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REINO DOS MORTOS [5]

A aberração não caminhava bamboleando, mas como um vivo, como uma criatura racional. Seu rosto era coberto por trapos, e espinhos de marfim se projetavam das costas, como uma crista.

– Jim? – Clay olhou para o arqueiro.

– Ele parece usar um exoesqueleto – o garoto avisou, tirando sua flecha mais larga e afiada. – Não acho que vou conseguir feri-lo.

– Você quer desistir garoto? – Kvarn segurava a espada com as duas mãos, firme. – Porque se quiser, ninguém vai te julgar. Somente eu.

A flecha de Jim passou rente aos cabelos enferrujados do guerreiro, atravessou o pátio, acertou o peito do inimigo e caiu no chão.

– Essa era a minha melhor flecha! – Jim gritou correndo em direção à escadaria da muralha externa. – Eu vou cobri-los por cima.

Toiva usava um gibão de texugo, e cintos de couro. Ela abaixou até uma carroça carbonizada e usou suas cinzas para pintar o rosto. Latkhar, o deus abutre, iria gostar disso. Ela deslizou três dedos da testa até o maxilar, criando listras negras. Toiva da tribo de Ishkar estava pronta para a batalha. Ela segurou uma espada em cada mão e começou a correr.

Kvarn se juntou a ela na corrida, erguendo sua espada acima da cabeça para dar o ataque mais brutal que podia. Enquanto isso, Clay corria sob os arcos laterais, escondido nas sombras. Seus pés eram rápidos e silenciosos. Ele tirou duas adagas das costas, e conseguiu se aproximar da aberração pela lateral.

O encontro da criatura com Kvarn foi explosivo. O monstro girou seu longo martelo e acertou o guerreiro em cheio, arremessando-o contra uma pilastra. Toiva aproveitou o movimento para saltar num amontado de barris e dar uma pirueta, passando sobre a aberração e caindo atrás dela.

– POR ISHKAR! – a bárbara gritou, passando as espadas nas panturrilhas da criatura.

A aberração se virou, gritando de dor. Clay surgiu das sombras, e enfiou as duas adagas em suas costas. O monstro se afastou dos dois, mancando e gemendo de dor, quando uma flecha acertou seu pescoço. Jim estava no topo da muralha, e já sacava sua próxima flecha.

– Você mexeu com o grupo errado, maldito! – Galdor girou as mãos e fez uma ventania empurrar o monstro com força.

A aberração caiu, rolando no chão, junto com tudo que estava no alcance do mago. Esqueletos e entulhos foram empurrados até acertarem a muralha interior.

– Kvarn, agora! – Clay gritou

A aberração colocou os cotovelos no chão para se levantar, quando Kvarn saltou sobre ele. O guerreiro enfiou a espada em seu peito, cortando músculo e quebrando ossos.

– Isso! – Toiva gritou. – Obrigado Latkhar!

– Meu nome é Kvarn – o guerreiro a corrigiu.

– Os deuses ajudaram – Clay disse, olhando a criatura tombada. – Mas foi o nosso trabalho em equipe que fez a diferença.

Antes que alguém pudesse responder, mãos gigantescas seguraram os tornozelos de Kvarn e o arremessaram contra a parede.

– ELE ESTÁ VIVO! – Jim gritou, disparando a próxima flecha. Ela atravessou o crânio do monstro, mas isso não pareceu surtir efeito algum.

A aberração ficou de pé e pegou seu martelo de volta.

– Chame a atenção dele enquanto eu pego Kvarn – Clay ordenou a Toiva. Depois ele se virou para Galdor. – Afaste-o!

O velho mago girou suas mãos, fazendo um pequeno furacão erguer o inimigo do chão em um impulso. A criatura caiu para trás, rolou e ficou em pé novamente. Toiva saltou em sua frente, impedindo-o de alcançar os outros. Clay ajudou Kvarn a se levantar e ambos saíram de perto do monstro.

– Para a muralha, todos! – Clay apontou para onde Jim estava.

A aberração girou o martelo, mas Toiva rolou para o lado, desviando do golpe por pouco. Em seguida, Galdor usou a ventania para empurrar o monstro novamente, enquanto a bárbara fugia. Todos conseguiram subir a escadaria e chegaram no topo da muralha. Kvarn mancava de forma brusca, fazendo careta de dor. Ele olhou para o grupo, sério.

– Não vou conseguir fugir – disse, apoiando-se em uma ameia. – Aquele filho da mãe me pegou de jeito.

Lá embaixo, a aberração já começava a subir a escadaria. Clay enfiou a cabeça entre os merlões e viu que a queda deixaria a todos aleijados.

– Saltar para fora não é uma opção.

– Então corram – Kvarn o empurrou. – Eu ganho tempo para vocês.

– Você quer desistir, garoto? – Jim lhe perguntou. – Porque se quiser, ninguém vai te julgar. Só eu.

– Ei, venham aqui! – uma voz cortou a noite. Um desconhecido acenava alguns metros à frente, na muralha. Ele saíra do portal de uma torre de guarnição.

– Viu só? – Clay passou o braço de Kvarn por cima de seu ombro. – Os deuses mandaram ajuda. Você precisa correr só um pouco.

– E se ficar muito difícil te carregar – Toiva pegou o outro lado de Kvarn -, a gente te solta no caminho.

– Rápido, corram! – Jim disparou uma flecha contra a criatura que subia a escadaria de três em três degraus.

O grupo correu, e Galdor ficou por último para empurrar a aberração quando fosse preciso.

 

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