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Icabode St. John [19]

Nos capítulos anteriores: Icabode, Drake e Caveira foram sequestrados pelo clã do Rato, e interrogados no esgoto. Mas Icabode ateou fogo no primogênito do clã e na legião de ratos que os observavam, transformando os túneis em um grande inferno. Após fugirem, o trio decidiu partir para o México para encontrar com Maxiocán. 

 

Fermín estava na biblioteca de sua mansão em Nova Inglaterra. Leo e Lorena estavam sentados no sofá vermelho, bebendo sangue de seus cristais.

– O clã da Sombra se aliou ao clão do Rato – Lorena disse. – Mas isso era previsível. Nós matamos a Juíza e a Dama do Véu Negro, suas líderes.

– Lancelot não se opôs aos assassinatos – Leo os lembrou, olhando por cima de seus óculos escuros. – Talvez ele vote em você para príncipe.

Lorena revirou os olhos e perguntou:

– Desde quando aquele velho diz o que pensa? Não é à toa que ele é o mais velho de Nova York. Lancelot é o melhor jogador que existe, e pode ter certeza que nós não fazemos ideia do que passa em sua cabeça.

– Ainda assim – Leo olhou para ela. – Você é a líder do clã da Rosa, eu do Punho, e o Fermín do clã da Águia. Somos três contra dois. Se Lancelot os apoiasse, no máximo, eles iriam empatar, e não nos vencer.

– O clã da Sabedoria não é o único que não se declarou ainda – Lorena rebateu. – Os Filhos de Pã também não se posicionaram. E eles sempre se deram bem com o clã do Rato. Na melhor das hipóteses, temos um empate. Nós não ganharemos essa eleição.

– Os Filhos de Pã são fracos – Leo disse, pegando seu novo bastão. – Eu farei eles se decidirem rapidinho.

Lorena suspirou, impaciente.

– Faça isso, e transformaremos um provável inimigo em um inimigo certo.

– Tudo isso é inútil! – Fermín os interrompeu, batendo em sua mesa. – De que adianta falarmos de eleições se na verdade estamos diante de uma guerra?

– De toda forma, precisamos de aliados – Lorena disse, enrolando o dedo em seus cachos ruivos. – Para guerra ou eleições.

– E os vampiros independentes? – Leo perguntou, receoso.

– Não mexeremos com os sem clãs – Fermín disse, decidido.

– Os Ratos e as Sombras mexerão – Lorena observou.

– Céus, não acredito que agora vocês estão concordando um com o outro – Fermín se virou, irritado. – Nós caçamos os sem clã por décadas. Eles não irão nos apoiar. E se apoiar, seremos obrigados a aceita-los em nossa comunidade. Vampiros insubmissos!

– Eu diria que isso é um problema para o futuro – Lorena disse. – E uma solução para o presente.

– E quanto a Solomon? – Leo perguntou, preocupado. – Se entrarmos em uma guerra agora, não acha que isso fortalecerá Solomon Saks?

– Agora é muito tarde para falar “se entrarmos em uma guerra” – Fermín disse. – Mas de qualquer forma, o único jeito de vencermos Saks é cometermos o mesmo crime que ele, de beber da alma de outros vampiros.

– E isso está fora de questão? – Leo perguntou.

– Claro! – Fermín e Lorena responderam em uníssono.

– Lembre-se que fazemos parte de uma sociedade universal – Fermín disse. – Se nossos líderes supremos souberem que cometemos tal crime, nós seremos torturados e exterminados. Ingerir a alma de um vampiro é o pior pecado que se pode cometer.

– E por que nada é feito contra Saks? – Leo perguntou. – Por que não avisamos os líderes supremos sobre Saks? Eles não poderiam resolver isso assim? – ele estalou os dedos.

– Sim – Fermín respondeu. – Poderiam. E com Saks, seriam eliminados todos os líderes da cidade que permitiram isso acontecer.

– Temos que enfrentar o Saks sem envolver nossos superiores – Lorena concordou com Fermín. – Informá-los seria cometer suicídio.

– E então? – Leo perguntou, colocando os joelhos sobre as pernas, desesperançado. – Nossas esperanças estão nos neófitos?

– Sim – Fermín disse, tenso. – Mas eu enviei Caveira com eles. Ele pertence ao clã da Sabedoria, mas sempre me foi muito leal.

– Ele pode ser um espião duplo para Lancelot – Lorena disse. – Mas você já sabe disso.

Fermín ficou em silêncio, ciente dessa possibilidade. Ele pegou um cristal de sangue e se juntou aos outros dois.

– Caveira tem contatos no México. Eu paguei um helicóptero para o trio se deslocar até lá. Parece que Maxiocán Allende é bem conhecido por aquelas bandas. Sua família inteira, na verdade. Os Allendes são famosos caçadores de demônios. Todos os vampiros daquela região o temem. A palavra “apavorados” combinaria mais com o sentimento que eles possuem desse nome.

A porta lateral se abriu, e um homem de bigode fino entrou.

– Coruja – Fermín olhou para ele, curioso. – Aproxime-se.

– Vossa majestade, parece que o clã dos Filhos de Pã não pretendem se aliar ao clã do Rato. Eles dizem que o último líder capaz dos ratos foi derrotado e queimado no fundo do esgoto. O novo primogênito deles é um jovem irracional.

Lorena e Leo olharam para Fermín, surpresos.

– E como você sabe de tudo isso, Corjua?

– Porque o primogênito dos Filhos de Pã está no hall de entrada – Coruja sorriu.

 

O helicóptero pousou em um vilarejo próximo à Cidade do México. O clima mudara bruscamente de Nova York até ali. Caveira e Capitão Sangrento desceram primeiro, olhando ao redor. Icabode levitou de seu banco até pisar no capim seco.

Os três vampiros caminharam por vinte minutos até chegarem até o vilarejo. Ele era cercado por um muro de paredes caiadas, com cerca de três metros de altura. O portão de madeira estava fechado, e não havia nenhuma alma do lado de fora.

– Como faremos? – Drake Sobogo perguntou, mas Icabode apenas começou a levitar, passando por cima do muro.

– Pelo visto, faremos desse jeito – Caveira riu e virou morcego.

Do outro lado do muro, Icabode descia por entre as bandeirolas de alguma festa nativa, no meio da escuridão. A vila era praticamente um cercado com uma fonte no centro. Alguns moradores estavam reunidos diante do bar, com mariachis tocando baladinhas.

Um homem mijava na parede de uma casa quando Icabode pousou ao seu lado. Ele estava bêbado, sua cabeça se ergueu com relutância, e seus olhos semiabertos estavam totalmente alheios à presença do vampiro.

Que pasa cabrón? – o homem perguntou, mas Icabode já agarrara seu queixo, expondo o pescoço. Ele empurrou o homem contra a parede e enfiou suas presas em seu pescoço suado e salgado.

Os braços trêmulos do sujeito tentaram empurrar o vampiro, mas rapidamente eles cederam, e Icabode deixou o corpo escondido no beco. Ele limpou o sangue de seu queixo e saiu das sombras. Seus companheiros vampiros se colocaram ao seu lado.

– Você matou um provável vizinho do maior caçador de vampiros do país – Caveira olhou para trás.

– Garoto – Drake Sobogo olhou para Icabode, preocupado. – Você está passando pela maior mudança da sua vida, eu entendo, mas precisa ter mais cuidado. Quando nos conhecemos, você não era assim. Sei que está assustado…

– Assustado? – Icabode olhou para ele, irritado. – Aquele mexicano ali atrás estava assustado. Eu sou o perigo.

Ele avançou em direção às luzes. Ao lado da fonte quebrada, um bêbado dormia debaixo de um sombrero de palha. Enquanto eles avançavam, o grupo de festeiros começou a ficar em silêncio e se virar em sua direção. As três figuras pálidas, vestidas de preto, estavam paradas, olhando para eles.

Gringos – alguém disse.

No! Peor! – uma mulher indígena respondeu, benzendo-se. De repente, no olhar de todos, ficou claro que o povoado sabia muito bem o que era um vampiro.

– Maxiocán Allende! – Icabode disse, calmo. – Digam-me onde ele se esconde, e eu não os matarei.

– Garoto! – Drake segurou seu braço, assustado. – Eles são pessoas de bem!

No señor! – um mexicano se aproximou, com sua camisa de botão aberta até o umbigo. Ele tinha barriga de cerveja e pele escura. – No somos buenas personas. Y todos ustedes deben salir de aqui.

– Alguém fala espanhol? – Caveira perguntou, receoso. – Porque eu acho que ele meio que nos ameaçou.

– Se vocês possuem bom senso – Icabode voltou a falar -, devem nos entregar Maxiocán Allende urgentemente, senão…

Ele parou de falar ao ver que todos ficaram de pé. A expressão de cada homem e mulher era de raiva. Eles começaram a caminhar em direção ao trio.

– Eu devo avisá-los… – Icabode disse, mostrando a palma da mão, mas ninguém deu ouvidos. – Bem, eu tentei avisá-los.

Ao contrário do que se esperava, todos os habitantes do vilarejo caíram de joelhos, sobre as mãos dianteiras. Eles se contorciam enquanto seus corpos faziam barulho de estalos.

– Oh não, oh não – Caveira recuou.

Essa era a primeira vez que Icabode viu Caveira apavorado.

– Devemos fugir? – Drake Sobogo perguntou. – Garoto, fique invisível. Caveira, vire morcego.

Caveira virou o rosto para ele. Seus olhos estavam espremidos e molhados. Isso significava que não havia forma alguma de fugir dali.

No momento seguinte, todas as pessoas ao redor se tornaram criaturas imensas e peludas, como ursos. Mas seus focinhos eram como de lobos, e de repente, todos uivavam para a lua. Eram lobisomens.

– Não conseguimos lutar? – Icabode perguntou, fechando os punhos.

– Mesmo o vampiro mais forte que conheço não aguentaria enfrentar o mais fraco dos lobisomens. Imagine uma vila deles. Estamos mortos – Caveira estava paralisado.

Os lobisomens o cercaram, alguns sobre duas patas, outros sobre quatro. Suas presas eram afiadas, com longos fios de saliva pendendo para baixo. O trio de vampiro não tinha para onde ir.

– Essa é a primeira vez que vejo cainitas em minha vila – uma voz veio por trás.

O trio se virou a tempo de ver um homem passando pelo meio dos lobisomens. Ele tinha um bigode frondoso, roupas sujas e calças jeans rasgadas. Ele deixara o sombrero para trás, quando se levantara da fonte.

– E ainda me procuram pelo nome!

– Você é Maxiocán – Icabode apontou para ele.

– E vocês serão a janta desta noite.

 

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