia ir pra casa, sabendo que Sunday e Capitão Sangrento estavam em algum lugar, em perigo. Então ele disse para leva-lo até à casa do detetive. Só depois lembrou que foi Sunday quem entregou o esconderijo de Leon a Solomon Saks.

– Leon – Icabode disse, enquanto atravessavam o rio. – Eu sei que você conhece o detetive Sunday. Ele estava comigo na fundição. Ele me disse que você era seu informante.

– E onde ele está? – Leon virou o rosto, surpreso. – Ele foi me resgatar?… – ele virou o rosto para frente novamente. – Acabo de lembrar que você foi até lá para me matar. Sunday descobriu que eu fui preso, e decidiu me matar antes que eu causasse algum problema maior.

– Na verdade foi Sunday quem o entregou a Saks – Icabode corrigiu, temendo ser solto vários metros acima do chão. Ele viu que o vampiro virou o rosto novamente, sem dizer nada. – Eu pedi pra ele me entregar o endereço de um vampiro. Ele relutou, mas eu o obriguei. Não foi pessoal.

Leon assentiu.

– Ele fez o certo. Eu mereço mesmo morrer. Todos nós merecemos.

– Mas você é tão diferente dos outros – Icabode disse, perplexo. – Como pode pensar dessa forma?

– Isso é questão de tempo… você verá quando a fome começar a tomar controle do seu… – ele se lembrou de algo. – Você está racional agora. Como fez isso? Como se alimentou?

– Um cachorro… – Icabode se lembrou de quando Anthony Ritzo o empalou na calçada. Tinha o corpo de um cachorro ao seu lado. – Eu acho.

– Você deve estar faminto. Depois falamos sobre Sunday. Precisamos alimentá-lo.

– Esquece. Não vou beber sangue.

– Você vai sim – Leon retrucou. – Se você não beber agora, a besta que há dentro de você, irá lutar contra a fome. Ela tomará o controle de seu corpo, e sua mente ficará inconsciente. Você matará a primeira coisa que estiver em sua frente pra se alimentar. Não subestime a sua fome, Icabode. Eu já subestimei, e as coisas não acabaram muito bem.

– Quais opções eu tenho para não condenar a minha alma? – Icabode perguntou, inconformado.

– Tarde demais, meu amigo – Leon disse, resignado. – Por que acha que não me matei ainda? Além de ser vampiro, ser suicida? O meu lugar está garantido no inferno.

– Você acha que todos eles se preocupam com isso? Os outros vampiros?

– Provavelmente sim. Mas chega um momento onde todos aceitam a sua natureza. Ou você abraça a besta para “viver” nesta não-vida, ou você luta contra ela, e acaba sendo destruído e mandado para o inferno.

– Pelo visto você ainda não fez a sua escolha – Icabode disse, tanto para ele quanto para si próprio, percebendo que sua fome aumentava.

– Escolha? – Leon franziu o cenho. – Não existe tal coisa… olhe só, uma construção embargada. Achamos o nosso restaurante.

– Restaurante? – Icabode olhou para o prédio com mais de dez andares, incompleto e antigo.

– Indigentes, meu amigo, indigentes.

– Tudo bem, mas não precisamos matar ninguém.

Os dois pousaram no terraço cheio de musgo, cocô de pombo, garrafas e latas. O rosto de Leon parecia com a imagem de um Jesus católico, mas ao encarar Icabode, suas presas tornaram o sagrado em profano. Ele tirou sua camisa suja de sangue e fez o sinal para Icabode fazer o mesmo. Ele não queria assustar as presas antes da hora.

– Você tem os mesmos poderes que eu – Leon informou. – Você pode voar, pode ficar invisível e pode ter os sentidos aguçados. Estes últimos não ficam sempre funcionando. Você precisa prestar atenção. Nós entraremos em uma área escura, e você precisa abrir seus olhos malditos.

Icabode olhou ao redor, e piscou várias vezes, tentando ativar o poder. O vento deslizava frio em seu corpo igualmente gélido. Manhattan era como uma cabeça, e os prédios eram os fios de cabelo. Havia milhares deles ao redor, todos pontilhados com janelas acesas, decorados com propagandas da Coca, com marca de cigarro, atrações da Broadway, marcas de bebida, um zepelim da Kodak voando acima de suas cabeças.

Pela janela de um quarto, Icabode viu um asiático colocar uma camisa vermelha. Na mesa em sua frente havia dois incensos acesos, ladeando a foto de um general de seu país. No canto superior da foto, havia o símbolo comunista.

-Uau! – Icabode piscou, percebendo que o quarto estava muito longe dali, e que vira detalhes tão pequenos que nem um binóculo conseguiria revelar. Ele se virou para Leon. – Estou pronto.

Os dois desceram o primeiro lance de escadas, e descobriram um piso abandonado, sem paredes e cheio de lixo. Eles continuaram descendo até os ouvidos aguçados de Icabode ouvirem os primeiros sons. Era um ronco.

 

George discutira com seus pais extremamente religiosos quando ainda era adolescente. Ele fugiu de sua casa no Tennessee e foi viver no litoral. Depois de quinze anos viajando, decidiu ficar em Nova York, onde ficou por mais duas décadas. Os últimos cinco anos de sua vida foram os piores. Ficara desempregado, sem teto e sem dinheiro. Dormindo em vários lugares diferentes. Aquele prédio estava sendo seu lar nos últimos meses. Os outros indigentes tinham jogos completos de panela, isqueiro, garrafas de alambiques e cigarros. Eles se ajudavam sempre que podiam.

Era madrugada e ele dormia profundamente, quando de repente, algo o despertou. Dois homens estavam em pé, encarando-o. Eles não vestiam camisas. Um deles parecia Jesus, e o outro não tinha alguns dedos da mão.

– Não acorde os outros – Jesus dissera. – Eu tenho uma proposta pra você.

– Eu não sou nenhuma bicha – George respondeu calmamente, sem saber se estava falando com um anjo ou com um nóia.

– Nem nós – o jovem respondera com uma careta.

– Deixe-nos beber um pouco de seu sangue, e pagaremos bem – Jesus propusera. – O que acha?

– Isso não é errado? – George perguntou, completamente confuso. Talvez estivesse sonhando.

– Nós poderíamos pegar à força, se quiséssemos – Jesus explicou de maneira ponderada. – Mas nós queremos pagar por isso.

– Nesse caso – George olhou ao redor e viu que estava sozinho. Era um péssimo dia para ficar sozinho no sexto andar. Aquilo não era Jesus, porra nenhuma. Aquilo era um dos demônios que ele ouvia falar nos becos do submundo. – Prometem que não vão me matar… ou me transformar em um de vocês?

– Nós prometemos – o garoto assegurou, incomodado com a pergunta.

– Como querem fazer isso? – George perguntou, ainda deitado.

O que parecia com Jesus ficou de cócoras, e o garoto o imitou. Em seguida, cada um pegou um de seus braços e os levou até suas bocas. Os lábios eram frios e secos. O hálito parecia um sopro invernal. George esperou mordidas doloridas e profundas, mas tudo o que sentiu foi uma leve picada de mosquito, seguida por uma coceira. Seu corpo inteiro foi tomado por aquela sensação, e havia uma certa dormência. Ele sentiu o sangue correr pela virilha, e logo seu membro ficou ereto. A sensação era realmente boa. Ele se sentiu fraco e tonto. Piscou lentamente, e de repente, escuridão.

 

– Ele está bem? – Icabode perguntou, afastando o braço de sua boca com muita relutância. Ele queria continuar bebendo o sangue do mendigo, mas agora estava assustado. – Ele desmaiou?

– Sim, ele está vivo – Leon o acalmou. – Se você prestar atenção, pode ouvir as batidas de seu coração. Mas por hora, a besta não tomará conta de nosso corpo. Podemos procurar mais um indigente.

– Não! – Icabode pediu. – Não podemos simplesmente ir pra casa? Amanhã a gente continua – ele olhava para o homem desmaiado, pálido. O gosto do sangue em sua boca era doce e quente, como um resquício da vida que ele nunca mais teria.

– Por mim, tudo bem – Leon deu de ombros. – Eu também relutei bastante quanto à beber sangue. Mas hoje, decidi que é melhor beber um pouco e não matar ninguém, do que não beber nada, e me tornar uma fera assassina. É melhor você superar essa fase logo.

– Eu irei – Icabode prometeu. – Só não hoje, por favor.

– Claro. Amanhã continuaremos – Leon bateu em seu ombro, com um sorriso. – Antes de partir, precisamos fazer mais uma coisa – ele ergueu o braço do mendigo e lambeu o local da mordida. Os buracos sumiram imediatamente. – Faça isso sempre que se alimentar pra cauterizar a ferida.

Icabode pegou o outro braço e fez o mesmo. No próximo instante não havia marcas de mordidas no mendigo.

– Você disse que iria pagar pelo sangue – Icabode o lembrou, puxando os bolsos vazios da calça.

– Eu menti – Leon respondeu, se aproximando da borda do andar. – Nós dois precisávamos do sangue com urgência, e eu não tenho um tostão furado comigo. Você vai ter que fazer coisas assim a partir de agora. A sobrevivência é uma arte – ele olhou para o céu. –  O apartamento de Sunday é aqui perto. Devemos ir logo. O sol está prestes a nascer.

– Espero que ele esteja lá – Icabode se pendurou novamente no vampiro, e os dois saíram do prédio. – Assim que o encontrarmos, podemos ir atrás do Capitão Sangrento.

– De quem?

– Era o nosso terceiro mosqueteiro – Icabode explicou. – Uns vampiros o capturaram.

– Quem? – Leon perguntou, sobrevoando alguns prédios.

– Uns tais de Fermín, Anthony Ritzo, uma juíza, e Ivanovitch. Este último foi morto por Sacks.

– Sacks matou a Besta do Oriente? – Leon quase gritou. – Se você conhece o Conselho de Nova York, então já está mais envolvido à não-vida do que eu esperava.

Os dois pousaram na sacada do apartamento de Sunday, e adentraram o imóvel, mas o detetive não estava lá. Em seguida, eles isolaram o local contra a luz solar, e apagaram.

 

Leia  todos os  capítulos de Icabode St. John clicando aqui. Ou então encontre mais livros do autor clicando aqui.

 

Monges e suas dicotomias – Classes D&D

Olá pacifistas da porradaria, eu sou Willian Vulto e esse é o sétimo post da minha série que tem como objetivo interpretar e entender melhor as classes de D&D. No post anterior eu falei sobre o Druidas e essa semana eu vou falar sobre os Monges.

Sobre os Monges

O Monge é uma classe extremamente dicotômica que transita entre universos. Isso pode ser bem interessante, mas costuma gerar alguns incômodos em alguns jogadores.

Grande parte dos cenários de fantasia medieval se baseiam na Europa em alguma parte da idade média. Por mais que o mapa seja muito diferente e as criaturas mágicas se destaquem, a estrutura de poder do rei e os títulos de nobreza dão essa cara europeia para esses mundos. Nesse cenário, parece totalmente estranho e deslocado um monge budista, careca, lutando kung fu por aí. É fato que existiam sim monastérios na Europa, mas esse termo era mais usado para determinar um local de estudos cristãos que, até onde eu sei, não saiam por aí socando monstros ou cavaleiros de armadura.

É claro que isso pode ser facilmente adaptado: retratando que o Monge é um viajante de terras distantes, como o Estrangeiro (veja o post do Guerreiro) ou, até mesmo, como um Andarilho Quieto (veja o post do Bárbaro); ou simplesmente assimilando conceitos do budismo à alguma religião/divindade do seu panteão.

 

 

Imagine um antigo culto à Kord, deus da Força, que percebeu que apenas a força física não basta, decidindo assim que deveriam se tornar superiores também em seu espírito. Essa dissidência se isola em um terreno inóspito para poder adquirir auto conhecimento e equilíbrio interior. Dessa busca pelo auto conhecimento podem vir práticas que se assemelham ao budismo, como controle da alimentação e voto de pobreza, dentre outras coisas. E como são antigos adoradores de Kord, isso explica os exercícios físicos e no combate.

Esse monastério pode ficar em um local sem grandes recursos naturais e, por isso, o reinado local nem faz questão de dominá-lo, deixando que os Monges vivam em paz. E pode ser que, de tempos em tempos, o Monastério forneça lutadores para o reino, assim como ocorre com os Representantes Culturais (veja o post do Bárbaro).

 

 

O que é ser leal?

A outra grande dicotomia, e a mais interessante do ponto de vista da interpretação, é a questão da lealdade. Todo monge precisa ser leal (pelo menos no D&D3.5), mas o que isso significa?

O alinhamento leal representa a ordem, a confiabilidade e o respeito às estruturas, sejam institucionais ou hierárquicas. O problema aqui é que o Monge transita entre dois mundos, então ao que ele é leal? Não é difícil imaginar um personagem nessa situação, mas ela pode gerar histórias interessantes.

Imagine um monge criado em um monastério, com regras rígidas e uma moral inabalável. A partir do momento que esse monge sai para o mundo para viajar, se aperfeiçoar, ou até mesmo para servir, ele tende a encontrar outro sistema de regras e de leis que podem violar o seu próprio código de ética. Então o que é mais importante? Sua moral, as regras de sua religião/doutrina ou as regras do mundo e das instituições que o acolheram?

Esse é o dilema do monge: Como ser leal tendo mais de um ‘mestre’?

 

 

Alguns tipos de monges:

O Viajante:

O Viajante vem de uma cultura monástica que preza, além da força de corpo e mente, o conhecimento. Nesse monastério pode haver uma biblioteca e cada Monge, como parte do seu treinamento, deve viajar pelo mundo relatando seus achados e as maravilhas que pôde encontrar. Esse Monge se identifica com os Arqueólogos (veja o post de Mago) e com Clérigos do Conhecimento e das Viagens, mas respeita ainda mais os Rangers, Druidas e Bárbaros, que podem mostrar de forma empírica a riqueza de seus ambientes.

O Desafiante:

O Desafiante já passou por todo o treinamento de seu monastério, mas acredita que ainda precisa melhorar seu estilo de luta. Para isso ele deve viajar o mundo, assim como o Viajante, lutando contra todos que puder para melhorar seu estilo. Ao contrário do Viajante, o Desafiante não anota nada e deixa que seu corpo aprenda com seus adversários. Esse tipo de personagem pode ter uma relação de respeito e competição com os Guerreiros e Bárbaros do grupo, desde que esses se mostrem lutadores valorosos.

O Herói Pacifista:

Esse tipo de personagem vive o eterno dilema de ser um pacifista especializado em combate. Apesar de querer a paz, ele sabe que só pode construí-la lutando e, para isso, vai procurar os inimigos certos. Ao contrário do Desafiante (que o Pacifista despreza), o Pacifista sempre escolhe suas lutas. Ele nunca vai lutar com alguém por diversão, ou apenas para saber quem é mais forte. Por outro lado, não hesitará em enfrentar déspotas, tiranos, assassinos, ou monstros que ameacem pessoas inocentes.

 

 

O Caçador de Monstros:

O Caçador de Monstros é uma variação do Desafiante. Enquanto o Desafiante desafiará guerreiros valorosos para saber como enfrentar estilos marciais e armas, o Caçador de Monstros quer entender a natureza única que permeia todas as formas de vida. O Caçador de Monstros quer aprender a desviar das garras de um Grifo e dos tentáculos da Pantera Deslocadora; como funciona a fisiologia dos Vermes de Carniça e do Povo Serpente; e onde fica o ponto fraco dos Dragões e das Aranhas gigantes.

Assim como o Viajante, o Caçador de Monstro pode ter anotações.

O Servo:

A servidão é o ponto extremo do voto de pobreza. Para se elevar, o monge rejeita todas as posses e até mesmo de sua individualidade. Para servir a um amo, normalmente um nobre, o monge se abnega de suas vontades e pode agir, utilizando seu corpo como arma, enquanto foca sua mente/espírito no próprio aprendizado pessoal.

Apesar de ser um servo, o senhor sabe que não pode pedir-lhe nada que comprometa a doutrina do monge, isso faz parte do acordo entre o monastério e o suserano. A apatia do Servo a respeito de suas próprias ações pode causar desgosto nos outros membros do grupo de heróis que são, normalmente, mais passionais.

O Sábio:

O Sábio é o Monge que atua mais como um Clérigo do que como um Monge. Por mais que ele possa lutar e agir como um herói, sua verdadeira vontade é poder dividir sua sabedoria com as outras pessoas. O Sábio é aquele monge que tenta levar a sabedoria milenar de sua religião/doutrina para os outros povos, para que esses possam se tornar melhores e mais pacíficas. O estilo de interpretação do Sábio vai depender de como essa moral dele funciona.

Esse tipo de personagem entrará em constante conflito com os membros do grupo que não estejam dispostos a aprender com ele.

 

 

Em resumo, o Monge é uma pessoa de moral elevada e sempre em busca de aperfeiçoamento. Esses são os dois fatores que vão guiar o personagem, além, é claro, da dicotomia moral que afetará o personagem. Por que o Monge saiu do Monastério? Como ele lida com a desregrada vida do mundo externo? Ele pretende melhorar o mundo ou quer apenas melhorar a si mesmo? Essas são algumas perguntas para guiar a criação de um Monge.

Monges são mais do que lutadores e podem ser personagens excelentes. É só não ter medo de ser criativo.

 

 

Então esse foi mais um texto meu.
Deixe sua opinião aqui nos comentários.
Espero estar de volta na semana que vem.

They Came from Beneath the Sea!

 

Ciência estranha, monstros medonhos e situações hilariantes dignas de um filme de baixo orçamento. They Came From Beneath the Sea! é o mais novo jogo em desenvolvimento pela Onyx Path e nos entrega todas as maravilhas, os horrores, as emoções e a bizarrice da ficção científica dos anos 50, incorporando tudo o que tem de bom – Ou tão ruim que é bom – do Cinema B, oferecendo aos jogadores aventuras frenéticas e engraçadas. Em They Came From Beneath the Sea! os jogadores, como humanos, vivem em um mundo que está em crescente ataque por Aliens do fundo do mar!
They Came From Beneath the Sea! é um jogo escrito por Matthew Dawkins, conhecido também por seus trabalhos para a White Wolf, Onyx Path e seu canal no youtube The Gentleman Gamer. O jogo está atualmente em campanha no kickstarter, faltando apenas alguns dias para o fim da campanha a qual você pode participar aqui e garantir o seu seu!

 

Fonte: They Came from Beneath the Sea!

 

O Jogo

 

Fonte: They Came from Beneath the Sea!

 

Em They Came From Beneath the Sea! seus personagens se encontram em nosso mundo normal, porém mais estranho, ambientado em uma caricatura de um anos 50 cinematográfico onde as aventuras podem variar entre a defesa de uma pequena cidade litorânea, a libertação de um cruzeiro e levando toda a campanha para a perseguição de um submarino alienígena ou ir para o fundo do mar para lutar contra os invasores. Neste jogo os protagonistas serão veteranos de guerra, exploradores engenhosos, cientistas ensandecidos ou heróis marinheiros, todos juntos procurando proteger a terra e todos eles aparentando personagens vindos de um clássico da época.
É preciso ressaltar o quanto é importante a ambientação do cenário relacionado ao cinema e de que tipo de aventuras ele se propõe a trazer, especialmente levando em conta duas mecânicas interessantes que o jogo apresenta: Quips e Cinematics. As Quips podem ser definidas como efeitos especiais de uma cena, ou recompensas que lhe permitem lançar um soco mais forte, fazer sua repreensão mais contundente ou soltar uma frase de efeito antes de morrer, lhe permitindo todas suas ações mais absurdas, exageradas ou engraçadas.
Cinematics no entanto encorajam o jogador a tomar certo controle de jogo, permitindo a inserção de “cenas deletadas” na sessão, cortar para uma tela preta ainda com áudio em cenas “calientes”, aplicar uma dublagem ruim no diálogo de um alienígena ou convocar um dublê para substituir o personagem cientista magrelo que tem que correr por um submarino explodindo com um bebê pessoa-carangueijo nos braços. Com Cinematics você pode colocar o META em Metagame.

Fonte: They Came from Beneath the Sea!

 

O Livro

A campanha de Kickstarter de They Came From Beneath the Sea! está preparada para permitir a criação de um livro colorido em impressão tradicional e capa dura, um PDF para impressão das cartas de Quips e Cinematics, e um Escudo de Diretor para auxiliar nos jogos. No momento a campanha já bateu a meta de seu financiamento e conseguiu habilitar diversos extras trazendo novos adversários e cenários adicionais, mas ainda possui diversas novas recompensas para alcançar!
O livro será cerca de 21×27 cm com uma quantidade estimada de mais de 200 páginas. O PDF virá com mais cartas de 120 Quips e Cinematics para usar no jogo.

 

Fonte: They Came from Beneath the Sea!

 

Sistema

They Came From Beneath the Sea! terá o apoio do sistema Storypath, incluindo todas as regras necessárias para construir seu personagem, suas origens e arquétipos.O sistema Storypath é um conjunto de regras desenvolvido pela Onyx Path desenhados especificamente para permitir jogadores a jogarem com pessoas ordinárias, como cientistas ou exploradores. O básico do Storypath pode ser familiar para qualquer um que já jogou muitos outros jogos ação ou heroísmo da editora, ou para quem jogou as linhas de jogos do Novo Mundo das Trevas – Conhecido também como Crônicas das Trevas – utilizando de dados D10 e rolando um número igual à um conjunto de Habilidades+Atributos, onde os sucessos de jogadas equivalem a quantos resultados de 8 ou mais o jogador tiver.

Para quem quiser estudar mais a fundo este sistema pode adquirir o Storypath System Preview gratuitamente pela DriveThru RPG. Em seu canal Matthew Dawkins também trouxe uma divertidíssima sessão narrada pelo próprio de The Came from Beneath the Sea! que apresenta um gostinho do jogo para nós ao qual você pode assistir aqui.

 

Em mar ou terra, They Came from Beneath the Sea! vem para prometer um jogo frenético, muito criativo e engraçado, onde seu monstro gigante com tentáculos e asas pode vir com a aparência de um ator em uma fantasia barata – não se deixe enganar, ele ainda é um monstro gigante – mas claro que nada lhe impede de ter conseguido um orçamento melhor para seu jogo e manter a seriedade e um certo toque de realismo fantasioso em sua mesa. Seja como for, este é certamente um jogo de muita qualidade, com um time conceituado por trás de sua produção e que merece ser financiado e trazido ao mundo. Mas caso ainda haja dúvidas com relação ao projeto você pode checar as novidades de seu financiamento e produção aqui ou ver algumas dúvidas e fazer perguntas no FAQ.

Icabode St. John [8]

Nos capítulos anteriores: O paradeiro de Drake Sobogo era desconhecido desde que Anthony Ritzo o capturara. Sunday também não era visto desde a derrota na fundição da máfia. Icabode estava sendo julgado pelo Conselho de Nova York, onde os vampiros burocratas diziam ter toda a autoridade. Após ele revelar os planos de Solomon Saks de se tornar vampiro para governar a cidade, o Conselho decidiu caçar o mafioso. Enviaram Icabode e Ivanovitch, o vampiro mais forte do mundo para se livrarem de Saks. Ao chegarem na mansão, Ivanovitch matou todos os seguranças e avançou sobre o mafioso, mas Saks os enganara, empalara o vampiro e atirou em Icabode. O mafioso revelou que já havia sido transformado, e em seguida consumiu a alma de Ivanovitch, e ficou super poderoso. Antes que matasse Icabode, descobriu que o garoto não estava mais lá. 

 

Alguns dias atrás, Solomon Saks fora chamado por seus homens até um de seus galpões, pois algo acontecera. Havia um conversível batido no interior do depósito, com o motorista morto. E no chão, um cadáver estava coberto por um lençol. O capanga ao lado puxou o lençol e Solomon viu que o morto estava carbonizado, e tinha uma estaca no coração.

– O que está acontecendo aqui? – Solomon perguntou.

– Senhor, este aqui é o Rabino – um capanga apresentou um homem de roupas informais, cheio de tatuagem e colares.

– Eu não sou exatamente um judeu praticante – Solomon respondeu, olhando para o novato, sem paciência.

– Eu não sou exatamente um rabino – o outro respondeu, mostrando os colares com pingentes de várias crenças. – Estou mais para feiticeiro. O Gólgota aqui me chamou para explicar a situação – ele apontou para um dos capangas.

– Por que você trouxe um forasteiro para o meu galpão, Gólgota? – Solomon olhou para o capanga de cabelos e barbas encaracolados.

– Acredite em mim, chefe. Você precisa de alguém como o Rabino para explicar essa loucura – o capanga sorria de forma demente. Ele foi até o cadáver carbonizado e arrancou a estaca de seu coração.

O corpo começou a se mover, estendendo os braços para Gólgota, enquanto este sorria, dando tapas nas mãos do defunto. Os caninos que saíam da boca do cadáver eram compridos, e seus olhos, vermelhos. Rabino ficou de cócoras ao lado de Anatole, e ficou passando a mão diante de seu rosto, provocativo.

– Senhor Saks, isso é um vampiro. E pelo grau de queimadura, ele deveria estar morto. Acho que temos uma criatura antiga aqui. Se você quiser leva-lo para um lugar protegido, podemos estuda-lo. Seu sangue tem propriedades muito especiais para o organismo humano.

– Quem fez isso com ele? – Solomon olhava com espanto para Anatole.

– É um garoto, Icabode – Gólgota respondeu, limpando a baba do canto da boca. – Ele está na enfermaria. Ele viu nossas armas e tudo mais, quer que demos um fim nele? – ele passou o indicador pelo pescoço.

– Quem quer que seja – Rabino pegou a estaca manchada com o sangue do coração de Anatole. – Ele sabia o que estava fazendo. Se eu fosse você, faria umas perguntas antes de se livrar dele.

– Você consegue mesmo estuda-lo? – Solomon perguntou para Rabino. – Será que ele tem escapatória?

Rabino sorriu pra ele, ansioso.

 

Nos dias seguintes, Solomon acompanhou os estudos de Rabino acerca do vampiro. Anatole recuperou a consciência e se regenerou plenamente. O feiticeiro garantiu que ele estivesse o tempo inteiro amarrado e cercado por cruzes. Solomon assistia tudo com fascínio. Em sua frente estava o segredo para a imortalidade.

Somente depois ele foi conhecer Icabode. O garoto convidara Sunday, o expert em vampiros, e aparentemente eles sabiam do paradeiro de outras criaturas como aquelas. Eles se uniram e foram atrás do esconderijo de um vampiro. Solomon o capturou e dispensou a Icabode e Sunday. Agora ele tinha dois vampiros cativos, e cada um deles tinha habilidades sobrenaturais diferentes.

Rabino explicou que assim que Solomon virasse um deles, ele poderia absorver os poderes dos vampiros cujas almas ele consumisse. O processo parecia ser simples. Bastava ingerir completamente o sangue do outro vampiro, que a alma viria junto, assim como seus poderes.

Não era seguro manter os dois prisioneiros no mesmo lugar, então Solomon deixou Anatole em seu bunker subterrâneo, e Leon na fundição de Green Point, ambos cercados por crucifixos, pois aparentemente a fé cristã tinha bastante poder sobre eles.

Acompanhado de Rabino e Gólgota, Solomon decidiu se transformar. Eles cortaram o seu pulso e o penduraram de cabeça para baixo para deixa-lo exangue. Depois tiraram uma gota de sangue do vampiro de Green Point e a pingaram em sua língua. Quando Solomon acordou, ele estava preso no banheiro, cercado de galinhas mortas que foram usadas para saciar sua primeira fome.

Rabino e Gólgota ficaram maravilhados e pediram para também serem transformados, mas Solomon disse para esperarem. Depois, ele foi até o bunker e mandou colocarem quadros com imagens de cruz no meio do cômodo, todos virados para Anatole. Solomon ficava atrás desses quadros, em segurança.

– Por que você não pediu para eu transforma-lo? – Anatole perguntou, prestativo. – Eu poderia fazer isso pra você. Eu tenho séculos de idade. Minha força é muito maior do que qualquer vampiro de Nova York.

– Do que você está falando? – Solomon olhou para ele com desprezo. – Acha que eu me tornaria cria de um negro? Você deve estar louco!

– Então me dê outra tarefa – Anatole pediu, engolindo o orgulho. – Faço qualquer coisa em troca de minha liberdade.

– Liberdade? – Solomon sorriu com deboche. – Você é a minha melhor carta na manga. Por que eu deixaria você ir?

– Diga-me, se eu tirasse esses quadros agora – Solomon disse, tocando na parte de trás da parede de cruzes. – Sua força voltaria ao normal, não voltaria? Quão forte você é?

– Muito – Anatole assegurou. – E eu poderia ensiná-lo a ficar assim.

– Você conseguiria quebrar uma parede com um soco?

– Facilmente – Anatole sorriu pra ele. – Solte-me e te mostro como fazer.

– Ensinar pra quê, se posso apenas consumir sua alma?

Anatole arregalou os olhos.

– Eu ficaria incrivelmente forte, não é? – Solomon perguntou, fechando os punhos, pensativo.

 

Não se passaram dois dias depois dessa conversa quando Solomon recebeu a ligação de que estavam invadindo a fundição. Era Icabode, Sunday e um homem negro. Solomon mandou que Troche protegesse ao vampiro. Poucos minutos depois, o Judeu de Ferro ligou, avisando que Icabode era um vampiro, e que fugira com o negro. E o prisioneiro havia fugido. Irritado, Solomon mandou que Troche voltasse à mansão imediatamente.

– Eles virão até mim – disse ele, e mobilizou os guardas da mansão para ficarem em alerta. Depois, foi até o bunker.

– Parece que sua hora chegou – declarou a Anatole, atrás dos quadros. – Eles virão me matar.

– Então me solte! – o vampiro pediu. – Eu posso ajudá-lo!

– Você vai me ajudar, sim. Mas não irei te soltar.

– Você precisa de aliados, Saks! Sozinho, você nunca irá vencer o Conselho de Nova York.

– Você está certo. Eu já estou em negociação com alguns aliados. Mas você não está entre eles. Como já disse, tu és minha carta na manga.

O barulho de tiros veio pela portinhola do bunker. Solomon fez um sinal para que seus capangas seguissem com o plano. Alguns deles foram até Anatole com estacas nas mãos.

– Eu posso ser muito útil! Sei de tantas coisas que você não iria acreditar.

– Eu sei que você sabe – Solomon respondeu com as mãos para trás. – E eu gostaria muito de ouvir sobre elas, mas infelizmente não temos tempo. Terei que usá-lo como meu último recurso.

Anatole chorou quando os capangas o empalaram direto no coração. Em seguida, eles derrubaram a parede de quadros, liberando o caminho para Solomon. Ele se aproximou e bebeu todo o sangue do vampiro, sugando até sua alma, enquanto os capangas subiam para enfrentar os invasores. Depois, o corpo de Anatole se desintegrou em um montículo de cinzas.

Solomon sentiu as veias de seu corpo pulsarem, e seus músculos bombearem. Ele sentia o poder percorrer o seu corpo, mais ainda do que quando sentira ao despertar como vampiro pela primeira vez. Anatole era poderoso, e agora seu sangue se misturara ao corpo do polonês. Ele tocava o próprio rosto, maravilhado. Controlou-se para não sair quebrando tudo ao redor. A tentação de explorar seu novo poder era grande, mas ele precisava lidar com os invasores.

– Você terá tempo de sobra para testar sua nova força – disse para si mesmo. Então pegou uma pistola e uma estaca e os guardou em seu roupão.

A portinhola do bunker dava para dentro de uma sala da mansão. Ele subiu as escadas para o segundo andar e encontrou com Gólgota, Rabino e outro capanga.

– Chegou a vez de vocês se tornarem imortais – Solomon declarou. – Façam os invasores pensar que nossa defesa é fraca. Deixe-os baixarem a guarda. Quando nos vermos novamente, vocês serão divindades.

Rabino assentiu, e Gólgota riu, ansioso. O outro capanga sentia apenas medo, mas os três foram em direção aos invasores. Solomon aguardou e ouviu o último tiroteio. Seus homens estavam todos mortos. Agora é a minha vez de agir, pensou, surgindo na galeria de sua sala de estar. Icabode e um vampiro corpulento estavam no térreo, esperando-o. Ele fez questão de descer, repassando o plano em sua mente.

Ele iria sacar sua pistola para trazer a atenção dos dois adversários pra ela, enquanto com a mão esquerda, iria enfiar a estaca no peito do grandão. Assim que chegou a hora, ele sentiu o sangue de seu corpo inteiro se mover com força para o braço esquerdo. Suas pernas ficaram bambas e ele ficou tonto. Sentiu os lábios secarem, e usou a maior parte do sangue para fazer um simples movimento. Se aquilo desse errado, ele seria morto, sem dúvida.

Sacou a pistola, e como esperava, o vampiro se jogou contra ela, erguendo-a para cima. Solomon puxou a estaca do roupão e a enfiou no peito do outro. No início, houve grande resistência. Ele achou que iria falhar, mas o sangue que ele gastara para aquela ação, mais a força sobrenatural de Anatole fizeram a diferença. Seus bíceps ficaram cheios de veias, e cinco vezes maiores. Seus dedos seguraram firmes a estaca, e ela penetrou a pele pétrea do vampiro. Os olhos de Ivanovitch ficaram molhados, e a ponta de madeira atravessou seu coração.

Eu estou fraco e posso cair a qualquer momento, e Icabode irá me destruir, Solomon pensou, deixando o vampiro paralisado em sua frente. Ele puxou a pistola, deu um passo para o lado e atirou várias vezes contra o garoto. Icabode caiu no chão, terrivelmente ferido.

O plano de solomon funcionara, e ele tinha mais duas fontes de vitalidade vampírica para consumir. Icabode e o vampiro corpulento. Com eles, ele teria ingerido a alma de três vampiros, e isso já lhe daria a força necessária para enfrentar a maioria dos cainitas de Nova York.

Para não perder tempo, Solomon mordeu o pescoço de Ivanovitch e bebeu todo o sangue, até sentir sua alma adentrar seu corpo. No fim, o grandalhão parecia uma grande ameixa com braços e pernas.

Em seguida, Solomon se sentiu a força e o poder correrem de volta em seus músculos, e ele sabia que era invencível. Foi até o seu carro que por algum motivo estava no meio da sala de estar, e o partiu em dois. Estou terrivelmente forte! Ele queria gargalhar, e estava ansioso para consumir a alma de Icabode também. Aquela sensação era boa, e ele estava ficando viciado nisso. Mas ao olhar para o lado, o garoto havia sumido.

Procurou desesperadamente por ele, mas nunca o achou. Troche chegou logo depois, e Solomon disse para ajuda-lo a levar os corpos para o bunker.

– O sol vai nascer daqui a pouco – Solomon disse ao Judeu de Ferro depois de colocarem o último corpo no bunker.  – E a polícia virá antes disso. Você precisa dizer a eles que estou em uma viagem, incomunicável. Reúna alguns homens e diga que eles trocaram tiros com bandidinhos que tentaram assaltar a mansão. Diga que os delinquentes fugiram assustados – ele girou a mão, como se não tivesse importância.

– E o carro na sua sala de estar? – Troche perguntou, olhando para o buraco na parede. – O que devo dizer?

– Se você quiser ser meu braço direito, terá que ser criativo e independente – Solomon rosnou para ele. – Se vire! E amanhã, ao anoitecer, leve comida ao bunker.

Solomon desceu a escada do bunker e fechou a portinhola. Havia mais de quinze cadáveres de seus capangas no centro. Ele sugou o sangue de todos eles, deixando-os completamente secos. Em seguida, fez um corte no braço e pingou uma gota na boca de cada um. Não tinha tempo de pegar animais para que eles se alimentassem ao acordar, e provavelmente a loucura da fome os fariam atacar uns aos outros.

– Que a lei do mais forte me dê os melhores – Solomon disse, se trancando em um quarto de metal.

No início da noite seguinte, ele abriu a porta e olhou ao redor. Havia tripas e pedaços humanos em todas as direções. A batalha fora sangrenta, e apenas dois sobreviveram. Rabino e Gólgota se viraram para ele, instintivamente. Ao verem seu mestre, ambos curvaram a cabeça em submissão. Seus olhos ainda estavam levemente vermelhos.

A portinhola abriu e Troche desceu. Solomon olhou para os três, todos caminhando sobre restos mortais, e disse:

– E assim começa a nova ordem de Nova York. Eles serão meus súditos, e eu serei seu rei. E vocês, meus caros – Solomon olhou para os três, mostrando um sorriso -, serão os príncipes desta cidade.

 

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Hero Maker: Sua miniatura de RPG personalizada

Classe: Publieditorial

RPGs e miniaturas andam lado a lado desde o primeiro, e mais famoso, lançamento do gênero, a série Dungeons & Dragons. Isso não ocorre por acaso, já que D&D é baseado em jogos de guerra que usam reproduções de soldados e artefatos em menor escala como peças em um tabuleiro. Apesar disso, o RPG também é um jogo que incentiva a imaginação ao criar personagens, dando abertura para que o jogador personalize-os nos mínimos detalhes, mas obviamente é impossível de se conseguir miniaturas personalizadas com o mesmo nível de fidelidade em uma loja. Ou era impossível até o surgimento das impressoras 3D.

Uma miniatura só sua

O projeto do Catarse da Hero Maker tem a proposta de produzir miniaturas personalizadas por impressoras 3D. Para isso, o usuário terá acesso a um sistema interativo e intuitivo pelo site, como a criação de personagens de um videogame, podendo detalhar toda a aparência de seu herói. Após a impressão, sua miniatura exclusiva é entregue pelo correio para ser usada nos seus jogos da forma que você quiser.

E como funciona esse tal de Catarse?

Catarse é um sistema de financiamento coletivo, ou seja, as pessoas interessadas no projeto investem seu dinheiro, e quando a meta é atingida, o produto é lançado. “Mas eu vou dar meu dinheiro pra um dia comprar as coisas deles?!” Claro que não! O Catarse funciona com incentivos, recompensas dadas de acordo com o investimento feito! Entre as recompensas do Hero Maker tem miniaturas personalizadas, dados temáticos, grids e muito mais!

Você pode saber mais sobre o projeto, as recompensas e como colaborar neste link!

 

Icabode St. John [7]

Nos capítulos anteriores: Drake Sobogo era o único sobrevivente dos três que invadiram o prédio da máfia, para matar o vampiro prisioneiro. Enquanto Drake tentava sobreviver, Troche, o judeu com dentes de ferro o perseguia. No último instante, Icabode surgiu, com olhos vermelhos e presas na boca. O vampiro cativo o transformara para que não morresse completamente. Icabode se agarrou em Drake e os dois voaram para longe do prédio, mas eles lutavam sobre as ruas do Brooklyn, pois naquele momento eram caça e caçador. Icabode estava faminto e irracional. Um vampiro misterioso surgiu do nada e capturou a ambos. Quando Icabode recuperou a consciência, se viu em um julgamento vitoriano, cercado de vampiros.

 

Não faça isso, a voz de Sunday viera em sua mente. Icabode não se lembrava de nada sobre o inferno, mas vira com os próprios olhos o detetive se jogar pela janela, rumo à morte. Como ele estava ouvindo sua voz?

Na sala, havia cerca de dez vampiros, alguns escondidos nas sombras. Mas mesmo assim, Icabode se levantara em desafio, declarando-se um caçador de vampiros. Era em horas assim que seus valores eram testados. Morrer como um herói, ou se curvar ao mal?

Ivanovitch socou a mesa, seguido por uma gargalhada. Ele era imenso, barbudo e cabeludo. Seu dedo era mais grosso que uma linguiça, e ele o apontou para Icabode.

– Esse neófito tem colhões! Ele vai morrer, eu sei, mas ganhou meu respeito!

– Não se eu matar a todos vocês primeiro – Icabode disse com pouca convicção. Não fazia ideia de como sair daquela situação.

– Matar a todos nós? – Ivanovitch cruzou os dedos das mãos diante do rosto, curioso. – E como você faria isso?

Icabode ficou em silêncio, sem saber a resposta. De repente, uma ventania fez as cortinas esvoaçarem, e Ivanovitch aparecera um palmo em sua frente.

– Você certamente nunca ouvira falar sobre Ivanovitch, a Besta do Oriente – o vampiro disse, analisando a feição de Icabode. – Se tivesse ouvido falar de mim, saberia que sou o vampiro mais forte do mundo.

– Supostamente – Fermín o corrigiu. – Você é apenas o mais forte dos vampiros conhecidos. Obviamente existem centenas de outros que o venceriam, mas não são tão exibidos.

– Que eles fiquem com o título de “vampiros desconhecidos mais fortes” – Ivanovitch respondeu, olhando sobre o ombro. – Eu me contento com o título que importa de verdade.

– Antes de me tornar essa aberração – Icabode olhou para as próprias mãos -, quando ainda era um mero mortal, eu matei um de vocês. Só não matei o segundo por misericórdia. Agora que tenho o auxílio de forças sobrenaturais, sou capaz de muito mais.

– Diga-me, você é capaz de fazer isso? – Ivanovitch bateu palmas, e um estampido ressoou pela sala, agudo, com uma lufada forte que fez Icabode cambalear. O vampiro riu. – Eu lhe derrubaria com um estalar de dedos, literalmente – ele ergueu a mão em posição de um estalo. – Dependendo da força que eu usar, posso estourar seus tímpanos – ele encostou os dedos na testa de Icabode. – E se eu fizer isso bem aqui, esmago sua cabeça só com o coice do meu polegar.

A voz da Besta do Oriente era ameaçadora, e Icabode temeu. Sabia que não tinha chance alguma contra ele. Talvez haja, pensou, lembrando-se do crucifixo em seu peito. Suas mãos puxaram a corrente e ele a ergueu. Ivanovitch baixou os olhos para o pingente. Em seguida ele o arrancou do pescoço de Icaobode e o analisou de perto. Então, o jogou boca adentro, e o mastigou lentamente.

– Como você… – Icabode gaguejou, espantado com a cena.

– Você é um de nós agora – Ivanovitch disse, cuspindo os pedaços de metal no chão. – Sinto a sua fé como um aroma distante levado pelo temporal.

– Pare de brincar com a comida, senhor Ivanovitch – disse a juíza, uma criatura de formas animalescas, pontudas e grotescas. – Vamos aos votos?

– Claro, vossa excelência – respondeu o vampiro, voltando para o seu lugar.

– Antes de votarmos – Fermín disse, erguendo um dedo. – Gostaria de voltar a uma afirmação do acusado. Você disse que o mafioso Solomon Saks mantém um vampiro preso. Por quê?

– Ele pretende criar um exército – Icabode respondeu prontamente. – Saks pretende se tornar um vampiro, assim como seus soldados, com o propósito de tomar o controle da cidade, tanto do mundo mortal quanto dos vampiros.

– Ele está mentindo – Ivanovitch disse, incerto.

– Não – pela primeira vez, a senhora de preto, de rosto coberto por um véu, falou. – Ele diz a verdade. Senhor Ritzo, Solomon Saks vive em seu distrito, correto?

– Sim – Anthony Ritzo respondeu, segurando os suspensórios. – Ele é o empresário mais rico do Brooklyn, e um dos mais poderosos de Nova York.

– Então ele tem esse poder de nos incomodar? – Fermín perguntou.

– Se todos os homens que trabalham pra ele, se tornarem cainitas, sim, com certeza – Ritzo respondeu, preocupado.

– Eu resolvo isso – Ivanovitch deu de ombros. – Temos algumas horas antes do amanhecer. Eu dou um pulinho na casa desse cara e arranco seu coração, assim – ele fez o sinal com o polegar e indicador puxando alguma coisa.

– Vossa Excelência? – Fermín olhou para a vampira no canto da sala. – Eu não tenho nenhuma objeção.

– Muito menos eu – a senhora de preto acrescentou.

– Que seja – a Juíza respondeu, olhando a Ivanovitch. – Faça isso. E leve o neófito com você. Faça-o dizer tudo que sabe, inclusive o paradeiro desse vampiro que é refém de Saks, e traga-o junto. Depois votaremos sobre o futuro dos dois.

– Entendido, chefa – Ivanovitch foi até Icabode, segurando-o pela mão e o puxando em direção à sacada.

– Nós dois não conseguiremos fazer isso sozinho! – Icabode relutou. – Eu já tentei e foi um desastre! Ele tem um exército, mais o Troche, um cara de metal…

– Você não confia em mim, confia? – Ivanovitch perguntou, e subiu no parapeito da sacada. – Senhor Ritzo, endereço?

– Brooklyn Heigths, na Furman com Old Fulton. A mansão fica à beira do rio, colada à Brooklyn Bridge.

– Do lado do carrossel?

– Do outro.

– Saquei – Ivanovitch disse antes de saltar.

Icabode foi puxado de repente, centenas de metros acima do asfalto. Os dois aterrissaram no terraço do prédio à frente. Em seguida, Ivanovitch pulou novamente, e os dois foram em direção a outro prédio mais baixo. Como se estivessem em um Grand Canyon de concreto, eles saltavam sobre os abismos colossais de Manhattan, de prédio em prédio. Icabode era levado sob a força bruta da Besta do Oriente. Isso continuou até que chegaram ao chão.

– Vou te ensinar a fazer as coisas na surdina – Na velocidade de um raio, Ivanovitch começou a correr, passando por becos e túneis, sempre por caminhos sem luz e sem testemunhas.

De repente, Icabode percebeu que eles corriam sobre o rio, debaixo de uma ponte monumental, com cabos quilométricos e arcadas gigantescas. Era a Ponte do Brooklyn.

 

Ao chegar do outro lado do rio, Ivanovitch saltou pela última vez, levando os dois a caírem em uma propriedade arborizada.

– Esse é um belo quintal – disse o vampiro olhando ao redor.

No centro, havia uma mansão, e outras casinhas menores ao redor. Poloneses armados vigiavam todos os cantos da propriedade. Ao lado, jazia um carro elegante. Icabode supôs que Solomon Saks devia estar em casa.

– Acho que estamos no lugar certo – Ivanovitch disse, começando a andar em direção à mansão.

Os primeiros seguranças os avistaram, e começaram a gritar, erguendo suas armas. Ivanovitch se colocou na frente de Icabode.

– Fique atrás de mim. Você não pode morrer ainda.

– Se faz tanta questão – Icabode respondeu, se escondendo atrás do brutamontes.

Os poloneses se aproximaram, dando ordens e mirando as armas. Ivanovitch esperou em silêncio, com os braços erguidos. Assim que eles chegaram perto o suficiente, o vampiro agiu. Rapidamente, ele correu, fazendo uma meia lua, com o braço estendido na direção dos homens. Suas garras cortavam os pescoços dos guardas enquanto ele passava em suas frentes. No fim, todos caíram, agonizando. Demorou alguns segundos antes que o último morresse de fato.

Ivanovitch tirou um lenço do bolso e limpou sua mão coberta de carne, sangue e tendões. Ele olhou para Icabode e o lembrou:

– O vampiro mais forte do mundo.

Os dois se viraram em direção à mansão, e um dos guardas que assistira a cena, se virou e trancou a porta dos fundos. Ivanovitch deu de ombros e foi em direção ao carro. Ele ergueu o veículo com uma mão e o arremessou, abrindo um buraco na parede da mansão.

– Quando Deus fecha uma porta, eu abro um buraco.

O segurança atirou, descarregando sua Thompson no corpo de Ivanovitch. O vampiro agarrou um cadáver e o arremessou, acertando o segurança em cheio. Não havia mais ninguém em seu caminho. Os dois vampiros adentraram a sala, decorada com símbolos hebraicos, móveis caros, pedaços de parede no chão e um carro de cabeça pra baixo.

Três poloneses surgiram no andar superior e começaram a atirar. Icabode se jogou atrás do sofá, mas Ivanovitch ficou parado. Em seguida, ele abriu os braços e mostrou as presas, ameaçador como se fosse o próprio diabo. Os poloneses recuaram e saíram correndo, apavorados.

Em seguida, quando o silêncio se fez completo, uma voz surgiu. Icabode a reconheceu. Era Solomon Saks. O velho de postura invejável e longas barbas e cabelos brancos surgiu no topo da escada. Ele vestia um roupão de seda, negro.

– Boa noite, senhores. Como se já não bastasse o prédio de Green Point, estou recebendo visitas em minha própria casa. A mãe de alguém esqueceu de ensinar boas maneiras.

– Solomon Saks? – Ivanovitch perguntou. Sua voz abalou as estruturas da mansão.

– O próprio – Saks começou a descer a escada, não demonstrando ter medo. – E o senhor, quem seria?

– Aquele quem vai te devorar.

– E eu – Icabode disse, saindo de trás do sofá. – Lembra de mim?

– Ora, nos encontramos de novo – Solomon olhou para Icabode com surpresa. – Parece que você aperfeiçoou suas amizades – Em seguida, ele olhou para Ivanovitch. – Depois de tudo o que você fez em minha casa, irei mata-lo lentamente. Não hesite em fazer o mesmo comigo se tiver a chance.

– Pode deixar. Gosto de saborear minha comida. Não será a primeira vez que como carne polonesa.

– Camarada russo, sua provocação é muito empobrecida. Ela não me afeta em nada – assim que chegou ao térreo, Solomon parou.

– Faça isso rápido – Icabode disse ao vampiro. – E depois precisamos resgatar o vampiro que Solomon prendeu.

– Nós temos tempo suficien… – antes que Ivanovitch terminasse a frase, Solomon abriu o roupão e sacou uma pistola.

Ivanovitch se lançou sobre ele, erguendo a arma pra cima.  Icabode ficou assistindo a cena, em silêncio. As costas de Ivanovitch cobriam tudo, e ele não sabia se Solomon já estava morto. O vampiro estava parado, e Icabode achou que ele devia estar bebendo do pescoço do polonês.

“Iriei mata-lo lentamente. Não hesite em fazer o mesmo comigo se tiver a chance”, foram as palavras de Solomon, e Ivanovitch provavelmente estava aproveitando o momento.

Icabode franziu o cenho ao ver algo se movendo no casaco do vampiro. Algo começou a se projetar em suas costas, quando de repente um objeto pontudo, banhado em sangue rasgou seu casaco. No momento seguinte, Solomon deu um passo para o lado e atirou várias vezes no jovem. Icabode caiu no chão com vários buracos no peito.

Ele tentou se levantar, mas estava muito ferido. Olhou para estaca em Ivanovitch e não acreditou.

– No momento que eu ergui a arma – Solomon disse, olhando para Ivanovitch -, eu sabia que você iria direto na minha mão. Ela foi apenas um chamariz enquanto eu sacava a estaca com a outra e te empalava. Seu amigo ali conviveu comigo

alguns dias –apontou para Icabode. – Ele deveria saber que eu sou canhoto.

Solomon apertou o bíceps de Ivanovitch, admirado.

– Nenhum músculo é tão forte quanto o cérebro – ele olhou para Icabode e sorriu, mostrando as presas vampirescas.

– Oh não, você é um… – Icabode disse, surpreso.  – Você é um vampiro!

Solomon virou a cabeça e mordeu o pescoço de Ivanovitch, e começou a beber seu sangue. Icabode começou a se arrastar, mas sentia muita dor. Nunca chegaria a tempo.

Se ele beber da alma de outro vampiro, ele absorverá seus poderes! Sunday disse em sua mente. Você precisa pará-lo.

– Eu não… eu não consigo – Icabode tombou, observando Solomon drenar todo o sangue de Ivanovitch.

Em seguida, o brutamontes caiu no chão, ressecado, como se fosse uma grande ameixa. Ao seu lado, Solomon se retorcia, e com o roupão aberto, Icabode percebeu seus músculos dilatando sob a pele. As veias do polonês se engrossaram, e ele estava se transformando em algo mais. Em seguida, o velho se recompôs. Seus olhos estavam vermelhos, as presas, para fora. Ele foi até o carro no meio da sala, colocou as duas mãos sobre o veículo e com um movimento brusco, o repartiu em dois, como se fosse feito de papel.

Parece que temos um novo vampiro mais forte do mundo, Icabode pensou, aterrorizado com a cena.

 

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Druidas e suas visões de mundo – Classes D&D

Olá animais da floresta, eu sou Willian Vulto e esse é o sexto post da minha série que visa repensar e reimaginar as classes de D&D e dos rpgs de fantasia em geral. Semana passada eu falei dos Bárbaros e hoje eu vou falar dos Druidas.

 

 

Sobre os Druidas

O Druida é um ser incompreendido em sua completude. Não se trata de uma classe complexa como os Clérigos com suas infinidades de Deuses, ou com os Magos e suas escolas de magia, mas em seu nicho de personalidades, carregam um grande poder e até uma versatilidade quando se olha de perto. Antes de pensar formas interessantes de construir e interpretar Druidas, é preciso entender o cerne da classe, construir raízes firmes e, só então, deixar as ideias florescerem.

O que é um Druida?

A primeira coisa a ficar clara é que o Druida não é um Clérigo de um Deus da Natureza e justamente as diferenças entre eles vão iluminar os caminhos para o Druida. Os Clérigos fazem partes de cultos formais, uma característica muito pós-civilizatória para os Druidas. Os Druidas têm práticas pessoais, ligadas diretamente à natureza em si.

Ou, seja, para os Druidas não existe hierarquia, ordens, grupos de poder e nem uma estrutura formal de mestre-discípulo. O único mestre é a própria natureza. Exatamente por isso, o Druida é naturalmente isolacionista, mais do que os magos e os bárbaros por exemplo.

Em cenários de fantasia em geral, o Druida é o representante de um paradigma passado, que foi deixado para trás pelo mundo civilizado. Ele é guardião de um conhecimento mais antigo do que a escrita mais antiga. Um conhecimento que só existe em cultura oral e que é transmitido pelo próprio vento e através das raízes das árvores.

Mesmo em sociedades “primitivas e isoladas”, onde o Druida tem maior status e reconhecimento, o Druida é uma pessoa isolada. O conhecimento secreto do curandeiro não é para todos, então as pessoas o respeitam, mas também o temem.

Território

Existem vários Druidas pelo mundo, e eles eventualmente se reúnem para trocar conhecimento e comungar uns com os outros, mas, sendo isolacionistas naturais, eles assumem territórios para viver e proteger. A ligação entre o Druida e seu território será de suma importância para a personalidade do mesmo. O clima, a fauna e a flora podem influenciar na persona de um Druida.

Ao contrário do que se pensa, nem todo Druida vive na floresta como um defensor calmo e silencioso. Existem outros tipos de biomas e de missões igualmente nobres para os protetores da Natureza.

 

 

Druidas Fixados:

Alguns Druidas se fixam em sua região para protegê-la. Esse tipo de personagem funciona melhor como NPC. Todos funcionam como Guias (veja o post de Bárbaro) e Batedores (veja o post do Ladino) em seus próprios domínios.

Alguns Exemplos de Druidas em lugares incomuns

O Protetor das Nascentes:

Esse é um exemplo de Druida das Montanhas (pode ser um anão, por exemplo). O Protetor das Nascentes tem como dever principal a manutenção de alguns dos maiores bens do mundo, as nascentes dos rios, onde os espíritos dos rios nascem, mas ainda são infantes e não podem se proteger. A ganância humana (e dos anões também) podem levar ao desmatamento, que vai comprometer essas nascentes e cabe ao Druida protegê-las.

O Druida das Terras Geladas:

As regiões frias normalmente não precisam de proteção, pois são muito resistentes. Mas, seus animais, por outro lado, podem ser vistos como exóticos e alvo de caça descontrolada. O Druida das Terras Geladas assumirá o papel de protetor dos Pinguins, Morsas e outros animais do gelo. Esse tipo de Druida pode se especializar em magias de Frio, como um elementarista (veja o post de Mago).

O Druida Subterrâneo:

Nos mundos de fantasia existem muitas raças subterrâneas e algumas dessas podem ser conduzidas (seja por estudo ou por chamado da própria natureza) ao conhecimento druídico e ao dever de proteger a diversidade dos mundos abaixo.

Imagine um novo reino goblin surgindo secretamente nas cavernas abaixo do reino e os heróis só descobrem a existência desse perigo por meio de um Homem-Formiga Druida que precisa de ajuda para proteger a vida subterrânea (formigas, morcegos, fungos) contra o expansão goblin desenfreada. Isso daria uma boa história.

O Druida Submerso:

Em mundos onde existem Elfos Aquáticos, ou Sereias, essas criaturas podem se tornar Druidas e atuar como guardiãs dos Mares e de toda a vida marinha. Por mais que D&D não tenha boas regras para aventuras sub-aquáticas, esses Druidas podem vir ao mundo seco reivindicar que os humanos parem de jogar lixo em seu habitat. Esse tipo de Druida é mais rancoroso e menos tranquilo do que os demais.

 

 

Druidas Viajantes:

Nem todo Druida é um territorialista fixado. Alguns encontraram outras formas de proteger e ajudar a natureza e para isso precisam viajar pelo mundo. Os tipos citados a partir de agora funcionam melhor para personagens jogadores.

O Restaurador:

Assim como existem Clérigos Exorcistas (veja os Deuses da Morte no post de Clérigo) que viajam o mundo, encontrando zonas amaldiçoadas para libertar, um Druida também pode assumir um papel similar.

O Restaurador viaja pelo mundo, acreditando que a própria natureza irá guiá-lo para onde for necessário restaurar o equilíbrio natural. Reconhecendo algum desses lugares, o Druida tomará como missão a reconstituição do bioma local. A complexidade dessa tarefa pode variar bastante. Podendo ser desde a restauração física de um campo de batalha arrasado, que precisa ter sua terra tratada para que as plantas possam crescer; a expulsão de um monstro extraplanar que não deveria estar no nosso mundo, pois sua presença compromete toda a cadeia alimentar local; ou até mesmo a destruição de um culto a um Deus Maligno que amaldiçoou o solo de uma região inteira.

O Restaurador pode se unir ao objetivo dos heróis, mas por seus próprios motivos. Inclusive, ele precisará se unir a outros (apesar de ser solitário por natureza) quando os obstáculos forem grandes demais, como no caso dos cultistas citado acima.

O Desbravador:

O Desbravador vive de viajar e funciona bem para personagens de níveis mais baixos. Para ele, um Druida que se preze não pode se fixar onde nasceu e proteger aquela região sem antes conhecer, de fato, a natureza. Então, antes de ser o protetor de algum lugar, ele precisa viajar o mundo, conhecendo climas, biomas e criaturas de todos os tipos.

O Desbravador deve prestar respeito aos Druidas das regiões por onde passar. A cada nova região em que chegar, ele deve procurar o Druida para trocar conhecimentos com quem é especialista na região. Por mais que não haja uma estrutura formal de ensino, a troca de conhecimento é uma prática comum entre os Druidas. Todos ensinam e todos aprendem.

O Antimago:

Para o Antimago, a Magia (Arcanas e as dos Clérigos) é um perigo para a Natureza. Efeitos rápidos como Bolas de Fogo e Patas de Aranha, não causam grandes problemas, mas os Encantamentos de longa duração contrariam a ordem natural das coisas.

O Antimago (ou Desencantador) atua como um Restaurador, mas com a ambição de destruir toda magia permanente, retornando o mundo para seu status natural. Cidades voadoras. Reinos com barreiras mágicas de proteção. O rei imortal que governa a quase um século. Tudo isso precisa ser destruído para que o mundo volte ao normal.

O Antimago é naturalmente ambíguo, pois ele abomina todo encantamento feito pelos homens, mas respeita as cidades escondidas das fadas como algo tão antigo que faz parte da natureza. Esse tipo de ambiguidade pode gerar boas discussões filosóficas e o ódio dos outros jogadores.

O Curandeiro:

Existem cenários onde os Deuses estão desacreditados ou deixaram de existir. Nesses cenários, os Clérigos perdem seu prestígio, mas os reinos e os grupos de aventureiros ainda precisam de curandeiros. Pode ocorrer também que a igreja seja inimiga política do nobre local e que ele não queira depender dos clérigos.

Em todos esses cenários, o Druida pode atuar como um Representante Cultural (veja o post de Bárbaro), sendo o curandeiro de confiança de algum nobre e a única opção viável em uma expedição de aventureiros.

 

 

Em resumo, o Druida é definido pela sua ligação com a natureza como algo maior do que as divindades e maior do que a magia em si. Para o Druida, nenhum livro trará o conhecimento da natureza e nenhuma vivência em comunidade trará a vivência de comungar com a natureza. Então, para criar um bom Druída, as perguntas a se fazer são: Como meu personagem vive? Como ele lida com as outras pessoas? Por que ele viaja? Por que ele está em um grupo de aventureiros?

O Druida não é só um bom personagem com cura para quem não gosta de Clérigos. Ele representa um arquétipo da sabedoria antiga pré-civilizatória. Ele é o elo desse mundo com um mundo mais pura anterior ao nosso. Esse elo pode ser muito interessante e dicotômico de se interpretar. É só não ter medo de ser criativo.

 

 

Então esse foi mais um texto meu.
Deixe sua opinião aqui nos comentários.
Espero estar de volta na semana que vem.

Bem-Vindo ao Rio by Night

Os sons do submundo são mais altos para aqueles que não tem medo do estrondo das balas e os acordes dos violões. As luzes da noite não podem tocar os becos mais escuros. O cheiro salino do mar se mistura ao de sangue. A beleza está em toda parte vestida sob uma máscara de plumas e paetês. Por trás dela, a realidade é decadente.
Contrastes, sensualidade, mistérios e vitae. Este é a vida dos amaldiçoados que caçam na Cidade Maravilhosa, a segunda maior cidade do Brasil. Aqui os cainitas são embriagados pelos mistos de culturas, pela diferença de classes gritante, pelo divino e o profano, o belo e o grotesco, o elitismo e a periferia, todos em um mesmo lugar como uma grande festa pronta para virar um campo de guerra. Aqui, Sabá e a Camarilla, inimigos seculares, se aturam em pactos frágeis. Cotéries e bandos são formados por aliados suspeitos. Os legados dos grandes anciões do passado é solto ao ar com as suas cinzas. Só os mais espertos, ou os mais apaixonados, sobrevivem aqui por muito tempo. Bem vindo ao Rio de Janeiro Noturno.

Fonte: Rio de Janeiro Noturno 2018

O Rio de Janeiro Noturno é um suplemento não oficial para Vampiro: a Máscara, em especial a edição de 20 anos. Nele é abordado com detalhes o clima sobrenatural, a circulação e a política cainita em uma das maiores áreas metropolitanas brasileiras, utilizando-se das poucas informações oficiais sobre o Mundo das Trevas no país, pesquisa e livre criatividade do autor para abordar o cenário e o que pode ser encontrado nele.
O suplemento foi desenvolvido por Felipe Daen e lançado recentemente na Storytellers Vault nas versões inglês e português. Um livro curto de 140 páginas, trás um contexto histórico na perspectiva cainita e como os vampiros influenciaram na história e desenvolvimento da cidade e, consequentemente, do país. O Rio de Janeiro Noturno – ou Rio by Night se preferir – é o primeiro suplemento de cidade para Vampiro: a Máscara ambientado em território nacional disponível nas plataformas relacionadas a World of Darkness. E esperamos que possa abrir as portas para mais suplementos nacionais de WoD de agora em diante.

 

Tema e Clima

Fonte: Rio de Janeiro Noturno 2018

Paixão visceral talvez seja o que melhor descreve a atmosfera geral deste cenário. Nele, os vampiros estão sempre vivendo intensamente, se alimentando do sangue quente carioca, em uma vida noturna onde a festa nunca para, seja nas boates de luxo e nos quiosques de Copacabana, nas raves e bailes funks sórdidos das favelas ou nas festas de bar com músicas dos clássicos do samba. Inimigos e amigos nunca possuem o mesmo status por muito tempo e a situação política é uma mistura de animosidade pacifica e ao mesmo tempo caótica.
Aqui os vampiros são colocados ante um cenário onde talvez seu maior inimigo seja a liberdade e a tentação. A Camarilla e o Sabá não possuem um conflito direto, vivendo uma neutralidade duvidosa mas aproveitada especialmente pelos neófitos. Ambas as seitas ignoram ou fazem vista grossa, as regras parecem muitas vezes serem ausentes e os vampiros se tornam os lobos de si mesmos, excedendo seus limites para cultivar sua luxúria e constantemente, tendo que lidar com as consequências.
Não é incomum que grupos de Sabatistas e Camarillas se unam por um objetivo em comum, ou até façam parte de uma mesma cotérie no Rio de Janeiro. Mas até onde cainitas podem conviver igualmente entre alianças improváveis? Sem um conflito direto, quando as filosofias de uma seita deixam de se tornar prioridade e a luxúria da besta toma conta? – Paixão, paranoia e segredos: isto é o que você deve se lembrar quando lidar com este suplemento.

 

Vínculo com o Canônico e a História Cainita

Apesar de quase inteiramente feito com a liberdade poética do autor, o Rio de Janeiro Noturno é fortemente vinculado ao pouco que sabemos sobre o cenário canônico, trazendo eventos e personagens oficiais, entre eles o famoso Gratiano de Veronese do clã Lasombra. No suplemento também é possível encontrar as passagens exatas onde a cidade é mencionada em diferentes livros da linha World of Darkness.
O livro conta a história do Rio de Janeiro, desde seu descobrimento, desenvolvimento e dias atuais de forma resumida e sob a liderança secreta de cainitas ambiciosos. Apesar de trazer este contexto histórico no entanto ele é cuidadosamente desenvolvido para que se concentre na trama vampírica dentro de tudo, e não na história em si.

Fonte: Rio de Janeiro Noturno 2018

Cenário e Eventos

Em Rio de Janeiro Noturno, como já mencionado antes, temos um cenário onde os cainitas vivem em uma trégua frágil, vinda de um antigo pacto entre dois anciões das seitas. O Pacto fora desfeito mas os vampiros tentam se manter sob suas regras como outrora. Diversos conflitos e interesses internos e externos, no entanto, o impedem de ser forjado completamente mais uma vez e ao mesmo tempo em que desfrutam uma liberdade não usual os membros também precisam lidar com o possível fim desta trégua e o início de uma guerra de seitas. Cabe aos personagens decidirem o destino do Rio de Janeiro: Eles podem conseguir reestruturar o Pacto de São Sebastião, ou jogar tudo para os ares e trazer a guerra. Todo este clima abre espaço para que jogadores possam interpretar vampiros de diferentes seitas em um mesmo grupo sem a necessidade de uma motivação extremamente urgente ou uma complicação inventada pelo narrador para justificar tal cotérie.

Fonte: Rio de Janeiro Noturno 2018

Além da ambientação principal o suplemento também trás diversos ganchos e possibilidades de aventuras para o cenário: Mistérios sem respostas, segredos recém descobertos, histórias mal contadas – Tudo neste cenário é feito de forma que o narrador e os jogadores possam desenvolver as principais tramas do jogo de várias formas diferentes, entre estes um dos maiores mistérios sendo a morte dos anciões e amantes que forjaram e cultivaram o pacto entre as seitas durante séculos.

Fonte: Rio de Janeiro Noturno 2018

O suplemento também nos trás o famoso Carnaval do Rio de Janeiro como sendo um dos grandes eventos vampíricos entre os cainitas, como ele pode ser aproveitado e até mesmo usando este evento como uma mecânica do jogo para dinâmicas de influência e conflitos sociais entre o membros.

Estruturas de Poder

Neste cenário, o Pacto de São Sebastião é o ápice da sociedade vampírica, possuindo suas próprias regras e formas de ser mantido. A Camarilla e o Sabá na cidade tem poder significativo, mas possuem um controle quebradiço, tornando a política vampírica em uma miscigenação grotesca e tentadora.
Além dos cargos de status clássicos o cenário nos apresenta também diferentes novos grupos influentes tanto do Sabá quanto da Camarilla que podem trazer benefícios ou inimizades para os personagens que com estes cruzam.

 

Considerações

O Rio de Janeiro Noturno é um suplemento curto mas cuidadosamente focado, deixando fácil para os jogadores saberem o que procurar dentro dele. É muito bem escrito e diagramado, tendo a contribuição de artes originais de ilustradores e escritores brasileiros. Os NPCS preparados tem um desenvolvimento interessante e vínculos que os ligam entre si mesmo que nos menores detalhes. Além de tudo o livro também trás muitos detalhes da geografia e ambientação urbana e selvagem do jogo, deixando fácil mesmo para quem nunca foi para a cidade conseguir se localizar. Rio de Janeiro Noturno é um suplemento completo, elegante e fácil de manipular e facilmente adaptável para qualquer uma das edições de Vampiro: A Máscara, até mesmo o V5. Para quem quiser ler mais sobre o suplemento pode procurar também nesta matéria do REDERPG.

Icabode St. John [6]

Nos capítulos anteriores: Icabode, Sunday e Drake invadiram o prédio da máfia polonesa para matar o vampiro antes que ele transformasse Solomon Saks em um deles. Mas a missão falhara, e Icabode morrera, logo depois de soltar o vampiro, pois descobrira que ele não era mal. Icabode acordou no inferno, onde foi informado que seu pai vendera sua alma para um senhor do inferno, e por isso, ele fora pra lá. Após uma fuga desesperada, ele se encontrou com Sunday, e ambos correram até um abismo que os separava do paraíso. No último instante, uma força invisível puxou Icabode pra cima, e Sunday se agarrou em suas correntes e foi puxado junto. 

 

O Capitão Drake Sobogo estava cercado no primeiro andar. Mandara Sunday e Icabode terminarem a missão enquanto ele segurava os inimigos. O boxeador pegou uma barra de ferro à vista e acertou a cabeça de Troche com ela. O tinido metálico fez Drake perceber que o judeu tinha placas de ferro debaixo da pele.

– Agora é minha vez – disse o Judeu de Ferro antes de chutar o estômago do outro.

Drake atravessou a sala sem tocar no chão. Suas costas acertaram a parede com força, fazendo todo o ar sair dos pulmões. Antes que pudesse se preparar, Troche já estava o segurando pela gola e dando vários socos em seu rosto. Quando o julaco parou, Drake cuspiu sangue em seu rosto.

– Terminou? – o boxeador era conhecido como Capitão Sangrento nas lutas clandestinas. Um dos principais motivos disso, é que ele podia ficar coberto com o próprio sangue, mas nocaute nunca era uma opção. – Sou eu novamente.

Drake começou a socar o rosto duro de Troche, afastando-o. O outro se assustou com a ferocidade do homem, mas logo em seguida, reagiu. Os dois começaram a trocar golpes em uma velocidade surpreendente. Quando o Capitão Sangrento percebeu que não iria ganhar aquela, decidiu recuar.

Espero ter ganhado tempo o suficiente pra vocês, pensou, esperando que os outros dois conseguissem matar o vampiro. Em seguida, jogou seu corpo para trás, em direção à janela. Ele estava um andar acima do chão, mas o impacto foi pior que os socos que acabara de levar. Demorou um segundo para acertar o chão. O Judeu de Ferro colocou a cabeça pela janela e os dois se encararam. Em seguida, Troche sumiu dentro do prédio.

Tiros e clarões continuavam a vir pelas janelas, e Drake começou a rastejar para longe. Alguns segundos depois, uma janela explodiu, e dois corpos despencaram do terceiro andar. Sunday e Troche acertaram o chão com um baque seco. E para a surpresa de Drake, o Judeu de Ferro foi o único a se levantar. O homem olhou para cima, esperando que seus homens continuassem a perseguição. Depois, ele se virou para Drake, e sorriu.

– Vocês são muito estúpidos – Troche disse, vindo em sua direção.

Drake se levantou com dor, e ficou em posição de luta. Ele iria morrer, obviamente, mas iria lutando.

– Corta essa merda e venha logo! – gritou. – Vou dar uma surra nesse seu traseiro polaco.

Troche partiu pra cima. Mas nenhum de seus golpes acertava o alvo. Drake se esquivava habilmente, revidando sempre que possível. Ele era um boxeador profissional, mas seus oponentes não eram feitos de ferro. Enquanto Troche começava a se cansar, Drake sentia os ossos das mãos doerem, vendo que o adversário não sentia dor alguma.

Nessa hora, Troche o surpreendeu e chutou seu joelho. Drake caiu de lado, e o Judeu de Ferro colocou o pé sobre seu pescoço. Ele sorriu, vendo o boxeador socar sua perna.

– Por fim, é a minha vez – o Judeu disse, pressionando o pescoço de Drake.

Um barulho em suas costas fez os dois virarem a cabeça. Um corpo caiu do último andar. Era Icabode. Drake viu o corpo do jovem, sem vida, no chão. Troche começou a gargalhar satisfeito. O boxeador se sentiu tonto, pela falta de ar. Todos nós morremos.

Mas um vulto chamou a atenção, pelo canto de olho. Ele não sabia o que era, mas vinha em sua direção. Troche foi arremessado para longe. Drake sentou, vendo Icabode sobre o corpo do Judeu de Ferro. O jovem mordia o homem, ferozmente. Troche girou, derrubando-o. Icabode rolou de volta pra cima dele, mordendo-o novamente.

Tem algo errado com ele, Drake notou, tentando ficar de pé, e gritou:

– Ei!

Icabode se virou repentinamente. Seus olhos eram vermelhos, e seus caninos, compridos. Ele era um vampiro sedento de sangue. Uma besta sem consciência.

– Ah não, garoto – Drake suspirou, recuando.

Icabode avançou em sua direção, agarrando-o e voando pelo terreno cheio de materiais de construção. Drake tentava segurar a cabeça do jovem que tentava mordê-lo freneticamente. Os dois subiram vários metros acima, e o boxeador gritava para que ele acordasse, em vão.

Antes que se afastassem mais do chão, Drake usou a única arma que tinha. Seus socos não foram tão precisos naquela confusão, mas foi o suficiente para atordoar o animal em fúria. Icabode despencou, e os dois atravessaram copas de árvores, e caíram em um parque no centro do Brooklyn. Drake se levantou e tentou correr, mas com um golpe de Icabode, ele atravessou a rua, acertando uma parede de tijolos. O boxeador ficou sentado, vendo o vampiro voar em sua direção com as presas e garras prontas para o golpe final. Ao seu lado, um vira-lata latia, abanando o rabo.

Uma silhueta surgiu do nada, e uma mão agarrou o pescoço de Icabode no ar. O cachorro ganiu assustado com a aparição. O sujeito tinha o tamanho de um armário. Ele vestia roupas apertadas, suspensórios e quepe. Ele virou o rosto de lado e disse:

– Você é um mortal.

– Sim – Drake respondeu sem saber se aquilo era uma pergunta ou afirmação. Enquanto isso, Icabode tentava se desvencilhar da mãozorra do homem. – Não o machuque, ele está…

– Faminto – interrompeu o outro. Ele jogou Icabode no chão com força, fazendo a calçada rachar. Em seguida pegou o cachorro e o pressionou contra o rosto do jovem.

Drake assistiu a cena espantado. Icabode agarrara o vira lata e abria sua barriga com os próprios dentes. O animal chorava e se debatia enquanto grande parte de seus órgãos eram rasgados e caíam no chão. Alguns segundos depois, o homem misterioso jogou Icabode contra a parede.

– Já chega! – disse ele. Sua voz era grossa como trovão.

Drake foi até Icabode e tentou despertá-lo. O jovem piscava, confuso. Estava coberto com sangue, e suas presas pressionavam o lábio inferior. Ele olhou para a carcaça do cachorro e depois para Drake. Por último, para o homem de suspensórios.

– A primeira vez que vocês apareceram neste distrito, quebrando tudo, eu deixei passar – a voz grossa ribombou. – Mas o que vocês aprontaram hoje, ultrapassou os limites.

Ele puxou uma estaca de madeira da cintura e empalou a Icabode no coração. Drake se jogou contra ele, socando seu rosto. O homem segurou seus braços e lhe deu uma cabeçada fatal.

 

Icabode despertou, sentado em uma cadeira de espaldar alto, acolchoada com veludo, em uma sala coberta de tapeçarias vermelhas. Uma mesa de mogno estava na parte alta do cômodo. Uma ventania gélida invadia o lugar através de uma larga sacada, centenas de metros acima do solo. Atrás da mesa de mogno, havia três pessoas. Eles olhavam em sua direção, sérios.

– Eu digo para começarmos – disse um deles. Era um homem magrelo, de rosto ossudo e cabelos colados no crânio. Sua pele era pálida como a dos outros dois.

– Ninguém vai começar até a Juíza chegar! – o homem do meio parecia mais um urso, com seus cabelos e barbas frondosos e ruivos. Sua mão era quase do tamanho da cabeça do primeiro sujeito.

A terceira pessoa era uma senhora de roupas negras e uma renda que cobria o rosto. Ela se manteve em silêncio.

– Pelo menos para adiantar o assunto, senhor Ivanovitch – o magrelo insistiu. – Não está curioso pra saber o motivo desse alvoroço todo que nos trouxe o senhor Anthony Ritzo? – ele apontou para o sujeito de suspensórios que empalara Icabode.

O jovem olhou para baixo e viu que tinha uma taça vazia no colo, suja de sangue, e que não havia mais nenhuma estaca em seu peito. Ao lado, Anthony Ritzo estava em pé, olhando para o trio atrás da mesa.

– Mas ele já disse, oras! – Ivanovitch respondeu, irritado. – Esse neófito estava causando um caos em seu distrito. Voando sobre as ruas do Brooklyn, metido em perseguição policial e tiroteios em Green Point. Ele chamou tanta atenção como o Hindenburg em chamas.

– Eu sei que seu intelecto é capaz de ser saciado com tão pouco conhecimento, mas um catedrático como eu sempre busca entender plenamente o objeto de seu trabalho – disse o magrelo de cabelos colados. Ele se levantou e se aproximou da cadeira de Icabode. – Diga-me, rapaz. Antes de tudo, quem foi o cainita que te abraçou?

Icabode franziu o cenho, confuso. Antes que perguntasse o que significava aquelas palavras, o homem explicou.

– “Cainita” significa “descendente de caim”, vampiro. “Abraçar” é o termo que usamos quando um de nós transforma alguém em um membro de nossa sociedade.

Eu já te expliquei isso, Icabode, a voz de Sunday veio em seu ouvido. Ele olhou ao redor, procurando o detetive, sem sucesso. Não fazia ideia de onde vinha a voz.

– Então, diga-me – pediu o vampiro em sua frente. – Quem lhe deu a Não Vida?

– Eu não sei o nome dele – Icabode respondeu, cooperativo. Precisava ganhar tempo para fugir dali. – Mas ele me transformou para que eu não morresse… completamente. Diferente do que eu esperava, ele se mostrou bastante humano.

– Por que a surpresa? – ele abriu os braços, arqueando a sobrancelha. Sua fala era lenta e condescendente. – Vampiros não podem demonstrar bondade e misericórdia?

Aquela pergunta pegou Icabode de surpresa. Ele olhou nos olhos do homem, tentando decifrar se aquilo era puro cinismo. Mas para todos os efeitos, o vampiro no prédio polonês tentara salvá-lo, mesmo sabendo que Icabode estava ali para mata-lo.

– Começaram sem mim? – uma voz feminina, rouca, perguntou, quando a juíza adentrou a sala. Ela olhou para o vampiro magrelo. – Senhor Fermín?

Ela era corcunda, careca e sua pele tinha cor de cimento seco. Olhos vermelhos, nariz torto e vários dentes pontiagudos que iam para várias direções. Alguns iam até o queixo, outros perfuravam a bochecha, estando sempre expostos.

– Estava apenas sondando o réu, vossa excelência – Fermín respondeu, voltando para seu lugar atrás da mesa. – É sempre bom conhecer a fundo todos os fatos dos nossos julgamentos, já que acontecem tão poucas vezes.

A juíza sentou em uma poltrona num canto da sala, e alguns homens brotaram das sombras em suas costas e estenderam seus pulsos em sua direção. Ela fez alguns cortes e começou a bebericar direto das veias. Depois, limpou a boca com as costas das mãos e fez o sinal com o indicador para que começassem.

– Ritzo! – bradou Ivanovitch. – Diga exatamente o que aconteceu com esse aí.

Anthony Ritzo deu um passo à frente, e explicou:

– Semana passada, esse cainita apareceu com aquele forasteiro, Anatole, que pedira permissão para fazer umas buscas na cidade. Os dois sobrevoaram as ruas de Green Point, e mataram alguns policiais diante de várias testemunhas. Um de meus rapazes viu tudo e me avisou. Quando cheguei no local, eles já estavam em um local cheio de judeus altamente armados. Por isso nós não agimos.

– Por medo das armas ou de ser descoberto como um vampiro? – Ivanovitch perguntou, rindo.

– Ignore-o senhor Ritzo, por favor – Fermín pediu, educadamente.

– Nós ficamos de olho no prédio pelos próximos dias, tentando descobrir algo. Até que recentemente a proteção do prédio triplicou.

– Solomon Saks é o mafioso com o maior número de associados – Fermín observou. – Ele tem um pequeno exército. Os italianos estão perdendo seu espaço. Perdoe-me, continue.

– Eu deixei todos de meu clã em alerta, e hoje a noite, um tiroteio teve início. Nós corremos até o local, e vimos esse aqui – ele apontou para Icabode -, sobrevoar o prédio com o mortal para longe da zona de risco. Foi aí que o pegamos. Houve muitas testemunhas, conselheiros, juíza. E eu não pretendo assumir essa culpa. Fiz o que podia pra impedir que eles quebrassem o sigilo da Máscara.

– Fez o que podia, senhor Ritzo? – Fermín perguntou, curioso. – Mas você não nos informou da primeira vez que eles quebraram a Máscara. Não acha que deveria ter feito isso também?

O grandalhão gaguejou, tentando se justificar.

– Oh, não – Fermín sacudiu a cabeça. – Não falaremos sobre isso agora. Depois você terá a chance de se explicar. Agora desejo fazer algumas perguntas ao acusado – ele olhou para Icabode, interessado. – Como você se chama?

– Sou Icabode St. John – ele respondeu, sentindo a presença maligna naquele homem. Fermín tinha sede de sangue, e isso era visível em seu olhar.

– E o que aconteceu com Anatole depois daquela noite?

– Eu o matei.

Os vampiros se entreolharam, surpresos. Icabode não parou por aí.

– E foi por esse mesmo motivo que invadi o prédio de Saks, para matar o vampiro que ele mantém preso.

– Por quê? – Ivanovitch perguntou, se inclinado pra frente, intrigado. – Por que você está matando esses vampiros?

– Porque é isso que faço – Icabode se levantou pela primeira vez, deixando a taça cair e rolar pelo chão. Ele olhou para todos na sala e estalou o pescoço. – Eu sou um caçador de vampiros.

 

Leia  todos os  capítulos de Icabode St. John clicando aqui. Ou então encontre mais livros do autor clicando aqui.

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